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OBRAS DA NOVA REVELAÇÃO

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

E

A CAMINHO DE EMAÚS

Duas cenas recebidas pela voz interna de

MAX SELTMANN

Traduzido por Yolanda Linau

Rio de Janeiro

1959

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

1 - GÓLGOTA

Num bramido horrendo, ouve-se entre o povo: “Crucificai-o!”, dando a impressão de uma onda de volúpia sanguinária. Um capitão da ocupação militar em Jerusalém segue atento aos debates com Pôncio Pilatos. Sua calma é inabalável; entretanto, acompanha com vivo interesse o triste acontecimento. No momento em que Jesus ̶ quadro que inspira o máximo de compaixão ̶ está sendo conduzido de volta, o militar parece querer socorrê-lo. Eis que Jesus o fita de um modo a fazer estremecer-lhe todas as fibras. Desesperado, o romano sai da sala, aguardando, na entrada, novas ordens.

Mais uma vez ouve-se o vozerio lá fora e depois... um silêncio de morte! A sentença havia sido pronunciada e aprovada pelo povo! Cerrando os dentes, o comandante fica à espreita para, em seguida, atravessar agitado o pátio e receber um mensageiro que lhe transmite a chamada do prefeito. Em lá chegando, recebe ordens para efetuar a crucificação no Gólgota! Silencioso, ouve a triste incumbência que lhe cabe e, após pequena pausa, diz a Pilatos: “Meu irmão, não houve criminoso que manifestasse este porte de dignidade! E se ele for inocente? Lavaste a responsabilidade de tuas mãos com água; como tirarás esta mancha de tua consciência? Sirvo ao imperador, e és tu seu representante! Cumprirei tua ordem! Uma coisa, porém, te digo: Se a caminho do Gólgota apresentar-se uma só testemunha de sua inocência, impedirei sua execução!” Com estas palavras se vai, a fim de iniciar sua tarefa. Durante o trajeto para o suplício, ordena a três cabos da guarda do Templo a não se afastarem de perto dele. Assim, chegam ao Gólgota, após alguns contratempos.

Milhares de curiosos, homens e mulheres, ocupam o monte, mas o militar determina que todas as crianças sejam afastadas. Em seguida, proíbe qualquer manifestação estranha neste ato, por palavras ou atitudes! Ouve-se o som de uma trombeta, e o comandante fala: “Vede este homem! Foi condenado à morte em virtude de uma queixa! Mas estranho a ausência de testemunhas que afirmem o contrario de vossa acusação; pois Jesus não se defende! Não haverá um com valor para tanto? Pergunto e dou-vos mais alguns instantes para responderdes. Tu, condenado, prepara-te e despede-te de teus amigos!”

Admirados e pálidos, os guardas do templo observam a atitude do capitão; este, entretanto, prossegue: “Se aqui acontecer um milagre, ou se se apresentarem testemunhas em seu favor, vós três sereis crucificados, pois um culpado não tem essa aparência! Assim, esperaremos!” Daí a pouco um outro avisa que o prazo se extinguira. O comandante, então, faz o sinal que o dever lhe impunha, e a crucificação se dá conforme é sabido.

Quando Jesus exclama: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem!”, o comandante é tomado de imensa compaixão, de sorte que se precipita para junto do madeiro à procura de um olhar do Mestre. E Jesus, não ligando às próprias dores, lhe sorri! O romano com isto sente uma felicidade imensa, mas num estranho desacordo com este lugar de tão grandes injustiças. “Fui perdoado!”, pensa ele com alívio, dizendo aos templários: “Olhai a quem preparaste a morte! Como ireis justificá-la? Já viste um criminoso pedir perdão a Deus e Pai por aqueles que se lhe demonstraram tão desumanos? Nunca! Só manifestava ira, revolta e pavor!”

E Jesus continua a suportar com dignidade as dores atrozes. Maria, voltando a si após a vertigem, levanta o olhar para o Filho. Suas mãos delicadas apalpam o troco da cruz, alcançam os pés, os cravos... E um grito dilacerante ressoa, fazendo estremecer todos os presentes. Isto só uma mãe poderá sentir! Uma onda diferente passa por entre a multidão, e a ira sanguinária dissipa-se! Maria se levanta, entrelaça-lhe os pés sangrentos, e Jesus sorri à Sua Mãe! Isto preenche o coração de Maria com o espírito da força e resignação à Impenetrável Vontade Divina!

João, agora, também se aproxima para receber a especial incumbência do alto da cruz. Como muitos tentem fugir e se recolher à cidade, o comandante diz: “Ninguém sairá sem minha ordem! Vosso desejo foi cumprido! Cuidai que nada de pior vos suceda!” Tomado de imensa compaixão, ele ouve as derradeiras palavras de Jesus; mas seu coração bondoso o leva a procurar as três mulheres, surpreendendo-o a elevação delas ante a dor. Assim, pede a João esclarecimentos sobre Jesus e Sua Doutrina. Este lhe conta ter sido o Mestre bom amigo de Cirênio, Cornélio e Júlio e que anunciara a todos Sua futura e ultrajante morte, de acordo com a Santa Vontade de Deus! “Não obstante o fato ocorrido nesse momento, o Senhor e Mestre dominará a morte como Salvador!” Comovido, o romano estende a destra a João, dizendo: “Muito ouvi falar do Nazareno; se o tivesse conhecido antes, não teria chefiado essa execução!” E, virando-se para os templários, diz com voz estentórica: “Ainda ajustarei contas convosco!” Afirma João, com brandura: “Não é assim, pois teria sido fácil ao nosso Mestre evitar tudo isso, tendo à disposição forças de Céus e Terra! Sua luta de ontem no Jardim de Getsêmani foi talvez maior que a de hoje, fazendo-nos vacilar, porquanto não mais O compreendíamos! Ele, porém, disse ao Pai Onipotente: “Tua Vontade se faça, e não a Minha!” Agora, peço-te que me deixes cuidar das mulheres. Nosso coração sangra! Agradeço teus sentimentos, pois és pagão! Proporcionas um alívio à agonia de nosso Mestre. Vem à Betânia, à casa de Lázaro, e lá encontrarás os amigos de Jesus!” João conforta as mulheres, principalmente Maria Madalena, abraçada à cruz. O olhar de Jesus agradece, embora mesclado de sofrimento.

O céu ameaça anuviar-se, e uma multidão desconsoladora ser faz sentir. Jesus pede para beber, e o comandante só Lhe pode oferecer uma esponja com vinagre. E a escuridão se torna cada vez mais densa! O povo anseia por fugir, mas o medo do romano o impede. Este se dirige aos templários e fala: “Que me dizeis agora, após terdes exigido a morte desse homem puro? Não vedes ser ele inocente?” Eles se calam. O romano, porém, continua: “Somente por ele me ter perdoado, deixo de agir contra vós! Cuidado, porém, pois que desta ação injusta surgirá uma semente maléfica, trazendo-vos forçosamente a morte!” No mesmo instante, a terra estremece, fazendo agitar a multidão! Ouve-se, então, as últimas palavras de Jesus: “Está tudo consumado!”

Profundamente comovido, o comandante exclama: “Oh Tu, Deus, que apenas hoje venho a conhecer! Agradeço-Te por teres abreviado este suplício! De hoje em diante, Te servirei, pois Este Jesus deve ter sido Teu Filho!” Quando ele se aproxima das mulheres abraçadas, ouve-se um forte estampido; a terra se abre! Agora, já não mais há possibilidade de conter o povo, que rompe o cordão de isolamento dos soldados amedrontados, correndo numa fúria desabalada em direção à cidade, onde muitos edifícios importantes estão ruindo.

Pouco a pouco, se dissipa a escuridão, e o sol no ocaso ilumina com derradeiros raios a praça do suplício. O comandante faz reunir seu pessoal, ordenando ao tenente que arranje liteira para conduzir as mulheres a seus lares, pois estavam impossibilitadas de andar. Em seguida, manda vigiar o crucificado e logo cavalga até a cidade. Sem se fazer anunciar, entra na residência de Pilatos, relatando-lhe o ocorrido e pedindo uma forte guarda para o corpo de Jesus, pois desconfia do Templo. Nisto chega ali um pedido, rogando permissão para o sepultamento. O comandante, contudo, persiste que tal se faça unicamente sob escolta romana. Dizem Nicodemos e José de Arimateia: “Somos amigos Dele, portanto, nada há que temer! Ser-te-íamos gratos por tua ajuda oficial!” Fitando-os com olhares de dúvida, o comandante diz: “Dizei-vos amigos Dele? Onde estivestes, quando exigi testemunhas de Sua inocência? Crede-me, se eu fosse Seu amigo, antes destruiria o Templo a permitir Sua crucificação!” Como o comandante afirmasse a inocência do supliciado, Pilatos permite que o corpo seja retirado da cruz. Rápido, o romano volta para perto de Jesus; não pôde, porém, impedir que um soldado Lhe perfurasse o lado do coração! Imediatamente, cientifica os amigos da permissão, mandando que se buscasse água, óleos e linhos.

Com imensa devoção, o corpo do querido Mestre é carregado ao sepulcro. Em seguida, o comandante manda selar a entrada, deixando uma forte guarda. Depois de tudo concluído, ele se junta às mulheres e a João, que se faziam levar à casa de Nicodemos. Este pede também ao romano que compartilhe da ceia, após a qual muito lhe é relatado da Vida e Atividade de Jesus. Altas horas da noite, volta para o seu lar.

2 - AVENTURA DO COMANDANTE

Já em casa, o comandante permanece sentado à mesa, meditando sobre os acontecimentos. Súbito, vê um grande clarão! Um jovem, em vestes luminosas, se curva diante dele dizendo: “Bom amigo! O amor ao nosso Deus e Criador, que permitiu assistíssemos àquele tão grande acontecimento, me traz aqui para te agradecer por aquilo que fizestes no ímpeto de teu coração! É preciso que reconheças em Jesus o Filho do homem, Deus de Eternidade! Não havia para o Criador outro caminho que salvasse todas as criaturas da perdição, após tantas e tantas tentativas, a não ser tornar-Se homem! Se Jesus tivesse pedido socorro humano ou exigido testemunhas, Lúcifer, o polo oposto de Deus, teria triunfado! A suma importância para a Criação do Seu padecimento e morte, patenteou-se no obscurecimento do sol e no tremor da terra! Todos os espíritos estavam com a atenção voltada para o Gólgota! Nada, porém, podiam fazer, porquanto o Amor Divino assim o quis. Assimila-o, para que possas reconhecer os caminhos dolorosos que Deus destinou para salvação das almas como meta final!’

Perplexo, o comandante estende a mão ao jovem, dizendo: “Caro amigo! Não pergunto quem és ou como entraste através de portas fechadas, pois muita coisa extraordinária ocorreu no dia de hoje, estando minh’alma agitada! Desejo apenas saber: Onde agora se encontra Jesus, porquanto irá revelar-Se como vencedor da morte, de acordo com Suas próprias palavras. Esta pergunta não me dá sossego! Esclarece-me, se te for possível! Diz o anjo: “Querido amigo e irmão, mister se torna que te acalmes, para que te possa mostrar a Graça, a Misericórdia e o Amor Divinos! Medita profundamente sob o olhar amoroso que o Senhor te dirigiu! Preparar-te-ei, pela Força e a Bondade de Deus, a fim de que possas me seguir! É, porém, necessário que o queiras. Instrui teus servos no sentido de não penetrarem aqui, pois teu corpo não deverá ser tocado enquanto tua alma me acompanhar ao mundo espiritual.” Após ter o romano dado o consentimento, o anjo toca sua testa e o coração, caindo ele num sono profundo, enquanto sua alma se desprende numa forma esbelta, seguindo seu guia ao Gólgota.

3 - ACONTECIMENTO ESPIRITUAL NO GÓLGOTA

Em lá chegando, assistem à aglomeração de grandes falanges de espíritos! Numa luz radiosa se acha Jesus, mostrando Mãos e Pés ainda sangrentos aos espíritos habitantes das trevas. Como que obedecendo a uma ordem silenciosa, abre-se uma passagem por entre esta multidão, para que o anjo e o romano possam Dele se aproximar! Profundo silêncio se faz quando Jesus afirma: “Tudo que viste e ouviste de Mim foi a pura manifestação do Amor! Desejo, porém, dar-vos uma prova deste Amor que redime! Aproxima-te tu que foste crucificado junto a Mim e a quem prometi estar ainda hoje ao Meu lado no Paraíso! Assististe ao Meu suplício, agora serás testemunha de Minha Vitória! Apenas exijo uma condição: Perdoa aos que te abateram!” O ladrão se joga a Seus Pés, balbuciando palavras que prometiam exterminar o que de ódio ainda lhe curtia a alma. Jesus o levanta e diz: “Assim sendo, vai à procura de Meu irmão perdido que, numa cegueira de paixões e desespero, pôs termo à vida! Ele está no Templo”.

Dimas, o ladrão, Lhe pede: “Divino Mestre! Tua Vontade se faça! Dá-me, porém, força e coragem para este empreendimento!” Jesus o abençoa e em seguida dirige-se aos outros: “Todos vós que permaneceis ainda nas tumbas volvei a Mim, à Luz!” Crede-Me, sou Aquele Esperado por vossos antepassados! Olhai-Me, que vos abri a porta que até então estava fechada! Não quero ser vosso juiz, e sim vosso Salvador! Refleti! Chegou o momento da Grande Graça! Se hoje Me reconhecerdes e aceitardes Meu Verbo, podereis acompanhar-Me ao Templo e testemunhar o final da Minha Missão! Com isto, tereis deixado os elementos da morte, para penetrardes na Vida Eterna! Coisas há, porém, que tereis de abandonar: ódio, desejos e paixões que ainda pululam no vosso íntimo! Vede; assim como Eu agi pelo Amor desinteressado, será apenas possível viverem Comigo aqueles que seguirem Meu Exemplo. Reconciliai-vos com todos, e tereis a prova da nossa União pelo espirito do perdão! Vinde a Mim, que sois cansados e atribulados, esperando por Aquele que unicamente vos poderá socorrer, oferecendo-vos o Pão da Vida, no desejo de vos conduzir dessa existência trevosa à Vida do Amor e da Alegria! Amém!”

