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JOÃO - Livro I

Páscoa em Jerusalém

Ocorria um grande movimento no albergue de Lázaro. Apesar do dono da estalagem ser uma pessoa muito prestativa, havia demora em servir o pão e o sal. Entre os descontentes estava Zebedeu, um pescador de Bethsaida que tinha vindo a Jerusalém com sua família, constituída de sua mulher Salomé e os dois filhos: Jacó e João. Salomé tentou acalmar seu esposo, mostrando-lhe o comportamento de José de Nazareth, que lá se encontrava com Maria e dois de seus filhos: Jacó e Jesus.

Como Zebedeu o conhecia, as duas famílias se uniram na manhã seguinte e foram ao Templo. Salomé se pegou de amores com Maria, e as duas mulheres logo se tornaram amigas. O mesmo aconteceu com os dois Jacó’s, enquanto que Jesus se juntou a João.

Maria se queixou de seu filho Jesus à Salomé, por ter sido enorme o esforço para convencê-Lo a ir ao Templo, e por Ele, de fato, ser um grande enigma. Em tudo era muito bom e dócil, mas quando o assunto era crença, Ele se tornava incompreensível, pois tinha seus próprios pensamentos e preceitos.

Salomé disse:

- Maria, Ele é teu filho e tem que te obedecer. Nisto, José tem que te ajudar. Como será quando Ele crescer? Como vós imaginais o futuro?”

Maria chorou e disse:

- Nem me animo a pensar nisto. Cada vez que nos queremos impor, Ele nos olha com Seus lindos Olhos claros, como se nos quisesse penetrar, e logo sai de casa, nos deixando com nossas preocupações.

Escandalizou-se Salomé:

- Mas Maria, isto não é possível! Que dizem os sacerdotes a respeito?

- Eles são tão impotentes quanto nós. Quem, usando o rigor, tentar conseguir algo com Jesus, nada obtém e ainda é castigado. Que vergonha isto nos causa!... No entanto nós pensávamos que Jeová O tinha eleito para ser algo muito importante. Nem sabes as coisas maravilhosas que com Ele vivenciamos. Agora, Sua Boca fica muda e somente Seus Olhos falam, com muito mais convicção.

Ao chegarem perto do Templo, devido à multidão que se aglomerava tentando chegar à entrada e aos altares de sacrifício, as famílias foram separadas. Porém Jesus e João conseguiram ficar juntos.

No caminho, Jesus já tinha manifestado sua repulsa a estas atividades no Templo, o que tinha escandalizado João.

- Mas amigo, como falas assim do Templo, que é a casa de Jeová? Como podes falar assim tão depreciativamente dos sacerdotes?

- Meu bom João, espia ao chegarmos ao Templo e lá te mostrarei muitas coisas que também não te agradarão.

E assim foi... Já na entrada, tudo era muito diferente do “solene”. Mugia o gado, berravam as ovelhas e os cabritos; havia tanto esterco no chão, que era impossível manter os pés limpos. Com muito esforço, ambos conseguiram chegar aos altares de sacrifício. No local, a situação era horrível: aqueles não eram sacerdotes, mas carniceiros, que usavam suas afiadas facas nos animais assustados, rasgando suas gargantas e jogando seus corpos ainda palpitantes no fogo do altar.

Jesus disse:

- João, achas que Jeová tem alguma alegria com isto? Gostaria de dar um fim a estes sacrifícios... Não está escrito: “O justo se apieda de seus animais, mas o coração destes ateus não contém piedade alguma.” ?

- Mas Jesus, isto não é problema nosso. O sacrifício foi ordenado por Moisés e isto é o que importa. O que o indivíduo pensa a respeito não é da nossa alçada, pois para isto existem os sacerdotes, que são os representantes de Deus.

- João, ainda tenho que te deixar nesta crença, mas te pergunto: Que sentes tu, assistindo estes sacrifícios?

- Eu gostaria muito que esta visita ao Templo fosse um momento bem mais sagrado, mas, como já disse, isto não é de nossa alçada e sim da Vontade de Deus.

- Eu sou de outra opinião, João. Nos caminhos do Senhor, só Me poderá dar alegria o que a Ele alegrar. Estou certo de que tudo que Me causa repulsa causará repulsa ao Pai.

- Não Te entendo, querido Jesus. O que dizem Teus pais sobre Tuas idéias?

- Infelizmente, querido João, isto é horrível para Mim, pois não Me é permitido falar este assunto.

Se Eu puder fazer um pedido será: vem, vamos abandonar o Templo, encontraremos logo um lugar que será de nosso agrado.

- Não Jesus, se meu pai e minha mãe me perguntarem como e onde passamos o resto do dia, ficarão muito tristes, pois lhes direi a verdade. Mentir, eu não posso.

- Não quero te forçar, João; mas permanecer aqui Eu não posso, pois tudo Me enoja.

João ficou sozinho, mas, coisa estranha, desde que Jesus o deixou, tudo o enojava. Assim, ele foi à procura de seus pais e só os encontrou quando o dia estava acabando. No caminho para o albergue, Salomé lhe perguntou por Jesus.

- Não sei mãe. Já cedo, Ele abandonou o Templo com a justificativa de que tudo o enojava; por isto, iria procurar um lugar que Lhe agradasse.

- Estou atônita! Seus pais empreendem esta penosa viagem com Ele e seus irmãos, para visitar o Templo. Por sua vez, simplesmente, Ele procura um lugar mais de seu agrado...

Com os olhos brilhantes, Jesus chegou para o jantar. Maria silenciou, porém Salomé o interpelou:

- Jesus querido, agora já és bastante adulto para fazeres o que convém. Primeiro, fazes esta longa viagem com Teus pais, para visitar o Templo. Lá chegando, tudo te enoja; o lugar Te repele... Cuidado para não seres castigado por Jeová.

- Mãe Salomé, Eu creio conhecer Jeová melhor que tu e que todos. Seria melhor que vos preocupasses mais em cumprir os desejos de Jeová, do que em realizar mandamentos de sacerdotes cegos, que evidentemente não conhecem os desejos de Jeová.

- Oh Maria, agora entendo teu desespero — disse Salomé. Meu Deus do Céu, como isto vai terminar? Jesus, não vês o sofrimento que causas aos Teus pais?

- Mais do que todos vós, querida Salomé, mas devo obedecer a meu Deus mais do que às pessoas e não posso me preocupar com as fraquezas dos Meus, mesmo que eles Me sejam muito amados. Dentro de Mim, está tudo claro e iluminado. Por isto, sigo o meu caminho e não posso fazê-lo de outro jeito. Porém não quero ser motivo de escândalo para vós. Vou me retirar, e Jacó poderá esclarecer muitas de vossas dúvidas. Boa noite e que a paz de Deus fique convosco.

Na manhã seguinte, ninguém mencionou a conversa. Jesus disse a José, na presença de todos, que iria para a Betânia e lá permaneceria. Como era caminho de casa, Ele sugeriu que à tarde passassem por lá, para visitar Lázaro, velho amigo de todos. Opinou que a visita seria muito boa e uma bênção para todos.

- Jesus, já que Tu pedes assim, eu o farei — disse José. Eu também sinto que preciso de um alento. Vai em paz e nos anuncia ao bom amigo.

Então Jesus se voltou para Salomé:

- A ti, mãe Salomé, me dirijo: permitirias que, já hoje, teu filho João fosse para Betânia comigo? Por favor, realiza o meu pedido.

Salomé perguntou a seu marido, e este consentiu:

- Se João assim o quiser...

Assim, os dois amigos se puseram a caminho, quando João perguntou:

- Onde estivestes ontem o dia todo? Eu passei horas terríveis no Templo.

- Eu fui para Betânia com as irmãs Maria e Martha, as quais me pediram para voltar hoje, pois não sou estranho lá.

Em Betânia

Conversando alegremente, os dois logo chegaram em Betânia, onde foram recebidos carinhosamente pelas irmãs Martha e Maria, as quais os fizeram entrar e lhes informaram que seu irmão Lázaro só chegaria por volta do meio dia. Elas disseram que estavam muito felizes com a visita e que o irmão também ficaria.

Jesus então participou à ambas que, no dia seguinte, seus pais e os de João chegariam, ao que Maria disse que seu irmão lhes tinha um respeito muito grande e que este sentimento vinha desde a época em que seu pai hospedara José e família, há dez anos.

João se sentia muito contente na presença dos três e se admirava bastante do jeito alegre e descontraído que Jesus se comportava.

Bem antes do meio dia Lázaro chegou e, com os braços levantados, foi para junto de Jesus dizendo:

- Maior alegria não me poderias dar, querido Jesus: vir nos visitar. Espero que aqui em Betânia Te sintas como em Tua casa. Vós convidais vossos pais, não é? Pois sinto enorme saudade de José.

- Lázaro, sabia de tua alegria. Por isto, convidei Meus pais e os de João. Amanhã a esta hora, aqui estarão.

- Jesus, posso falar abertamente contigo? Não gostaria de melindrar teu amigo...

- Por favor, sempre que precisares. Meu amigo não se importa. O máximo que pode acontecer é ele ter algumas dúvidas, mas estas serão facilmente resolvidas.

Disse João:

- Querido Lázaro, se tens que conversar algo com Jesus, por favor não te acanhes. Irei dar uma volta em Betânia. Com Jesus, muitas coisas me são estranhas. Ele é um verdadeiro enigma para mim.

Lázaro riu e disse:

- Meu jovem irmão e amigo, não és o único; mas o tempo nos trará clareza. Para o futuro, lembra-te o que hoje te digo: quem tem Jesus como amigo possui um tesouro aqui na Terra e no Céu.

- Lázaro, te agradeço por estas palavras, mas ainda não as entendo. Isto tudo é muito novo para mim, tanto o que experimento na presença Dele, como aquilo que O vejo fazer. Sinto um grande amor para com Ele. Sinto-me atraído por Ele, e isto é inexplicável. Quando escuto Suas palavras, não me atrevo a contradizê-lo.

- João, o que te acontece também acontecerá a milhares de pessoas no futuro; mas dá tempo ao tempo, pois tudo é muito novo.

Então Lázaro e Jesus se encaminharam em direção às plantações, e João permaneceu junto às irmãs.

- Jesus, ontem não consegui Te falar sobre o que me preocupa. Somente esta noite, tudo voltou à minha mente, e eu Te pergunto: querido Jesus, as qualidades que Tu apresentaste há dez anos, no Templo, ainda existem em ti? Peço-Te, caro irmão, que me respondas com clareza, pois não quero ficar com nenhuma dúvida a respeito.

- Já que Me perguntas tão abertamente e Me pedes uma resposta honesta, isto te será dado, querido Lázaro. Sim, tais qualidades ainda existem em Mim e, para dizer a verdade, elas aumentaram. Mas ouve: o Meu tempo ainda não chegou. Dentro de Mim, muito ainda deve ser burilado, limpo e modificado. Tudo tem que se tornar divino. Para te provar que ainda sou o mesmo no qual depositastes todas as tuas esperanças, quero que este morro fique coberto de oliveiras. Do mesmo jeito que Eu vou me integrar da Minha Missão, estas árvores crescerão; quando eu alcançar a maturidade, darão os primeiros frutos. Porém cala-te para todos e, desde hoje, tenha esta certeza: o Messias decepcionará a muitos. Tu, entretanto, a partir de hoje, crê: o Messias erguerá um Reino que será a salvação de toda a humanidade. Para ti dou este conselho: não faças nada que possa causar a tua perdição, porém permanece fiel a Deus e a ti mesmo. Não fales sobre isto, nem mesmo aos meus pais terrenos, pois não quero que ninguém seja constrangido. Vem agora e examina tua futura plantação, mas não contes sobre o que verás a quem quer que seja.

