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JOANA

De volta ao Lar

Esta é a história de Joaninha, que nasceu em 1918. Era cega, mas foi submetida a uma operação aos dois anos que lhe permitia ver algo. Um ano mais tarde, se queimou no peito por descuido, sendo que a cicatriz resultante ficou em forma de cruz. Passado mais um ano, caiu do segundo andar da casa onde morava, mas nada lhe aconteceu... foi encontrada brincando calmamente no jardim. Depois, feriu o olho com um garfo, mas estava completamente curada após três dias. Foi constatado que ela tinha problemas mentais, apesar de sua habilidade em cantar, guardar músicas de cabeça e dançar. Ela cantava melodias que só tinha escutado uma vez, mas as palavras lhe eram completamente desconhecidas. Todas estas habilidades ela perdeu depois de ser esterilizada, conforme mandavam as leis e o regime vigentes na época e no lugar em que viveu. De fato, após esta operação, seu estado piorou tanto, que teve de ser internada em uma instituição, onde veio a falecer.

Liberta da vida material

Joaninha acordou num lindo jardim e ao olhar em volta, escutou uma voz a lhe dizer:

- Não temas, pequena Joana. Eu estou contigo. Não te assustes, pois nada de mal pode te acontecer. Foste libertada da vida terrena e de teus sofrimentos.

- Liberta? Bem, onde estou? Estou enxergando perfeitamente. Agora, posso ver a ti também. Quem és tu, e onde está a enfermeira Lina?

- Tu estás comigo, tua avó. Lina não pode vir aqui, pois tu morreste.

- Morri? Morri! Posso voltar para casa, junto de meu pai e minha mãe?

- Não Joaninha, ainda não. Tu tens que te livrar primeiro de teu corpo doente. Tens que confiar em mim totalmente. Não deves temer nada, pois os humanos não podem mais te ferir. Vou te levar para junto de irmãs boas e queridas, que te amarão. Então deverás esquecer todo teu sofrimento, pois teu corpo doente permanecerá na Terra.

- Tá, mas não para junto de irmãs, prefiro ir para casa com papai e mamãe. Eu vou obedecer.

- Hoje ainda não, pequena Joana, talvez amanhã. Vem, vou te levar junto às irmãs boas e queridas, as quais deves amar.

- Posso comer até me fartar? Não vou sentir frio lá?

- Comida quanto quiseres te darão. Lá é sempre agradavelmente morno e ninguém sente frio.

- Lá eu posso visitar meu pai?

- Criança, estás cheia de temores e medo. Foste liberta de tudo o que é material e vais entrar no reino dos bem-aventurados. Abraça-me com força assim. Agora, minhas orações foram ouvidas, e posso te levar nos meus braços para uma existência maravilhosa.

Joaninha se abraçou à avó, a qual disse após uns poucos minutos:

- Pronto, minha Joaninha. Chegamos onde poderás subir os primeiros degraus que te farão uma filha completamente livre.

Uma irmã jovem recebeu Joaninha e disse:

- Joaninha é teu nome? Seja bem-vinda de todo o coração. Não me olhes com tanto medo, eu vou te amar muito.

A avó acompanhou ambas até uma casinha muito bonita, onde estavam várias meninas da mesma idade. A irmã então disse:

- Aqui está um passarinho arisco. Amai-a com todo o coração, pois ela sofreu muito.

Uma do grupo indagou:

- Irmã Marta, quem é esta irmã maravilhosa? Ela também vai ficar aqui?

- Não meninas. Esta é a avó de Joaninha, que é um feliz espírito angelical. Ela nos trouxe Joaninha, que há algumas horas foi liberta de seu martírio.

- Só há algumas horas? Por que nós tivemos que ficar tanto tempo na insegurança e tivemos que implorar, orar e clamar?

A avó então disse:

- Crianças, vós não passastes na Terra o que esta, agora vossa irmã, teve que passar lá. Vós tivestes a oportunidade de aprender, vós tivestes oportunidades de conhecer o mundo, vós ouvíeis as orações de vossas mães e as repetíeis. Vossa irmã Joaninha nada disto teve. Ela era quase totalmente cega. Só os raios do sol, ou o brilho de uma lâmpada, lhe traziam um pouco de luz. Doente da cabeça e dos nervos, esta criança nasceu para sofrer. Não tinha conhecimento de Deus e do Salvador. Passava dias, semanas e anos sem nenhum interesse. E o pior: sua casa, seu lar, não existia para ela. Por isso, amai esta irmãzinha, pois nela há uma semente boa. Ela ainda vos trará muita alegria. Tu Marta, fiel protetora do amor, fica feliz com a missão que o Amor Eterno te premiou. É uma graça enorme! Que Jesus, o Amor, seja vossa vida, vossa força e vossa felicidade.

Todas queriam agradar Joaninha, mas esta ficou com medo. Foi servida uma refeição de mel com pão e delicioso leite. Joaninha estava com muita fome e Marta lhe disse:

- Joaninha, come em paz. Aqui, ninguém te tomará nada. Todas ainda te darão do que é delas, se assim desejares, para te satisfazer. Tu não estás mais no asilo, mas num lar de crianças. Aqui ainda aprenderás muito e, antes de mais nada, a deixar de lado todo e qualquer sentimento de medo.

- Lar de crianças? Eu vejo vós todas, mas onde estão as crianças? Tu és a irmã Marta?

- Sim Joaninha, fica aqui juntinho de mim e me conta tudo. Farei tudo para que esqueças o que tiveste de passar.

- Marta, tenho de voltar ao asilo, onde é tão frio? Eu sentia muito frio lá.

- Não Joaninha, aqui não é frio, a temperatura é agradável e todos te querem bem. Mas tu também tens que ser boazinha e fazer tudo que te pedimos, pois terás que aprender muito. Também terás que nos contar muito sobre teus pais e irmãs, que estão tristes pela Joaninha doente, que nada podia aprender.

Prosseguiu Marta:

- Vou te levar agora para conhecer um lugar. Vem, me dá tua mão e não temas. Aqui não há médicos, nem enfermeiras, mas sim meninas muito queridas, como um dia também tu serás. Vê, tuas irmãs estão colhendo flores; outras colhem cerejas e morangos. Poderás comer alguns? Sim, vamos até lá.

Lá chegando, Marta falou às demais:

- Crianças, trazei alguns morangos para Joaninha. Aqui; assim está bom.

As meninas cumprimentaram Joaninha, que estava amedrontada. Uma disse:

- Chamas-te Joaninha... que nome tão bonito! Eu me chamo Lisa. Queres aceitar meus morangos? Bem maduros, muito doces, e tem muito mais. Toma, pega todos estes.

Joaninha encheu a boca com as frutas e Marta disse:

- Joaninha, coma devagar, pois as frutas têm um sabor tão bom... Vê, ninguém aqui te toma nada; ao contrário, te trazem mais.

Lisa disse:

- Vou buscar mais para ti. Queres mais morangos, ou preferes cerejas? Espera, que já volto.

Marta disse:

- Joaninha, não achas que aqui é bom? Olha, lá vem Lisa com as cerejas. Muito bom... Lisa, vem conosco. Já que se voluntariamente ofereceste tuas frutas, ficarás junto a ela para sempre. Tu a amarás?

- Oh irmã Marta, eu te agradeço. Eu adorarei ser bem boazinha para a nossa nova irmã. Eu quero amá-la muito.

- Então vamos.

E Lisa seguiu a seu lado. Entraram numa casinha, onde tudo era lindo. Grandes janelas deixavam a luz penetrar em tudo e havia camas em um dos lados.

Marta observou à Joaninha:

- Aqui, irás dormir com Lisa, até que estejas de fato em casa. Comerás naquelas mesas, mas vamos agora continuar o passeio.

As três juntas entraram no jardim. Arbustos altos tiravam a vista, mas eles eram lindíssimos. Caminharam por uma aléia coberta por um musgo muito macio.

Disse Marta:

- Crianças, eu fico muito feliz em ver vossa felicidade, mas devemos voltar, pois Joaninha não está acostumada a andar. Alguma vez já vistes flores tão bonitas?

Respondeu Joaninha:

- Não, minha visão era muito ruim, mas vejo tudo agora. Posso pegar um galho de flores? Lá em casa, eu sempre pegava flores no mato.

- Claro que podes, Joaninha. Mas não poderás jogá-lo fora. Tens que levá-lo e mostrá-lo às outras, que com ele se alegrarão.

Um arbusto branco chamou a atenção de Joaninha:

- Irmã Marta, posso fazer um buquê deste aqui?

- Como quiseres. Tu Lisa, apanha um buquê também, para que a alegria seja maior.

Quando Lisa quebrou o galho, saiu um líquido leitoso do mesmo. Marta disse então:

- Se tiveres sede, poderás beber o suco. Ele é doce como o mel. De má vontade, não devemos quebrar galho algum, pois as plantas também são presentes do Santo Pai, nosso Deus. As flores duram por longo tempo somente no pé. No buquê, elas logo murcham. Temos bastantes flores para enfeitar a casa e tuas irmãs. Leva estes galhos maravilhosos, que de agora em diante começas a viver.

Joaninha estava silenciosa. As novidades não a atraíam e ela estava com medo. Chegaram à casinha, onde encontraram a mesa posta. O lugar destinado à Joaninha estava enfeitado com flores. Marta se sentou à direita e Lisa à esquerda. As outras trouxeram pão, morangos e leite. Marta abençoou a comida, agradeceu ao Doador por tal presente e perguntou à Joaninha:

- Joaninha, que achas do pão e dos morangos?

- Bons, muito bons. Onde fica a padaria?

- Os pães recebemos prontos, e eles não acabam jamais, ainda que cem Joaninhas famintas aqui estivessem.

Logo, todas estavam satisfeitas. Ao tirarem a mesa, trouxeram uma figura de Cristo e a colocaram na frente de Marta.

- Conheces este homem? ¾ indagou Marta à Joaninha. Não? Gostarias de conhecê-Lo? Ele é nosso Salvador. Quem cura todos os doentes; tu também.

- Curada? Curada? Eu não estou mais doente e já morri! ¾ exclamou Joaninha.