Profundo silêncio se faz sentir. Eis que um ancião, curvado pelo peso dos pecados, aproxima-se de Jesus, cai de joelhos e diz: “Oh Tu! Com que imensa alegria bendizemos Tua Vinda, pois que nos queres trazer Luz e Vida! Quantas eternidades passamos prisioneiros! Tu, oh Salvador e Ungido! Quão contentes ficaríamos de poder seguir-Te! Mas tal não é possível, pois somente Tu conseguiste cumprir a Lei! Nós somos culpados! Oh Jeová! Tua Lei nos aniquila! No entanto, assistimos, como espíritos, Tua Vida, Sofrimento e Morte! Ofertaste a um criminoso socorro, perdão e graça! Mostra, pois, como compartilharmos da Salvação! A serpente de Eva nos prende à matéria! Senhor, Jesus! Socorro! Ajuda-nos, como fizeste a outrem!” As lágrimas lhe inundam o rosto. Jesus dele Se aproxima, pousa Sua Destra na cabeça do velho e diz: “Anima-te e confessa tua culpa com arrependimento, para poderdes entrar na Verdadeira Vida de Amor ao próximo! Foi este o motivo que Me trouxe, pois fostes testemunhas da Minha Imensa Humildade, manifestada pelo Espírito do Perdão! Volta a Mim, que sou Deus e Jeová!”

4 - JUDAS PERANTE O SENHOR

Novamente abre-se uma passagem entre as falanges: é Dimas trazendo Judas pelas mão! Trêmulo, este se posta diante do Mestre. Jesus o fita com doçura e diz: “Judas! Reconheces agora, após teu sofrimento, que a Verdadeira Vida se baseia no Amor? Vê, consegui socorrer milhares que desejavam compenetrar-se desta Vida cheia de Graça! Tu, porém, não ligaste às Minhas Palavras, Minha Doutrina desejada por inúmeros corações, e que também deviam salvar-te! Vê Minhas Chagas! Serão elas um guia para aqueles que caminham no erro! A estes aqui pude dizer: “Vinde Comigo, que vos mostro a estrada da Salvação!” A ti digo: “Tens de achá-la sozinho, pois conheces Minha Ação e Meu Verbo! Judas, não posso aconselhar-te, nem socorrer-te! Perdoo-te, apenas! O traidor joga-se aos Pés do Mestre e tenta beijá-Los. Jesus, porém, continua; “Pobre infeliz! Enquanto vivo, podia ajudar-te, pois eras inconsciente! Aqui no Reino Espiritual predomina somente o livre arbítrio! Agora és consciente e acharás o caminho que conduz a Mim, apenas pelo domínio forte de tua índole! Acolhes ódio, raiva e amor-próprio ofendido em teu íntimo! Por ora, tua vida mental o domina! Perdoei-te por teres agido através desta cega tendência! Compenetra-te ser espiritual o Meu Reino da Vida Eterna!”

Dirigindo-se aos outros, diz Jesus: “Vamos ao Templo! Quem quiser que Me siga!” Novamente abrem-se alas para que Jesus caminhe por entre o exército de seres celestiais em direção ao Templo, cujas paredes à Sua Entrada parecem dilatar-se. Ele, porém, penetra no Santíssimo. No calvário, permanecem Judas e Dimas.

5 - O SENHOR NO TEMPLO

No interior do Templo, predomina a maior confusão, pois o reposteiro preciosos que deveria ocultar o Santíssimo rompera-se de novo, não havendo mais possibilidade de conserto. Jesus ali penetra sem que algum sacerdote pressinta o grande acontecimento que deveria ocorrer. Tanto o anjo como o comandante romano se acham ao lado de Jesus, acompanhando com máximo interesse o que se passa. Eis que se aproxima um grupo de anjos com trombetas e, a um sinal de Rafael, fazem soá-las. No mesmo instante abrem-se as catacumbas do subsolo, e os espíritos surgem em vestes sacerdotais e pontifícias. Um deles se adianta, perguntando com altivez o que representa aquilo. Rafael, o mensageiro de Deus, responde: “São as trombetas do Julgamento Final! Chegou Aquele que receberá as almas entregues a vós! O Senhor retira os talentos que recebestes! Regozijai-vos, se agistes bem; do contrário, não tereis que aguardar boa coisa!”

Sério e circunspecto, O Pontífice se encaminha para Jesus, cujas vestes brilham como neve tocada pelo sol. Mas, vendo-lhe as chagas, cai como morto aos Pés do Senhor. Os sacerdotes, percebendo que seu chefe não se levanta, ajoelham-se e aguardam amedrontados os acontecimentos. Jesus ergue Suas Mãos magoadas, volta-se para todos os lados e curva a Cabeça. Entre as falanges reina um silêncio mortal, pois não ouvem as vozes dos templários ainda encarnados! Agora vibra uma música suave, que ora aumenta, ora diminui.

O Pontífice volta a si, e Jesus lhe diz: “Vim pessoalmente para libertar-vos do sono espiritual! Eu, a Vida, rompi os limites, venci a morte, a fim de mostrar a todos o caminho para a Vida Eterna! A notícia de Minha Passagem sobre a Terra penetrou até nos confins do mundo dos espíritos! Muitos já se confortaram na Fonte da Vida, através dos Ensinamentos dados pelos anjos. E vós? Onde estáveis? Quem vos impediu de Me conhecerdes, fazendo-se necessário o ressoar das trombetas, para que se abrissem vossas celas escuras?

Animando-se, diz o Pontífice: “És Tu o Senhor? Deus? Jeová? Ou foste enviado por Ele? Teu olhar é cheio de meiguice, tuas mãos e pés demonstram os estigmas de um crucificado! Quem és? Quando Te vi inundado de luz, um sentimento empolgou-me: é Deus! Vendo, porém, tuas chagas, julgo que não O sejas, tampouco Aquele que nos deveria libertar, acompanhado de arcanjos! Estás rodeado por grande multidão! O simples fato de teres penetrado em nossas tumbas não prova seres o Onipotente! Muitos já viram em vestes igualmente luminosas, dizendo-se enviados de Deus! Mas não o eram! Sou responsável como servo desse Templo sagrado e me vejo obrigado a te exigir pormenores! As trombetas podem ter sido falsas, e a música, mistificação! Eu, Pontífice, tenho o direito de mando no Santíssimo! De há muito o reposteiro se rompera (impressão fictícia causada aos espíritos); eis porque não vos expulso, porquanto Deus vos tolera!

Diz Jesus; “Eliasib! Pobre infeliz! Cego! Quanto tempo pretendes ficar aqui? Não tens consciência de que esse templo seja apenas aparição? Não reconheces que teu dever aqui é baldado? Nunca te ocorreu que tu e teus sacerdotes fazíeis apenas o que vos agradasse? Dize-Me: quando tencionas cumprir a Vontade de Jeová? Ou descobrir Sua Vontade? Tinhas os melhores propósitos, quando foste ungido! Como pediste sinceramente que Deus te auxiliasse em teu ofício, Eu te procurei, lembrando-te este fato! Nunca esqueci Minha Promessa! Tu, porém, em breve olvidaste Teu Senhor e Deus, sem que isto te perturbasse em tua posição elevada! Digo, porém, a todos: Vosso prazo está se esgotando! Desprovidos da compreensão do Eterno, pôde acontecer que dormísseis no vosso templo, jamais ouvindo a Boa Nova dos grandes acontecimentos sobre a Terra! Ouviste a exclamação de Simeão: “Senhor, deixa que Teu servo siga em paz; pois meus olhos viram o Salvador!” Se tivésseis estado alerta, também poderíeis ter visto a Glória no Filho do homem! Olhai acima de vós e vedes os amigos que desfrutam as Bênçãos Divinas, pois reconheceram a época da Graça para todos os que, em Mim, confirmam Aquele do qual fala a Escritura, trazendo liberdade e Vida para os que creem e O seguem! Por isto repito a chamada: Abandonai esta falsa concepção! De há muito vos encontrais no Reino dos Espíritos! Eu Mesmo, Espírito e Vencedor da morte, venho, a fim de vos conduzir à Vida Verdadeira! Sois mais pobres do que podeis imaginar! Só por Mim, vosso Messias, podeis ter consciência de que: Deus ainda hoje vos ama! Olhai Minhas Mãos e Pés, perfurados pelos cravos! Testemunham Minha obediência à Vontade Divina e Meu Amor-Perdão para com todos vós! A prova mais convincente, porém, ser-vos-á dada pela certeza de ter Eu apagado vossa culpa! Exijo-vos, apenas, a fé e que Me acompanheis à Verdadeira Vida que um servo de Deus pratica pelo amor desinteressado! Por isto, pergunto: Eliasib, acreditas-Me?”

̶ “Não, não te creio” ; responde o Pontífice com frieza. “Se fosses o Messias, saberias que estamos no Santíssimo, embora o véu não o oculte! Por isto te digo como dignitário eclesiástico: Deixa esse recinto sagrado com todos que te acompanham, para que possamos nos purificar!” ̶ “Alto lá! Nem mais uma palavra, tolo cego!” ; retruca Jesus com rigor. “O que hoje te deveria ser ofertado pela Luz da Graça, terás dificuldade de achar no futuro! Qual a opinião de vós outros? Tencionais continuar nessa vida fictícia, ou penetrar na Luz da Verdade, no Meu Reino? Meu tempo é restrito, tenho de chamar a outros! Quantos estão à espera de que Eu venha abrir as prisões de seus enganos? Dou por terminada Minha Missão aqui! Rafael, faze com que este templo fantástico desmorone, depois de o terem deixado todos os de boa vontade!” Os anjos elevam as trombetas e, sob o clarim alegre, o Senhor segue com os Seus ao Monte das Oliveiras. Os que tinham sido libertos, Ele manda encaminhar pelo anjo ao novo destino, conseguindo desta forma arrancar da morte tão sublime presa.

Quando mais ninguém se anima a deixar o templo, eis que rui debaixo de fumaça e fogo este edifício de mistificação espiritual, enterrando o Pontífice e seus adeptos. Com dificuldade e dilacerados pelas dores, conseguem sair dos escombros, tendo agora vontade de seguir Aquele que tanto lhes pediu; era tarde, porém! Tudo continua nas trevas!

Esta visão foi dada ao comandante romano, para que recebesse luz em sua consciência sobre o que é divino e o que é humano. O anjo o reconduz à morada, onde novamente o integra na realidade terrena, dizendo: “Não julgues ter sonhado! Tem fé! Ama verdadeiramente e serve, fiel, Àquele que acabas de conhecer! Terás outras revelações acerca dos designíos de Deus! Não te amedrontes, pois recebeste o dom da visão espiritual! Que a Vontade de Deus nos guie! Amém!”

6 – O SÁBADO ANTERIOR Á PÁSCOA

Bem disposto, sem o menor cansaço, sem o menor cansaço, o comandante de manha se faz acompanhar por alguns soldados, a fim de controlar a guarda na tumba. Pelo lado de fora está tudo em ordem; os soldados, porém, contam que durante a noite ouviram um canto suave entoado por muitas vozes, o que lhes impedira o sono. Comovido, o comandante levanta o olhar ao céu. Eis que vê novamente um grupo de anjos e Jesus em seu meio. Então começa a duvidar: O que seria verdade? Pensativo, fita com a visão interna a tumba selada: está vazia! Agora sabe que Jesus vive, o que inunda de imensa alegria seu coração, contemplando o Senhor, que lhe acena. Seu júbilo não pode ser contido, pois logo vai à procura de Nicodemos, a fim de lhe contar a visão. Ambos se dirigem ao Templo, em cuja proximidade o romano vê os escombros e percebe como o ex-pontífice e outros sacerdotes se chamam reciprocamente sem resultado, em virtude da escuridão. O comandante relata o que se passara ali, pronunciando o nome de Eliasib. Diz Nicodemos, admirado: “Foi Pontífice em épocas remotas! Como, porém, não quis reconhecer o Senhor, levará tempo para chegar à luz.

Dentro do Templo há muito povo, e os templários se veem confusos por causa do véu rasgado. Fitam o romano de modo hostil; este, porém, não lhes dá atenção, despedindo-se de Nicodemos pra ver Pilatos. Ali, logo se refere ao assunto do dia. Quando o comandante afirma estar o sepulcro vazio e Jesus vivo, Pilatos dá ordem para abri-lo. O outro, porém, diz: “Não é preciso, pois o Nazareno saberá quando convém fazê-lo! Sua vitória será evidente sobre o orgulho dos templários! O prestígio destes está se extinguindo, e o véu também os preocupa, pois não conseguem remendá-lo.” Em seguida, o romano se despede, a fim de mandar atrelar um cavalo que o leve a Betânia. Um empregado o acompanha.

7 – A PRISÃO DE JOSÉ DE ARIMATEIA

Não longe de Emaús, o comandante vê seu anjo protetor, que lhe diz: “Ouve, tenho a transmitir-te uma mensagem do Senhor! Deves primeiro procurar Lázaro em seu albergue, pois José de Arimateia, que fizera sepultar o corpo de Jesus em sua propriedade, foi preso pelos sacerdotes. Da parte de Pilatos, nada se pode esperar. Vai tu e liberta-o como autoridade competente, já que foste incumbido da crucificação. Como o Templo teme o crucificado, comete mais este crime! Não te amedrontes, pois sentiras a proteção de Jesus!

O anjo desaparece, e o comandante volta a Jerusalém, ao acampamento, onde requisita um pelotão. Chegando ao Templo, exige a libertação de José de Arimateia. Tanto o Pontífice como seus sacerdotes se admiram, assustados no íntimo, negando tal fato.

O comandante, severo, os enfrenta dizendo: “Se não trouxerdes de boa vontade o prisioneiro à minha presença, farei atear fogo nessa construção! Por vossa culpa, mandei suplicar um Justo! Vós, porém, O seguireis!”