Ambos se dirigiram ao monte das oliveiras, onde os arbustos quase tinham desaparecido, dando lugar a pequenas oliveiras, como Lázaro sempre desejou.

- Mas Jesus, isto é um milagre! Sempre desejei fazer isto. Como te foi possível?

- Lázaro, não queiras saber sobre tudo antes do tempo. Para entender isto, ainda te falta maturidade. Pondera que a Deus nada é impossível. Agora, vamos para casa.

As irmãs os aguardavam com ansiedade, pois o almoço já estava pronto.

João não se tinha aborrecido, pois as jovens muito tinham para contar e perguntar sobre Jesus. Quando questionado, a única resposta que João conseguia dar era: “Ele é um enigma para mim”.

Após o almoço, Lázaro levou seus dois convidados para um passeio em sua propriedade, e ambos, com vivo interesse, escutaram suas explicações. Chegando à casa de Tobias, lá permaneceram por mais tempo. João ficou surpreso com a intimidade que existia entre o velho e Jesus.

A tarde acabou logo. Ao retornarem para casa, encontraram velhos amigos que tinham vindo visitar Lázaro. Após o jantar, houve intensa conversa. João não conseguia acompanhá-la, por ser muito elevada e profunda. Porém a ativa participação das irmãs o surpreendeu muito.

No dia seguinte, por volta do meio dia, chegaram José, Zebedeu e suas famílias. A conversa girou somente em torno do que tinham visto e vivido no Templo.

No caminho para casa, Salomé criticou vivamente Jesus, por não obedecer completamente seus pais, pois ela exigia cega obediência por parte dos filhos. José ficou muito feliz ao chegar em casa e prometeu nunca mais voltar a Jerusalém. Para ele, a visita tinha sido uma decepção.

João em Nazaré

Dois anos depois, João foi a Nazaré a pedido de Salomé, pois uma grande tormenta tinha danificado as instalações de Zebedeu, e ela queria que José e seus filhos fossem consertá-las. Na realidade, ela queria se certificar dos boatos que os pescadores espalharam sobre Jesus, tachando-o de idiota, bobo, etc. João ficou dois dias em Nazaré. Neste tempo, Jesus se lhe tornou cada vez mais incompreensível.

- Meu querido Jesus, não imaginas a felicidade que senti quando minha mãe me mandou vir aqui, mas estou muito triste agora. Não sou cego para não ver o sofrimento que causas à Tua mãe. Vê como ela sofre com Teu silêncio, e nem Te conto o que se escuta sobre Ti...

- Querido João, julgas pela aparência e não vês a Verdade.

- Jesus, não teria dito nada, se tivesse encontrado tudo em ordem; mas não vês que Tua mãe está cheia de vontade de ouvir uma palavra Tua? Tu sabes falar. Isto eu vi em Betânia, onde eras alegre, brincavas e até aconselhavas amigos. Por que és completamente mudo aqui? Por favor, me responda, pois quero levar uma boa impressão Tua para Betânia, uma vez que não estás em boa cota junto a minha mãe.

- Querido João, o que as pessoas e o que o mundo pensam a Meu respeito é completamente indiferente para Mim; o que realmente Me importa é o que Deus pensa de mim. Por isto, as pessoas podem falar o que quiserem, mas eu sigo o caminho que Deus Me mostra.

- Mas Jesus, não vais à sinagoga, não tens contato com sacerdotes, não foste à nenhuma escola... Dize-me: como queres provar a Deus e ao mundo que o Senhor é teu guia? Não consigo Te entender. Quando estou em casa, morro de saudades de Ti. Agora, junto de ti, Teu comportamento me repele, pois não respeitas os desejos de Tua bondosa mãe.

- Querido João, não posso te dizer nada mais, porque ainda não está na hora de falar sobre isto. Eu seria bem feliz, se tu tentasses entender Meu comportamento. Se Eu tivesse uma única pessoa que Me entendesse, tudo Me seria muitíssimo mais fácil. Está certo, muitos Me amam, mas o que Eu quero é que eles se tornem unos Comigo, a fim de que a Meta seja alcançada com mais presteza.

- Agora, não te entendo mais. Tu falas sobre Tua Meta elevada... Não temos todos metas? As portas do Templo não estão todas abertas para Ti? Oh querido Jesus, quanta tristeza sinto ao Te ouvir falar assim!

- João, achas que a tristeza Me seja desconhecida? Eu creio que não existe outra pessoa que luta e sofre tanto quanto Eu. Não te diria nada, se não soubesse que muito Me queres. Bem, leva esta informação como consolo para teus pais: haverá um tempo em que tudo será esclarecido. Enquanto esta hora não chegar, ama-Me, pois esta força complementar será de grande ajuda para Mim.

Com o coração partido, João chegou em casa. Ele queria defender seu amigo, mas não encontrava argumentos. Assim, novos rumores sobre Jesus atravessaram o Mar de Genezaré.

Numa noite, chegaram Joel, Jacó e Jesus, para repararem a casa de Zebedeu. Ao ver os estragos, Joel se assustou. A casa deveria ser completamente reconstruída. Após uma discussão sobre o que fazer, Jesus pediu para assumir a reconstrução da casa. Os irmãos aceitaram, pois o tinham como líder, ainda que fosse o mais jovem. Antes de iniciar a obra, Jesus quis ajudar Zebedeu na pesca, pois o mar estava muito forte.

Jesus salva Jacó

Zebedeu muito se alegrou ao receber três ajudantes, já que o mar estava realmente agitado. Ao trocar a vela, Jacó, o irmão de João, caiu no mar. Só João viu o ocorrido. Imediatamente, pulou na água para socorrê-lo, levando bastante tempo para alcançá-lo. Quando conseguiu, Jacó estava desmaiado. Enquanto isto, a luta de João foi vista. Prontamente, outros barcos foram em sua ajuda. Zebedeu foi o primeiro. Rapidamente, navegou para casa com os filhos, aonde chegaram sob grande lamentação.

Salomé logo começou a trabalhar com o acidentado, enquanto Jesus ficou ao seu lado.

Salomé lhe disse:

- Por que não ajudas? Ou é este Teu jeito de ser?

- Nada disto, mãe Salomé. Há gente demais aqui. Para te provar isto, peço a todos que se afastem.

Antes que alguém pudesse dizer algo, Jesus se aproximou do leito, passou Suas mãos no rosto de Jacó e falou:

- Levanta e sê mais cuidadoso no futuro.

Jacó se levantou, olhou à sua volta e disse:

- O que me aconteceu? A poucos instantes, eu me encontrava em uma linda pradaria. Agora, estou aqui?

Salomé respondeu:

- Tu caíste na água e João te tirou de lá. Bebeste muita água e ficaste muito debilitado. Come logo um ou dois limões, para que não te sintas mal.

Jesus chamou Zebedeu:

- Deixa as mulheres falarem o que quiserem. Vamos sair novamente, que o mar vai se acalmar logo.

Assim o fizeram. Surpreendentemente, o mar estava calmo, e conseguiram fazer uma boa pescaria.

Após a janta, Salomé não se calou mais e agrediu Jesus severamente, quanto ao seu comportamento em casa e durante o acidente.

- Francamente Jesus, se Tu fosses meu filho, eu não teria a paciência de Tua bondosa mãe.

- Mãe Salomé, se queres brigar comigo, faze-o já. Depois, não conseguirás, pois em Mim vive um Deus, cuja vontade Me é sagrada. Representá-la é Minha mais sublime tarefa. Teu Deus Eu também conheço, porém ele não tem nada em comum com o Meu, além do nome.

- Jesus, — responde Salomé escandalizada — não te dei o direito de falar de um Deus, cuja vontade Te é sagrada. Teu comportamento nos mostra que não desejas nenhum Deus, caso contrário, não te negarias a freqüentar a sinagoga e escutar os sábios conselhos dos sacerdotes. É chocante o que se ouve sobre Ti e considero minha obrigação Te dizer isto.

- Salomé, Eu não me zango contigo, pois não sabes o que dizes. Mas te pergunto: nunca consideraste, uma única vez, que Eu posso estar com a razão? Olha as pessoas com mais atenção. Seu estado não demonstra que elas estão perdidas para Deus, graças a seu egoísmo e sua ânsia por bens materiais? Que sobrou de Moisés? E dos profetas? Muitos mortos pelos sacerdotes, tão celebrados por ti... Qual o serviço mais importante para os sacerdotes? Aquele que lhes traz o maior dízimo, ou o que lhes paga os maiores impostos? Não mãe Salomé, Eu possuo um outro Deus, e este se chama Amor e Piedade. Por que devo me calar? E por que não vou à público com esta Luz em mim acesa por Deus? Porque ainda não chegou a hora.

Vê, Este Deus que habita em Mim construiria uma casa nova em poucos instantes. Mas por que Ele não o faz? Porque vós amarrastes Suas Mãos. Apesar da pouca lenha, construirei a casa, mas por meios naturais, usando somente Sua Força e Piedade.

- Jesus, talvez possuas poderes ocultos e adormecidos em Ti. Tua mãe muito me contou sobre Ti. A mensagem eu ouço, mas não consigo crer.

- Querida Salomé, se crês ou não, mesmo assim Deus realiza Sua Obra milagrosa e santificada. Se Deus realizasse Sua Obra seguindo os desejos dos homens, em pouco tempo a Criação seria um caos e um monte de escombros. Infelizmente, as pessoas vêem seu próximo com os preconceitos que elas mesmas têm em sua própria cegueira. Por isto, é melhor que nos calemos, pois o futuro confirmará a verdade de Minhas palavras.

- Jesus, isto já posso te dizer hoje: com Teus conselhos, não darás muitas alegrias ao Teu próximo e também pouco as terás. Sê uma pessoa correta e obediente e então darás alegria à Deus e à todas as pessoas.

- Tem certeza que farei o que me aconselhas, mãe Salomé. Obedecerei ao meu Deus de tal maneira, que Ele só terá alegrias comigo, mesmo que com isto a humanidade toda Me amaldiçoe.

Salomé se assustou com as palavras do jovem Jesus e pôs-se a observá-lo cuidadosamente, durante Sua permanência na casa. Ela prometeu a si mesma tornar a estadia dos filhos de José o mais agradável possível.

A construção prosseguiu rapidamente. Zebedeu se alegrou ao ver que Jesus realmente estava edificando uma casa quase que totalmente nova. A única coisa que não lhe causava contentamento era ver como João se agarrava à Jesus. Em qualquer instante livre, ambos passeavam juntos. Porém Salomé tinha certeza que, com a partida dos carpinteiros, João voltaria à normalidade.