- Sim, como todas nós, mas ainda estás doente, por teres medo. Não precisas ter medo. Nós todas te gostamos e te amaremos. Vamos falar agora sobre o Salvador, que a todos cura. Vós outras, porém, podereis cantar algo antes. Cantem louvor a nosso Salvador.

Elas então cantaram:

Acabou o medo, acabou a dor;

Passou toda a dor de coração;

Estamos vivendo felizes na Luz;

Que enche nosso coração de júbilo;

Já que tudo antigo é passado;

Oh doce Amor, bendita glória;

Permanece eterna, como o sol de nosso coração;

Penetra em nossos corações;

E permite que na Tua Luz;

Possamos nos tornar Amor;

Oh, vem a nós Senhor Jesus Cristo;

Cura o que ainda doente está;

Com Teu Divino Amor;

Enche nosso coração com Teu Espírito;

Quem nos mostra o caminho para o Pai;

Pois tudo foi renovado por Ti.

Terminado o canto, Marta falou:

- Bem Joaninha, gostaste? Tu também sabes cantar? Ah, não te preocupes. Aprenderás logo. Bem crianças, vamos nos acalmar e meditar.

Joaninha olhou as outras se deitarem nas camas e perguntou se não tinham que tirar a roupa e se não ia ficar bem escuro.

- Não, minha Joaninha. Não precisamos dormir. Só um pouco de calma; especialmente tu, pois acabastes de passar por muitas alterações e deves criar ordem em ti. Ninguém aqui troca a roupa. Quando estiveres na ordem, receberás um vestido com o qual ficarás até a próxima etapa. Vamos nos deitar agora. Tu, na tua cama, fecha os olhos e verás, não o que nos rodeia, mas o que vive em nós. Mais tarde, aprenderás a entender tudo. Mas é preciso querer, e serás feliz assim.

Joaninha progredia. Ela tinha verdadeira sede de aprender. Seu espírito adormecido começou a pressioná-la de tal jeito, que Marta tinha que acalmá-la freqüentemente. Além disto, ansiava em trabalhar com as amigas. Joaninha estava irreconhecível. Às vezes, a avó vinha visitá-la, e então Joaninha não era mais uma criança, mas uma moça zelosa. Ainda não tinha esquecido a vida na Terra. Havia momentos em que tudo referente à alma e ao material tentavam apossar-se dela, mas Marta estava sempre a postos, para ajudar. O Espírito informou à Joaninha sua nova missão e houve nova despedida.

Aflorar da vida

Um emissário levou Joaninha para o Sul. Todos acompanharam sua despedida. Não havia dor na partida, mas sim muita alegria nos corações.

- Nós te seguiremos. ¾ disse Lisa. Não te esqueças de nós na felicidade em que estás a entrar. O Amor de Jesus te abençoou especialmente.

Humildemente, ela seguia o emissário. Alcançaram logo a meta: um local maravilhosamente lindo, com várias casinhas e grandes jardins. Para recebê-la, muitos vieram ao seu encontro, quase todos de sua idade. Uma senhora mais idosa, enfeitada com uma tiara brilhante, a recepcionou e disse:

- Seja bem-vinda. Que a Benção de Deus esteja na tua chegada.

Ali também havia muito a fazer e aprender, mas um Amor envolvia todos os corações, os quais tudo faziam para receber mais e mais amor. Trabalhavam nos jardins, aprendiam muito com a meditação e, antes de mais nada, reconheciam o sofrimento. Treinava-se aqui o espírito de socorrista. Joaninha, com seu espírito ativo, apreendeu a entender o Amor. Sua vida na Terra agora se apresentava sob uma luz totalmente diferente e o Espírito de Jesus aflorou completamente. Antes de mais nada, ela acreditava na sua mãe-instrutora, que também tinha sofrido muito na vida terrena. Ambas estavam embuídas numa união, num desejo de progredir, de evoluir e amadurecer; a fim de poderem ajudar, ajudar e salvar.

Numa hora de muito trabalho, veio novamente a avó. Joaninha correu ao seu encontro, e uma auréola de amor as envolveu. O encontro agora se fez possível. Num ambiente aconchegante, foi possível explicar o Amor Divino, pela Mão Divina, de uma forma maravilhosa. E o que sobrou do tempo na Terra? Só lembranças. A avó então falou a todas:

- Quando tiverdes conseguido alcançar esferas mais elevadas e santificadas, tudo se torna nada. Uma hora de bem-aventurança anulam milhares de anos de sofrimento na Terra. O que aqui aprendeis será de bênçãos para todos. O amor não deve ser usado para afastar o sofrimento, mas sim para vivificar e redimir dos sofrimentos. Com o amor, conseguireis vos elevar para a posição de filhos de Deus; mas aquele que, no pior sofrimento e miséria, conseguir se tornar um salvador e libertador será o portador do verdadeiro e maravilhoso Espírito de Jesus. Em nenhum tempo em toda a Eternidade viu-se miséria maior do que a de hoje na Terra, e o Amor Eterno precisa ter filhos embuídos do Seu Amor, para diminuir a dor e apagar a culpa dos que foram acumulados por falsos espíritos e com falsas alucinações, a um grau inimaginável. Em todos os Céus há luto, luto pelos desgarrados, pelos perdidos. Sim, o Senhor mesmo chora por aqueles a quem queria tratar como Seus filhos, mas que estão infalivelmente perdidos, caso não haja um imediato esforço universal e os verdadeiros socorristas se coloquem a postos. Uma vez Ele pôde revelar Seu Amor em Jesus Cristo, pôde morrer na cruz para salvação de todos, mas Ele continua a ser traído e enganado. O Inimigo da Vida pensa ser o senhor de tudo, mas aos filhos renascidos será dada a competência de abrir novamente os portais da Vida. O Amor do Pai deve ser revelado de uma forma muito mais maravilhosa; mas não por palavras, e sim pela caridade. Isto é o que eu quero dizer a vós, meus filhos; especialmente a ti Joaninha, que foste escolhida para te tornares uma operária de Seu Amor. Vem aqui criança, para que te abençoe. Ajoelha-te, para que possas receber o prêmio que o Eterno Amor te envia por mim. Sê abençoada no Amor, pelo Amor e consagrada para a obra de Amor de Jesus, nosso Senhor e Deus. Amém.

Ao levantar-se, Joaninha vestia um vestido azul claro, um cinto dourado e um arco com uma linda pedra, no cabelo. Ela se assustou com tanto esplendor, mas a professora disse:

- Joaninha, foste premiada pelo teu zelo e partirás em pouco tempo, para cumprir tua missão. Tens um desejo especial neste dia feliz?

- Sim, querida mãe: eu gostaria de buscar Lisa. Eu poderia visitá-la, ou mesmo trazê-la para cá?

- Mas claro, querida filha. Vamos pedir ao Santo Pai que Ele envie um emissário acompanhante, pois ainda não consegues andar só.

No mesmo instante chegou o emissário, que disse:

- Amadas irmãs, vosso pedido foi executado antes de acabardes de pronunciá-lo. Eu a levarei e trarei de volta, pois a vontade do Senhor é a nossa vida. Se quiseres Joaninha, poderemos ir; ou tens outro desejo?

- Eu gostaria de levar flores e uvas para as outras, além de um buquê bem bonito para Marta. E tu, querida mãe, não queres vir?

- Se for este teu desejo, com prazer. Posso dispor de meu tempo, que é consagrado ao Amor. Vai agora. Ajeita o que quiseres levar, para alegrar tuas irmãs.

Uma breve despedida e com os olhos brilhantes, foram os três filhinhos num rápido vôo. Passaram por belezas incomuns, as quais Joaninha via completamente consciente pela primeira vez. Eles viram muitas irmãs e irmãos, e começou um alegre abanar de mãos. Joaninha perguntou a avó se estes também eram abençoados.

- Tão abençoados como tu, minha criança. Eles já estão há bastante tempo aqui e não desejam uma tarefa mais elevada; porém tu estás no começo. Eles já eram ricos na Terra; tu, porém, eras pobre. Eles vivem do amor que trouxeram da Terra; tu, porém, do imensurável Amor do Senhor e de Sua Graça. Eles ainda estão com muitos resquícios da vida terrena, mas tu já foste purificada pelo sofrimento e com o tratamento do Amor, estás bem mais adiantada.

- Oh minha maravilhosa avozinha, às vezes eu penso que toda esta linda vida vai acabar e que eu terei que retornar para minha antiga miséria. Eu tremo, só de pensar...

- E por quê? Porque o Salvador não se deixou ver nem uma única vez. Dize: alguma vez já falaste com Ele? Joaninha, freqüentemente Ele está conosco, e são horas de puro prazer. Mas saibas, quando estiveres madura e conseguires suportar Sua Presença, Ele virá a ti. Só não penses no passado, mas vive pensando no futuro, pois o presente assim será uma felicidade sem fim. Olha, lá vêm tuas irmãs. Vê como estão felizes por ti.

De fato, eram suas primeiras irmãs, as mesmas que a tinham ajudado a vencer todos os restos da vida terrena. Joaninha entregou à Marta um maravilhoso arranjo de flores, dizendo:

- Irmã Marta, do meu jardim colhi estas flores para ti. Elas testemunham do Amor que me ensinaste conhecer. E tu, Lisa, deixa-me te abraçar. Eu vim te buscar.

Que alegria todos sentiam! Não reconheciam mais a amedrontada Joaninha. Preenchida de um frescor e de uma alegria, ela falou a todos do Amor que tinha conhecido. O emissário, porém, achava graça de seu zelo. Quando as uvas foram distribuídas e todos comeram delas, até o emissário divino, os corações começaram a falar mais alto. Isto sim era a Verdadeira Vida no Amor Divino. Marta então disse à avó:

- Irmã no Senhor, aconteceu um verdadeiro milagre com esta criança. Em todo o meu tempo de servir, nunca vi um ser humano fazer tal progresso. Houve ocasião que tivemos de enfrentá-la com vontade de ferro, mas os portões estavam sempre abertos para o Amor.

- De fato, é um milagre; mas um milagre que vem do Alto Amor. Se não conseguíssemos ver Joaninha em seu aspecto anterior, não acharíamos que foi um milagre, pois o Senhor Deus, Pai Eterno, ajudou este maravilhoso anjo a encontrar o caminho para tornar-se filho de Deus. Ela ainda realizará grandes ações em nome do Amor. Vê como ela se sente livre em falar com suas irmãs sobre assuntos sagrados. Acho que ela gostaria de levar todas para junto de si.