Assustados, os sacerdotes recuam. Um deles, no entanto, dirigindo-se ao romano, diz: “Manda fazer uma busca no Templo, pois nada me consta sobre a prisão de José de Arimateia, meu amigo”. Nisto se aproxima o anjo em vestes romanas e diz ao comandante: “Libertarei o prisioneiro e trá-lo-ei aqui!” Em breves instantes, aparece José em vestes rotas, agradecendo comovido a seu protetor. Este responde: “Caro amigo! Agradece Àquele que nos criou e nos vigia com cuidado! Paciência, que dentro em pouco assistiremos ao maior milagre!”

Neste ínterim, se juntam os sacerdotes, pasmos ao verem José naquele estado! O anjo, então, confirma que somente Caifás sabia do ocorrido. O romano diz a este: “ Foste tu o móvel deste ato! Cuidado, que tua medida está completa, e sorte tua eu ser adepto de Jesus! Far-te-ia crucificar sem processo!”

Apoiando José de Arimateia, eles seguem escoltados pelo pelotão para o albergue de Lázaro.

Os soldados acampam no pátio e no jardim. Lázaro e o administrador cumprimentam o comandante e se admiram por ver o rico José de Arimateia nesse estado deplorável. O romano, então, relata como foi instrumento de Jesus na libertação do amigo do Senhor.

Ele conta como de manha cedo havia se dirigido ao túmulo para orar: “Após profunda meditação, saí de lá por uma portinhola que dá para um córrego. Eis que se aproximaram cinco homens numa palestra amistosa. Passando por mim, fui por eles amordaçado, e ainda jogaram um saco sobre minha cabeça. Depois de um longo trajeto, percebi que descíamos por uma escada, pois ainda pude ouvir o ruído de um trinco. Sentaram-me no chão, soltando-me as cordas e o saco. Aí um deles disse com deboche: “Tanto tu quanto o Pontífice podeis refletir sobre a maneira de te levar ao silêncio!” Deixaram-me só, num cubículo que tinha no teto uma pequena abertura por onde penetrava alguma luz. Fiquei à espera, porquanto de nada me adiantaria gritar por socorro. Apena um pensamento me animava: “Deus! O Senhor não haveria de me deixar desamparado!” Isto me acalmou completamente. Depois de algum tempo, abriu-se cautelosamente a porta, dando passagem a um soldado romano, que me levou para fora. Vi ainda o ferrolho voltar ao lugar. Em seguida, fui trazido à presença do Pontífice. Que pensará ele, ao perceber que o cubículo continua fechado?

Então o romano relata sua própria excursão pelo mundo dos espíritos, onde Jesus, o Senhor, continua vivendo e doutrinando; pois sua tumba está vazia! Lázaro, tomado de uma alegria sagrada, diz: “ Oh, se Maria estivesse aqui!” ̶ No mesmo instante ela chega em companhia de Madalena e Nicodemos. Ambas as mulheres estão calmas e serenas, empolgando-se o romano com sua atitude. Dirigindo-se à Maria, ele diz: “Respeitável e mui digna Mãe, considero tua dor! Teu coração, porém, será em breve tomado de alegria, pois Jesus vive, venceu o poder da morte! Sinto uma promessa em meu íntimo: Sempre seremos abençoados por Seu Espírito e Força!”

8 – COMO O SALVADOR É ESPERADO NUM OUTRO TEMPLO

Enquanto o romano conforta os presentes, sua fisionomia se transforma, pois tem a seguinte visão, que relata: “Meus amigos, vejo um templo enorme, cuja entrada é vigiada por dois leões repousando em duas colunas. Os arcos são ornamentados por pedras preciosas e multicolores. No fundo há um altar em cujo cimo arde uma forte luz. De cada lado vejo um anjo que segura inclinadamente uma espada numa das mãos e na outra, erguida, uma coroa cravejada de diamantes. Diante do altar se acha Jesus, mostrando Suas Chagas. Agora percebo estar o Templo repleto de seres desencarnados. Como no de Jerusalém, também aqui se apresenta um sacerdote; sua vestimenta é ornamentada de galões dourados e seu peito, de joias de ouro. Curva-se profundamente diante de Jesus e diz: “Senhor, por fim soou a hora de nossa libertação; não mais faremos apenas aquilo que no mundo nos deu poder. Senhor, devolvo-Te o que Me entregaste, depositando em Tuas Mãos minha missão de pastor. Profundamente gratos, nos curvamos diante de Tua Santidade! Cumpriste a promessa de nos abrir as portas das trevas e da morte! Glorioso Filho Divino! Mártir do Teu Amor-Sabedoria! Que a nós venha Teu Reino de Amor e Justiça! Revela-nos Tua Vontade!

Diz Jesus com brandura: “Meus amigos e Meus filhos! Reconhecei-Me como Aquele que deveria libertar os prisioneiros! Modificai vossa índole! Como almas desencarnadas que sois, livrai-vos da matéria, não temendo confessar abertamente que sois todos pecadores e necessitais do Salvador! Tudo depende de vós!”

O sacerdote tira suas insígnias e galões e tenta depositá-los aos Pés de Jesus. O Senhor, porém, meneia com a cabeça, e sacerdote entrega tudo a um anjo. Após isto, ajoelha-se e diz: “Senhor e Salvador, falo em nome de todos! (todos se ajoelham). Estamos prontos para tal! Acreditamos em Ti, em Tua Missão! Perdoa-nos o que fizemos numa compreensão errônea e, se quiseres castigar, castiga apenas a mim! Quero penitenciar-me pelos enganos que incuti aos outros!”

Jesus Se aproxima dele, fá-lo levantar-se e diz: “A paz esteja convosco! Não vim para pedir contas, e sim para vos mostrar a Vida em Sua Glória! Falta-vos o amor-perdão, pois julgáveis ter feito tudo pelo culto religioso! Dar, praticar, harmonizar o amor! Ter como única meta a felicidade do próximo! Isto vos falta! Aprendei-o Comigo, que sou Amor e Meiguice, Paciência e Misericórdia! Todo o Amor emana do Pai, e o Pai é Minha Vida Intrínseca! E esta Minha Vida de Amor Eu vos dou, se Me entregardes a vossa, de livre vontade! Vede Minhas Mãos e Meus Pés! São para sempre a prova externa do Meu Amor e Paciência para com os perdidos! A prova íntima somente sentireis quando agirdes de acordo com as Minhas Palavras! Amai-vos! Alimentai este Amor pelo servir e pelo zelo santificado de Me agradar e Me ofertar vosso amor-próprio! Se quiserdes isto, levantai-vos e tende ânimo! Meus anjos distribuirão pão e vinho de Vida!”

Um dos sacerdotes se curva diante de Jesus, oferecendo-Lhe sua parte e dizendo; “Senhor, sem parecer ousadia minha, desejo oferecer-Te o que Me cabe!”

Com simplicidade, Jesus lhe diz: “Meu irmão, vê como todos saboreiam esse alimento de Amor! Vem, sacia-te e esquece teus pecados! Quando tiverdes compartilhado dele, teu passado será remido; pois Eu sou Vida e Luz, Pão e Vinho!” Os anjos rodeiam o Senhor, que diz a todos: “Meus filhos! Segui Meus servos fiéis às moradas que o Amor vos preparou! Tu, Meu irmão, fica Comigo! Serás testemunha de Minha Misericórdia!”

Nisto se apaga a visão espiritual do comandante, e todos estão comovidos por terem notícias de Jesus!

O romano também silencia. Um expressivo olhar de Madalena lhe revela o grande amor que dedica ao Mestre, pois não demora em perguntar-lhe: “Será demais perguntar pelo aspecto de Jesus? Aparentava vestígios de Seu sofrimento?”

O romano responde: “Nobre filha de Zion! Jesus parecia transfigurado! Seus Olhos brilhavam como gotas de orvalho tocadas pelo sol! Suas feridas estavam sombreadas. Ele devia estar feliz! Sua Voz era meiga, lembrando o som de harpa! Todo Seu Porte, majestoso! É, portanto, vencedor; os outros, vencidos!” Madalena agradece amavelmente. Maria estende a mão ao romano, que a beija. Em seguida, todos se dirigem ao jardim com os corações cheios de uma alegre expectativa.

9 – JESUS EM MEIO DE COMERCIANTES JUDEUS

Como Lázaro é chamado a negócios, o comandante tem calma para meditar. Eis que cai novamente em transe e é levado a Jesus, que Se encontra num vasto jardim. Grande multidão, mormente comerciantes com suas caravanas, haviam ali acampado. Tdos estes, porém, estão sem consciência da morte, continuando o comércio como seu meio de vida. Entre eles está Jesus com seu séquito de almas já libertas. Ele os fita dolorosamente, porque a maioria havia assistido a Suas Ações, Seu Sofrimento e Morte! Este acontecimento, no entanto, lhes fora apenas um espetáculo sem influência para suas vidas mundanas.

̶ “Ouvi-Me”, clama Jesus. “Não Me conheceis? Já tudo se apagou em vossas memórias? Considerai que não mais sois homens da Terra; sois espíritos, mais ainda na crença de ali permanecerdes! Já imaginastes o que iria suceder, se vossas mercadorias e fortunas desaparecessem? Vim para vos anunciar que soou a hora de vossa libertação, na qual reconhecereis que a Salvação só se encontra no Meu Amor para convosco. Somente Ele Me deu a força de tudo sofrer e preparar-vos o caminho no qual nos poderemos encontrar! Perguntai a todos os que assistiram aos Meus Milagres; confessarão que agi não como homem, e sim como Deus! E morri na cruz, provei que para Meus filhos não haveria sacrifício que Eu não aceitasse! Deste modo, criei o meio de ascenção para o Coração Amoroso do Pai! Perguntai a Meus anjos! O que cantaram quando Eu nasci não pode ser comparado aos cânticos entoados hoje e àquilo que presenciaram! Pergunto-vos: Acreditais-Me?”

Um velho judeu se aproxima e diz: “Sim, és Jesus, filho do carpinteiro José! Mas ..., porque nos procuras? Julgávamos-te no Templo! Não mais temos relações com os de lá! Sua ganância e rispidez nos abriram os olhos. Deixa-nos em paz, que também não te incomodaremos. Lastimamos teu sofrimento. Tua crucificação, porém, prova que necessitas de socorro! Se aqui permanecemos, é porque algo de misterioso nos prende. Por acaso precisas de nossa ajuda?”

Diz Jesus: “Vede Minhas cinco Chagas! Quem as reconhece, bem interpretará Minhas Palavras! São provas de que um especial motivo Me levou à Terra; por isto falei no final: “Consummatum est!” Nada disto vos leva a pensar? Convencei-vos de que essa existência aparente não tem mais razão de ser! Prestai atenção: Toda a vossa caravana com vossas mercadorias desaparecerão, a fim de que reconheçais em Mim não só o Poder, mas também Aquele que de vós Se aproximou! Sou fisicamente o por vós conhecido Jesus de Nazaré; Meu Espírito, no entanto, é o de Deus! Através da morte, Minha matéria foi penetrada pelo Espírito Santo, que a desintegrou! Poderia provar-vos isto. Jamais, no entanto, subjugarei o livre arbítrio da criatura. Apenas aquele que vier por bem será aceito! Aproveitai este momento de Graça, para não vos arrependerdes de vossa teimosia! O único tesouro que vos resta é representado pela conquista do amor! Tudo será esquecido, se esquecerdes vossas posses à procura de Minha Meta! Compartilhai da comunidade de Meus anjos e uni-vos pelo espírito do puro Amor! Então vereis Aquele que proporcionou a Moisés e Elias a Glória de Deus!”

Admirados, todos ouvem esta revelação! Suas fisionomias demonstram pavor e decepção quando seus bens materiais de desaparecem. Diz o velho judeu: “Onde ficaram nossas mercadorias? Compreendemos que devemos seguir-Te!”

Diz Jesus: ”Ouvi-Me todos! Vossos bens não desapareceram, porquanto só existiram na vossa imaginação! Aquelas fantasias tinham que esvanecer, porque a Verdadeira Vida dentro de Mim transforma tudo num ser novo! Assim como a neve se derrete sob os raios de sol, as verdades aparentes se dissipam em Minha Presença! Reconheceis o que sois! Vossa vida terrena findou há muitos anos! Mas, como habitantes de vosso próprio mundo, não sabíeis que tínheis morrido e continuáveis a observar os acontecimentos da Terra. Vós, justamente, tendes provas de Meu Amor e, como descendentes de Davi, sabeis que também dele descendo. Se Me seguis, conduzir-vos-ei até onde ele se encontra, assim como Abraão!

Todos se calam! Eis que o velho judeu se ajoelha, pedindo perdão por não ter reconhecido o Senhor! Jesus pousa Sua Mão na cabeça do velho e diz: “´Já que Me reconheces, não precisas ajoelhar! Curva tua índole, para fazeres despertá-la ao suave influxo necessário para imitar-Me!”

O velho se levanta e exclama: “Irmãos! Cada palavra de Jesus me comove profundamente, pois é verdadeira! Somente Ele nos poderá ajudar! Deixemos esse jardim onde perdemos nossas posses. Em Jesus encontraremos tudo! Ofereceu-se para nos conduzir onde estão nossos antepassados! Quereis segui-Lo?” Todos respondem: “Sim!” Diz Jesus: “Pois então vinde e apreendei do Amor e da Força que o renova constantemente! Amém!”

Com isto, a visão se esvai. Quando Lázaro volta para junto do romano, percebe que ele tivera uma revelação. Por isto põe a mão em seu ombro e diz: “Irmão, guarda-o para ti, a fim de que nossos corações consigam permanecer serenos, e possamos assistir a esta União com Jesus!”

As mulheres se tinham refeito e combinado ir pela manhã ao sepulcro, para ornamentá-lo. Em seguida, relembram fatos do convívio com o Mestre. Principalmente Maria Madalena afirma não poder deixar de amá-Lo, pois tudo que tem é Dádiva Sua. Deseja apenas abraçá-Lo uma vez mais, para depois morrer!