Tormenta em Bethsaida e reparo dos estragos

Houve um dia com uma tal tormenta, como nunca se tinha visto. Havia destroços por todo lado. Zebedeu não tinha saído naquela noite. A pedido de Jesus, tinha trabalhado duro com seus filhos, ajudando na obra da casa, o que causou grande desagrado à Salomé. No entanto ela estava muito feliz agora, pois podia ficar despreocupada. Também houve danos na casa em construção. No dia seguinte, ao se ver os estragos, houve muita lamentação. Não somente os estragos materiais aconteceram, mas também muitos pescadores estavam desaparecidos e diversos barcos destruídos. Ante as lamentações, os sacerdotes acusaram a população de ser a responsável por tal castigo, pois não faziam suficientes oferendas.

- Qual tua opinião sobre este castigo que acomete Bethsaida? — pergunta Salomé à Jesus.

- Mãe Salomé, não tenho opinião alguma. Nesta época do ano, tormentas não são raridade. Sendo assim, o pescador deve observar com muita atenção os sinais que as anunciam. Eu sabia que haveria uma noite muito difícil. Por isto, pedi à Zebedeu que me ajudasse até tarde. A João eu disse: “Esta noite nos cobrará muitas vitimas e eu desejo tanto que já tivesse acabado...” Vês o que eu consegui prever como um homem normal, e os outros também deveriam fazê-lo. Mas infelizmente, cada um queria fazer uma pesca melhor do que o outro. Se tivessem reforçado suas choupanas e fortificado seus tanques de peixe, os danos não seriam tantos e não teriam havido mortes.

- Assim falas Tu Jesus. Após a desgraça, é fácil virar o jogo. Por que não avisaste os outros? Onde ficou Teu Deus, ao qual obedeces totalmente? O que dizes é uma desculpa barata, após tudo ter acontecido.

- Salomé, se queres guerra Comigo, cuida em saber como terminá-la. De qualquer maneira, eu devo e vou permanecer quieto, pois o Meu Deus, que está em Mim e ao qual sirvo, não permitirei que seja insultado por uma mulher cega. Agora, vê como te ajeitas, pois, para ti, sou apenas o carpinteiro Jesus.

As pessoas prejudicadas logo tomaram conhecimento de que a obra na casa de Zebedeu estava quase pronta. Por isto, vieram pedir aos carpinteiros que as ajudassem. Outras lamentavam a ausência de maridos e filhos e não sabiam como e quem poderia reconstruir suas casas, já que não tinham dinheiro e haviam perdido tudo.

Jesus perguntou a Joel e Jacó:

- Que achais? Vamos ajudar esta gente? Em lucro, nem pensar.

Disse Jacó:

- Querido irmão, pela Onipotência que habita em Ti, já muito foi feito. Não poderias Tu ajudar esta pobre gente?

- Não meus irmãos, por causa da vossa descrença. Mesmo assim, sou de opinião que não devemos deixá-los sem nossa ajuda, e a bênção de Deus sempre estará em nossa obra.

Disse Joel:

- Que dirá o pai José se voltarmos sem ganhos?

Respondeu Jesus:

- Quando na emergência, ele nunca deixou de ajudar. Eu penso que devemos ajudar a estes pobres irmãos.

E assim foi. Logo que acabaram a casa de Zebedeu, os três começaram a reconstruir as casas danificadas com uma velocidade milagrosa. Já que havia muitos voluntários, em poucos meses a obra foi terminada. João vinha sempre que tinha algum tempo disponível. Certa feita, quando Jesus trabalhava em determinada casa, que não aquela para onde ele se encaminhou, mostrou seu desapontamento a Jacó. Este então lhe perguntou se amava tanto assim Jesus, que precisava passar cada instante livre com Ele.

- Sim Jacó, minha saudade por Ele é tão grande que não posso reprimir, mas quando estou com ele, sinto uma insatisfação... Eu não sei o que esta acontecendo.

- Já me dei conta que Jesus se ocupa contigo muito mais do que com os outros. Por isto, eu te peco me dizer se Ele falou algo sobre Seu futuro, pois, desde que estamos aqui em Bethsaida, Ele está mais descontraído do que lá em casa.

- Não saberia te dizer se Jesus alguma vez mencionou algo sobre Si ou Seu futuro; só sei que Ele sempre menciona que o Deus vivo, que nele habita, deve preenchê-lo de tal forma, até que se tornem unos. Podes me dizer algo mais, querido Jacó? A mim é tão desesperador ouvir Jesus falar sobre coisas que não entendo...

- Isto também nos acontece João, mas é completamente impossível manter uma conversação com Jesus, especialmente se tratamos de nossa vida terrena. Ele sempre responde: “Não posso deixar que me bloqueiem com coisas que atrasem meu desenvolvimento”. Daí preferimos ficar quietos e deixar Jesus Consigo mesmo.

- Tens razão, querido Jacó, pois estais sempre juntos; mas eu não, estou só. E quando vós partirdes, ficarei só e sem nenhuma possibilidade de estar com Ele. Se eu fosse mulher, diria que estou apaixonada; mas sou homem e O amo com uma força sobre a qual não posso falar com ninguém. Nem imaginas o quanto fiz para arrancar este sentimento do meu coração, mas não consigo.

- João querido, continua a amá-Lo com toda intensidade que puderes. Sei que, com o tempo, conseguirás entendê -Lo. Eu poderia contar tantas coisas, que te deixariam atônito. Mas te conforma, nós também não O entendemos.

- Jacó, já que me dizes para continuar a amá-Lo, tenho certeza que este meu amor não é um sentimento doentio, e isto muito me alegra e liberta. Agora, eu gostaria de falar com Jesus. Onde está Ele?

João se apressou em ir à casa indicada e de longe avistou Jesus trabalhando com os donos da mesma. Jesus o viu, o cumprimentou com um aceno e disse: - João, gostarias de me ajudar aqui? Assim, terminarei ainda hoje.

Ao partirem, a dona da casa disse a Jesus:

- Dinheiro não tenho para Te pagar, pois perdemos tudo e somos muito pobres.

- Pobres não és, enquanto tiveres Deus em teu coração, mãe Sara, e Ele é extremamente rico. Confia Nele, que não sentirás mais esta pobreza terrena.

- Chorando, a mulher disse:

- Jovem, a confiança em Deus já é uma riqueza; mas que está duro, isto está...

- Eu te digo mulher: amanhã a esta hora, não terás suficientes palavras para agradecer. Deus é fiel e paga fidelidade com fidelidade, confiança com prêmios.

- Jovem, Tuas palavras enchem meu coração de esperança. Se estás certo, aí sim não terei palavras para agradecer.

Mãe Sara, começa a agradecer desde hoje. O agradecimento libertará teu coração, já que, a pedir esmola, só fazes aumentar tua dor. Ouve Minhas palavras, tem confiança e dize a tua filha que ela deve parar de se queixar. Deus escuta as orações, mas elas devem vir de um coração confiante. Mãe Sara, não me olhes com este olhar desesperado, porém crê, confia e agradece.

João estava sem palavras e, quando estavam a caminho, disse:

- Meu Jesus, tinhas direito de encher a velha Sara de esperanças? Que acontecerá, se elas não se realizarem?

- João, se Me amas tanto como disseste a Meu irmão, então não duvides de minhas palavras. A ti também recomendo crer e confiar. Como podes dizer que Me amas, se não confias no amor de teu irmão? Para mim, o amor é algo sagrado, vindo do Coração de Deus, como um presente para o homem. Se desconfias deste Meu Amor, então desconfias de Deus.

- Jesus, não te entendo de novo. Dize-me, por favor: como é possível que não nos entendamos?

- Querido João, eu te entendo perfeitamente, mas tu não a Mim. É uma pena, pois tenho interesse que especialmente tu Me entendas. Por isto, continua tentando. Tenho de afastar tudo que nos separa.

- Sabes Jesus o que eu gostaria de fazer? Não falar mais Contigo; somente me encostar em Ti, escutar o pulsar de Teu coração e entrar completamente em Teus pensamentos.

- Em espírito, podes fazer isto sempre que quiseres, mas presta atenção: com isto, não chegarás a lugar algum, pois Deus deu ao homem a razão junto aos sentimentos. Ambos devem ser usados e aplicados em concordância.

- Jesus, eu te entendi agora e vou considerar este sentimento; mas no momento, devo ir para casa.

- Vai para casa, pois tua mãe te procura. A partir de amanhã, estaremos na casa de Jonatan.

Ao chegar em casa, João foi recebido com uma chuva de reprimendas por parte de Salomé. Esta dizia que, com as visitas que fazia a Jesus, João não realizava suas obrigações. Desta feita, João tinha ido com a permissão de seu pai e também argumentou que já era bastante crescido para saber de suas obrigações.

- Vê, isto é a influência maligna de Jesus. Bem que se fala que Ele é uma ameaça para o povo — disse Salomé. Mas agora é o fim da amizade...

- Nada disso mãe. Jesus tenta me transformar num ser humano livre e consciente. Ele só fala bem de nossa casa e é meu amigo e meu irmão. Tua proibição não nos poderá separar. Por que não vais perguntar `a Sara o que Ele lhe disse? Para o dia seguinte, Ele prometeu alegria e felicidade à ela e à filha.

- Vê-se o sonhador e farsante.

- Mãe! — grita João cheio de dor. Já esqueceste tudo de bom que recebemos na obra de nossa casa? Como queres que eu te ame e respeite, se agrides conscientemente meu amigo e irmão, que nada de mal te fez?

- Então vai para junto Dele, se eu, tua mãe, não te sirvo mais.

- Agora intervém Zebedeu, que a tudo assistia: - Não seria melhor que te calasses? Neste caso, devo dar razão a João. Comecei a conhecer Jesus como um homem reto e digno, que sabe o que quer. Só posso me alegrar com a amizade Dele e João.

No dia seguinte, voltaram vários pescadores, entre eles o marido de Sara e seu genro. A isto João disse:

- Mãe, vês que Jesus não nos enganou com sua profecia. O próximo Sábado passarei com Ele.

Mas no Sábado, quando João chegou na casa de Jonatan, Jesus tinha saído bem cedo.

Jacó lhe disse:

- Jesus nunca revela onde passará o Sábado, e nós já nos acostumamos. Vamos à sinagoga com a família de Jonatan.

Decepcionado, João juntou-se à Jacó e passou o Sábado na sinagoga, para alegria de Salomé.

João celebra o Sábado com Jesus

Na véspera do Sábado seguinte, João corre para ver Jesus.

- Por que vens a Mim? Sabes muito bem que Tua mãe não o quer — fala Jesus.

- Jesus, tenho que Te falar. Todo o meu ser pede por Ti. Por isto, deixa-me ficar junto a Ti e passar Sábado Contigo.

- Tudo bem, não te mandarei embora João. Sei que te decepcionarás, mas podes ficar Comigo.

Pela manhã, ambos saíram cedo e foram em direção às montanhas. No começo, falavam vivamente, mas Jesus logo pediu que andassem em silêncio, para que cada um se estudasse e se provasse. Com isto, visava não perder o motivo e a meta traçados para aquele dia junto a João. Este ficou calado e se propôs a ficar completamente em consonância com Jesus. Após um longo silêncio, tudo começou a se vivificar dentro dele, mas ele não sabia o que esta Vida significava e meditou sobre vários assuntos. Neste ínterim, chegaram ao local preestabelecido. João não sabia onde se encontravam, pois não tinha prestado atenção ao caminho. Eles estavam numa montanha bastante alta e com uma linda vista.