O emissário então se aproximou e disse:

- Querida no Senhor, meu coração fica muito feliz em vivenciar este Amor. E o mais maravilhoso de tudo: ao mais insignificante é tão mais fácil e natural achar o caminho para a bem-aventurança. Quantas vezes testemunhamos adorações e rezas ao Senhor que, apesar de serem muito solenes, lhes faltava o fogo que a tudo aquece, tal como estou aqui vivenciando.

- Tens razão, meu irmão. Por este motivo, as horas de total bem-aventurança estão onde a verdadeira alegria divina se apresenta.

Para as medidas terrenas, passaram várias horas; mas pareceram um momento quando o emissário disse:

- Todas amadas, minha missão está chegando ao fim. Aquietai vossa alegria, mas não no espírito. Deveis vos separar, mas as despedidas serão só externas, pois estareis unidas em vossos corações. Tu, irmã Helena, voltarás para tua missão neste instante, mas eu só poderei retornar após acabar esta minha tarefa. Eu te agradeço pelo amor que me permitiu vos servir.

- Irmão, todos pertencemos ao Senhor. Sua Vida, nossa existência; Seu Amor, nossa felicidade, alegria e satisfação. Em Seu Espírito, nos veremos novamente.¾ respondeu Helena.

A despedida foi muito feliz, especialmente para Lisa, que estava contentíssima em poder ir com Joaninha. Agora, ela já sabia que também era digna para trabalhar para o Senhor. Todas as acompanharam. A mãe ainda ficou algum tempo com Marta e seus pupilos, para discutir assuntos de interesse comum.

Os três logo chegaram à casa, alegremente recebidos por todos. Com júbilo, foram levados para dentro, onde uma carinhosa refeição os esperava. Joaninha e Lisa não mais se separaram e ambas zelosamente realizavam suas tarefas de caridade. A professora, porém, tinha três meninas: Christa, Rosa e Lena, que se uniram à Lisa e Joaninha. Segundo a professora, em breve as cinco juntas deveriam iniciar uma tarefa independente. A alegria foi imensa e as cinco foram muito agraciadas de Amor pela professora, que tinha que acalmá-las, pois estavam ansiosas para saberem sobre sua futura missão.

O desejo para encontrar o Salvador

A professora permitia às cinco ficarem completamente livres, seguindo seus instintos. Nesta atuação, elas fizeram viagens de descobrimentos em seus maravilhosos e enormes mundos interior e exterior, encontrando diversos irmãos e irmãs de sua idade, ou mais velhos. Muito aprenderam com isto, pois eram muito semelhantes, mas o desejo de ver o Senhor lhes faltava. Satisfeitos com sua sorte, felizes em viver na alegria e na glória, faziam com prazer o que seus mentores lhes pediam. Mas Joaninha não estava de acordo com este estado. Ao visitar uma comunidade vizinha, ela perguntou à algumas irmãs que lá viviam se o Senhor Salvador alguma vez ali esteve, ao que responderam:

- Nós nos alegraríamos demais se tivéssemos esta felicidade, mas a nós basta essa nossa vida. A vida na Terra nos ofereceu algumas horas de felicidade. Das ruins não falamos, pois ninguém gosta. Por isto, não sei o que ainda faltaria para nossa felicidade plena. O Senhor é o senhor. A Ele compete decidir se quer nos visitar, ou não. Eu estou feliz neste mundo e por poder viver nesta sua beleza.

- Tu podes ter razão; eu, porém, penso diferente. Eu não posso ter a alegria que tu tens ao contar a respeito das horas felizes na Terra. Eu não passei miséria, meus pais me amaram muito, mas nunca pude ver as belezas do mundo, nunca consegui compartilhar a alegria dos outros. Ao chegar neste mundo espiritual, tomei conhecimento do Amor Divino. Contudo também ouvi falar que há belezas e felicidades muito superiores à estas daqui, mas que a maior felicidade possível seria encontrar o Senhor.

- Se o Senhor já nos dá tantas graças, belezas e felicidades, por que Ele não nos daria a mais maravilhosa graça: estar junto a Ele? Minha bem-aventurada avó me ensinou que eu ainda teria um amor maior e uma ânsia muito mais forte por encontrar o Salvador e Bondoso Pai; porém eu deveria amadurecer para receber esta benção. Mas do jeito que tu pensas, querida irmã, nunca chegarás a esta felicidade.

- Podes ter razão; mas isto não significaria ultrapassar os limites da Ordem? O que nos foi dado de presente são graças que devem nos bastar. Por que ainda procurar mais? Este mundo aqui não é bastante bonito?

- Claro, minha querida irmã. Mas ansiar pelo nosso Santo Pai não é também uma Graça Dele? O que vem Dele é produzido por Ele e deve ser para nossa felicidade. Neste caso, não ultrapassa os limites da Ordem. Ao contrário: onde ainda existem barreiras, aí sim ainda se encontram limitações. Na minha opinião, somos nós que levantamos estas limitações; o Amor Celestial jamais. O Senhor Pai, em Seu Amor, não pode impor limites. Do contrário, este lindo mundo seria inabitado.

- Não consigo entender. Todos somos bem-aventurados!

- Certo, querida irmã, bem-aventurados pelo Amor de Jesus. Mas que fizeste tu, para Lhe dar alegria? Nosso viver e agradecer parece um sino, que só consegue emitir o som que lhe foi imposto por nós, homens e mulheres. Mas em nós ainda existe algo muito diferente... Tudo o que nos foi dado serve para nos fazer felizes. E por que o Senhor, que é o primeiro de todos, deve ser excluído? Se tivesses vivido na Terra uma miséria tão horrível como eu vivi, isto te seria mais compreensível. Aos miseráveis e doentes devemos ofertar nossas vidas, pois o Senhor ainda convive muito com eles.

Esta conversa foi ouvida por vários, entre os quais a mentora, que disse:

- Minha filha, estás no caminho certo para te tornares uma filha de Seu Amor, pois o adereço na tua cabeça ninguém tem aqui. Há quanto tempo estás neste mundo?

Faz pouquinho, minha mãe; porém não é mérito meu, mas sim uma Graça Divina ter me desenvolvido tanto assim. É por isto que eu louvo o Amor e a Graça e anseio poder provar este amor para os outros.

- Eu te entendo perfeitamente, minha filhinha, mas estes aqui ainda precisam de muito tempo, antes que a Vida aflore neles, como em ti. Para mim também, as horas que o Senhor convive comigo são de pura felicidade, mesmo que eu seja só um servo Dele.

- Mas querida mãe, por favor me perdoe se insisto na pergunta: São todos assim sem ansiedade e sentindo-se simplesmente felizes? Nossa professora despertou em nós um desejo adormecido e sempre nos fez entender que nossa felicidade e bem-aventurança eram incompletas. Por isto, ardemos de amor por nosso Pai e nos é difícil esperar a hora em que Ele virá ao nosso encontro.

- Minha filha, eu gostaria que todas as crianças fossem como tu, cheias de um ansioso desejo. Nosso lar seria muitíssimo mais bonito.

Disse Lisa no caminho para casa:

- Joaninha, acho que conseguistes acender um fogo nos corações das irmãzinhas. Eu gostaria que houvessem frutos emergentes deste fogo, pois sei que todas ficariam felizes para sempre. Nós também nos sentimos bem-aventuradas; e então nos perguntas por que a ansiedade de pertencer ao Senhor completamente se tornou tão forte em nós?

- Sabes Lisa, a mãe poderia nos dar a resposta certa. O único que sei é que sem o amor incondicional ao Senhor nunca seremos felizes. Onde estaríamos sem o Amor Libertador do Senhor? Os últimos tempos de minha vida na Terra foram a antecâmara do inferno. A saudade da casa de meus pais tinha sido reprimida pela miséria e a guerra, além de eu ser portadora de doença incurável. Chega agora o Senhor Celestial e faz aquilo pelo qual tinha pedido ao meu pai terreno. Ele me trouxe ao Reino Espiritual do Amor e da Graça., Eu descobri muitas coisas com introspecção, mas o mais belo foi o seguinte: o Senhor é nosso melhor Pai e mais fiel Salvador. Meu maior desejo é conseguir vê-Lo, agradecer-Lhe e poder abraçá-Lo.

- Mas Joaninha, Ele é extremamente santo e nós somos pecadores. No fundo, tenho um pouco de medo.

- Eu não tenho mais. Pecados eu não conheço. Se fiz bobagens, tive que pagar caro. Não tenho mais nada a ver com o pecado. Pecado e amor não combinam. Ou peco, e não tenho amor; ou amo, e então pecado algum poderá me comandar.

- Joaninha, exageraste agora.— disse Christa.

- Somos pescadores e nos faz falta a glória que devermos ter para ficar à frente de Deus.

- Para ti isto pode ser certo, mas não para mim O que eu sabia sobre Deus? Nada. Não existiam mandamentos para mim; conseqüentemente, não podiam existir pecados. Pelas minhas malcriações ou bobagens era castigada. Devo dizer que outros faziam bobagens maiores, mesmo sabendo que existia um Deus.

- Sim Joaninha, mas nosso conhecimento não é suficiente. Tão logo cheguemos em casa, a professora poderá nos esclarecer. Prefiro que não falemos mais sobre isto, para não ofender o Senhor.

Em silêncio, elas voltaram. A alegria de todos foi grande, quando contaram do muito que tinham aprendido. Só Christa continuava em silêncio. Numa ocasião que achou adequada, disse à professora:

- Mãe, nós cinco não concordamos numa coisa. Ajuda-nos, para que a dúvida não se torne um problema para nós.

- Muito bem Christa, eu já sabia que chegaríamos a isto. Afinal chegou o momento pelo qual esperava. Quando as outras se recolherem, venham vós cinco ao meu quartinho.

Christa convidou as outras quatro para irem ao quartinho da professora, que já as esperava. Todas adoraram ir até lá. Ao chegarem, disse a mãe-professora:

- Bem crianças, acomodai-vos. No meu quartinho, sois realmente meus filhos. Bem, o que tens a me perguntar, querida Christa?