Maria, então, lhe diz: “Querida, não fales assim! Não rompas o fio, a compreensão de ser Ele o Senhor, que não ficará na tumba! Devemos amá-Lo somente em espírito! Agora percebo Sua Vitória! O Amor Dele deve se tornar nossa vida; apenas pelo Amor Ele permanece invisivelmente em nosso meio, insufla-nos Sua Força e Sua Luz, trazendo paz e calma em nossos corações!”

Todos sentem o bálsamo das palavras de Maria como um suave eco. É noite. O comandante tenciona voltar à cidade com Nicodemos; Lázaro, no entanto, lembra-lhes estarem num sábado e que não convinha fazê-lo à noite. Desta forma, todos ficam no albergue.

10 - POR QUE ERA PRECISO JESUS MORRER

Quando tencionam se recolher, o comandante pede a Lázaro que lhe faça companhia, porquanto não encontra dentro de si explicação dos acontecimentos. Com prazer Lázaro a isto se prontifica, animando os outros para uma palestra. As mulheres já se haviam recolhido. Assim, Lázaro se aproxima do romano, pousa a mão sobre seu ombro e diz: “É justo que nos peças esclarecimentos para o caso. Fala! O que te aflige?”

O comandante lança um olhar sobre os outros e diz: “Irmão e amigo Lázaro! O espírito de amor que reina entre vós e tanto bem me faz anima-me a vos tratar assim! Eis minha pergunta: Por que razão Jesus de Nazaré, judeu, teria de sofrer esta morte pagã? Não haveria outro meio que não fosse o máximo vexame? Qual o elevado motivo visado por Jesus? Custa-me conceber, sendo pagão, que Seu sofrimento e crucificação fossem um ato de Salvação e de Graça!”

Lázaro estende a mão ao comandante, dizendo: “Caro amigo, não mais te chames assim, pois fizeste apenas o que o dever te impunha. Quando, porém, teu olhar procurou o do Mestre, Ele reconheceu teu pedido de perdão! Bem sentiste a resposta à tua súplica, e com ela o despertar do teu espírito! Por tal motivo, Deus mesmo enviou-te um mensageiro, revelando-te o que milhões desconhecem! Não podias negá-lo, confessando que Jesus, crucificado, vive, mas uma vida imperceptível aos sentidos! Tua razão reage e pergunta: Se Jesus não é mortal, por que aquele suplício e vexame? Vê, meu irmão, o que assististe no Gólgota foi a revelação de Sua Natureza Divina! Ficou provado, não só à humanidade, e sim a todo o Infinito, que a base originária de toda a vida repousa no Amor Divino para conosco e na Misericórdia quanto à nossa vida afastada de Deus! Compreenderás o que te digo através do Espírito do Senhor, pois é de Sua Vontade revelar-te o porquê e a solução.

Por intermédio da queda de Lúcifer, o primeiro anjo de Deus, uma legião de espíritos, posteriormente encarnados, foi levada a uma direção que destituía a todos da integração na Eterna Pátria de Luz! Lúcifer, portanto, tornou-se inimigo da Vida que surgiu da Divindade! Deus, porém, não é só Criador, mas deseja ser Pai de Seus filhos. transviados! Tornou-se necessário, por isto, achar um caminho viável mesmo para os mais renegados! Após longos períodos, Deus mesmo pôde realizar este empreendimento como homem. Seria demasiado extenso integrar-te nos meus conhecimentos. Basta que te diga: No Homem Jesus manifestou-Se desde cedo a Vida Intrínseca do Espírito Eterno de Deus! Em criança, já sabia de Sua grande Missão; aos doze, ultrapassava os doutores do Templo na interpretação da Escritura Sagrada. Lutas externas e internas que se manifestavam cada vez mais intensas tornavam-No mais forte. Pois Deus somente podia ganhar terreno vital dentro Dele, à medida que Jesus conseguia renunciar e e dominar a matéria. A consciência nítida de que “Deus Mesmo vive dentro de Mim”, criou Luz e Força em Sua Vida Íntima!

A esta consciência juntou-se o Amor à Sua Missão elevada, de sorte que só havia Nele um desejo: servir e agir de acordo com a Vontade de Deus! Cada vez o Amor mais se vivificava pela Onipotência Divina, e este sentimento vibrava pelo cumprimento de Sua Tarefa, no desejo de transmitir este Espírito de Amor, esta Fonte de todas as alegrias, a chave da felicidade eterna a todos aqueles que o desejassem! Mas ... como? Bem que Jesus fazia milagres e dava provas irrefutáveis, bem que proferia palavras santas e maravilhosas, mas conseguia apenas que o mundo com elas se empolgasse! Era preciso fazer um sacrifício que ultrapassasse Sua Ação até aquela data! Um sacrifício que aniquilasse o inimigo, caso tentasse desafiar o Amor e a Vida Espiritual de Jesus! Só poderá avaliar o Sofrimento de Jesus a criatura que o conheceu! E quando me reporto àquele drama, vejo-me a Seu lado. Sua morte, porém, traz-me o sossego íntimo de que Seu Infinito Amor Se concentrou naquele ato de máxima humilhação! Sinto nitidamente o efeito futuro deste Sacrifício, pois a cruz, símbolo do vexame, foi escolhida por Jesus como sinal de vitória sobre o pecado. No sinal da cruz e na compreensão do Gólgota, abrem-se as novas fontes espirituais, dando-nos a certeza de que fomos escolhidos pelo Salvador crucificado! Sinto pulsar uma nova vida dentro de mim na qual não existe mais sofrimento. Existe, sim, uma escola na qual Jesus pessoalmente me ensina e auxilia. Não te precisas tornar inteiramente adepto; se assimilares este novo incentivo, fazendo o que teu espírito te incute, saberás ser Jesus o móvel de tua vida! Podes concebê-lo?”

Responde o comandante: “Não completamente. Considera que fostes todos amigos Dele e iniciados em Sua Doutrina! Se Teu Sofrimento e Morte devem despertar em mim esta vida espiritual, pergunto: Não haveria outro meio de atrair Deus à humanidade? É algo de tétrico que um homem que sempre agiu pelo bem seja obrigado a pagar pelo pecado de todos! Já não me refiro a Jesus, mas a vós que tanto O amáveis!”

Responde Lázaro: “Meu amigo, tenho apenas a dizer-te que o Senhor bem o sabia, pois disse: “Se Eu não for ao Pai, o Consolador que os conduzirá à plena verdade não poderá vir a vós!” Não deixas de ter razão quando dizes ser horrendo pagar inocentemente as culpas alheias! Mas Deus mesmo assim o quis, a fim de que o sofrimento humano tivesse um término por toda a eternidade! Com Seu Ato de Máximo Amor, conseguiu a possibilidade de nossa reintegração ao Ser Divino! Bem que Sua morte nos causou grande abalo! Muito mais importante, porém, será nossa posterior certeza de que ele vive e nós também viveremos eternamente!

Representa isto um marco na história da humanidade! Primeiro, ninguém poderá dizer: “Por sermos pecadores, foi-nos obstruída a máxima sublimidade da Semelhança Divina!”; pois Deus renunciou em Jesus à Sua Glória, oferecendo ao mundo, oferecendo ao mundo, com este Amor de Salvação, a chave para o Seu Reino! Segundo, através deste Padecimento, compenetramo-nos da servilidade exemplar que fará das criaturas, irmãos! Um sentirá pelo outro, ajudando a vencer dores e sofrimentos, atribulações e misérias, transformando isto em fontes de alegria e gratidão! Terceiro, nossa vida tem agora, novamente, um destino santificado! A Terra, como campo de provações, foi abençoada pelo Senhor! Pois tudo deverá ser reconduzido aos Braços de nosso Pai, até mesmo o que viveu e ainda vive em erro! Neste monte Gólgota foi erigido um farol, do qual se desprendem raios luminosos como condutores de vida. Pois foi lá que Deus fez um novo pacto com o homem. Lá descobriremos a verdadeira vida dentro de nós! Aquilo que te apresenta como triste e aterrador, deve se transformar na certeza absoluta de que somos Dele, pois Se sacrificou por nós!”

O comandante, empolgado pela grandeza do Amor de Jesus, diz: “Irmão, agora se em torna tudo claro! A fé e o conhecimento dentro de mim serão os esteios básicos que a borrasca não poderá carregar! Uma coisa, porém, afirmo: Levará um tempo imenso para que este conhecimento se torne posse da humanidade; muitos ainda irão à cova sem o mínimo consolo e conforto espirituais, porquanto apenas a fé no Amor de Jesus nos unirá a Ele! Oh Jesus, Mestre do Amor, quão poucos Te compreenderão neste Teu Espírito Intrínseco! No entanto, ficarás a espera de todos! Deixa que eu, o estrangeiro, Te abrace e penetre em todo o Teu Ser! Preenche minha vida, que Te agradecerei por todo o sempre!”

Diz Lázaro: “Assim estará bem, meu irmão, pois pelo pedido já te tornas um filho de Deus, o que te possibilitará agir em benefício de outrem. Saberás que Jesus está contigo, escolheu teu coração para Sua Morada, e tudo em ti se tornou vida! Crê-me, mesmo no auge da dor, Jesus foi feliz, pois via o resultado promissor de Sua Semeadura, Seu Esforço e Luta! Por isto, deixai-nos continuar na fé de que somente o Espírito Divino nos poderá dar a força para a renúncia. O Senhor venceu, nós também venceremos! Tu, porém, Querido Mestre, não nos esqueças! Amém!”

A CAMINHO DE EMAÚS

Um radioso amanhecer de verão levanta o ânimo das criaturas, pois os últimos dias pesavam na alma de todos, desde que souberam do passamento de Jesus. Os pobres e doentes haviam perdido seu Salvador. O Mestre fazia falta até àqueles que não O aceitaram integralmente! Enquanto o assunto do dia girava em torno daquele fato, súbito surge a notícia: “Jesus não mais Se acha na tumba, ressuscitara!” Este boato se espalha rápido de casa em casa, sem que seja possível colher algo de positivo.

Na estrada para Jerusalém, acampara uma tropa de soldados romanos. Dois homens de Emaús ̶ Simão e Cleófas ̶ se dirigem ao centurião com o pedido: “Senhor, somos cidadãos de Emaús e amigos de Jesus de Nazaré. Recebemos a triste notícia de Sua morte no Gólgota, o que nos levou à procura de uma confirmação. Como, porém, diziam que na cidade de Deus rebentara uma revolta, não fomos até lá. Hoje, no entanto, as novidades são outras: Jesus não morreu! Consta ter Ele aparecido a alguns, o que dilacera nossos corações de dúvidas! Pedimos-te, pois, informações quanto às ocorrências dos dias passados.”

Diz o centurião: “Amigos, infelizmente é verdade!” Vosso amigo e Mestre morreu na cruz! Não havia possibilidade de ajuda-lo, porquanto aceitou a culpa, reconhecendo com calma Sua sentença final! Também já ouvimos algo sobre Sua Aparição, sem, no entanto, podermos confirmá-la. Não O conhecia pessoalmente; posso, todavia, garantir que considero feliz quem com Ele pôde privar! Ide até lá, a fim de vos integrardes da verdade!” Com estas palavras, dá ordem de marcha aos soldados.

Após longo silêncio, Cleófas indaga: “Simão, nada me dizes?”

“Querido irmão”, respondeu este, “que adianta falar? Nosso Mestre morreu! Que suplício não termos agido em favor de Sua libertação! Sofro demais e prefiro voltar para casa. Se ao menos pudesse morrer para que Ele vivesse ...!”

Responde Cleófas: “Alma fiel! Tua dor é minha também! Quem, no entanto, O rodeou, como tu, não se deveria sentir tão desconsolado! As Verdades por Ele recebidas são eternas, pois Sua Vida, Seu Amor, Sua Ação Caridosa perdurarão para sempre! Por isto, não nos devemos entregar ao desespero!”

“Amigo”, diz Simão, vejo que sentes como eu! Entretanto, queres provar não ser a minha dor justificada? Como dominar o coração quando chora? Podes sorrir quando ele sangra? Oh irmão, agora só poderia nos socorrer Aquele que não mais existe!”

Responde Cleófas: “Proferes palavras dolorosas, esquecendo as que o Mestre nos disse: “Quem se vê assolado pela dor, que Me procure! Consolá-lo-ei e o ajudarei verdadeiramente, transformando seu sofrimento em alegria!”; te lembras?”

Comovido, diz Simão: “Cleófas, teu consolo é bálsamo para minha alma dilacerada, mas não me pode tirar a dor! Oh Jesus, por quê? Por que permitiste que tal Te acontecesse? Tu, o Puro, o Divino sobre a Terra?! E agora, toda a esperança foi vã?”

Cleófas, sentindo a dor amarga de seu amigo, vira-se como à procura de auxílio. Eis que vê um estranho dele se aproximar a passos rápidos. Ambos param, fitando-o admirados. O outro, então, cumprimenta-os, dizendo: “A paz esteja convosco!” Eles agradecem: “E também contigo!” Após uma breve pausa, perguntam-lhe: “Para onde vais. Estamos voltando para Emaús!”

Diz o estranho: “Também sigo para lá e mais além. De longe ouvi vossos queixumes e vos procurei, porquanto vossa dor também me faz sofrer!”

Indaga Simão, admirado: “Como pode nosso sofrimento te afligir, uma vez que não demos motivo para tanto? Acaso conheces a causa de nossa tristeza?

“Por certo!”, diz o estranho. “Já a ouvi de vós. Penso, porém, que exagerais, dando demasiada expansão aos sentimentos; a não ser que seja algo inédito!”

Diz Simão: “Caro amigo, por acaso vens de tão longe que de nada suspeitas? Ouve: Lastimamos o passamento de Jesus de Nazaré, amigo e protetor dos pobres! Não há na Judeia quem não sinta esta desgraça, exceção dos templários e romanos!”

Fala o desconhecido com brandura: “Compreendo a dor que vos vem da alma tão esperançosa! Entretanto, pareceis esquecer que Jesus visa algo grandioso, apenas alcançável pela Sua morte: o cumprimento das esperanças que Deus, o Eterno, depositara Nele! Julgais, porventura, que Seu sacrifício fosse motivado pelo desejo de proporcionar uma vitória a Seus adversários?”