Jesus disse:

- João, aqui ficaremos até o pôr do sol. Presta atenção em tudo que acontecer fora e dentro de ti.

Jesus se sentou numa clareira e ficou quieto. João observou Jesus e pensou: “Estranho, Ele me disse para observar atentamente tudo em mim e fora. No entanto fecha Seus Olhos e não presta atenção a nada... Isto é engraçado”.

Após certo tempo, João começou a se aborrecer e sentiu cansaço. Não o combateu e em pouco tempo adormeceu, acordando somente quando o sol já estava a pino.

Inicialmente, não sabia onde estava. Tinha sonhado vivamente, mas não entendia o sonho. Procurou Jesus e não O encontrou de pronto. Após algum tempo, O encontrou adormecido.

- Devo acordá-Lo? Que jeito engraçado de celebrar o Sábado. Primeiro, caminhamos por horas; depois, dormimos na montanha. Isto está certo? Devo perguntá-Lo?

Mas o sonho chegou novamente...

- Engraçado que consiga sonhar de olhos abertos . Não, isto nunca me aconteceu antes. Se continuar assim, o Sábado se tornará um enigma para mim.

Ele se sentou e se encostou a uma árvore. Voltou o sonho, desta vez muito mais vivo, podendo ele pensar, enquanto sonhava. Mas cada vez que tinha pensamentos próprios, o sonho recomeçava do princípio. Agora, todo o sono tinha acabado.

Com os olhos fechados, João vê uma grande varanda sobre pilotis e um jardim ainda maior no fundo, além de um lago, onde existem muitos animais. À esquerda, há uma casinha e na sua frente, uma pessoa. Pelos seus cabelos brancos, deve ser bem idosa. Com um cesto no braço, esta se dirige ao jardim e colhe flores, mas sempre de uma espécie especial. João vê que o homem fala com as flores, mas não entende nada. Agora que o cesto está cheio, o homem vai ao lago e chama um bonito cisne. Chega o animal. O homem coloca o cesto em seu bico, e o cisne se afasta. João o segue com atenção. Na beira do lago, em direção à varanda, vem um menino de aproximadamente doze anos e pega o cesto. Então João vê que no fundo da varanda existe um altar! O menino coloca as flores num vaso em frente ao altar, dá uns passos para trás, como para ver se o vaso está no lugar certo, inclina-se e desaparece. João o procura, mas ele simplesmente sumiu. Ele volta a olhar o altar. No lugar do vaso de flores, há um cálice enorme, contendo um vinho dourado e brilhante ao sol. O vinho agora muda de cor e fica vermelho feito sangue. Isto é motivado pela luz de um sol nascente. O cálice agora emite uma luz vermelha, que fica cada vez mais forte Toda a cena está envolta nesta luz. O brilho do cálice fica gradualmente mais intenso e claro. Sai agora do mesmo uma pequena estrela, que aumenta aos poucos, até se tornar imensa. Um Ser com roupas reluzentes sai dela, apanha o cálice, bebe o conteúdo e Se transforma em uma tocha brilhante. João quer ir ao Seu encontro, mas Ele diz: - João, Eu sou a Luz do mundo. Cresce e amadurece, a fim de que te tornes também uma tocha brilhante e um reflexo desta luz, que não produz sombras.

Neste momento, desapareceu a visão e João pensou: “ Haverá uma luz que não produz sombras? Isto é uma incógnita... a não ser que a luz me envolva por todos os lados ”. Voltou-se para Jesus, que o fitava e lhe acenava. Encaminhou-se para Ele e disse :

- Há luz que não produz sombras?

- Certo é que Deus é uma Luz e que a Luz de Deus não produz sombras, pois deves saber que ela tudo penetra. Mas esta luz só é vista por aqueles que possuem a Luz Divina, o que significa ter a Sabedoria sobre toda a ignorância, A Luz Original ou Sabedoria Original, quando ligada à Força Original, são os elementos nos quais tudo que existe é criado e mantido. No material, é o que liga; no espiritual, é o que sentimos; no divino, o que nos liberta.

- Isto entenda quem puder, eu não. A pouco, tive uma visão tão misteriosa, quanto tua explicação.

- João, não procures saber das coisas antes do tempo, pois para tudo deve existir uma maturidade. Ainda terás muitas visões, mas a chave para tua resposta deves encontrar em ti mesmo. Antes de mais nada, entende que muito ainda deve se modificar em teu interior. Procura-Me em espírito, para que Meu Espírito te toque. Tenta Me entender, a fim de que possas entrar no Meu viver e no Meu querer. Então te tornarás um homem maduro e livre dos muitos princípios errados.

- Jesus, ainda não entendo o que me dizes, porém creio em Ti. Eu Te amo como a um irmão e de Ti necessito mais do que imaginas.

- João, Eu sei de tudo. Eu te asseguro que te amo do mesmo jeito e confio em ti. Só te peço uma coisa: não dependas tanto de Minha Pessoa, mas sim do Meu Espírito pelo qual Eu luto; ou seja, o Espírito da Luz e da Vida de Deus.

- Vês Jesus, agora, não Te entendo de novo. Não é o mesmo: Tu, a Pessoa, e o Teu Espirito, que em Ti habita?

- Não, ainda não . Justamente esta é a minha luta: para que tudo em Mim se torne Uno e para que o Espírito de toda a Vida proveniente de Deus se torne o guia e o princípio atuante dentro de Mim.

À noite, quando João chegou em casa cansado e faminto, Salomé lhe fez muitas reprimendas.

João, porém, disse:

- Mãe, o que me aconteceu foi muito grande, mas infelizmente ainda não tenho a compreensão para tudo. Uma coisa eu sei: nenhum sacerdote me poderá esclarecer o que hoje Deus me deu. Preciso descansar, mas amanhã eu vos contarei tudo.

Agora, não se entendia mais João.

Ajuda para os prejudicados pela tormenta

Um dia, Jonatan, pescador das redondezas, chegou a seu amigo Zebedeu e disse:

- Irmão em Deus, eu tenho um grande pedido a te fazer e aos carpinteiros de Nazaré (Joel, Jesus e Jacó). Como sabes, queremos ajudar os prejudicados, mas nos faltam os meios e a madeira. Que podemos fazer?

- Sim irmão, temos que ajudá-los. Não pode Jesus nos aconselhar? Tenho muita alegria e confiança Naquele jovem. Ele é muito correto nas Suas determinações e foi extraordinário nas ordens que deu a Seus irmãos mais velhos, donde tudo se arranjou. A Ele agradeço não ter saído naquela noite malfadada. Assim, evitei desgraça maior.

- Se for assim, vou falar com Jesus. Tu me ajudas na empreitada?

- Bom, vamos falar com os nazarenos.

Zebedeu pegou seu barco e o mesmo fez João. Como a pesca era fraca, resolveram se dirigir à casa de Jonatan, onde os três carpinteiros trabalhavam. João ficou felicíssimo com a decisão do pai, e ambos chegaram justamente no momento em que os três acabavam a jornada de trabalho. O olhar conhecedor de Zebedeu examinou o trabalho e muito o elogiou. Foi quando disse Jesus:

- Zebedeu, tu não vieste aqui para nos elogiar. Dize-nos: o que queres?

- Meu querido Jesus, a miséria dos outros é nosso problema, e gostaríamos de vos perguntar como poderíamos ajudá-los.

Disse Joel:

- Irmãos, gostaríamos de ir para casa, pois lá nos esperam; porém Jesus acha que devemos ajudar, mas como? Sim, como? Esta é a questão e por isto estamos aqui.

Respondeu Jesus:

- Irmãos, sei de um jeito, mas se vós concordais é outra questão. Sem vosso consentimento, nada podemos fazer. O assunto é a madeira. Estas matas pertencem a um grego ateu, que nos venderia a madeira por um preço razoável, caso lhe oferecêssemos algo em contrapartida.

- E qual o problema? De que se trata? — indagou Zebedeu.

- É preciso que vós corteis a madeira para uma pocilga e um abrigo de cabras. Isto feito, que vós transporteis esta madeira em vossos barcos. — respondeu Jesus.

- Não será possível. — opinou Jonatan. Para uma pocilga, os sacerdotes nunca nos darão permissão.

Disse Jesus:

- Irmãos, se vós vos apoiais em vossos sacerdotes, então que estes mesmos sacerdotes resolvam a desgraça dos concidadãos. Mas Eu sei que para aliviar a desgraça de outros, vossos sacerdotes não movem uma palha. Acho que vós deveis vos decidir e não perguntar aos sacerdotes. Eu vos asseguro que recebereis madeira de graça, além de um salário, que pediremos.

Disse Zebedeu:

- Jonatan, nós podemos nos responsabilizar por isto e os outros não precisam saber para que e para onde cortamos a madeira. Eu assumo toda a responsabilidade, pois devo muita gratidão aos irmãos, especialmente à Jesus.

Pergunta Jesus:

- E o que tua mulher vai dizer?

- Não vai ser fácil, mas a miséria dos outros é imperiosa e devemos atuar.

- Bem irmão, mas quando tua mulher souber que estou construindo a pocilga, que dirá?

- Oh Jesus, filho de meu velho amigo José, aí teremos um verdadeiro terremoto. Mesmo assim, seguiremos Teu conselho. João irá amanhã à casa do grego e o convidará a vir aqui, ou a minha residência.

- Bom irmãos, eu sabia que seria assim. Nos Meus irmãos Eu confio, pois não estamos em Nazaré. Os sacerdotes, Eu não os temo.

João estava escandalizado. Como Jesus podia ser tão leviano e resolver atuar desconsiderando a opinião dos sacerdotes? Entretanto Zebedeu ordenou procurar o grego...

O grego, que era conhecido como um ateu, mas também como um benfeitor dos pobres, ficou muito feliz com a chegada de João e com o recado que trazia. No dia seguinte, já chegava à casa de Zebedeu, a quem conhecia há muito.

- Amigo, vamos à casa de Jonatan, onde se encontram os três operários. Lá chegando, poderemos resolver tudo de pronto.

Assim foi feito. Jesus acatou todos os desejos do grego e fez além: ofereceu-se para consertar suas gaiolas de peixe. O grego prometeu que, se tudo fosse feito a contento, ele não só pagaria o salário pela obra em sua casa, como também o que custasse para reconstruir as cabanas dos pescadores. Proveria aos três a madeira necessária e a hospedagem pelo tempo da obra.

Disse Jesus:

- Querido amigo, Meus irmãos vão se ocupar das cabanas dos pescadores e eu ficarei com tua casa. Só preciso de alguns de teus empregados para Me ajudarem.

Disse Jonatan:

- Jesus, sabes o que fazes. Assumes todo o trabalho sozinho? Para mim está muito bem, especialmente pelos templários.

- Jonatan, nenhum templário saberá nada, enquanto vós vos calardes. Creio que, pelas vitimas da tormenta, isto não será um sacrifício grande demais. Com relação a Mim, não vos preocupeis, pois sei o que quero e posso.

Assim, Jesus foi com o grego, pois queria iniciar o corte da madeira no dia seguinte. Os pescadores prometeram o transporte da madeira em seus barcos.