- Mãezinha, eu e a Joaninha não concordamos totalmente num assunto: Joaninha diz que não tem nenhum pecado, já que não conhecia nem Deus, nem os Mandamentos; eu digo que somos todos pecadores e que nos falta a glória que deveríamos possuir ante Deus.

Joaninha argumentou:

- O que tenho que ver com o pecado? Pecado e amor não combinam. Ou eu sou pecadora e não tenho amor; ou eu amo, então o pecado não pode me tocar.

- Bem Christa, acredito piamente que nisto não podes entender tua amiga. ¾ disse a professora. Eu, porém, entendo tua amiga muito bem e fico feliz com o ponto de vista dela. Considera quem foi Joaninha e quem foste tu. Nosso desenvolvimento aqui no mundo espiritual só pode acontecer baseado na bagagem que trouxemos do mundo material. Tua bagagem foi boa. No teu interior, te confiavas a Deus. Por isto, tiveste uma escola fácil aqui no eterno reino espiritual. Porém Joaninha não tinha nenhuma bagagem para sua vida eterna. Tudo teve que lhe ser ensinado aqui no reino espiritual. Para tal, ela tinha uma boníssima instrutora, a qual seguia severas diretrizes do mensageiro do Amor. Uma coisa, porém, está certa: Joaninha vos ultrapassou a todas. O seu ponto de vista no assunto "pecado-amor" somente possuem espíritos muito puros. Vós também vivenciareis no futuro que em Joaninha não haverá lugar para o menor espírito de julgamento, enquanto vós precisareis ser educadas, a fim de que não julgueis seus irmãos. Vossas tarefas futuras não suportarão a presença do espírito do julgamento, já que vos tornareis enfermeiras e socorristas e devereis fazer os outros felizes no espírito do Amor Eterno de Jesus. Ou achais que só tereis bem-aventurados como pupilos? Nada disto; tereis miseráveis, pobres almas perdidas recém-chegadas da Terra, que deverão dar os primeiros passos de desenvolvimento. Estes serão vossos pupilos. Esta vossa tarefa é uma bênção muito grande que vos deu o nosso Senhor, Santificado Pai Jesus. Só são chamados espíritos fortes para este serviço, que estão completamente imersos no Amor Divino. Achas tu, querida Chista, que consegues assumir este serviço? Podes desistir sempre que não te sentires forte o suficiente. De Joaninha, eu sei que ela não pode esperar o momento de receber seus irmãos doentes vindos da Terra, os quais ela poderá fazer alegres e livres. Não é assim, Joaninha?

- Sim mãe, é assim. Com todo o meu amor possível e com todo o zelo que possuo, tentarei fazê-los felizes. Para que percam o medo e esqueçam sua miséria, tudo farei; tal como consegui pelo Amor do Senhor. Mas Chista, Lena e Rosa, confiem na ajuda do Pai. Tenho certeza que a tarefa vai sr maravilhosa: ajudar os pobres e miseráveis. Não tenham medo.

- Bem, minha querida Chista, entendes Joaninha agora? O que é pecado? Podes me dar a resposta correta?

E ela respondeu:

- Como tu esperas, provavelmente não. Por isto, dá-nos tu a resposta, pois sempre tens as palavras certas.

- Bem, então escutai, minhas filhinhas. A palavra "pecado" não ouvireis em lugar algum no Céu. Pecado é uma noção que vem do Inimigo. Somente Deus tem o direito de julgar sobre o pecado, já que ele é o fruto do amor infernal. Enquanto Deus nos dava leis, o pecado devia ser visto como tal; mas Jesus nos disse: " Eu vos dou um novo mandamento, que é: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei e amo. " Todo o pecado desaparece para Deus no exato momento em que este mandamento é posto em prática. E pecado só o será lá, onde o homem o transformar em pecado. Nos Olhos do Eterno Amor Caridoso só existem doentes, perdidos e desgarrados por espíritos maus. Se tu olhares para um destes pecadores com olhos de Amor Caridade, então poderás te tornar seu salvador e seu socorro. Porém se olhares a um destes pecadores com olhos de julgamento, tu terás que condená-lo. Por isto , livrai-vos do juiz que existe em vós. Lembrai-vos que se o Eterno Amor não vos tivesse procurado e achado, o que teria sido de vós? Não seríeis felizes, mas sim seres dignos de pena. Não foi fácil educar-vos até este ponto. Foi necessária muita paciência e amor especialmente; sim, sempre mais amor, até que o velho homem-eu (eu) se transformasse num novo homem-amor (numa nova pessoa-amor) e vos acordasse para a Vida. Eu vos levarei a uma destas escolas onde as pessoas sem bagagem espiritual moram, isto é, se quiserem e não sentirem medo.

- Mãe, nos guia, para que o juiz que existe em nós desapareça completamente. Foi muito bom que nos tivesses dito isto.

- Tudo bem, então vamos. Nosso desejo é este, e vede: já estamos aqui. Ficai em silêncio, nada mais. O Amor do Senhor também se encontra no amor do inferno!

A professora bateu num portão em frente a uma casa sombria. Os porteiros abriram e perguntaram o que desejavam.

- Deixem-nos entrar, pois esta é a Vontade do Senhor. Nada temais e não vos preocupeis.¾ respondeu a professora.

Estava totalmente escuro e não se conseguia ver quase nada. Enormes edifícios estavam ali, mas não se via quase nada. Elas continuaram a caminhar, até chegarem a uma igreja.

- Vamos entrar, que está sendo celebrado um culto divino. Ninguém nos ouve, ou vê. ¾ falou a professora.

Um sacerdote estava parado no altar; à sua frente, havia um pequeno círculo de ouvintes. Sobre o altar, estavam duas luminárias que emitiam uma luz bem fraca e uma estatua representativa do ser humano, a qual não era reconhecível como tal. O sacerdote disse:

- Fala-se muito de Deus, mas até agora, ninguém jamais o viu. Deus é uma ilusão, uma quimera, um mistério; para pessoas esclarecidas como nós, um ponto de interrogação. Organizai vossas vidas de acordo com a lógica e tratai de tomar cada um o vosso vassalo, então tereis uma vida boa. Infeliz daquele que tiver uma pessoa acima de si. Este se tornará um eterno escravo. Comprai as pessoas, para que elas vos sirvam; então sereis os senhores e mandatários. Meus mensageiros anunciaram a chegada de um grupo grande de pessoas à procura de comida e trabalho. Usai toda a vossa astúcia , para que eles vos vejam como amigos. O tempo urge. Vamos encerrar nossa conferência.

Correndo, abandonaram a igreja e se dirigiram à uma rua que vinha do poente. Um deles disse:

- Correto, aí vêm alguns do grupo necessitado. Meu Deus... que aspecto tão miserável! Estão quase nus, pois somente farrapos de roupa cobrem seus corpos. Em seus olhos, vê-se a fome.

Em roupas sacerdotais, o sacerdote os cumprimentou, dizendo:

- Coitados, infelizes, de onde é que vens? Que deus ou ser humano vos colocou nesta situação? Que ele seja excomungado mil vezes!

Um dos miseráveis deu um passo à frente e disse:

- Senhores, um deus deve ter vos colocado no nosso caminho. Nós nos encontramos num estado de miséria. Se tiverdes trabalho e comida, então nos dai. Porém tem que ser depressa, pois estamos com fome, muita fome.

- Mas claro, vinde conosco, para que possais vos recuperar. Entrai nesta casa, que já está arrumada para vós.

Havia pão duro em cima de mesas compridas, alguns com partes emboloradas, além de uma bebida sem sabor, nem cheiro.

O sacerdote disse:

- Vinde vós, pobrezinhos, e servi-vos desse pão e vinho. Fortificai-vos, pois assim podereis iniciar vosso trabalho e esquecer vossa miséria.

Quando os famintos tentaram partir o pão, este era duro como pedra e não existia faca, ou algo que pudesse cortá-lo. O homem que antes tinha se pronunciado disse ao sacerdote:

- Honorável pai, não existe aqui nenhuma faca? Esse pão é duro como pedra e não dá para parti-lo. Com nossos dentes, não podemos mordê-lo.

- Eu não tenho nenhuma faca aqui. Tentem novamente. Ele poderá ser quebrado.

Por mais que tentassem, nada conseguiam. O interlocutor disse então:

- Vamos nós mesmos procurar algo cortante. É impossível que não exista nada que corte.

Porém o sacerdote exclamou:

- Aqui é vosso lugar! Não podeis vos afastar! Tens que ficar aqui mesmo!

Retrucou o interlocutor:

- Parece que tuas vestes sacerdotais não passam de fantasia, de hipocrisia. Consegue uma faca, ou eu o farei por mim mesmo.

- Fica! Vou trazer uma faca.

O sacerdote saiu então para um recinto e não voltou mais. Esperaram por muito tempo, mas ninguém veio. O interlocutor decidiu então procurar o sacerdote. Ao percorrer os recintos ao redor, começou a ouvir comentários que o enojaram, tais como: " O sacerdote foi tão sagaz ao dar-lhes tanto pão, sem que tivessem trabalhado ao menos uma hora... Se todos não começarem a trabalhar dentro de um hora, lhes será aplicada uma surra e não mais ganharão comida ". Ele voltou ao grupo e gritou:

- Pessoal, apanhai o pão e vamos embora! Estes aqui são exploradores de pessoas, piores do que aqueles dos quais fugimos!

Rapidamente, pegam os pães, guardam tudo nos jarros e correm para a porta. Neste momento, um homem muito grande chega gritando:

- Parados, seus ladrões de pão! Bem que gostariam de fugir com a comida...

Já que ninguém parou, o homem bateu com seu punho na cabeça de um dos fugitivos, que desmaiou. Quando ia bater em outro, alguém lhe atirou um jarro no rosto. Formou-se um berreiro e vieram outros, a bater com instrumentos duros e cortantes.

Neste instante, disse a professora:

- Vamos criancinhas, aqui não há nada para fazer nem ajudar. Estes espíritos infernais só poderão ser ajudados com um severo julgamento, pois são quase irrecuperáveis.

Um segundo mais tarde, se encontravam todas novamente no quarto da professora, que disse:

- Bem crianças, qual vossa opinião sobre o que vivenciastes?