Responde Simão: “Amigo, talvez tenhas razão; nossas esperanças, porém, desvaneceram-se, pois continuaremos escravos e oprimidos. Temos a impressão de o sol querer afastar-se de nossos campos abençoados e de todos os amigos se ocultarem, dando razão ao adversário! Nossa fé se baseava na certeza de que apenas Ele poderia nos libertar! Que nos adianta o boato de que Jesus haja sido visto, feito circular por algumas mulheres? A morte não devolve sua presa!”

Diz o desconhecido som seriedade: “Simão, a dor te cega e te faz esquecer de tudo que Jesus falou! Não há mérito nisto! Se todos os discípulos abrirem seus corações a tais dúvidas, o inimigo de toda a Vida aumenta seu poder! Respeito teu sofrimento, por saber que as dores humanas passam pelo Coração de Deus! Já pensaste que provocas sentimento igual em teu querido Jesus? Sim, muito mais do que pensas! Até a Deus prejudicas com isto, porquanto o Mestre apenas cumpriu a Vontade Divina, mostrando às criaturas o caminho da salvação!”

Replica Simão, admirado: “Irmão, que palavras empregas! Acaso és Seu discípulo, chamado para divulgação da Doutrina? Fala-me Dele, a fim de que possa novamente me sentir alegre!”

Cleófas o secunda: “Sim, irmão! Tuas palavras emitem o som que tanto apreciamos: o som da esperança! É dolorosa a certeza de Sua morte! Se ao menos não tivesse padecido tanto... Até os romanos eram Seus aliados! Por que não incentivou Seus discípulos e amigos a lutarem contra a tremenda injustiça? Por quê? Oh, quem nos dará resposta?”

O desconhecido responde confiante: “Jesus mesmo, meus amigos! Pois, se bem que morresse fisicamente, não vive em nosso íntimo? Suas Palavras, Seu Amor e Atitudes já não se tornaram vivos em vós? Não vos transmite que existe apenas este meio? Através da morte, deveria Ele, o Falecido, renascer espiritualmente entre Seus adeptos e seguidores, a fim de despertar em cada um a consciência: “ Também eu quero colaborar em Sua Grande Obra, que sofreu interrupção pelo Seu Passamento ”. Caros irmãos, Jesus mesmo demonstrou que estava determinado no Plano Eterno Amor Divino este martírio e aniquilamento. Não pergunteis: “ Para quê?”; pois estas indagações são piores que as injustiças que Lhe foram aplicadas pelas criaturas cegas! Tu, meu irmão, já és um iluminado pelo Espírito de Jesus! Tua fé e teu amor para com Ele devem criar Sua Vida em ti, sem inibi-la em outros! Conheces Moises e os profetas e suas promessas! Considera que, se Deus procura anular a oposição reinante entre Ele e Seu adversário, é preciso aplicar o meio adequado! Este meio foi e é Jesus, que o será até toda oposição ser desfeita!”

Diz Simão, admirado: “Irmão, não te compreendo inteiramente e peço que tenhas paciência comigo. Que vem a ser a oposição entre Deus e Seu adversário? Referes-te ao mal? Neste caso, por que não se lutou abertamente contra Satanás? Teria sido facílimo ao Mestre exterminá-lo com a ajuda dos anjos!”

Diz o desconhecido em tom de advertência: “Simão, deste modo interpretas Jesus, que viveu entre vós como o mais simples, servindo-vos com um amor até então desconhecido à humanidade?! Simão, Simão, não te assustes se te digo que também tu foste escolhido e honrado para lutar em prol de Sua Justa Causa! Enganas-te em teu sentimento com referência à pessoa de Jesus, porquanto tudo depende de Seu Espírito e Sua Poderosa Vida Intrínseca! E este Espírito, Nele, como homem, é o móvel que força o inimigo a volver à Vida e à Ordem Divinas!”

Diz Simão: “Amigo, teria ensejo de agradecer-te pela advertência, se não fosse tão grande a minha dor! Como pareces estar melhor informado, pergunto: Não teria havido outro meio que a crucificação? Era intenção divina que Jesus a aceitasse? Imagina que Deus, Senhor da Vida e do Amor, não considera Aquele que enviou, exigindo-Lhe obediência até o suplício! Contudo, ainda não chegamos ao fim, porquanto também nós devemos aguardar tal morte! Oh Jesus, como Te seria fácil tirar-nos das dúvidas, se ainda fosses vivo!”

Diz o desconhecido, com seriedade: “Simão, por que aplicas novas chagas e dores a Teu Jesus e Salvador? Lembra-te das palavras de Isaías: “ Ele suportará por vós todas as dores e sofrimentos”. Tinha de ser supliciado e morto, a fim de vos livrar dos pecados e erros, encontrando a paz em Seu Amor! Diz ainda o profeta: “Àqueles que Nele esperam e creem, apresentar-se-á o verdadeiro Salvador, que os conduzirá à maravilhosa Jerusalém, nisto consistindo a cumprimento de todos os desejos e a extinção de todas as saudades de Deus e de Seus filhos! Julgas que a morte na cruz foi uma ordem de Deus? Oh não! Foi a livre vontade, o desejo íntimo no Coração de Jesus este sacrifício! Deus, o Eterno, o aceitou, elevando Jesus a Senhor sobre tudo que existe nos Céus e Terra! Se tivesse Nele predominado o mínimo constrangimento, o inferno teria motivos para regozijo. A morte de Jesus é a encruzilhada na qual os habitantes do inferno e os que estão com o Salvador em desacordo se confundirão! Justamente aquilo que te oprime e aumenta teu sofrer ̶ a cruz do Gólgota ̶ deverá se tornar o caminho e a âncora de salvação! Por esta cruz, todos terão de passar! Ninguém poderá contorná-la, pois impõe a condição básica que leva à Verdadeira Vida com Deus! Podes agora entender minhas palavras, Meu Simão? E tu, Cleófas?”

Este responde com ânimo: “Sim, irmão! Toda a tristeza se dissipou! E penso que também Simão se convenceu de que o Senhor não podia morrer sem nos deixar algo semelhante a Ele! Vê, lá está a minha morada; vem conosco e dá-nos mais do teu amor e sabedoria!”

O desconhecido tenta negar-se, dizendo: “Tenho que seguir meu caminho, a fim de alegrar os corações de outros. Estais em casa, e a paz voltará ao vosso íntimo!’

Cleófas, porém, insiste: “Caro irmão, já é quase noite! Acompanha-nos durante a modesta ceia! Já que espiritualmente nos supriste com o alimento do teu coração, tirando-nos a dor, permite que te reconfortemos fisicamente!”

O desconhecido sorri, bondoso: “Bem, que assim seja!” Adentrando na casa, diz: “Que a Paz do Senhor seja contigo e os teus!”

A mulher de Cleófas, vendo-os se aproximarem, vai em busca de água, lavando, primeiro, os pés do desconhecido; depois os de Simão e, por fim, os de teu marido. Em seguida, se dirige ao primeiro, com as palavras: “Sê bem-vindo em nome do Senhor, e que Tua Bênção nos transmita a Paz!”

O estrangeiro lhe reponde com ternura: “Mulher de Cleófas, teu desejo e vontade de cumprirão, se permaneceres nessa humildade, e a paz interna será tua força para sempre!”

Agradecendo, ela volta à cozinha, onde também vai Cleófas e lhe diz: “Ana, devo muito a este homem! Prepara um bom jantar e um leito, para que ele possa passar a noite conosco!”

Cheia de alegria, ela responde: “Oh Cléofas, fá-lo-ei com prazer, porquanto nosso hóspede deu-me tanto quanto a ti! Mas... como podes tomá-Lo como desconhecido? Deves ter memória fraca, do contrário, saberias Quem é!”

Ele se desculpa dizendo: “Ana, não indagamos o nome dele; sabemos, porém, ser um dos nossos, pois crê em nosso Mestre! Apressa-te, portanto, para servi-lo!” Ana sorri r diz: “Sim, está bem! Vai, pois tuas palavras perturbam meus pensamentos. ̶ A Ti, Senhor, farei um repasto como se fosse Tua própria Mãe!”

Enquanto isto, Simão faz as honras, convidando o desconhecido a sentar-se: “Fica à vontade, o lar de Cleófas é abençoado pelo Senhor. Tanto ele como sua mulher têm satisfação de acolher a todos.”

Amavelmente, responde o desconhecido: “Simão, também gosto de ser hóspede onde se prima pela educação e amor sinceros! De que vos adiantaria vossa hospitalidade se, ao voltardes aqui, encontrásseis alguns irmãos e amigos de corações dilacerados, caso eu não vos tivesse abordado? Por isto, a verdadeira hospitalidade reina apenas onde o adepto testemunha com alegria a Glória do Senhor! Vem cá, Cleófas, e ouve também o que ora vos digo: Jamais a Terra foi tão regiamente agraciada, como nestes dias em que a Glória Divina se manifesta no Gólgota! Por fim, Deus conseguiu criar uma obra projetada pelo libérrimo Amor e dedicação da criatura! Não foram os milagres de Jesus que provaram ser Ele Senhor e Mestre, mas sim Sua morte na cruz, pela qual conseguiu trazer a verdadeira salvação à todas as criaturas! Jesus vive! E onde futuramente puder manifestar-Se como Espírito de Amor, a porta estará aberta para o Reino da Vida!”

Extremamente admirado, Simão indaga: “Já falaste à Jesus? Dize-me, onde poderemos encontrá-lo? Hoje, agora mesmo, procurá-lo-ei; pois todo o meu ser se volta para Ele!”

Diz o desconhecido: “Simão, lembras-te ainda de Suas palavras de despedida: “Permanecerei em espírito convosco, se continuardes, em espírito, Comigo !” ? Por que te deixas atrair pela Pessoa de Jesus, que apenas foi o ponto central externo de Sua Divina Natureza cheia de Amor? Meu Simão, já deveríeis ter conquistado, por Ele, a certeza de que, em vossa presença, ninguém sentirá a falta Dele! Seria para Ele a maior felicidade, se Seus verdadeiros discípulos em espírito se considerassem os mantenedores da Grande Dádiva que Ele legou a todos através de Seu martírio deliberado! Considerai Sua Vida e Morte sob este aspecto. Dirigi vossas esperanças a Seu Espírito, que vossa tristeza se dissipará em breve, manifestando-se Sua Vida em vosso meio!”

Empolgado, diz Cleófas: “Irmão e amigo do Senhor! Nunca te vi perto do Mestre, entretanto, tua fala externa a linguagem de Seu Espírito! Como é possível que não sofras? Teu testemunho maravilhoso pelo Mestre prova que teu intimo está isento de dor! Tudo que dizes é a plena verdade! Vemos, porém, um longo trajeto pela frente, até alcançarmos a meta desejada! Aconselhaste-nos que depuséssemos as esperanças em Seu Espírito, transmitindo-nos palavras cheias de Vida; entretanto, poderás observar destroços em nossos corações, que necessitam ser removidos. Amigo, quem possui filhos e os vê perecer antes do tempo, precisa de muita coragem para não sucumbir! Este é o nosso estado d`alma!”

Com brandura, replica o desconhecido: “Cleófas, não precisa desculpar tua dor, pois o Mestre de tudo sabe! Procurei-vos somente para vos libertar das algemas que fechastes em torno de Sua Pessoa. Sua morte desintegrou tudo Nele que era humano, no desejo de revelar o Salvador amoroso! Quanto mais prosseguirdes neste sentido, em Sua Obra, tanto maior será a força que surgirá dentro de vós, desprezando os falsos conceitos, por meio da compressão Dele recebida: “ Quem Me amar, fará a Vontade do Pai Celeste! Mandou-Me Ele ao mundo, para que o tornasse feliz!” Eis Suas Palavras! E todos aqueles que ofertarem a outrem o que lhes é dado por sua Graça sorverão a bem-aventurança que Jesus desfrutou, porquanto cumpriu a Vontade do Pai! Ter-Lhe-ia sido possível recuar diante da ação de máximo Amor que deveria coroar Sua Obra, pela qual, finalmente, estabeleceu-se o caminho e a união entre Deus e o homem? Se Jesus tivesse mais vidas a ofertar, tê-las-ia rendido sem relutância! Valia salvar as almas das criaturas! E vós, como Seus discípulos, sois os primeiros incumbidos deste testemunho!”

Diz Simão, agradecido: “Caro irmão, há em mim tal necessidade, pois começo a sentir a atração do Espírito Divino em meu ser. Jamais permitirei que o inimigo da vida venha a roubar esta dádiva, enquanto permanecer em mim a consciência da união com Deus! Por isto, agradeço-te, como agradecerei ao Mestre! Embora tuas palavras martelassem meu coração, tornaram-se agora Pão e Água da Vida! Oh, se os outro irmãos pudessem estar aqui, como se alegrariam!”

O desconhecido prossegue: “Simão, agora que te lembras dos outros, libertar-te-ás do peso da amargura! Que representa o próprio sofrimento, se posso procurar a outrem? É ele apenas o estímulo para a prática do amor! Se, porém, te dilaceras nesta tristeza e ainda te queixas, cortarás o fluxo da vida! Todo o teu ser estará algemado, e o Salvador em ti também! Vê, o mundo não é o que parece, e sim como o vês através de teu estado d`alma! Se fores uma criatura livre e alegre, compenetrada da Verdade Divina ̶ isto é, um filho de Deus ̶ não pensarás no teu próprio sofrimento! Todos os teus desejos se concretizarão no tornar livres e alegres os que te rodeiam! Nisto, serás assistido por Forças Divinas! Se, porém, deixares que a insatisfação e as queixas invadam tua alma, aborrecer-te-ás com todos os que manifestam alegria, acumulando potências destruidoras! O mundo se apresentará negro e desolador! Vê que contraste! De sorte que achais tudo no exemplo de Jesus! Se Ele tivesse apenas considerado Seus próprios desejos, todas as criaturas teriam ficado sem consolo, arrimo e esperanças por uma vida feliz; que não só se apresentará no Além, mas desde já! Como bom pastor que Se dizia, cuidou de vosso futuro, que nada mais é que Seu Espírito dentro de vós! Pois Ele é o Início e o Fim de todas as coisas!”