Jesus ficou um mês com grego, enquanto que Joel e Jacó reconstruíram o que estava danificado e fizeram novas gaiolas para os peixes, de modo que, na véspera do Sábado, estava tudo pronto. O grego levou pessoalmente Jesus para a casa de Jonatan e solicitou a conta à Joel, o qual não se animou a pedir um tostão. O grego então disse:

- Eu vejo que não te animas a me cobrar, mas um ser não sobrevive só de amor. Jesus me ajudou à sua maneira. Principalmente, me ensinou coisas que nem a prata e nem todo o ouro do mundo podem pagar. Por isto, vos dou cem moedas para a viagem e esta bolsa entregueis ao seu pai José para seu uso próprio. O conteúdo é meio quilo de ouro e três quilos de prata. Se tiverem outros desejos, falem comigo.

Joel, assustado com a quantia, não queria aceitar. Foi quando o grego disse:

- Amigos, não digam uma palavra e silenciem a todos. Pela ajuda de Jesus, me tornei outra pessoa. Claro, não me tornarei judeu externamente, mas, internamente, já o sou. Por que devo dar oferendas aos sacerdotes, se estou rodeado da mais completa pobreza? Todos os pescadores me amam e respeitam, só os sacerdotes não. O agradecimento de uma pobre mulher me é uma dádiva divina, e isto me basta.

Disse Jacó:

- Já que é teu desejo, vamos silenciar; porém eu gostaria de saber se tudo está a teu contento. Os velhos pescadores estavam tão felizes e satisfeitos, que nenhum trabalho lhes era pesado demais. Tudo transcorreu sem acidentes.

- Jacó, estou completamente satisfeito. Não somente com os desejos que expressei, mas também com aqueles que estavam bem ocultos e me foram atendidos. Nem sabes a felicidade que me causaria, se Jesus viesse ficar comigo para sempre.

Jesus ainda combinou algumas coisas com o pescador Simon Judá e sua mãe. Zebedeu logo chegou com seus filhos: Jacó e João.

João estava felicíssimo em ver seu Jesus de novo e tinha muitas perguntas a Lhe fazer, mas Este o abraçou e disse:

- João, não perguntes nada, pois as respostas encontrarás dentro de ti. Pratica a introspecção e, em pouco tempo, Me entenderás melhor. Mas ouve e silencia sobre o que vais aprender no teu interior e saibas que o Eterno Deus estende Sua Mão para ajudar cada ser humano. Se queres ficar comigo amanhã, chega bem cedo no ancoradouro do grego.

- Queres ir à casa do pagão? Para lá, não poderei te acompanhar. Não poderei mentir, se a mãe quiser saber onde estive.

- Tu não deves mentir. Tu vens me visitar e o resto deixas Comigo.

João chegou bem cedo ao ancoradouro, onde Jesus o esperava. Saudando-o, Este lhe disse:

- João, não te zangues comigo. Passaremos o dia na casa do grego. Hoje ainda, acontecerá uma grande tempestade com muita tormenta. Durante este tempo, ficaremos na casa dele. Iremos depois a um morro, onde celebraremos o Sábado em paz.

Tudo estava calmo na casa, pois os empregados respeitavam o Sábado. O grego então contou como encontrou Deus . João escutava cada palavra atentamente, pois era a primeira vez que ouvia uma pessoa muito viajada, capaz de dialogar de igual para igual com qualquer sacerdote.

Mesmo quando todos começaram a ficar agitados devido à tempestade, o grego permanecia calmo. E quando perguntou a Jesus se haveria danos, Este respondeu:

- Hoje não precisas te preocupar, pois a ninguém acontecerá algo. Permanece em paz.

João os fitou e pensou:

- O grego está em completa sintonia com Jesus, enquanto eu estou cheio de dúvidas.

O sol reapareceu e logo o tempo abriu, então Jesus disse:

- Vamos subir o morro agora e lá ficar até o sol se pôr.

O grego os deixou a sós, e João perguntou:

- Proibiste o grego de vir conosco?

- Não João, ele sabe que gosto de passar o Sábado sozinho e Me oferece este sacrifício, mas ainda falaremos com ele hoje.

Nesta tarde, João não teve nenhuma visão, mas Jesus lhe falou sobre Sua Missão, o que, obviamente, não foi de todo entendido por João.

O grego não agüentou ficar em casa e foi à procura dos dois. Quando Jesus o viu, lhe acenou para se aproximar. Sem dizer uma palavra, o grego se sentou junto a eles.

Jesus lhes mostrou a maravilhosa visão do Pai que sentia em Si. Em poucos momentos, ambos estavam tão encantados, que esqueceram do tempo. Jesus, no entanto, os chamou para partir.

No ancoradouro, Jesus se despediu do grego e pediu que ficasse em silêncio, pois ele vivenciaria todos os acontecimentos em seu interior. Olharam-se por um longo instante... Depois, Jesus e João tomaram o barco, enquanto que o grego ficou a lhes acenar. Como o vento estava a favor, em pouco tempo chegaram à casa de Jonatan. João se despediu de Jesus, o beijou e depois navegou com bons ventos até sua casa.

Desta vez, Salomé não disse nada, mas Jacó lhe perguntou onde estivera, ao que ele respondeu:

- Com Jesus e muito aprendi com Ele. Porém devo silenciar. Por isto, te peço Jacó: não insistas. Eu tenho agora uma visão completamente diferente de Jesus.

Para João, iniciou-se uma longa espera, pois levaria tempo até que ele voltasse a encontrar Jesus. No começo, ele praticava introspeção; mais tarde, começou a sentir uma inquietude cada vez mais forte. De Jesus não tinha notícias. Às vezes, falava com o grego, o que sempre lhe causava um íntimo reviver e acalmava sua inquietação interior.

Certa feita, o grego o convidou para visitá-lo em sua residência, e Zebedeu o permitiu. Chegando lá, ele viu a pocilga e o estábulo para cabras, que Jesus tinha construído em menos de três semanas.

- Jesus construiu? Pelo curto tempo que levou, é um verdadeiro milagre.

- Sim e ainda tem mais. Estas casas também são obra Sua; quero dizer, haviam aqui casas velhas e agora estão todas novas. Vem, vamos olhar seu interior.

João ficou muito surpreso.

- Eu o entendo agora cada vez melhor. Assim mesmo, estou cheio de inquietação.

- Como é isto jovem amigo? À tua frente se estende toda uma vida, mas eu já estou me sentindo bem cansado. Não gostarias de ficar aqui comigo? Meus filhos têm o meu sangue de errante e se tornaram mercadores.

- Tenho que recusar teu convite — retrucou João — pois sou e vou permanecer um pescador. Ajudo meu pai da melhor maneira possível e com toda boa vontade.

- Que pena, meu filho. Jesus também recusou este meu desejo. Tenho que ficar aqui sozinho, pois, infelizmente, pouco me conhecem e menos ainda me entendem.

Conversa entre Jesus e João

Zebedeu foi com seus dois filhos para Tiberíades num barco bem grande, a mando do grego. Esta tarefa deu a Zebedeu um bom lucro e a amizade com o grego ficava cada mais forte. João pediu a seu pai licença para ir a Nazaré, mas Zebedeu não queria ir tão longe, pois tinha saudade de casa. João ficou muito decepcionado, mas à noite chegaram José e filhos ao albergue. João então se sentiu muitíssimo feliz.

- Até que enfim, meu querido Jesus, posso Te ver novamente e olhar nos Teus olhos bondosos. Senti muito Tua falta.

- João, te esqueces que jamais nos poderemos separar? Não sabes dentro de ti que Eu não posso ser perdido por ninguém que Me ama e que Me aceita em espírito e verdade? Meu querido João, reconheço teu amor, mas este só quer satisfazer tua saudade. Eu preciso de irmãos que entendam os sofrimentos de Meu Espírito, pois o que Eu quero, eles também têm de querer; isto é, aqueles que quiserem se tornar unos Comigo. Por que, João, permitiste que tua vida se acomodasse novamente? Aquela, que começou a aflorar com a Minha convivência... Isto Me causa grande dor. Toda tua saudade foi inútil, pois os grandes acontecimentos que vivenciaste junto a Mim e Minhas obras, que pudeste ver na casa do grego, deviam te dizer que habita em Mim mais do que um simples homem. Por isto, querido João, atenção ao que vou te dizer, pois em espírito também receberás manifestação de Meu Espírito, que te levarão à vida do Amor e da Sabedoria.

- Jesus, meu Jesus, como seria bom se eu conseguisse Te entender. A vontade para tal é grande dentro de mim, e eu percebo que nosso relacionamento é muito carinhoso.

- Sim João, mas Eu não quero um relacionamento carinhoso, porém intenso.

- Jesus, de novo, não Te entendo. Então minha saudade por Ti não é intensa?

- Ainda não, João. Saudade é um desejo de que algo realize; é uma prova de que ainda não Me conheces e estás longe de Meu Espírito. Na tua saudade, te tornaste alguém que exige, que deseja um doador em Meu Espírito. Na saudade, mostras fraqueza; mas os que vivem em Meu Espírito, já são fortes.

- Jesus, maravilhoso ser em carne e sangue, começo a vislumbrar a Tua grandeza e acho que estou principiando a Te entender um pouco, mas o Teu Humano sempre me leva à dúvidas.

- João, tu não recebeste suficiente informação dos anciãos e dos sacerdotes a respeito do que Moisés e os profetas anunciaram? Foi sobre um humano que se deixou levar pela sua natureza, ou sobre um Humano cheio do Espírito de Deus?

- Tens razão, Jesus. Este Homem, que virá, estará repleto da Divindade, pois Ele trará a vitória sobre a morte e o julgamento.

- Certo João, agora tente penetrar no “Que Virá” e não no “Tão Esperado”. Teu conhecimento interno e teu Espírito abrirão as portas para “O Que Virá” e a saudade em ti se transformará em Vida, e a Vida em Amor, e o Amor te unirá ao “Tão Esperado”. E isto tudo são acontecimentos internos, os quais tu perdeste devido à tibieza e à tua sempre presente fraqueza. Tenta novamente e não te assustes quando, dentro de ti, vivenciares coisas que não forem do teu agrado.

- Se for Teu desejo, meu Jesus, assim eu farei. Reconheço que internamente és algo muito grande. Mas por que não me satisfaço com este conhecimento e somente sou feliz quando estou em absoluta união Contigo? Não passa um único dia em que eu não me lembre de Ti, nem uma noite em que eu não planeje Te encontrar e como ficar Contigo.

- Vê João, isto é um enorme desvio. Agarra-Me com todo teu coração e todo teu sentimento; então estarás no caminho certo, no qual te dirijo. Não te escandalizes com nada humano em Mim e em teu próximo. Eu poderia te dotar de grande Sabedoria e Força, mas de que utilidade te seria? Tudo seria obra Minha e te afastaria cada vez mais de Meu Coração. As bênçãos divinas se tornariam julgamento para teus irmãos. Oh meu querido João, tu estás dedicado para o Amor e deves renascer no Amor. Deves anunciar Vida através do Amor, e esta Vida só será dada a quem Me reconheceu e aos que Me aceitaram em Espírito.