Respondeu Christa:

- Eu nunca acreditei que existissem bestas humanas. Se ainda podem ser ajudadas, só Deus sabe.

- E mesmo assim, ainda serão salvos. Quando, não se sabe... Eles se colocam nestas situações por força de seu próprio espírito depravado. O inferno ainda destruirá o pouquinho de bem que ainda têm. Após um longo período de grandes sofrimentos, vem o arrependimento. Aí sim, poderá atuar o socorrista. Já tendes o bastante, ou ainda desejais mais?

Respondeu Christa:

Mãezinha, já basta. Eu te agradeço de todo o coração, mas não desejo mais nada. Oh que benção: paz em nós, paz à nossa volta; tudo iluminado pela felicidade!

- Então Christa, tenta entender a Joaninha. Nela ainda há uma brazinha por aqueles perdidos. Ficai todas bem perto dela, para que esta brazinha se transforme em uma enorme fogueira. Aí sim, estareis prontas para a Sagrada Obra do Senhor.

Ao encontro da Vida

Não demorou muito, e a hora da partida chegou. Um mensageiro divino levou as cinco para um novo local de destino. Eram esperadas pela sua orientadora e foram levadas ao seu novo lar: uma casinha com um maravilhoso interior, na qual só havia três paredes, pois o lado do nascente estava aberto. A vista era maravilhosa: uma paisagem de campos floridos e montanhas verdejantes. No quarto, havia uma mesa grande em forma de cruz e com muitas cadeiras. Sobre a mesma, lindíssimas flores em um vaso de cristal dourado.

Falou a nova orientadora:

- Bem, meus filhinhos novos, aqui, em vosso futuro lar, eu vos dou as boas vindas mais sinceras. Eu sou a mãe Anna para todas vós. E sou mãe não só pelo sentido da palavra, mas sim no amor e cuidado. Espero que logo possamos ser irmãs. O Amor Paternal me colocou um pouco acima de vós, e isto é uma Graça Incalculável de Deus. O mensageiro divino me informou sobre vossas vidas pregressas. Gostaria de fazer do vosso passado um passado definitivo e acender o espírito vivificador em vós, para que vos torneis reais filhos de Deus em pouco tempo, completamente independentes de todo o lastro e só tendo no coração o Amor Vivificador de Jesus, nosso Salvador. Agora, quero abraçar cada uma de vós, para estabelecer uma comunidade indelével em Jesus Cristo. Tu és Chista. Filha, vem nos meus braços e descansa por alguns momentos no coração desta mãe. Jamais esqueça a graça que obténs, pois estou aqui como representante do Salvador. Tu, Lisa, também sente a bem-aventurança da mãe que te cuidará e ensinará até teu total amadurecimento. Tu, Joaninha, vem tu também descansar um pouco nos meus braços, pois agora tens novamente mãe, que velará por ti no Espírito de Jesus. Se estás com problemas, aqui, junto ao meu coração, eles desaparecerão. Tu Rosa, não hesites. Vem logo para mim, pois aqui muitos já acharam alívio, bonança e a calma necessária para esquecer o passado. Este momento deves usufruir bem, e sei que muitos te invejarão por ele. Tu, Lena, não fiques para trás, pois o Amor adora abraçar e segurar a quem ama. Usufrue em paz o que mais desejas. Com prazer, eu substituirei tua mãe.

E prosseguiu dizendo:

- Tornastes-vos agora meus filhos, dos quais já tenho muitos. Sois hoje meus filhos; por isto, vinde a minha casa, a qual espero que muito visitareis. E´ aquela casa lá, com um aspecto exterior bem sombrio; mas vós sabeis bem que o que interessa é o aspecto interior. Lá, em direção ao nascente, há várias casinhas pequenas, onde muitas iguais a vós moram. Já em direção ao meio dia e ao poente, tudo ainda está desabitado... Espero que por pouco tempo. Eu divido a casa com um irmão: pai Henrique. Ele é o dono da casa de fato, por vontade do Senhor; mas ele ainda é um pouco tímido. Adora ficar na retaguarda e só deseja servir, sem jamais aparecer. Amai-o com todo o coração, quando ele vos acolher e auxiliar na realização da divina obra do Senhor.

As cinco adoraram ficar na casa de mãe Anna. Seu jeito tão singelo, tão natural, a tornava alguém que se deveria amar.

- Mãe, conseguiste amalgamar teu coração com os nossos. ¾ disse Joaninha. Eu gostaria de te seguir sempre e em tudo, para que possamos em breve nos encontrar nos braços do Salvador, assim como nos abrigamos nos teus e sentimos toda a divina bonança. Não sabes como desejo este instante. Mãe, me ajude a consegui-lo, pois enquanto ainda sentir esta falta, não serei capaz de amar o quanto desejaria. Sabes, eu gostaria de encher o mundo inteiro com este desejo que me preenche, pois assim o mundo todo procuraria e encontraria a felicidade que sinto neste momento.

Falou mãe Anna:

- Eu entendo teu desejo, mas infelizmente não posso realizá-lo. Só posso vos indicar o caminho a seguir, pois a meta alcançareis dependendo de vosso amor.

Bem, vamos tratar agora a respeito de vossas tarefas. Este local é similar ao que viestes, só que imensamente maior. Lá, éreis pupilas; aqui, sereis tutores. Não vos darei instruções sobre o que deveis fazer, mas sim vou mostrar e elucidar o vosso posto, o qual vos foi confiado pelo Divino Amor. Como realizareis vossa tarefa, é de vossa inteira responsabilidade, pois tenho certeza que atuareis com amor e pelo Amor. Eu vos abençôo agora na qualidade de representante do Eterno Amor, para que cada uma de vossas ações desperte cada vez mais amor. Amém.

Bem crianças, vamos lanchar agora o pão que vem diretamente do Senhor e algumas frutas do nosso pomar. Que a Graça Divina abençoe este repasto em nome de Jesus e que tudo que comeis se torne amor em vós. Amém. Então crianças, que tal o sabor?

- Muito bom, querida mãe. O pão que comemos anteriormente era muito bom, mas este aqui é infinitamente melhor.

- Sim querida, tudo depende do tipo de amor que está em nosso coração. Quanto mais puro o amor, tanto melhor o pão. No Céu, o gosto deste alimento é tão delicioso, que não há palavras para descrevê-lo. Com o passar do tempo, aprendereis cada vez mais sobre este assunto e outros. Aqui comigo, sereis levadas ao conhecimento cada vez mais profundo da Divindade. Porém quanto a vossa própria luminosidade, eu nada posso fazer. Tudo depende de vossa vontade e de vosso coração.

Bem, agora vamos silenciar e meditar, para que nosso "eu" interno se torne nosso "eu" externo.

Em silêncio, todos se entregaram às delícias da meditação. Após, disse Anna:

- Crianças, vamos agora, para conhecerdes vossos pupilos, que já vos esperam ansiosamente. Tu, Joaninha, joga teu cabelo sobre a tiara, para que vossos alunos ainda não vejam este presente que recebeste do Eterno Amor. Todas devem ser tuas irmãs. O teu amado Salvador e Pai Divino vem logo, para acalmar a ansiedade destes nossos corações.

Anna saiu, abençoando seus filhos. Em seu coração havia bem-aventurança e felicidade.

Havia aproximadamente duzentos habitantes neste lar. Já havia algumas instrutoras, que davam explicações e orientações às recém-chegadas. Elas sabiam que logo iriam a um outro lugar, exercer novas tarefas. Foi uma atividade muito alegre. Era de se admirar a transformação de pessoas tão medrosas e assustadas, em seres felizes e cheios de boa vontade. O trabalho era muito. O jardim era enorme, e a principal atividade era cuidar das flores, melões e demais frutas amadurecidas. Tudo amadurecia na mesma época. Sempre havia mais frutos a crescer e a amadurecer; tudo de sabor indescritível. As pessoas que não estavam muito bem desenvolvidas tinham que limpar e erradicar as ervas daninhas. As tarefas no pomar eram diversas. A cada vitória havia um grande júbilo, pois todos se sentiam imensamente felizes. Na casa, onde todos cabiam folgadamente, o trabalho era com o "eu" interno, e era mãe Anna quem lá dava as instruções. Quando as pupilas estavam sentadas nas suas espreguiçadeiras, na frente da casa, meditando, as cinco iam ter com mãe Anna, pois sempre havia algo novo e digno de ser vivenciado. Estas eram horas da mais pura felicidade. Certa feita, pai Henrique se juntou ao grupo e as meninas correram para cumprimentá-lo. Isto o assustou tanto, que quase fugiu novamente para seu quarto.

Um mensageiro trouxe umas meninas novas, algumas mais velhas, mas todas em estado deplorável. Joaninha pediu à mãe Anna para tomar conta do grupo tão miserável e reconheceu nele algumas antigas companheiras da Terra. Mãe Anna concordou. Joaninha recebeu uma casinha nova, menor do que as outras, em cujos quartos havia ainda camas para as doentes. Era de enternecer os corações o carinho com que Joaninha tratava seus protegidos. Este amor foi coroado de muitos progressos, pois elas acordaram lentamente, ficaram vivas e aceitaram o Espírito do Amor e da Bem-aventurança.

As cinco começaram a se entender com pai Henrique. A cada visita abençoada à casa de mãe Anna, ele mais se soltava. Chegava a pedir flores, a fim de confeccionar grinaldas para casas novas, destinadas a abrigar novas irmãs que chegavam constantemente. Havia muito trabalho e muita alegria; só faltava a presença do Salvador.

Tinha chegado a ocasião em que Joaninha e suas protegidas foram visitar mãe Anna e pai Henrique. Todas prometeram se comportar bem, pois, apesar da boa vontade, eventualmente estouravam rompantes de raiva e rancor em uma ou outra, mesmo com a severa vigilância da instrutora. Lá foram elas, cada uma levando um lindo ramo de flores nas mãos, enfeitadas com mais flores nos cabelos e nos cintos. Lentamente, foram à casa do Amor e constataram ao chegar que não havia ninguém ali. Joaninha então disse:

- Que bom, poderemos enfeitar a casa de mãe Anna com nossas flores. Nem imagino como se alegrará ao ver este presente carinhoso. Temos vasos e jarros aqui. Vamos transformar o quarto num mar de flores!