Radiante, Simão se vira para o amigo: “Oh Cleófas, que dizes? Não parece ser o Senhor mesmo a nos transmitir essas verdades santificadoras? Meu íntimo está repleto de vida, como se estivesse a Seu lado! Quase não há diferença!”

Diz Cleófas, algo preocupado: “Simão, não estarás recaindo no antigo hábito da empolgação, dificultando a vida de outros? Tenho a impressão de que te deixas influenciar demais pelo nosso amigo.”

E voltando-se ao desconhecido: “É verdade, libertaste-nos pela simpatia ao nosso sofrer, e sinto como que Jesus não mais se ache nas garras da morte! Amanhã cedo te acompanharemos, pois conheces nosso destino e possuis a Vida que nos libertará! Não é isto, Simão?”

Confiante, este afirma: “Sim Cleófas, isto é evidente! A ti, irmão desconhecido, desejo perguntar: É Jesus realmente ressuscitado, como dizem algumas mulheres? Empregaste a sentença: “ Jesus vive, mas num sentido espiritual!”; desejo, porém, saber se Ele surgiu da tumba e, se possível, falar-Lhe, como o fazemos contigo!”

Responde aquele, com seriedade: “Irmão, esta pergunta te vem da alma e não do espirito! Contudo, afirmo: Sim, Jesus vive, tal como Ele o predisse! Não afirmou que poderiam destruir o Templo (Seu Corpo), pois haveria de reconstruí-lo em três dias? Sim, vive num corpo indestrutível, soerguendo os corações vencidos pela dor de Sua morte! Positivará Seu Amor mediante a promessa: “ Não vos deixarei como órfãos! Ocultar-Me-ei por curto tempo, para depois voltar e nunca mais Me afastar daqueles que Me amam!” Compreendei que é preciso uma fé viva e que jamais deixe penetrar a menor dúvida na alma, para contemplar Jesus ressuscitado e vivo! Pois em tal fé poderosa, o Filho do Homem – Jesus – morre fisicamente, glorificando até na dor mortal a Vida de Seu Pai Eterno! Em compensação, a vida espiritual de Jesus vivifica o coração da criatura, fazendo surgir o fruto da Vida Imorredoura do Salvador! Ele morreu, para que os Seus vivessem! Recebem eles uma nova vida de Seu Espírito, vencedor sobre a morte e o julgamento! Simão, agora crês que Jesus realmente está vivo?”

Diz este, animado: “Irmão, da maneira pela qual expões, vejo-me obrigado a confessar: ‘Sim, Ele vive! Mas, por que motivo sinto esta inquietação? Embora saiba de tudo agora, minha saudade não deixa de clamar: ‘Quero vê-Lo!”

Prossegue o desconhecido: ‘Irmão, não te deixes iludir por tal ânsia! Conheces, pela escritura, os subterfúgios do inimigo da Vida, e não lhe seria difícil imitar a figura de Cristo, ornamentando-se com vestes angelicais! Acaso ainda não te é possível te projetares na Vida Espiritual de teu Mestre e Salvador?

Somente assim estarias livre dos desejos externos! Como poderás agir de acordo com a Vontade Dele, se alimentas o empecilho da saudade? Oh Simão, surgiu uma nova época para vós, uma época de realizações espirituais que exige provas!

Testemunhos intimamente seguros e livres, dedicados com todo o fervor Àquele que é e dá a Vida! A saudade tende à satisfação, mas não contém vida! Por isto, procura em ti aquilo que esperas externamente de teu Jesus!

Quando o Mestre travou uma luta mais penosa dentro de Si, surgiu-Lhe uma esperança! Esta esperança transformou-se em saudade e, finalmente, em desespero! Concretizava-se ela em vós, Seus adeptos e irmãos! Bastaria um único olhar de estímulo, para satisfazer Seu Desejo, diminuindo Sua aflição! Pois esperava de vós a compreensão completa para aquilo que o Amor – pelo Amor – exigia em benefício de criaturas subjugadas! Quando, porém, tal esperança e saudade se extinguiram, surgiu uma outra saudade, espiritual, mais poderosa! Intimamente fortalecido, existiu para Ele somente uma Vontade e Uma Realização: o Pai! Meus irmãos, se não vos for possível assimilar e sentir o que vos relato, não sereis, jamais, Seus verdadeiros adeptos e seguidores! Somente Nele está a Vida verdadeira, e esta Vida Divina é a Luz para a humanidade perdida! Quem a possui deixará para trás toda a esperança saudade terrenas. Trata-se de uma só coisa: fazer morrer dentro de vós tudo que é fútil! Então Ele não só estará convosco, mas em vós mesmos, recompensando Seu Espírito, Sua ausência física!

Comovido, diz Simão: “Caro amigo, cada vez mais me envergonho de minha fraqueza e confesso que tens plena razão! Tocaste, porém, num ponto que não entendo: Era preciso que a saudade também morresse em Jesus? Por mim, só posso estar contente e livre quando ela se cumpre! E nosso Senhor e Mestre, ao qual nada era impossível, teve de enterrar em Seu Coração algo não realizado? Contudo afirmas: “ Surgiu uma nova e mais poderosa ânsia em Seu Íntimo, fazendo com que Sua Vontade rompesse os empecilhos: a realização em favor do Pai!”; como assim?”

O desconhecido afirma: “Simão, serão poucos os conhecedores daquilo que acabas de ouvir! Em Sua maior e mais penosa luta, o Senhor e Mestre Se achava só! Não existia perspectiva de socorro, porquanto era Sua Ordem a todos os santos e servos de Deus: “ Deixai-Me a sós, pois Aquele que Me poderá socorrer está dentro de Mim. É o Pai!” Mas Jesus ainda é homem; por ora, procura compreensão para realizar a Obra gigantesca! Ainda sente necessidade de um aconchego de irmãos! Incompreensíveis, observastes a luta do Mestre em Getsêmani e nenhum dentre vós se animou a postar-se a Seu lado e dizer: “ Senhor, venha o que vier, minha vida Te pertence!” Tal teria sido o cumprimento de Sua Esperança e Saudade! Queríeis lutar sim, mas não ajudá-Lo a suportar o irremediável! Eis que morreu dentro Dele o que era humano! Súbito, surgiu-Lhe um pensamento grandioso, algo que O fazia forte e humilde! E este pensamento tornou-se consciente, um fato real pelo qual Seu Íntimo preencheu-se de uma só vontade: “Não mais a Minha, mas sim a Tua Vontade se faça!”

Era como se todos os espíritos de luz que O observavam em sua luta titânica Lhe quisessem testemunhar sua imensa gratidão, reconfortando-O. Um anjo ajuntou estas poderosas vibrações, estimulando Sua Vontade ressurgida. Centenas, sim, mais de mil anos passarão até que seja revelado qual foi o sustentáculo que levou o Senhor e Mestre de Toda a Vida a sofrer e resignar-Se em benefício de Sua Grande Obra de Amor! Naquela hora, foi conquistada a maior vitória! O que se seguiu depois já era mais fácil, pois a Vontade espiritual aplicada gerava constantemente novas forças dentro Dele!

Àquela hora, vós e todas as gerações vindouras deveis a possibilidade de se haver encontrado aberto o caminho que conduz à maravilhosa meta final! O que assististe no Gólgota foi a coroação de tudo aquilo que se formara no Coração de Jesus, a fim de – visível para toda a eternidade – dar a prova prometida de todos os tempos: DEUS É AMOR! E este Amor é, foi e será a Vida Divina!”

De agora em diante, cada um que O conquiste viverá através do espirito de Getsêmani e Gólgota! E não há de haver inimigo ousado que toque neste Santuário Vital! Nesta irradiação sublime, Jesus não é mais habitante da Terra, pois voltou para o que é Seu! Esta é a noção celeste e a consciência máxima que Lhe foram dadas naquela hora penosa! Por isto, queridos irmãos, não choreis! Pois Ele vive lá onde Seus filhos e irmãos despertam! Lá, onde o coração filial melhor se exprime, compenetrado do espírito da gratidão: “Fizeste isto para mim, a fim de que eu possa viver uma vida de graça, alegria e bem-aventurança !”

Ana havia assistido à dissertação do desconhecido sem que fosse observada, mas eis que ele se volta para ela, dizendo: “Aproxima-te e ouve o que necessitais saber! Não somente os discípulos do Senhor, mas todas as criaturas, ricas ou pobres, são destinadas, como portadoras daquela poderosa Vida de Deus, a agirem através dela, de acordo com a Vontade do Salvador! Já não mais tereis que lidar com a Lei, mas com Seu Espírito, pelo Qual, unicamente, solvereis vossa missão! Não pergunteis pela mesma, estai prontos, a cada momento, para ouvirdes a chamada interior! Aquele que vos convoca informar-vos-á! Será entregue ao vosso amor e sabedoria a maneira pela qual vos desincumbireis da tarefa!

Existem ainda, em vós, escombros produzidos pela morte de Jesus que somente vós mesmos podereis remover. Por isto, relembrai a luta que o Mestre enfrentou pra cumprir a Vontade do Pai! Considerai também ter sido Lúcifer o vencido, e seu ódio é ilimitado! Não há anjo que não se compadeça deste grande irmão, cuja queda foi tão desastrada! Pela morte do Senhor, também para ele, Lúcifer, se abriu o caminho de retorno a Deus e à liberdade! A cruz, que deveria privar o Filho do homem de tudo que é divino, tornou-se o símbolo de grandes possibilidades para todos. Assim, cada um poderá deixar que o espírito do Gólgota o influencie, a fim de apurar sua consciência, que diz: “ Jesus, o Salvador, vive dentro de mim! Sua vida seja a força que me possibilitará vencer o que me prende ao meu ego!”

Impossível será conseguir a vitória de outra maneira. A cruz não só simboliza a provação, mas o sinal dos escolhidos! Quem vence por este sinal encontrará todas as portas abertas para a Vida Eterna!”

Silenciosos, ambos os amigos se fitam. Ana, então, volta à cozinha para fazer a refeição. Todos se sentem comovidos. Eis quando Cleófas, voltando-se para o hóspede lhe diz: “Irmão, a ceia nos espera, e Deus nos deu o direito de abençoá-la! Faze-o e agradece por nós!

O desconhecido ergue as mãos sobre os pratos, pega do pão, parte-o e diz: “Saciai-vos em nome do Senhor, a fim de que se torne um estímulo para corpo e alma e vos compenetreis da gratidão que também a Mim saciou, tornando-Me possível cumprir integralmente a Vontade do Pai! Amém!

Senhor, Tu O és!” ; exclamam Simão e Cleófas em conjunto, precipitando-se junto dele − mas Ele desaparecera!

Ambos se olham, e Simão diz, comovido: “Foi Ele, o Senhor! Oh, por que não O reconhecemos?! Como Seu Coração devia estar magoado! Nós, Seus discípulos, não vimos o Senhor em virtude de nosso sofrer! Ele, que nos libertou de tudo! Abafamos a voz do coração que nos advertia: “ Ele é o Senhor em Pessoa!”

Diz Cleófas: “Simão! Sim, foi Ele! Mas também foi de Sua Vontade que não O reconhecêssemos!”

Diz o outro, agitado: “Oh irmão, enganaste! Não concordes que Ele assim o quisesse! Fomos cegos devido à nossa fraqueza humana, que não desejava se livrar da tristeza! Foi em tal momento que o Senhor nos socorreu! Por isto, irei ainda hoje transmitir a grande notícia aos outros: “ O Senhor vive!”

Diz Ana: “Oh homens tolos! Como me foi possível saber Quem era o hóspede? Sabia-o antes Dele me ter falado! Quando lavei Seus Pés, notei Seus Estigmas, quando meus olhos tocaram Suas Mãos − vi o mesmo! Por isto O saudei como o Senhor. E Seu agradecimento foi para mim como uma dádiva celeste!

Indaga Cleófas, estonteado: “Sabias Quem era e não me dissestes?!”

Ela sorri, afirmando: “Disse sim, mas tu estavas surdo e cego, e coube ao Senhor fazer-te ouvir e ver. Agora, ide depressa e dizei aos outros: “O Senhor esteve conosco, revelando-nos segredos profundos de Sua Vida !” Vede, mesmo sem os estigmas, Suas Palavras me teriam despertado! Pois Quem seria conhecedor de coisas que somente nós sabemos? E Quem poderia tomar desta forma Sua defesa? Mas está bem assim! Ele conseguiu que não mais lastimeis, mas sim possais levantar o ânimo de outrem, com o coração cheio de alegria!”

Indaga Simão, admirado; “Ana, desde quando tomas partido do Mestre? Sempre afirmavas que as coisas não poderiam continuar neste pé...”

Responde Ana: “Simão, falaste certo, pois eu era uma serva e tinha de me satisfazer com as sobras! Hoje, porém, Ele me abençoou, e sinto ainda o fluxo que me transmitiu! Tinha ensejo de regozijar-me: “ Teu desejo e tua vontade se cumprirão, se permaneceres na humildade! A paz em ti seja tua força!” Compreendei o que significa ser por Ele abençoada! Sua Paz é meu esteio e dá-me a certeza de que Ele vive, mesmo que outros não o acreditem! Que felicidade Me proporcionou com poucas palavras! E vós Lhe falaste tanto tempo, sem perceber esta Graça!

Afirma Simão; “Não resta dúvida seres a mais feliz entre nós. Mas eu me regozijo com tua felicidade merecida. O fato de não O termos reconhecido desde o início privou-nos de alegrias apenas conhecidas pelos anjos. Mas já não é uma Graça sabermos que o Senhor nos procurou? A nós, que nos achávamos sucumbidos pela tristeza? Entretanto, como nos alegrou!