- Jesus, Jesus, nunca me falaste desta maneira. Reconheço que não consigo me aproximar nada de Ti com minha saudade; mas como nunca mais poderei ficar longe de Ti, seguirei Tuas Palavras e farei tudo o que Me ensinaste na montanha.

- Bom meu querido João, mas vamos ficar quietos. Deixa a Vida, a que desabrocha nosso Amor, falar conosco. Ambos lucraremos muito.

João se encostou em Jesus e não disse palavra. Dentro dele, porém, formava-se Vida sobre Vida, com visões passando rapidamente por seus olhos espirituais. Grandes paisagens com pessoas e animais lhe anunciavam uma vida nova. Quanto mais desligava o pensamento, tanto mais se lhe abria a visão desta vida nova e desconhecida. Neste momento, ele pegou as Mãos de Jesus e As encostou no coração, quando as visões desapareceram imediatamente. Então Jesus disse:

- João, vamos nos despedir agora. O que iniciamos esta noite, acabaremos durante o dia. Bem cedo, reiniciaremos nosso trabalho, e teu pai precisa ir para casa. Permanece em Mim. Seja fiel a ti e a Mim. Transforma tua vida em Minha Vida.

Sem nenhum problema, Zebedeu e seus filhos voltaram para casa.

As modificações que ocorreram em João

Desde este dia, João modificou seu comportamento completamente. Se antes ele não gostava de muito movimento em sua volta, agora, de acordo com Salomé, ele estava ativo demais. Fazia excursões sozinho no Sábado e não dizia a ninguém onde ia e o que fazia. De fato, ele gostava muito de ir à casa do velho grego, onde podia aliviar seu coração completamente, sem medo de reprimendas.

Na véspera de um determinado Sábado, a ansiedade para ir à casa do grego era mais forte do que jamais tinha sentido. Assim sendo, disse ao pai:

- Pai, dá-me licença para ir visitar nosso velho amigo, o grego? Tenho a impressão de que ele necessita de mim e que está me chamando.

- João, é véspera de Sábado. Se amanhã não fores à sinagoga, terás problemas.

- Pai, isto não me importa. Qual a utilidade de ir lá? Eu não encontro satisfação nenhuma na sinagoga. Tudo que os sacerdotes falam para mim são palavras vazias.

- João, proíbo-te de falar assim! Jamais permitas que alguém te ouça, pois não só te prejudicarás, mas também a nós.

- Está bem pai, vou me esforçar para que isto não mais aconteça, mas eu te peco: dá-me permissão para ir à casa do grego agora.

- Pois bem, faze como teu coração manda, mas se o vento não estiver bom, volta para casa imediatamente.

Doença e morte do grego

O vento estava a favor; era como se forças ocultas estivessem junto a João.

No ancoradouro, estavam empregados do grego a esperá-lo:

- O patrão já te espera o dia todo.

Rapidamente, João foi à casa do grego, onde o levaram aos aposentos do mesmo. O grego estava deitado numa cama, posicionada em direção ao sol.

- Eu sabia que virias e te agradeço muito. Infelizmente, estou muito doente e sinto que estas são minhas últimas horas. João, não tenho mais ninguém além de ti, a quem posso entregar minhas últimas vontades em relação aos meus filhos. Por isto, te peço: fica comigo até que eu tenha entrado na Vida Santificada de Deus.

O velho grego se sentia muito abatido. Falar lhe era muito difícil. Ele retirou um pacote debaixo de sua cama e disse:

- João, isto dá ao meu filho Hermes e a mais ninguém. Ele dirá aos seus irmãos e irmãs tudo o que está escrito neste pergaminho. Já me sinto melhor agora, pois sei que tu, meu filho, cumprirás minha vontade, ainda que passem anos. Depois, dá esta carta ao teu pai. Nela está o pedido para que ele cuide de meus negócios e de meus empregados, que o obedecerão e servirão como a mim mesmo.

João quase não conseguia falar:

- Meu pai, agradeço-te pela confiança em nós depositada, mas por que nos escolhestes para realizar teus últimos desejos?

- Jesus assim o quis. Jesus, que se tornou tudo para mim e cuja voz consigo ouvir em meu coração. Ele me diz neste momento: “ Não temas nada, pois todos os caminhos estão livres. Cumprimenta o meu João. Em pouco tempo, estaremos novamente juntos ”.

- Querido pai, não fales nada, pois vejo que te causa dor.

- Meu filho, não te preocupes. Estou voltando para junto de meus ancestrais. Agora, deixa-me descansar um pouco, pois fiquei muito cansado.

João saiu do quarto e foi à cozinha dizer aos empregados que ficaria por perto e à disposição, tão logo o grego o chamasse. A empregada lhe perguntou se não deveriam chamar o sacerdote, o que João negou, dizendo que o grego não precisava do mesmo.

O doente dormiu e após quase uma hora, a empregada chamou João. O enfermo passou uma noite calma e João não mais saiu da cabeceira de seu leito. Ele não se sentia junto a um moribundo, mas sim como se estivesse num templo sagrado.

Bem cedo, João foi acordado pela voz do doente. O mesmo parecia conversar com alguém, já que, na maioria das vezes, fazia perguntas. De repente, ficou atento e disse:

- Jesus, Tu também vieste aqui e fazes de minha partida uma hora alegre. Oh! Teus Olhos brilham e Tuas Mãos me abençoam e a todos que aqui vieram. Meu Jesus, meu Jesus, leva-me para o Teu Reino, onde quero me tornar completamente Teu servidor. Logo após, ficou calmo e adormeceu. .João velou seu sono. Havia suor na sua testa, a qual João limpou sem acordá-lo. Passado um quarto de hora, o doente falou novamente:

- Jesus, como és lindo!

Sua respiração ficou cada vez mais fraca. Após mais um quarto de hora, o grego tinha feito a passagem sem dor, nem sofrimento.

João chamou todos os empregados da casa e anunciou a morte de seu senhor. Um dos empregados mais velhos disse:

- Jovem amigo de meu senhor, estou ciente do desejo dele. Por isto, vamos te obedecer como a ele mesmo. Ordena, pois te conhecemos e nos alegramos em te servir.

- Então peço que leves esta carta a meu pai, enquanto nós vamos fazer os arranjos para o enterro.

Zebedeu chegou no dia seguinte, e João pôde admirar seu pai: calmo, competente e organizado, resolveu tudo em pouco tempo.

João ficou na casa do falecido por um ano, até que chegou Hermes, o filho mais velho e herdeiro do grego. Entre os dois houve logo bom entendimento e se tornaram amigos. João voltou para casa de seus pais, mas não conseguiu se entender com a mãe, o que lhe causava grande dor. Toda boa vontade não era suficiente para aplainar suas diferenças. Então aconteceu uma desgraça: um dos servidores de Zebedeu não retornou do mar após uma noite tempestuosa. Salomé disse zangada:

- Deviam ter tido mais cuidado. É simplesmente obrigação de cada um, cuidar do outro.

Zebedeu enfatizou que nada foi esquecido para a salvação do serviçal e não aceitou a censura de Salomé, mas esta não se calou e acusou os devaneios de João pelo acidente. Isto o feriu bastante e ele se tornou cada vez mais silencioso; entretanto, muitíssimo o ajudou na sua luta interior para conseguir a calma necessária ao reconhecimento da Vontade Divina. Com grande alegria, se conscientizava que estava chegando cada vez mais perto da Verdade. A visão de Jesus se tornava cada vez mais viva, e a saudade se transformava em entrega total.

Jesus convence Salomé. Tormenta em Capernaum

Os filhos de José novamente tinham obras a realizar perto de Betsaida, e Jonatan os chamou. Especialmente seu filho Simão tinha forte afeto por Jesus, o qual, por sua vez, convocou João. O encontro foi de uma felicidade indescritível e Jesus disse na ocasião:

- Já que é véspera de Sábado, não podemos iniciar nenhum trabalho; sendo assim, irei à tua casa, e visitaremos teu amigo Hermes no Sábado.

- Jesus, isto vai causar problemas aqui em casa. A mãe está zangada Contigo e comigo.

- É só teu ponto de vista. Trata de entender tua mãe.

Quando Jesus chegou, Salomé desandou sobre Ele, que no fim disse:

- Mãe Salomé, por que falas diferente do que sentes? Por que não permites que a pequenina fagulha de Amor se transforme numa chama ardente? Tens ganhos internos, quando julgas e ajeitas tudo pela fria lei? Vê, se Jeová te tratasse com a mesma severidade que tratas teu próximo, em que situação te encontrarias? Se não tivesses conhecimento, merecerias uma explicação, mas tu sabes de tudo melhor. Creio que Jeová ainda terá que estudar contigo.

- Jesus, que pessoa és Tu? Achas que até eu tenho que cair de joelhos na Tua frente? Não Te basta ter desviado João? Certamente, irás amanhã a um lugar desconhecido por nós, onde não Te poderemos controlar. Que dirá Jeová sobre isto? Celebras o Sábado como Te vem à cabeça e, como se não bastasse, ainda desvias João do bom caminho. Isto aprendeste certamente de Jeová... Sinto vontade de ter uma conversa Contigo há bastante tempo, pois muito foi perdido por Ti. Dize-me: por que evitas os sacerdotes e a sinagoga?

- Salomé, justamente tu desvias saber que Eu não preciso correr atrás dos sacerdotes, nem escutar suas conversas tolas nas sinagogas. E se tu achas que em Mim muito foi desperdiçado, como és tão inteligente, podes consertar este problema, a fim de que Eu não pareça tão horrível aos teus olhos. Se tu parasses para meditar, ou se tu Me olhasses sem preconceito, nem que seja por uma só vez, muita coisa se esclareceria em ti.

- Não conseguirás me fisgar com as promessas que fisgaste meu João. Mas, já que estás aqui, te pergunto: quais são Tuas intenções? Deverias Te envergonhar. Quanta dor e quanta discórdia já causaste à Tua família! Já que Tua Mãe não consegue Te dominar, ela se entregou totalmente. Meu filho, não poderias ser...

- Mãe Salomé, estás muito agitada. Por isto, não te darei resposta, mas te digo: Meu tempo ainda não chegou. Sobre Meu comportamento em relação à humanidade, só devo dar satisfação a Mim mesmo e ao Meu Deus. Eu gostaria de conhecer aquele que quer Me modificar. Eu sei o que faço, mas vós não sabeis o que falais, pois não conheceis nem Deus, nem Seu Amor. Mas Eu O conheço e conheço Sua Vontade Divina. Por isto, sigo Seus caminhos e não faço nada sem Seu consentimento.

- Isto dizes Tu, mas se todas as pessoas se comportassem assim, o que seria de nós?

- Salomé, aí não haveria tempestade; as tormentas não vos poderiam causar nenhum prejuízo; toda a humanidade viveria como verdadeiros filhos de seu Pai Celestial, e nenhum inimigo, nem externo, nem interno, poderia perturbar sua tranqüilidade. Além do mais, as pessoas teriam poder sobre os elementos. Quando estes fossem sacudidos por forças sombrias, os comandariam à calma, para evitar danos.