Todas trabalharam com afinco. Estavam felizes e nada mais se via da antiga miséria que possuíam ao chegar. Cada vez mais bonito ficava o quarto. Como a dona ainda não tinha chegado, Joaninha convidou as meninas para um descanso:

-Vem, vamos nos sentar nestas cadeiras para descansar. Era aqui que nos sentávamos muitas vezes, para escutar mãe Anna nos contar estórias sobre o Salvador e Seu Amor. Eu vou contar uma estória também, mas deveis ficar bem quietinhos, para que possais absorver tudo.

Tudo ficou calmo e Joaninha começou a contar como Jesus amava tanto as pessoas, que mesmo como homem as ajudava e curava. O mais bonito de tudo era que Ele prometia o Amor Eterno e que este Amor acabaria com toda a miséria, dor e doenças.

- Olhai em vossa volta - disse ela. O que vedes? Tanta beleza que se nos apresenta... E por quê? Para que nossos corações se abram cada vez mais ao Amor e se fortifiquem; a fim de que, quando Ele estiver na nossa presença, não desfaleçamos. Devemos nos fortalecer, pois ainda somos fracos demais para suportar incólumes Sua presença. Nós só podemos amá-Lo, pois Ele nos salvou de toda miséria e desgraça. Amá-Lo cada vez mais deve ser nossa única preocupação; assim, algum dia teremos a grande sorte... Se nos lembrarmos de nossos pais e irmãos, que estão vivendo num mundo cheio de ódio, guerra, miséria, dor e muita preocupação; aí sim, nos damos conta de nossa bem-aventurança. E que fizemos para merecer esta bem-aventurança? Nada mais do que aceitá-la. Mãe Anna tem razão, quando diz: " Vosso queridinho deve ser Jesus. Ele substitui tudo: pai e mãe, Terra e Céu. Mas primeiro tudo Lhe deve pertencer, pois só assim Ele nos pertencerá ". Oh, vede, lá vêm o pai e a mãe.

Todas correram, para abraçar a mãe Anna com muito amor. Esta exclamou:

- Crianças, crianças, assim vós me afogais! Como é, ides vos esquecer do pai Henrique? Envergonhadas, lhe estenderam a mão, e Joaninha disse:

- Desculpe pai Henrique, mas amamos mãe Anna tanto... Além disto, ela nos visita muito mais vezes que tu.

- Tudo bem, Joana. Fico feliz em te ver. Tu és uma real colaboradora. O Senhor terá muitas alegrias contigo.

Anna então se dá conta da casa toda enfeitada:

- Crianças, fizestes um belo trabalho! Que alegria e felicidade! Vou dar um beijo em cada uma de vós. Mas tu, Joana, foste a incentivadora. Vem cá, deixa-me afastar teu cabelo da testa, para que todos vejam o Amor do Pai por ti. Pronto Joana, brilha agora o teu amor, pelo Amor. Brilha feito uma filha do Amor, e que Seu Espírito esteja contigo.

Todos arregalaram os olhos, ao verem aquela gema linda brilhando na tiara.

Disse mãe Anna:

- Crianças, grande é a Benção e o Amor do Senhor. Já muitos habitantes deste nosso mundo se tornaram unos em espírito conosco, mas ainda há alguns em cujos jardins não crescem flores. Eles devem travar uma luta inglória contra as ervas daninhas. Não quereis plantar algumas de vossas flores nestes jardins?

Respondeu Joaninha:

- Mãezinha, todas iremos com prazer, se assim desejares. É para começar agora?

- Vamos esperar mais um pouquinho. O pai Henrique vai vos levar e trazer de volta. Mas vejamos o que eu tenho para vos oferecer. Creio que, após tanta conversa, frutos virão bem.

Tais frutos eram de um sabor indescritível, pois vinham dos céus mais elevados.

Em tempo contado no mundo da Terra, as crianças permaneceram em companhia de mãe Anna por vários dias, mas a elas pareceu apenas algumas horas. Anna lhes contou suas experiências em companhia do Pai, o que as meninas não se cansavam de ouvir. Por fim, disse:

- Hoje deve ser um Sábado, um dia de paz e calma, pois tudo o que entra neste lar deve permanecer por longo tempo no espírito do Amor. Porém ide para casa agora, para cumprir vossas tarefas. Elas vos ajudarão a evoluir no Espírito e no Amor.

Alegria em servir

Henrique não ficou por muito tempo. Sempre estava procurando algo por fazer, pois dizia: "Não se sabe quando o Senhor virá". No caminho para casa, as meninas o encontraram, e Joana lhe pediu:

- Paizinho querido, onde estão os jardins onde ainda não há flores? Por favor, mostra-nos este lugar, onde as pessoas devem viver sem alegria.

Pai Henrique foi com as meninas. Chegaram a uma localidade onde a amorosa Ordem do Pai não existia.

- Vê Joana, dentro em pouco aqui também existirá a ordem divina. Vê os jardins, ainda não estão bem cuidados, mas temos que ter paciência. Estas pessoas estão aqui para aprender a ordem. Já por duas vezes consegui conquistar alguém para a Verdadeira Vida e estou cheio de vontade de conquistar mais alguém.

- Pai Henrique, sinto o mesmo, mas acho que estes aqui ainda não compreendem a mensagem. Poderíamos, contudo, fazer tanto, pois somos tão ricos no amor... Olha que jardins mais estorricados e como as pessoas têm que labutar, para conseguir algo. Não agüento mais. Vou entrar e ajudá-los.

Um homem que lá estava encontrava-se tão absorto em sua tarefa, que levou um grande susto quando Joana o cumprimentou em nome do Senhor e lhe desejou paz. Disse ele:

- Ainda não nos foi possível avançar no jardim. A terra é muito boa, mas há ervas daninhas por todo lado. Tão logo achamos que limpamos tudo, novas ervas aparecem.

- Isto não é de se espantar, pois quando arrancais as ervas, deixais cair as sementes. Primeiro colhe todas as sementes e depois arranca as ervas. Tenho certeza que não crescerá nada após esta operação. Vinde minhas crianças; vamos ajudar nossos amigos. Eles estão tristes, pois seu trabalho não lhes dá a alegria que esperavam.

- Isto não é tudo. A incerteza nos destrói... Onde estão nossos filhos? Nós morremos e estamos completamente isolados. Nosso destino é ficarmos sozinhos nesta casa?

Respondeu Henrique:

- Posso vos assegurar que tudo se modificará, quando reconhecerdes vossos erros. Vossa vida futura só depende de vossa evolução, e nisto nós e o Eterno Deus vos ajudaremos. Porém a Terra deveis esquecer. O paradeiro de vossos filhos Deus vos dirá quando achar que estais prontos. Para que isto aconteça, deveis vos dirigir ao Deus e principalmente procurá-lo em vossos corações. Vede, Ele diz que renova tudo, mas também tem que deixar que tudo aconteça naturalmente.

E prosseguiu, dirigindo-se especialmente ao homem que levantou a questão:

- Conversa com Joana, que é a monitora do grupo, e verás as maravilhas que o Pai realizou com ela. Verás que nenhuma incerteza pode te afetar, quando estás sob os cuidados de Deus.

- Puxa, tu estás me enchendo de coragem. Eu estava por desistir de tudo, pois só tive misérias e lamentações. Estou consciente que nossa vida terrena foi muito mal aplicada, mesmo porque nunca passamos necessidades. Vou fazer o possível para viver na ordem do Senhor.

Disse então Joana:

- Sim, faze isto com todo o teu ser. De outra maneira, não avançarás um só passo. Só tens motivo para agradecer, pois tiveste uma vida na Terra que, comparada à minha, foi um verdadeiro maná dos deuses. Não penses que não precisei de uma vontade de ferro para evoluir, pois nada sabia. Ao contrário, tu tinhas conhecimento. Se não fosse assim, aqui não estarias e, graças ao grande Amor, aqui já tens um lar. Quando chegares aos nossos jardins, verás do que o Eterno Amor é capaz. Trabalha com afinco em ti e com grande amor e carinho para com os outros; então vivenciarás uma grande alegria.

Bem, temos que partir. Vinde crianças, vinde. Vamos para casa..

Uma grande parte do jardim estava completamente limpa, e Joana disse:

- Trabalhastes bem. Em pouco tempo, traremos flores e plantas, para que fique bem bonito.

Todos logo começaram a procurar flores e plantas, mas Joana disse:

- Tomai muito cuidado. Muitos jardins precisam de flores e plantas. Já que temos esta tarefa, vamos realizá-la com justiça, se quisermos plantar tudo direitinho. Podemos buscar algumas na casa de Lisa e Christa. Vou já e volto logo.

As meninas ficaram extremamente felizes ao verem Joana:

- O que? Queres flores e plantas? Vieste buscá-las? Nada disto. Vamos todas juntas contigo e ajudaremos a carregar as flores e plantá-las. Vamos transformar estes jardins desertos em verdadeiros paraísos.

Disse Joana:

- Calma, nada de pressa. Aquela gente primeiro precisa de ajuda. Creio que nunca vistes um local tão cheio de ervas daninhas, e quase não há nada que se possa aproveitar. O melhor que fazemos é por mãos à obra, limpando tudo. Logo após, plantaremos de acordo com a vontade do Pai. Lembrem-se de levar frutas e pão, pois os alimentos lá ainda não amadureceram no Amor.

Lena e Rosa também se uniram ao grupo. Com muitos cestos cheios de frutas e das ferramentas necessárias, foram as meninas cantando alegremente para o lugarejo ermo. Ao chegarem, três homens foram ao seu encontro e perguntaram o que desejavam.

- Chegamos - disse Joana. Vamos arrancar as ervas e plantar um belo jardim, para ajudar estas pessoas a encontrar um pouco de alegria. É este nosso desejo.

- Quem vos mandou? - perguntou o mais velho do grupo.

- Ninguém, só o Amor nos faz desejar esta tarefa. Não podemos permitir que isto chegue aos ouvidos de pai Henrique, mas estas pobres pessoas estão sem alegria...

- Sois muito engraçadas! Nunca vi tanta gente querendo ajudar. Por mim, ajudai quanto quiserem. Será ótimo ter um pouco de ordem.