Ana, então, concorda; “Simão, não vamos discutir quem seja mais feliz, pois o Senhor mesmo nos trouxe a paz da alma. Penso, porém, que Ele visava ainda outro objetivo; por isto digo: Apreciai o alimento por Ele abençoado e considerai Suas Palavras sobre a gratidão, a fim de agirdes com mais alegria em prol Dele. As dúvidas que os assaltaram ainda são partes integrantes de outros!”

Em breve terminam a ceia, pois Ana conseguira despertar-Lhes o zelo em demonstrar gratidão em seus atos. Deste modo, ambos se despedem e seguem para Jerusalém, embora seja noite.

Os dois amigos se absorvem em pensamentos sobre o ocorrido; cada um espera que o outro se manifeste, mas ambos temem romper o silencio e seguem calados. Durante o trajeto, são abordados por dois outros, que reconhecem ao luar e apenas quando bem próximos. Um deles, então, lhes diz: “ A paz seja convosco! e dirigindo-se particularmente à Cleófas; “Amigos, para onde ides? É quase meia-noite! Que sucedeu? Impossível adiar para amanhã cedo?”

Responde Cleófas; “Irmão José, assistimos ao maior milagre: O Mestre Jesus ressurgiu dos mortos e falou-nos! Eis o que desejamos transmitir aos outros ainda lacrimosos por Ele!”

Indaga José, admirado: Vistes – realmente − Jesus? Estivemos em Jerusalém, onde reinam dúvidas e boatos, e ninguém sabe o que é verdade. Houve quem dissesse a Efraim que Jesus esteve no Templo, em companhia de dois anjos, a fim de ajustar contas com o Sumo Pontífice.”

Diz Cleófas: “Irmãos, destes crédito a tal comentário? Nosso Mestre Jesus, que Se deixou crucificar, teria discutido com Seus inimigos? Para isto teria tempo de sobra quando vivo; preferiu, porém, sofrer inocentemente! Agora que acabamos de Lhe falar, sabemos a razão! Mas não nos detenhais; temos pressa; cada hora perdida poderia fazer perigar a Sua Obra!”

Indaga Efraim; “Irmãos, que pretendeis conseguir a esta hora? Se Jesus vive, saberá, Pessoalmente, o que fazer! Além disto, não consigo crer que O tenhas visto; aquilo que a morte nos tira é e continua sendo inexistente para as criaturas. Por isto, voltai e entregai o futuro ao Mestre!

Diz Simão: “Efraim, sabemos o que passamos e temos motivo para nos regozijar. O Senhor mesmo nos proporcionou esta alegria. Quando, como Salvador, curava os enfermos e punha fim às suas lágrimas e misérias, ficavas satisfeito; como, porém, não obtivestes proveito material, não te interessa saber se Ele vive, o que para nós é o mais importante! Se Ele realmente ressuscitou, podemos ter novas esperanças! Vem, Cleófas! Temos que transmitir aos outros esta imensa alegria!”

Ambos se dirigem, rápidos, para Jerusalém. Os outros param, indecisos, até que José diz: “Que será verídico? Sabes, não sossegaremos esta noite; assim, procuraremos alcançá-los, a fim de que, junto a eles, venhamos a descobrir a verdade!”

Responde Efraim: José, falas como se isto fosse a coisa mais fácil do mundo. Como poderia juntar-me a Seus discípulos se, quando Ele vivo, demonstrei tão pouco interesse e, mesmo agora, não sinto entusiasmo? Caso tenha realmente ressuscitado, teria de lastimar ter Ele sofrido tanto.”

José se irrita e diz: “Incrédulo! Fica, pois, só! Eu me sinto por Ele atraído! Que felicidade, se estiver vivo! Por certo libertará Seu povo, porquanto é indestrutível! Que coisa grandiosa: primeiro o sofrimento, depois a morte e, agora, vida nova! Por isto, Efraim, vou segui-los!”

Resmunga o outro: “Vai entusiasta! Prefiro meu descanso! José não houve as últimas frases, pois corre para alcançar os outros, mas em vão. “Não tem importância; diz de si para si, “hei de encontrá-los no albergue de Lázaro! Súbito, sente-se inundado de uma imensa alegria e exclama: “Oh Senhor e Salvador Jesus, por que não Te segui quando vivo? Só agora que provaste a veracidade de Tuas Palavras, sinto esta ânsia. Deixa-me obter a certeza de que − realmente – ainda estás em nosso meio!”

Enquanto Simão e Cleófas continuam apressados, o primeiro diz: “Irmão, nosso amor nos dá asas, pois estamos próximos a Jerusalém. Vê, as próprias estrela manifestam sua gratidão por um especial fulgor. Continuo pensando nas Palavras de Jesus Cristo! Como interpretar o que disse com referência à gratidão?”

Responde Cleófas: “Irmão, só posso interpretá-lo no sentido de nos tornarmos idênticos a Ele, de aprendermos a pensar de Sua maneira, pois dedicava todos os pensamentos ao Pai Santíssimo! Nesta constante união, só poderia ter um alvo: a Vontade Divina! Agora compreendo diferentemente Suas Palavras! Vê, nós que Nele críamos esperávamos por vantagens, pela salvação de nosso povo oprimido! Por isto cumprimos o que Ele exigia. Mas teria sido a Sua Vontade? Sempre afirmou: “ Agi de acordo com Minhas Palavras, então sabereis que − não Eu − o Pai nos Céus vos falou! Não deixava de aceitar nosso amor, porém apontava o sentido verdadeiro. Só agora eu sei o que é amor. E o meu proceder seria hoje diferente, porquanto tenho consciência de ter sido escolhido por Ele para trabalhar em Sua Obra.

Eis a prova disto: Estamos a caminho de Jerusalém não por Ele assim querer, mas porque o desejamos! Disse-nos — e Seu Amor tinha plano formado —: " Ide e transmiti aos outros a grande felicidade que vos foi dada!" Fomos, e Seu Amor nos proporcionou uma tarefa grandiosa a que não ligamos: os dois vizinhos, José e Efraim! Não nos devíamos ter separado deles; era preciso transmitir-lhes o grande milagre de tal forma que haveriam de acreditar na Sobrevivência do Senhor! Só, então, teríamos aplicado o amor ao próximo satisfatoriamente, demonstrando, destarte, a nossa gratidão pela graça que hoje nos foi conferida! Agora, porém, minha alegria já não mais é tão imensa, pois causamos-Lhe uma decepção!"

Simão diz, pensativo: "Meu amigo! Tuas palavras são profundas; penso, todavia, que nos julgas com demasiado rigor. Se tivesses razão, todo ato mal sucedido seria uma acusação! Quem poderia positivar que o Senhor assim o quisesse? Não somos levados pelo amor a procurar os outros?"

Responde Cleófas: "Irmão, não me compreendes e, se o tentasses, terias outras objeções a fazer, porquanto não posso expressar aquilo que me vai n'alma! Uma coisa, porém, afirmo-te: Aquilo que não foi possível ao Mestre nos revelar em vida, podê-lo-á fazer agora! Apenas, porém, àqueles que Lhe sejam tão unidos que encontrem dentro de si o que Sua Bondade Infinita, Seu Amor e Misericórdia lhes reservavam."

Perplexo, pergunta o outro: "Cleófas, és de opinião que algo impediu o Senhor de falar abertamente conosco?"

Responde este, com seriedade: "Irmão, tal é o meu conhecimento consciente, pois o Senhor só podia nos dar aquilo de que necessitávamos! Todavia, despertou meu espírito! E, meditando mais profundamente, considero o Mestre muito mais glorioso que dantes! É de estranhar que neste estado se apresentem novos pensamentos e influxos divinos? Simão, quando o Senhor dá, fá-lo de Coração aberto! Eis porque encontro neste Coração aberto uma infinidade de maravilhas e repito: decepcionamos o Mestre! Aqueles dois nos foram entregues como prova! Ele depositara Sua Esperança em nós!"

Indaga Simão, agitado: "Não seria possível completar amanhã o que hoje ficou por fazer?"

Responde o outro: "Assim como não posso reter a hora que passa, não é possível, tampouco, alcançar uma oportunidade perdida! O Senhor, porém, é bondoso e Lhe será fácil fazer o que não pudemos. Não se trata de cumprir Sua Vontade por ser Ele o Senhor e Mestre, mas pelo desejo de nos tornarmos Seus Eleitos, igualando-nos aos anjos! Devemos considerar Sua Vida Intrínseca como posse de nós mesmos, de sorte a não mais haver diferença entre "Sua" e "nossa"! Não sentes a grandiosidade Dele, Meu Salvador e Deus, depositando nesta união comigo os mesmos sentimentos por Ele experimentados? O Senhor é imensamente poderoso, entretanto, faltam-me palavras para traduzir Seu Amor!"

Comovido, responde Simão: "Cleófas, pressinto, apenas, o sentido de tuas palavras, porquanto ainda me acho atordoado! A Figura de Jesus quase Se desvanece diante do Espírito de Seu Amor! Eis a encruzilhada que me impede de seguir-te. Em Sua Presença sentia uma vibração que tocava minhas fibras e todo o meu desejo se concretizava na união com Ele!"

Diz Cleófas: "Simão, Simão, que disse o Senhor? "Não te deixes enganar pela saudade!" De acordo com tua compreensão, a Vida Dele só se poderia de ti achegar na Pessoa de Jesus? Então como interpretarás a sentença: "O Consolador vos conduzirá à Verdade Plena?" Donde virá? Quem é? Não será a nova vida dentro de nós, surgida de Seu Espírito de Amor que em nós confirma: "Somente Tu, Senhor Jesus, poderás ser o Consolador, pois onde vives, agem a Verdade e a Vida!" Mas esta deve ser reconhecida e conquistada, porque nunca disse Jesus: "Sou o Senhor e Teu Deus!", e sim: "Procura-Me, filho! Deixar-Me-ei encontrar, dando-te aquilo que almejas! Preciso é que Me busques no próprio desejo do coração!" Vê, deste modo reconheço agora o Amor de Jesus, encontrando-O dentro de mim!"

Responde Simão, cético: "Irmão, em vez de nos unirmos, estamos nos distanciando um do outro! Tua compreensão é por demais elevada para mim! Além disto, como irás me provar ser tua noção do amor melhor do que a minha? Em Jesus eu via tudo que é bom e belo! Deu-me o exemplo que sempre procurei em vida! E agora afirmas termos decepcionado o Senhor? Desde que me recordo, sempre tivemos a mesma convicção e nunca houve uma dissonância em nossa amizade; assim, não compreendo como podes defender uma causa para a qual te faltam provas!"

Sereno e amável, responde Cleófas: "Simão, não me separarei de ti, pois justamente aquilo que encontrei através da Graça é o incentivo que procurava além, pela dedicação completa! Insistes em não entender o seguinte: desejas tudo possuir, mormente a Jesus, enquanto eu procuro tudo dar, até mesmo o Senhor! Estás errado afirmando que não possuo provas, pois dentro em pouco José estará aqui! Essa intuição me foi dada por Ele. Confessa não é essa manifestação de vida introspectiva mais encantadora que tua saudade? O Senhor nos reserva muitas dádivas sem que Lhe peçamos, pois sabe das nossas necessidades!

Foi Ele tentado no deserto a transformar pedras em pães; mas deixou de fazê-lo e bem sabia porquê! E durante a multiplicação dos pães para cinco mil pessoas, sabia o que era necessário, sem que alguém Lhe dissesse. Acaso não encontras algo de grandioso em tudo isto que ainda não externaste? Eis, porém, José, que finalmente nos alcançou!"

Já perto, diz este: "Que bom vos ter encontrado! Louvado seja Deus! Acusei a mim próprio, pois, se Jesus ressuscitou, podemos prosseguir na esperança de que venha salvar Seu povo da opressão! Perdoai-me por isto!"

Embora se regozijasse com a vinda do amigo, Cleófas adverte: "Querido, não te enganas? É realmente desejo de teu coração encontrar Jesus, ou serão as vantagens materiais o móvel de tuas esperanças? Afirmo-te: Jesus não morreu para Se tornar Vencedor de Seus inimigos, julgando-os constantemente, mas para que aqueles que Nele creem recebessem uma nova vida! Sua ressurreição é a garantia e a assinatura que firmam Seu Testamento para toda a Eternidade: "Estou vivo e todos vós deveis despertar por Mim para esta grandiosa Vida Divina!" Por isto perscruto teu íntimo, pois o Senhor e Mestre quer sê-Lo, não por Sua Onipotência, mas pelo vosso amor Oferta-nos Sua Vida Espiritual, a fim de que recebamos Suas Bênçãos e possamos cooperar na Grande Obra da Salvação!"

Responde José, com seriedade: "Irmão, tuas palavras são qual espadas e, ao mesmo tempo, um bálsamo! Visas o meu bem, embora tivesse sido eu que antigamente vos deixasse, negando o auxílio que teríeis merecido por causa de Jesus! Penso, porém, que se o Mestre ora aqui estivesse, não me repudiaria! Posso ter falhado, porquanto meu interesse por Ele era fraco; agora, no entanto, sinto-me tomado de uma força poderosa que me inclina para o Mestre! Será isto imaginação?"

Diz Cleófas, satisfeito: "Oh irmão José, o Senhor sabe do teu desejo; portanto fará o que Lhe compete, esperando de ti atitude idêntica, pois não é admissível que peçamos sempre pela Vinda do Senhor a fim de nos socorrer! Enquanto vivo, Ele nos serviu como irmão; agora, após ter despido a matéria, aproximando-Se de nós em Sua Verdadeira Natureza Celestial, convém que nos esforcemos em nos tornar doadores e servos de nossos semelhantes! Ele é o Pai e nós Seus filhos! Por isso, sigamos Seu Exemplo para nos integrarmos do Seu Espírito! Tudo, porém, vem Dele; de sorte que, José, se te vem a ideia de procurá-Lo, podes estar certo que te foi insuflada para te transformares numa criatura de aspirações espirituais. É natural ser tua alma sujeita a influências estranhas; o Amor do Pai, no entanto, e o crescente desejo de te unires mais a Ele, iluminar-te-ão! Alegra-te, pois, José, que estás no caminho certo, embora não encontres o Senhor em nosso meio. Ensinar-te-emos como achá-Lo dentro de ti!"