Prosseguiu Jesus:

- Porém, para te provar que em Mim está a Verdade, Eu te digo: dentro de uma hora, se abaterá uma tempestade sobre nós; uma tempestade como nunca viste em tua vida. Agradece à Deus por hoje ser véspera do Sábado, pois ninguém retornaria com vida. Porém tu, João, prepara um barco, que devemos avisar à todos.

- João, tu ficas, pois afirmar isto é uma grande bobagem. O mar nunca esteve tão calmo como hoje.

- Bem João, tu ficas e Eu vou sozinho.

Jesus saiu de casa, soltou o barco e levantou as velas. Antes que João pudesse alcançar o barco, tinha desaparecido.

- Mãe, o que fizeste? Ser-te-á muito difícil consertar o desentendido.

- Atreves-te a falar assim com tua mãe! Vemos novamente o que o nazareno aprontou com tua educação. Se não te sentes bem junto à tua mãe, vai novamente para junto do ateu, o perdido de Israel.

João se calou, pois sentiu que seria inútil argumentar. Ele saiu da casa e, olhando para o oeste, viu uma nuvem negra no céu. Procurou seu pai e disse:

- Pai, tu ouviste cada palavra trocada entre Jesus e minha mãe. Vem para fora e vê como o céu está no oriente.

Zebedeu olhou e disse:

- João, agora temos que abrigar tudo que se encontra na água. Chama todo o pessoal.

Salomé argumentou:

- Hoje é véspera de Sábado. Não vos deixeis amedrontar. Vós todos estais possuídos por Jesus.

Zebedeu correu para fora, amarrou e guardou tudo. Após meia hora, a tormenta se abateu sobre o local; uma como nunca tinha acontecido antes. No meio desta, o barco com Jesus se aproximou. Ele aportou calmamente, recolheu as velas, se sentou no banco do remador e começou a olhar o rugir da tormenta. Na casa de Zebedeu, todos estavam cheios de medo e confusos, observando Jesus sentado tranqüilamente no barco. Então João escutou uma voz interna que lhe dizia: “João, vem para junto de Mim no barco”. Sem dizer palavra, João saiu de casa e correu para o barco.

A tormenta agora estava aterradora; raios e trovões não paravam de cair e torrentes de água desciam do céu. Jesus, porém, estava no seco. João se sentou ao lado de Jesus, que lhe perguntou:

- João, estás com medo? Pois saibas: quem se encontra Comigo estará protegido. Eu, entretanto, quero que a casa de teus pais não sofra dano algum.

- Meu Jesus, já que posso estar junto a Ti, todo o medo passou. Temi antes... Mais por Ti, do que por mim. Não podemos voltar para casa agora? Meus pais e irmãos estão morrendo de medo.

- Não, João. Porém eles ainda devem vir aqui fora, junto a nós, pois vêem que nós nem molhados estamos.

A tormenta não acabava e era aterradora. Uma vaga após a outra fazia os alicerces da casa estremecer, mas os dois no barco não se molhavam.

- Jesus, meu amor real, hoje Te vejo completamente diferente do de sempre. Se nas tormentas e tempestades Tu te apresentas como profeta, como então não deve ser Teu Ser, se as pessoas forem ao Teu encontro com amor?

- Então João, o mundo inteiro saberá o que é o Meu Amor. Crê em Mim, mesmo no futuro, quando na dificuldade e na dor. Será então chegado o momento de vivenciares o Milagre. Ainda um pouco mais e a luta em Mim se acabará. Aí Minha Alma se unirá Àquele de quem tudo recebemos. Também tu receberás logo a chamada, tal como ouviste hoje: “João, vem para junto de mim!” A partir de então, não nos separaremos mais. Vai agora e traze teu pai e irmão Jacó.

João saiu do barco, correu para casa e disse:

- Pai vem comigo junto a Jesus, e tu também, Jacó.

- Deixa-me João, pelo bem da paz com tua mãe.

Jacó se dirigiu imediatamente ao barco, e João disse ao pai:

- Não pai, pelo bem da mãe, vem comigo junto a Jesus. Eu te peço; caso contrário, nossa casa estará ameaçada de grande perigo.

- Então vamos rápido João.

E sem se preocupar com a gritaria de Salomé, os dois correram para junto de Jesus, no barco.

- Zebedeu, está tudo bem agora. Nada acontecerá à tua casa, e os outros todos foram avisados por Mim. Ninguém perderá a vida, e os danos materiais nós ajudaremos a corrigir.

Admira-se Zebedeu:

- Jesus, que há Contigo? Falas como quem já sabe de tudo! Por que não podes vir a minha casa?

- Porque vós deveis se livrar de vosso medo e de vossa crença errônea. Vede, vosso Jeová, como o Verdadeiro e Eterno, quer ser adorado no coração e não com a boca. Eu não posso permitir que as pessoas Me levem ao erro.

- Jesus, eu deveria ter proibido a Salomé de falar. Ela Te ofendeu e feriu. Que posso fazer para que voltes a freqüentar a minha casa?

- Nada Zebedeu, somente crê em Mim e não te oponha às Minhas ações. Ainda hoje, iremos à casa de teu amigo Hermes e só retornaremos amanhã, após o pôr do sol. Queres ir?

- Sim, eu quero.

- Zebedeu, agora Me deste uma enorme alegria. Por isto, quero que a tempestade abrande neste momento e o mar se acalme. Chover ainda vai, por mais uma hora. Nós ficaremos aqui no barco.

Aconteceu como Jesus disse: a tormenta se acalmou. Após uma hora, o tempo estava maravilhoso. Eles deixaram o barco e vistoriaram a casa. Nada tinha sido danificado. Então os outros criaram coragem e saíram da casa. Foi quando Zebedeu disse à sua mulher:

- Olha bem o barco e a nós. Verás que tudo está seco e a salvo. A partir de hoje, não permitirei que pronuncies uma palavra contra Jesus. Vamos à casa de Hermes ainda hoje. Se alguém perguntar por nós, diga a verdade.

As palavras, tão seriamente ditas, não erraram o alvo. Salomé ficou calada. Finalmente, ela se deu conta que Jesus era o mais forte.

Rapidamente e em segurança, o barco levou os quatro ao ancoradouro de Hermes. Logo, estavam na casa dele, onde foram muito bem-vindos.

Hermes, o filho do grego, e a visão no Sábado

Hermes se sentiu muito atraído por Jesus. João ficou atônito com a rapidez que Hermes entendeu Jesus e assim, vivenciou de novo a Força e o Poder do Amor que Jesus irradiava, quando se sentia livre. Hermes mandou preparar uma boa refeição e disse a Zebedeu:

- Meu amigo e irmão, tu e os outros sois meus hóspedes hoje. Obedecerei vosso costume amanhã. Façam-me o favor de não dizer “não’’.

- Hermes, meu caro amigo e irmão, estou livre de qualquer regulamento a partir de hoje. Toda vez que eu estiver na tua casa, não precisas te ater aos nossos costumes, pois hoje nos foi mostrado um outro pensamento e uma outra maneira de ser. Esta tormenta e este mau tempo nem ao menos conseguiram nos molhar, muito menos nos causar algum dano.

- Sim, minha gente também foi avisada por um pescador, e não tivemos nenhum prejuízo.

Disse Jesus:

- Todos os pescadores foram avisados. Infelizmente, só poucos obedeceram ao aviso. Sendo assim, os que não o fizeram têm que se contentar com os danos.

Lamentou João:

- E eu, tolo, não Te segui quando Me pediste para avisar aos outros...

Hermes agora pediu que lhe relatassem os acontecimentos. No fim, dirigindo-se a Jesus, disse:

- Eu gostaria de ser Teu amigo, tanto quanto foi meu pai. Na sua carta, ele me pede para Te procurar e pedir por Tua amizade, pelo meu bem e de todos os outros. Perdoa, oh amigo dos homens, por não tê-lo feito até agora, mas desejo recuperar o tempo perdido.

Respondeu Jesus:

- Meu amigo Hermes, quem como tu continua a Obra do Amor que teu pai iniciou no mesmo Espírito de Amor, já se tornou Meu amigo e Meu irmão. Palavras não são tão necessárias; eis a razão por que vim com Meus amigos.

- Jesus, Tu me presenteias com Tua amizade, no entanto eu era uma pessoa tão dura... Agora que me é permitido olhar em Teus Olhos, eu me sinto em um mundo bem diferente, muito melhor.

- Hermes, Eu te prometo: um céu vais vivenciar, mas não fora e sim dentro de ti. Em Mim, o Verdadeiro e Eterno Deus te oferece a Vida, a qual te acompanhará em toda trajetória de tua vida terrena. Tu só terás motivo de agradecer e louvar.

- Oh Jesus, Tu me chamas de amigo e nem sabes como me fazes feliz, pois sou pagão, não judeu.

- Hermes, chamo a todos os homens de Meus irmãos. Meus esforços também se dirigem a todos os seres humanos, a fim de que Eu possa ser um intermediário e provedor para todos que acharem a Vida em Deus, a qual lhes deve ser uma eterna benção.

A refeição foi servida. João escutou coisas até agora completamente desconhecidas para ele. Hermes era um homem bastante inteligente e viajado. Sem muitas perguntas, entendia Jesus. Assim, passou o dia e passou a noite... Bem cedo, pela manhã, foram a uma elevação muito bonita, onde Jesus pediu a todos que assistissem o nascer do sol em meditação, observando todos os sinais do dia que começava. Hermes também era um amigo da natureza; assim sendo, disse à Jesus quando o sol já estava bem alto:

- Amigo, já muitas vezes vi o nascer do sol, mas o que vi hoje não me parece muito natural. Por exemplo: houve uma nuvem com formato de crocodilo que se colocou à frente do sol. Quando o sol se elevou, a nuvem não podia mais prejudicá-lo, mas seu maravilhoso brilho estava alterado para um amarelo avermelhado. As aves que procuravam água estavam agitadas. Isto ainda não me tinha ocorrido ver.

- Hermes, foi bom falares sobre isto, pois nossos amigos nada observaram. Podes explicar estes acontecimentos naturais?

- Não querido amigo. Há ainda algo para explicar? Nuvens tomam muitas formas, mas o comportamento dos animais me foi estranho.

- Quanto ao comportamento dos animais, nós vivenciamos que estes acontecimentos, os quais somente os amigos da Natureza vêem, têm causas. Tais causas estão nos espíritos primitivos da natureza que ainda aguardam libertação. O banco de nuvens foi o motivo, pois nele se aglomeraram inúmeras forças destruidoras. Os culpados disto são os homens, que tão erradamente vivem. Nossa esfera está repleta de forças tenebrosas, que só desejam a destruição. Estas exercem uma horrível influência sobre os homens, que se transformam em canalizadores das mesmas, pois não sabem que estão sendo influenciados. O que teria acontecido ontem, se Eu não tivesse sido protetor e guardião? Se estas forças pudessem, elas nos dariam muito trabalho, mas Meu Pai no Céu também tomou Suas providências, a fim de que a vontade destes seres fosse anulada. Mais tarde, quando Eu não mais precisar me preocupar com os outros, muito ainda será revelado, e a Luz se espargirá sobre tudo. Bem, vamos voltar para casa agora e tomar o café da manhã. Permaneceremos em casa, para não causar mais irritação, pois o Inimigo de Toda a Vida está muito ativo.