- Poderias distribuir as meninas, pois tendes conhecimento dos jardins que aqui existem. Temos que Ter uma visão geral, para saber quantas flores e plantas são necessárias. Somos duzentos e cinqüenta ao todo e queremos ajudar.

- Como devo te chamar, minha filha?

- Meu nome é Joana e esta aqui é Lisa.

- Muito bem, eu me chamo Gotlob; este ali é Henrique, aquele é João. Aqui existem vinte e quatro jardins. Se em cada um dez trabalharem, teremos logo progresso, e estes corações tristes melhorarão.

Tudo agora acontecia rapidamente. Muito se cantava com tal alegria, tanto que os habitantes aos poucos começavam a esquecer suas preocupações e aceitavam contentemente os frutos que as meninas lhes ofereciam. Arduamente se trabalhava e montes de ervas se formavam. Gotlob disse então a Joana:

- Basta. Agora seria bom se já houvesse plantas nos jardins.

- Não tem problema. Cada grupo buscará suas plantas e flores, e tudo logo estará lindo.

Rapidamente, as meninas trouxeram cestos cheios de plantas e flores, que foram logo plantadas, deixando os jardins muito lindos. A terminarem, Joana se alojou na casa do primeiro casal, e muito se conversou. O casal falava especialmente de sua vida terrena, que não conseguiam esquecer. Joana, porém, disse: Estou feliz por não me lembrar da minha vida lá. Meu trabalho e minhas pupilas preenchem todo o meu tempo e minha vida terrena desaparece cada vez mais de minha lembrança. Também nada perco com isto, muito pelo contrário: a eternidade me enche de esperanças. Trabalhar muito, amadurecer e me tornar digna, é a minha meta. Assim, podes encontrar o Salvador e Amado Pai. Aí sim, a evolução não parará mais.

Disse a mulher:

- Joana, minha querida irmã, não tens saudade de teus pais e irmãos? Eu quase me acabo de tanta saudade de meus filhos.

- Não mais, querida irmã, pois é possível visitá-los. Meus pais estão felizes por eu ter me libertado de todo sofrimento e dor, pelo Amor e Graça de Jesus Cristo. Chega-te à Ordem Divina, deixa o Amor entrar em teu coração. Com isto, terás muito Amor para dar, o que te trará felicidade.

- Sim, mas como é isto possível? Eu quase não conheço o Senhor. Como será possível que o meu coração produza Seu Amor?

- Esquecendo tua dor e tentando aliviar a dor alheia. Vê, tua vizinha está cheia de preocupação pelo seu filho; pois ele nunca se preocupou com ela. Vai lá cheia de amor e verás quanta alegria causarás.

- Joana, ainda és tão jovem... Acho mesmo que jovem demais e inexperiente. Por isto, estás tão disposta a ajudar.

- Mas irmãzinha, como podes dizer isto? Só Jesus nos torna alegres, felizes e livres. Minha vida terrena foi um desastre; desde o berço, até o último minuto. Mas justamente isto fez me atrever a procurar O Mais Elevado. Minha vida terrena não tem valor algum, mas sim minha vida atual e a maneira como me posiciono em relação à ela. Isto sim, Jesus Cristo observa cuidadosamente, pois o que Ele deseja é que todos estejam a seu lado. Porém em nós ainda existe tanto que nos afasta Dele, e somente Ele sabe a hora de derrubar este muro. Vede vosso jardim. Ele é o espelho de vossa vida interna. Nós precisamos estar ao vosso lado para ajudar, pois muito mal ainda lá existia. Agora sim, avançastes bastante. O Amor ajudou e Sua Maravilhosa Benção vos trará muita felicidade.

Vieram então Rosa, Lisa, Lena e Christa, com suas pupilas, para se despedirem e todas foram juntas para casa. Joana abençoou a todas.

Liberdade no serviço do Amor

Ao chegarem em casa, as garotas estavam muito alegres, pois a beleza de seu lar era ímpar. A cada instante, algo que enxergavam lhes causava grande prazer. Ao que Joana disse:

- Olhem minhas irmãzinhas como somos ricas. Fizemos tão pouco e quanto recebemos de volta! Já olhei nos jardins, e tudo está na melhor ordem e beleza. Sugiro nos recolhermos em meditação, para que o espírito se vivifique em nós. Ainda que não possamos encontrar o Pai, nosso espírito nos leva até o patamar de Sua casa, que se tornará lar de cada um, quando tudo estiver resgatado. Que assim seja Sua Vontade, pela paz e alegria celestial.

Como de costume, as meninas se aprofundaram na introspecção e houve um silêncio e uma paz divina. Solenemente, como em um templo, um doce aroma se espargiu entre os presentes. As meninas, como já haviam muito treinado, estavam completamente isoladas umas das outras, de modo que nenhuma observava a outra. Joana foi a primeira a se levantar e seu rosto mostrava serenidade, mas também uma expressão intrigada. Ela disse:

- Vinde, levantai-vos. Algo muito importante me aconteceu. Temos que ir junto à mãe, pois nada farei sem seu conselho.

- Irmã Joana, queremos ficar aqui, - disse uma - pois não acharemos nem mãe Anna, nem Pai Henrique. Eles foram visitar amigos. Em espírito, fui lá para ver meu trabalho no jardim, e lá estavam os dois.

- Tens razão, querida irmã. Mas fui `a casa do Pai e não os encontrei lá.

- Conta, conta, querida Joana. O Pai não estaria em casa?

- Escutai. Eu me transportei para a casa do Pai Eterno. Meu desejo era ver Jesus, o Salvador, mesmo de longe. Assim, atravessei nossos jardins e me afastei bastante, até que vi a cidade dourada com suas torrezinhas brilhantes à distância. Finalmente, cheguei lá. Os portais estavam abertos e pessoas de ambos os sexos levitavam pelas ruas e jardins, que são milhões de vezes mais bonitos que os nossos. As pessoas conversavam umas com as outras, e eu entendia o que diziam, mas ninguém me notava. Eu me senti muito solitária naquele maravilhoso local. Olhei as casas, os edifícios, os jardins e até entrei num templo. Suas janelas brilhavam em várias cores e havia uma luz luminosa no altar. Como eu tinha um ramo de flores e tencionava dá-lo ao Salvador, eu o coloquei aos pés da cruz, pois queria ter as mãos livres, para juntá-las em oração. Neste instante, um sacerdote idoso se aproximou de mim e perguntou: "Que procuras aqui, criança ?" E eu disse: " O Salvador Jesus é o que eu procuro, mas não O encontro em lugar algum. Podes me dizer onde O encontro? " Respondeu o sacerdote: " Criança, o Santo Deus e Pai não se encontra aqui entre os bem-aventurados, mas sim lá, onde os pecadores se encontram, deves procurá-Lo. Ele permanece aqui muito pouco tempo. Parece que Ele retorna a este lugar somente para se livrar da dor e volta logo à luta. " Eu perguntei então: " Ninguém dos bem-aventurados deseja acompanhá-Lo junto aos pecadores? " No que ele me respondeu: " Este lugar sagrado aqui é nosso mundo, nós usufruímos agradecidos o que o Senhor nos preparou e ficamos muito felizes quando conseguimos vê-Lo, ou ver Seus emissários. Estas flores deixa aqui como sinal de teu amor pela cruz. " E eu retruquei: " Não me importo tanto pela cruz, mas sim pelo Senhor. Eu te agradeço pelo que me disseste, pois procurarei agora o Senhor entre os pobres. " Vede, minhas irmãs: por isto, desejo falar com mãe Anna. Um mundo tão maravilhoso, e pessoas tão sem amor... Quando conseguirmos ver o Salvador, tenho certeza que não O deixaremos ir, ou então O seguiremos a todos os lugares. Vós também pensais assim, não é?

O júbilo que se expressou entre elas era quase como se o Senhor já estivesse no seu meio em pessoa. Disse então Joana:

- Sabeis o que vamos fazer? Vamos colher flores e esperar por mãe Anna aqui; ou melhor, vamos ao seu encontro. Ela nos dará as explicações necessárias. Eu não consigo entender a ausência do Pai.

Com prazer, as meninas fizeram lindos arranjos de flores e foram à casa de mãe Anna. Resolveram ir ao seu encontro, pois muito se alegrariam, tanto mãe Anna como pai Henrique, ao vê-las chegarem todas juntas. Elas seguiram o caminho habitual, mas não chegavam nunca.

- Será que nos perdemos? - perguntou Joana. A região me parece completamente desconhecida. Vamos por mais um pouco. Vamos dar uma olhada e depois, vamos voltar.

Disse Dora:

- Joana olha, aqui alguém deve ter trabalhado, pois o caminho deve ser bem novo. Vê lá! Uma casa!

As meninas começaram a discutir se deveriam continuar na direção da casa, pois tinham certeza de lá não se encontrar mãe Anna. Uma das meninas disse:

- Dar uma olhada, não nos fará mal. Ninguém nos proibiu, e pode ser que seja habitada.

Concluiu Joana:

- Bem, vamos então; vamos ver quem lá mora. Bastante curiosas, elas continuaram a caminhar e cada vez mais bonito se tornava o lugar. Ao chegarem à casa, um homem veio ao seu encontro e disse:

- Saudações em nome do Divino Amor. Tenho certeza que sois as crianças de pai Henrique e mãe Anna.

- Sim, somos - respondeu Joana. Nossa visita não foi anunciada, nem programada. Por acaso, escolhemos o caminho errado.

- Mesmo assim, sois todas bem-vindas do fundo do coração. Vou chamar minha gente. Eles estão trabalhando no fundo do quintal. Sei que vão ficar muito felizes com a visita.

Ele introduziu as meninas na espaçosa e confortável casa e chamou os seus:

- Vinde, temos visita. Eu sou o irmão Liebgott (Amor Divino, em alemão), e esta casa foi por nós construída. Ela nos serve de abrigo e é onde encontramos paz para meditação. Isto aqui era uma verdadeira floresta, mas, com ajuda do Pai, conseguimos transformar tudo nesta beleza.

- Eu sou irmã Joana, e estas meninas são minhas pupilas. Elas todas já evoluíram tanto, que seus sofrimentos anteriores já não mais as atingem. Estão conseguindo assimilar o novo Espírito da Vida.