Responde ele, admirado: "Cleófas, que linguagem positiva empregas! Julgava que Simão fosse mais compreensivo! Não te aborreças se te pergunto: Teria sido a morte de Jesus o sinal de nos unirmos mais estreitamente, já que reconhecemos o Verdadeiro Salvador? Deve ser desconcertante para Seus inimigos a notícia de que o Senhor ressurgiu das mortos! Peço-vos que não esqueçais esta hora, a fim de que Sua Vitória também se torne nossa!"

Cleófas prossegue: "José, enganas-te muito! O Senhor está vivo e deseja permanecer nos corações de Seus filhos! De minha parte não necessito de mais provas, porquanto sinto dentro de mim o fluido de Seu Poder e conheço apenas a tarefa de me tornar digno desta Graça! Tua indagação apresenta somente dúvidas, e precisas reconhecer que isto está errado! Por que motivo não dás crédito a nosso testemunho? Nossas relações para com Jesus agora são outras, pois não mais é homem e servo, mas o Senhor e Pai Eterno, segundo Isaías. Eis minha compreensão, que me proporciona calma e certeza! Por isto não indagues, crê! Mesmo que nada vejas! Eis a vida maravilhosa que se manifesta: "Estou contigo, não te amedrontes!", quando uma alma se dirige ao Senhor!"

José somente diz: "Cleófas, tuas palavras traduzem uma vida que por ora não assimilo! Todavia, repito: Desejo ver Jesus e pedir-Lhe perdão para também me confortar com Suas Palavras! Que pensas tu, Simão?"

Este sorri, bondoso, e diz: "Sou de opinião que ambos somos tolos! Procuramos algo que de há muito temos em mão! Que não nos foi dado hoje pelo Senhor! O coração adverte, clama e quase não suporta o ímpeto do amor; a razão, porém, exige barreiras para impedir a nova vida! Estou curado, pois confesso tear Cleófas compreendido tal vida nova, testemunhando-a de viva voz! Como sei agora interpretar bem as palavras: "Virá a hora e. já chegou em que sereis dispersados, deixando-Me a sós! No entanto, estarei com o Pai!" Quão certo não estava Ele! O Pai era Sua Força! Irmãos, estas palavras também as pronunciarei, servindo a Deus como fez Jesus! É nosso Pai!"

No mesmo instante, surge uma grande estrela cadente que ilumina toda a região; depois desaparece, e a escuridão é maior. As outras estrelas continuam cintilantes.

Diz Cleófas: "Quereis melhor resposta? Os próprios elementos provam sua sujeição às Leis de Deus; por isto devemo-nos positivar, cumprindo com alegria a Vontade do Mestre Divino! Só então, o mundo saberá que Jesus vive! Enquanto não morrer em vós o desejo de liberdade externa e vantagens materiais, jamais Ele Se revelará em vosso íntimo, sendo-vos impossível contemplá-Lo! Disse literalmente: "Meu Reino não é deste mundo!", este Reino que Ele habita e para o qual nos abriu as portas pela Ressurreição! Crede-me, muita coisa ter-Lhe-ia sido poupada, se tivéssemos concebido o sentido de Suas Palavras e o Espírito de Seu Amor! Sua Morte não nos teria dispersado, mas, sim, unido, fazendo amadurecer Seu Espírito que a todos procura servir!"

Diz Simão, comovido: "Cleófas, agora te compreendo melhor e sinto ter trilhado meus próprios caminhos! Graças ao Senhor estou bem orientado e desejo apenas comunicar-me com os outros!" Responde Cleófas: "Irmão, será que também andam tão desesperados quanto nós, até bem pouco tempo? Onde estaríamos, se o Senhor não nos tivesse libertado? Vamos, porém, a Jerusalém!"

O boato circulante de estar a tumba vazia provocara grande agitação na cidade. Os templários se ocultavam, o que facilitava, a ação livre dos amigos do Senhor.

Também no albergue de Lázaro há grande movimento e confusão, pois nada se sabe ao certo. Já passa de meia--noite e todos continuam acordados, porquanto Pedro trouxera a notícia de que o Senhor tinha sido visto pelas mulheres. Isto naturalmente contribui para aumentar a saudade dos outros.

Neste ínterim, entram Simão, Cleófas e José, que recebem uma acolhida hospitaleira, pois Pedro logo indaga: "Irmãos, que vos traz a esta hora? Será a saudade do Senhor? Neste caso devo dizer-vos que Ele ainda não chegou, embora conste estar vivo!"

Responde Simão: "Pedro e vós outros — dou-vos a boa notícia de termos falado com o Mestre em casa de Cleófas! Infelizmente não Lhe proporcionamos muita alegria, porquanto nossos corações apenas sentiam medo, preocupações e mágoas por Sua Causa! Juntou-se a nós como se fora um desconhecido, deixando que Lhe confessássemos o que nos oprimia! Quão benéficas foram Suas Palavras de consolo! Disse, porém, não ser de molde aos adeptos permitir que as dúvidas invadam a alma! No entanto, custamos a reconhecê-Lo! Vimos, pois, para vos dizer: " Nada temais, pois o Senhor de tudo sabe e cuida!"

"Conta, conta!", pedem os irmãos! " Como Se apresentou Ele? Que falou?"

Responde Simão: "Não é possível relatá-lo, pois éramos outros quando Ele nos procurou! Peço-vos que ajamos como sempre, isto é: silenciemos, a fim de auscultar nosso íntimo! Pois pergunto: Qual o motivo de o Senhor ainda não ter aparecido em vosso meio? Não sereis os próprios culpados? Se o fez a alguns, o amor devia ter possibilitado as condições para tanto! Irmãos, onde estava nosso amor quando Jesus sofreu? Onde nossa união para confortá-Lo? Tudo havia se dispersado como palha ao vento, pois nós O abandonamos! Esperávamos que dizimasse Seus inimigos! Essa esperança era fútil e não se podia realizar! Agora sabemos Dele Próprio o que é preciso para trabalharmos na Obra da Grande Salvação!"

Diz Pedro: "Muito me alegra terdes falado com o Mestre, pois sei que também virá a nós. Irmãos, passamos horas de tristeza e sentimos não ser mais possível viver sem Ele! Por isto, pedir-Lhe-emos que venha consolar e alegrar nossos corações!"

Diz Cleófas: "É justa tua esperança! Mas não haveria algo diferente do que pedir e esperar? Não julgais que seria mais proveitoso se um júbilo nos penetrasse no coração e silenciosamente anunciasse: " O Senhor vive, pois sinto-O dentro de mim!"? Nossa compreensão humana é demasiado restrita para sabermos o que o Senhor fez em nosso benefício! Ser-nos-ia possível avaliar Seu Sofrimento? Apenas nos será permitido falar sobre isto, se nos aprofundarmos em Seu Amor! O Padecimento de Jesus nos ensina a calar! Após ter vencido a morte, Ele nos deu a possibilidade de nos tornarmos vencedores! O caminho da vitória não é longo, conduz apenas ao coração! Lá poderemos sentir a união com o Senhor! Lá poderemos buscar o consolo para todos, através o Amor do Pai, em Jesus! Quanto mais consciente e profunda a união com Ele, tanto mais forte o desejo de servir e dar! O amor que Lhe tributamos é idêntico ao Seu para conosco! O mais próximo é e será meu Jesus! O dia de ontem me mostrou nossa miséria, pois o Senhor havia morrido! O de hoje modificou-me completamente, porquanto Ele vive; e eu, através Dele! Minha vida futura será guiada apenas por Tua Vontade, Meu Bom Jesus, a fim de restituir-Te o Amor com todas as minhas forças disponíveis!"

Admirados, os irmãos fitam CIeófas, que, num discurso infamante, se prontifica a lutar pela Causa Divina, o que torna muitos advertidos quanto a seus medos e preocupações. Silêncio profundo invade o recinto, mas Cleófas o rompe, prosseguindo: "Irmãos! O Senhor muito Se inquieta conosco; no entanto, é-Lhe difícil ajudar-nos como o fazia. Já não mais é homem, mas, sim, nosso Deus, Pai Eterno que tudo nos deu, nada guardando para Si! Com Suas Dádivas, Seu Testamento, podemos construir um novo mundo! Deixamos apenas de ser criaturas tomadas de pavor ante o menor inimigo da vida! Oh! Não! Somos Seus filhos, conquistados pelo sangue de Seu Coração! Esta ideia nos responsabiliza e à gratidão incentiva! Ou pensará alguém de modo diferente? Pergunto por ver algumas dúvidas dentro de vós e por saber o que representa a menor dúvida!"

Irrequietos, os irmãos confabulam entre si. Finalmente Filipe diz: "Cleófas, tuas palavras soam qual música; contudo, penso não derivarem de teu coração, mas de teu novo entusiasmo por Jesus! Vê, tudo que fazia o Mestre era natural, portanto não havia contradição em Suas Palavras. Tu e Simão vistes a Jesus e Lhe falastes, entretanto afirmas: " Ele vive dentro de mim e nada haverá que possa levantar dúvida!" Julgo também conhecer o Senhor! Não obstante a Predição de Sua Morte, ficamos e ainda estamos abatidos! Confesso que tenho vontade de crer-te; sinto, porém, uma mágoa íntima, que não se extinguirá até que consiga vê-Lo!"

Diz Cleófas, calmo: "Filipe, lastimo não teres compreendido o sentido de minhas palavras! Além disto esqueces que afirmei: “ Nossa relação para com o Senhor deverá se transformar, pois Ele é agora apenas Espírito, dando-nos uma vida espiritual. Assim como desapareceu no mundo exterior, deverá morrer como Homem em nossa vida interior, ressuscitando espiritualmente pela Fé, como Senhor, Vencedor e Salvador! ”. Se tua crença não conseguir alcançar este estado, as próprias decepções te levarão a isto! Crê, embora não vejas! Ele nos deu a base para isto; quem a desprezar, desprezará a si mesmo; e quem chegar a esse ponto, não poderá ser ajudado pelo Pai. Irmãos, acaso o Mestre veio apenas para nos mostrar o Pai? Ou trouxe o Pai, pessoalmente? Precisamos ter certeza sobre isto! Se eu conseguir através de Jesus, nosso Mestre de Amor, o Amor Eterno, não sei o que poderá deter-me em considerar-me Seu filho! Já esquecestes Suas Palavras: "Quem Me ama também ama o Pai e fará as obras que faço através do Seu Espírito!"? Por isto, deixai-nos tornar irmãos verdadeiros, unindo-nos ao Espírito de Jesus! Só assim revelará Seu Amor Pessoalmente entre nós!"

Cleófas silencia. O milagre sucedido aos três era por demais elevado para todos. É quando Pedro diz: "Irmãos, deixamos para trás uma época de grandes milagres e agora a ansiamos pela presença do Senhor! Quais foram os conselhos dados por Ele quinta-feira passada? Não esqueçais Suas Palavras: "Sois posse Minha, considerai-vos Meus irmãos de Eternidade! Continuai unidos a Mim, que nada vos sucederá". Entretanto, o que sucedeu? O Senhor voltou para o que era Dele, deixando-nos o recado: "Continuai Minha Obra pela Glória do Pai e não Me esqueçais, pois vivo e ajo por vos! Parecia como se Ele nos tivesse sido arrebatado; mas deu-se justamente o contrário: Tornou-Se nossa posse! O inimigo da Vida não contou com Sua Ressurreição! Silêncio, porém, para que o Senhor também nos possa procurar!"

Simão e Cleófas tentam igualmente acalmar os outros, o que não conseguem. Qual torrente revolta por uma tempestade, manifesta-se o desejo: "Somente o Senhor Mesmo o poderá nos dar certeza!"

E quando Cleófas se anima a responder, o Mestre se apresenta! "Paz! Paz esteja convosco!"; diz Ele. "Não vos amedronteis! Sou Eu Pessoalmente que vos trago Paz e Serenidade! Vede, nem a morte, nem a tumba puderam Me reter em Suas algemas, pois em Mim tudo é Luz, Eu sou a Luz! Crede, embora vos faltem provas! Não existem barreiras que impeçam Minha Vida Espiritual; quem Me recebe, terá aceito Minha Vida! Meus irmãos, Vede Minhas Mãos e Pés! São Eles a prova externa do Meu Amor para convosco! A outra, a interna, levai-a aos outros! Então recordar-Me-ei com alegria das dores que passei por todos vós! É-vos dado reconhecer e conceber o que anjo algum imaginou! Mas para tal é preciso inabalável Fé! Agora que Me vedes acreditais! Felizes, porém, os que creem sem Me ver! Seus corações receberão um fluxo de Forças e Bênçãos! De agora em diante, toda a Glória de Minha Vida se revelará onde Fé e Amor criam uma nova vida espiritual, uma Vida de Deus, Luz Divina e Amor do País Eterno! Eis Minha Promessa! Tudo isto se realizará somente quando Eu não mais estiver em vosso meio!"

Todos se precipitam para junto do Senhor, que os abençoa com as mãos magoadas, dizendo: "Vigiai e permanecei em Meu Espírito, que também ficarei convosco! Sede abençoados pela Plenitude de Meu Amor e Força! Prossegui em Minha obra, para que vos possais integrar na Salvação Eterna! Amém!"

Vazio está agora o lugar onde o Mestre se postara! A tristeza, porém, também se dissipa, dando lugar à alegria: "Ele vive! Ele vive! Morte, onde está teu espinho? Inferno, onde tua vitória? O Senhor venceu a ambos!"

Animados, os irmãos se despedem. Cleófas, Simão e José ficam no albergue, e a alegria de terem se unido novamente ao Senhor os animava, impedindo o cansaço. Passam a noite numa meditação profunda. E o dia seguinte mostra-lhes nitidamente sua nova tarefa, inscrita no coração com letras de fogo: Transmitir a todos a ressurreição do Senhor, que deseja viver em nossos corações!

Amém!

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