Este era um assunto que João não entendia, mas que o fazia pensar com afinco. Cada vez mais, sua vida e a vida de sua mãe se apresentavam com mais clareza. Se era assim como Jesus contava, sua mãe não tinha culpa alguma, mas sim os elementos que a influenciavam. Cabia encontrar agora um meio de evitar que eles continuassem a influenciá-la.

Neste Sábado, muito foi dito sobre a Vida de Deus e em Deus, e Jesus apresentou tudo com grande naturalidade. Assim, ninguém se cansou muito; ao contrário, todos escutaram atentamente. Ele ainda disse a João:

- João, não queiras remover a montanha com um sopro. De tua mãe não podes exigir nada. Tu deves ser ativo e quanto mais limpares tua esfera, mais cedo acabarão as influencias negativas. Tudo em nosso infinito está regulamentado por leis; por isto, preocupa-te só contigo, para que não faças, ou deixes acontecer coisas que venham a te causar desgosto ou aborrecimento. Olha Meu exemplo: todas as lutas que tive de passar eram necessárias. Elas se tornaram degraus que Me levaram a Meu mundo interior e nele construir uma Vida em Deus. Isto para que, a partir de agora, tudo que faça se origine neste Deus. Enquanto houver algo em Meu interior que pertença ao “Meu Eu’’, a Vida de Deus – ou a parte da Vida Divina – ainda não se tornou livre propriedade da Minha Vida Interior, e ainda posso ser influenciado. Porém cada influência serve para nos limpar e fortificar interna e externamente.

João entendeu bem a explicação e ficou muito contente. Por sua vez, Hermes disse:

- Jesus, tu homem amado e bom, se milhares de pessoas tivessem me contado isto, eu não teria acreditado nem entendido; mas Tuas Palavras são Luz e Vida. Eu vejo e sinto a verdade de Tuas Palavras. Por que as outras pessoas não conseguem entender, ou encontrar isto por si mesmas?

- Meu querido Hermes, esta Verdade é eterna. Vossos sábios ainda a representam hoje. Se os sacerdotes pagãos e também vossos sacerdotes falassem com tanta naturalidade, o seu nimbo acabaria num instante. Quanto mais cheios de segredos e complicados se apresentarem ao povo, tanto mais necessários se tornam. O povo precisa de alguém em quem crer, e foi assim que criamos a situação atual. Tira do povo seus sacerdotes, e ele se torna um povo derrotado por muito tempo. Por isto, a união de vossa alma com vosso espírito é tão importante, pois o Espírito Divino e Eterno deseja transmitir-vos a Verdade. Ninguém pode criar nada do Espírito, sem tê-lo recebido anteriormente. Vós agora entendeis porque os sacerdotes não conseguem dar mais nada a vossos Espíritos revividos? Vê João, a saudade que te levava e ainda te leva ao Meu encontro vem do teu Espírito, que deseja retirar de tua alma os entraves, para conseguir receber aquilo que tua própria alma não pode te dar. Certo, vós não podeis entender tudo de uma vez, mas podereis vos alegrar em breve, e uma nova vida vai começar.

Desta vez, não foi difícil para João se separar de Jesus. Em seu coração havia uma esperança. Nos dias que se seguiram, seu ser se transformou. Mãe Salomé não tinha mais motivo para se zangar com seu filho. Agora, Zebedeu e João também tinham o que falar enquanto pescavam: Jesus. O intercâmbio com Simão de Canaã aumentava e Jesus já se tornava, em suas mentes e corações, o Messias Prometido. João não compartilhava desta crença. Para ele, um Messias que decepcionaria um povo cheio de esperanças, tornaria este mais pobre.

Num Sábado, meditando profundamente sobre a vida de Jesus, teve a seguinte visão: — em um enorme salão sustentado por maravilhosas colunas encontravam-se muitas pessoas. Suas roupas não eram como as dos judeus, mas sim de um branco esplendoroso. No meio deles, se achava um ancião com uma grande barba branca, e ele falava aos reunidos:

- Pais e filhos, até que enfim conseguimos nos entender. Já nossa roupa está enfeitada com a brancura da limpeza, mas nosso desejo pela Fonte da Vida ainda não foi satisfeito. Sempre somos consolados por maravilhosos Seres de Luz, que anunciam a chegada do tempo sagrado, mas isto é tudo. Quem de vós pode nos informar algo mais exato?

Então um jovem foi ao centro da assembléia, os fitou e disse:

- Vós pais e patriarcas, nós vos olhamos cheios de ansiedade e esperança e contamos com um testemunho vosso, o qual nos deveria anunciar a Vida Verdadeira. No entanto fomos informados agora mesmo que até vós sois colocados a esperar. Qual é o problema, se já trajamos a vestimenta que nos promete a mais alta Verdade? Certo, vemos o Homem-Luz cada vez mais claro e luminoso, mas também vemos os pássaros negros que O perturbam. Dizei vós, pais e patriarcas, não haveria uma maneira de ajudarmos Este Homem-Luz?

Disse o ancião:

- Bem falaste e viste tudo corretamente, mas ainda não temos nenhuma diretriz a respeito. Nossas esperanças estão centradas no Homem-Luz; mas Ele é humano, e nós somos espíritos.

Retrucou o jovem:

- Pais, eu não quero mais esperar, pois não foi proibido ajudar aos humanos. Eu vejo suas dores e como suas almas cada vez mais se desgraçam. Mas também vejo como o Homem-Luz fortalece cada vez mais almas com Sua Luz. Quando estávamos na Terra, era maravilhoso podermos servir ao Amor. Aqui na vida espiritual, devemos nos satisfazer somente em viver e não servir? Este Homem-Luz não precisava estar se sacrificando nesta Terra escura, pois sua vestimenta é infinitamente mais luminosa que a nossa.

- Meu filho, não entendo tua ansiedade, já que o Ser de Luz nos disse que tomássemos conta do Homem-Luz e não o deixássemos sair de nossa vista. A Terra escura já nos premiou com sombras mais do que suficientes.

Então um ser luminoso entrou no círculo e disse:

- Também nós não podemos incomodar a luta que o Homem-Luz enfrenta, já que o Inimigo de Toda Vida não o permitiria e poderia causar mais problemas ao Homem-Luz. Agora, seria muito diferente se os habitantes daquela Terra escura O apoiassem. Nosso ser está liberto dos grilhões terrestres. Os terráqueos, porém, devem fazê-lo com a Luz que o Homem-Luz dará a todos, quando Seu tempo houver chegado. Por isto, com o poder que Deus me conferiu, chamarei o Inimigo de Toda Vida.

Imediatamente, um homem forte se encontrava entre eles, e o Ser de Luz disse:

- Eu te chamei com o poder e a liberdade a mim dados. Pergunto-te nesta assembléia de espíritos: por que importunas o Homem-Luz, o qual tem as melhores intenções para com os humanos? É incompreensível ao Divino como seres de tua laia têm prazer em prejudicar o desenvolvimento do Homem-Luz.

Falou o ancião:

- Quem quer que tu sejas, uma meta como a tua não pode ser de um ser eterno. Onde iria a criação, se todos pensassem como tu? O Homem-Luz tem intenções que são claras e abertas. É uma grande injustiça perturbá-las. Se eu pensar bem sobre isto, creio que poderemos passar uma tranca nas intenções tuas e de teus negros servidores.

Respondeu o Inimigo:

- Isto ainda não podeis fazer. Por isto, minha luta é dirigida contra o Homem-Luz. Se Ele conseguir alcançar Sua Meta, também terei que temer a vós, e meu poder acabará. Para que tal não aconteça, deixem que eu me preocupe, pois a Divindade também não me permite ver Suas intenções.

Disse o anjo da Luz:

- Neste anjo cheio de orgulho não há piedade nem lógica. Deixai-o ir e vós, habitantes de um lindo paraíso, deixai os acontecimentos seguirem os seus caminhos. Quando estiverem consumidos, tudo parecerá diferente, pois o Inimigo da Vida estará derrotado; mas nós devemos silenciar .— Lentamente, a visão se apagou.

João pensou consigo mesmo: “ Jesus, isto está cunhado para Ti e para Tua Mensagem. Ainda me lembrarei muitas vezes deste Sábado. Quem me dará a correta compreensão? ”

João Batista – A aparição de Jesus em público. João se torna seu discípulo.

Rapidamente, se espalhou a notícia das prédicas de João Batista, e os pescadores do Lago Genezaré logo ficaram curiosos. Zebedeu e Simão de Canaã conversaram sobre o assunto. Após algumas semanas, decidiram ir com os barcos para Tiberíades. Eles lá tomaram conhecimento de muitas coisas a respeito do Pregador do Arrependimento, mas nada sobre o Messias Prometido. Quando estavam dispostos a voltar para casa, templários chegaram ao albergue onde ambos se hospedavam Por parte daqueles, passaram a ouvir, ameaças inimagináveis a João Batista. Porém havia um homem entre eles que ponderou:

- Não vamos nos precipitar. Se o Batizador é o homem que anuncia a chegada do Messias, é bom que nos coloquemos a seu lado. Assim, o povo também ficará do nosso lado. Outros disseram:

- O Batizador é um homem perigoso e não respeita nem o povo, nem os sacerdotes; para ele, só vale o arrependimento e o Reino Celestial.

João apenas prestou atenção. O que o seu pai e os outros não entendiam, ele via claramente na sua visão espiritual. A grande visão tida no Sábado se tornava cada vez mais viva. Com toda calma, escutou o que falavam sobre o Batizador e depois disse:

- De qualquer maneira, nós devemos nos encontrar com o Batizador.

Foi uma viajem muito penosa, mas todos conseguiram finalmente chegar junto ao estranho Homem. João ficou muito decepcionado: – assim, Jesus não se dirigiria ao povo...

Toda saudade de João se concentrava no Espírito que Jesus representava, o qual ele se esforçava em desenvolver completamente. Jesus atuava sobre o homem interno, a fim de que toda a Ordem viesse do interior; já João Batista atuava sobre o homem externo, para que ele se redimisse e praticasse penitência. Ou seja, João Batista atuava bem ao contrário de Jesus: do exterior para o interior.

Como se posicionava Jesus em relação à João Batista.

Passaram-se várias semanas, e as notícias sobre João Batista se tornavam cada vez mais interessantes. Os sacerdotes aconselhavam e ameaçavam, mesmo assim, os comentários não diminuíam. João Batista tinha conseguido discípulos, que falavam por seu mestre. Eles também eram pregadores do arrependimento e arautos da chegada do Reino de Deus.

Neste momento, houve uma grande mudança na vida de João e de muitos outros, pois Jesus iniciou seu apostolado. Sem discutir nada, a Ele se juntaram o próprio João, seu irmão Jacó e seu pai Zebedeu. As notícias invadiram e atravessaram o país em todas as direções. João, o Batista, cada vez mais passava para um segundo plano, enquanto que os sacerdotes se tornaram públicos opositores do tão esperado Messias. João só voltava para casa quando seu Mestre se encontrava perto de Betsaida. Jesus, o Salvador, tinha se tornado sua pátria. Ele entendia agora cada palavra de Jesus, que o orientava nas suas anotações. Tais anotações constituem parte da herança de Jesus e deveriam agora se tornar um Bem para toda a humanidade.

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