Entraram então os outros, todos com rostos felizes, ao que disse o irmão:

- Estas são as crianças de mãe Anna. Dai-lhes todas as boas vindas, pois mãe Anna é muito querida, e suas crianças também.

Os cumprimentos eram acanhados, e Joana notou que as pessoas não eram livres. Ao olhar com atenção, viu que a casa, apesar de muito limpa, não tinha uma única flor. Disse então:

- Queridas irmãs, enfeitai com vossas flores este ambiente, a fim de que os irmãos possam compartilhar sua beleza. Não gosto daqui. Falta amor.

- O que quer dizer com isto, querida irmã? Por acaso falhamos e não as recebemos bem? - retrucou o irmão.

- Irmão, teu nome não condiz contigo, pois devias ser o portador do espírito do Amor e não o administrador do grupo. Quando vejo teus irmãos, me lembro da vida no asilo. Só um único pensamento já me faz tremer de frio. Também teus irmãos levavam lá uma vida miserável. Havia ordem e disciplina, mas nada do Amor. Alguma vez já tentaste conseguir algo com o devido Amor?

- Mas irmã Joana, minha gente trabalha contente e com prazer. Estão satisfeitos em levarem uma vida abrigada e satisfatória; eu não tenho do que me queixar.

- Nisto tens razão irmão, mas aos irmãos falta o mais lindo e o melhor de tudo: o amor ao Senhor, nosso Pai e Salvador Jesus. Olha minhas irmãs. Eles também são companheiras do asilo, como teus irmãos. Mas fala com elas; ou melhor que isto, vem nos visitar e conhecer nosso jardim. Verás que a diferença é como o dia para noite. Pergunta às minhas irmãs sobre Jesus, Sua Vida e Seu Ser e ficarás surpreso com seus conhecimentos. Antes de tudo, amam o querido Salvador, e seu máximo desejo é vê-Lo. E eu te pergunto: Como está este sentimento aqui?

- Irmã Joana, tens razão. Nem eu mesmo me encontro neste ponto de evolução. Não sei nada sobre Jesus, pois onde teria conseguido estas informações?

- Mas irmão, na tua vida terrena foste cristão! Agora, na eternidade seria o mais certo que tu, por ti mesmo, te desses conta de que a vida sem Jesus e seu Amor só é uma meia vida. No entanto nos cumprimentastes com o nome de Jesus... Posso falar com as irmãs?

- Claro, querida irmã; esteja certa que eu serei o mais atento de todos. Os irmãos tinham se sentado como de costume e como não havia nenhum vaso, as meninas amarraram as flores de tal jeito que formaram a palavra Jesus. Elas estavam todas dispostas num semicírculo.

- Irmãs, vamos cantar uma canção em primeiro lugar. A canção que fala de amor e de luz do sol. Todas logo entoaram a canção, que começava dizendo: " Oh, vem querida e dourada luz do sol e penetra em nossos corações..."

Todos os irmãos estavam completamente maravilhados e sensibilizados, pois nunca tinham ouvido falar algo tão lindo. No fim, Joana se dirigiu aos irmãos, dizendo:

- Meus irmãos, agradeço ao Salvador Jesus por ter me permitido dar-vos esta alegria. Vede, eu e minhas irmãs não conseguimos imaginar nossa vida sem este Amor Divino, esta alegria que recebemos de Jesus. Nós todas também fomos excluídas da felicidade. Nossa vida não era vida. Vegetávamos. Éramos pior que os animais. Porém Jesus, o amante Pai e Salvador, mudou nossas vidas, ao nos retirar da vida terrena e nos transformar em seres livres. Nós conseguimos entender que tudo só tem meio valor sem Jesus, e meia felicidade sem Seu Espírito de Amor. Nós ainda não possuímos a felicidade total, pois Ele ainda nos falta. Sua presença ainda nos falta, pois ainda não estamos bastante evoluídos para merecê-Lo. Mãe Anna, este bendito anjo que é a nossa guia, já nos disse: "Não O verás antes da hora certa ”. Isto não me decepciona; antes porém me dá uma feliz expectativa: o pressentimento da felicidade vindoura. Tudo isto nos fez amar cada vez mais e nos tornar Amor. À todos vós desejo esta felicidade, mas sou somente uma pequena servidora do Amor. Mas uma coisa podeis fazer: amai-vos uns aos outros com toda a força de vossos corações, e eu expulsarei dos mesmos tudo que ainda ficou da vida terrena. Lembrai-vos que o saudoso Salvador Jesus deseja se alojar em cada coração e lá construir Seu lar. Começai a desejar Sua presença e vereis quão alegres sereis. Eu sei que vós vos alegrais com vosso trabalho, com a paz que estais vivendo, mas isto é nada perto da alegria que Jesus nos proporciona. Jesus sempre nos quer alegrar, e isto reconhecemos, eu e minhas irmãs. Por isto, nosso desejo só tem uma meta: Jesus e novamente Jesus. Não vos é possível começar a amar Jesus? Ele já vos ama há muito, e vossos nomes estão escritos em Seu Coração. Por isto, Seu nome deve ser inscrito em nossos corações e deve brilhar feito sol. Olhai estas flores. Elas dizem Seu nome. Prendei este nome em vossos corações, pois será para vossa salvação e felicidade.

- Oh querida irmã Joana, estas palavras não podem ser criação tua. Foi um milagre ter vivenciado isto. Não foi à toa que tu nos chamaste a atenção. Sim, vamos tentar amar Jesus de hoje em diante. Não é assim, meus irmãos?

Um júbilo sem fim foi a resposta. E Joana disse:

- Irmão, isto já não é o melhor pagamento que jamais recebestes? Conseguiste agora irmãos, e estes te dão muito amor. Em agradecimento a este ato, vamos encher vossos jardins de flores, para que Jesus possa se alegrar, quando nos visitar. Tu vais vivenciar a alegria que vem do amor. Nós vamos agora vamos partir, mas só no exterior, pois no interior permaneceremos unidos no Amor de Jesus.

O irmão Liebgott não conseguia falar de tão emocionado, mas um outro disse:

- Ficai, ficai aqui. Sois tão lindas... Quando partirdes, tudo aqui ficará sombrio.

- Não vai dar, meu irmão. Nós precisamos cuidar de nossas flores. Temos que trabalhar muito, para que nossos jardins fiquem bem bonitos. Nós vamos voltar, mas vós tereis que ser muito carinhosos uns com os outros e lembrar sempre de Ter em mente como o Salvador se sentirá se chegar aqui, para visitar-vos. Será que Ele terá alegrias aqui?

Aí todos ficaram alegres e pediram para que cantassem mais uma canção. E as meninas cantaram assim:

"Quando o Salvador, nosso salvador, como Pai aqui chegar;

E os filhos, Seus filhos, em sua volta se reunirem;

Oh, então nos alegraremos e seremos bem-aventurados;

E o Pai, nosso Jesus, feliz conosco ficará ."

Neste instante, os irmãos quase desfaleceram de tanta felicidade, começaram a se abraçar e diziam: " Seremos filhos! Seremos filhos!"

- Irmãos, o Amor está aflorando em vós - disse Joana. Vede, tivestes que ser acordados. Seres como nós, que foram cumulados de dor e miséria, precisam de um despertador bem mais forte. Permanecei neste amor. Alimentai muito mais este amor e vivenciareis um milagre, assim como minha evolução, que também é um milagre do amor. No entanto nada fiz, além de seguir fielmente os conselhos que a irmã Martha me dava. Deu muito trabalho, mas consegui. Estou agora transpassado no fogo divino do Amor, o que me faz progredir cada vez mais. Vamos partir agora, em nome de Jesus, mas nosso amor aqui ficará.

No caminho para casa, com as meninas repletas de alegria e amor, muito conversaram. Joana disse então:

- Tomara que a mãe esteja em casa, pois isto que fizemos só foi meia tarefa. Enchemos os irmãos de esperanças e acho que a mãe terá muito a ponderar.

Realmente, quando chegaram perto da casa lá estava o pai Henrique, e quando correram para abraçar a mãe, esta as encarou com grande seriedade:

- Meu Deus, como vós estais? Aconteceu algo? Eu tenho que vos reprimir... Como podeis arrumar os jardins dessa forma tão maravilhosa, se sabeis que no reino dos céus é necessário possuir muita energia para embelezar as coisas?

- Mãezinha, não sejas tão severa. Eu sei que te alegras tanto quanto nós; ou preferirias que os irmãos permanecessem do jeito como estavam? Nós os ajudamos a dar os primeiros passos. Agora, lhes será mais fácil, pois só com flores não se certifica o Amor, não é?

- Joana, filha, se me tivesses dito, eu teria ido convosco. Naquela gente ainda existe muito espírito mundano, e tendes que ser cuidadosas.

- Está bem, está bem... Se queres nos passar uma descompostura, vai em frente; mas vê, mãezinha, estamos vindo da casa do irmão Liebgott e sua pobre gente. Lá, acendemos o fogo do Amor.

- Estou sem palavras filha! Eu sou a responsável por vós, e fostes à dimensão daquela gente! Sim, precisam ainda de muita purificação. Eu não me animo a ir lá sozinha.

- Mas nós não estávamos sozinhas, querida mãe, pois o Bondoso Salvador estava conosco. Nunca estive tão livre e tão contente, como naquele momento. Em mim só havia alegria e nenhum temor.

E disse Anna para Henrique:

- Vê agora, irmão Henrique: a pequena Joana passou tua frente, pois iluminar aqueles irmãos era tarefa tua.

Disse Henrique:

- Sabes querida Anna, não te entendo agora. Tu, que és toda amor e um bondoso anjo para todos nós, não te agrada este jeito de amar de Joana? Tu tens que me dar alguns esclarecimentos...

- Mas Henrique, é a preocupação com as meninas que me faz falar assim. Elas ainda não estão em condições de ir junto aos irmãos necessitados, para ajudá-los e dar-lhes suporte. Tu tens que me entender.

- Claro Anna, mas vê como elas sorriem de teu medo. Ele é totalmente desnecessário.

- Henrique cuidado. Lembra-te que muito do que ainda se traz da vida terrena, não pode ser simplesmente empurrado para o cantinho, como se nada fosse. O Senhor não diz desnecessariamente: "Vigiai e Orai".

- Mãezinha - disse Joana - eu também prometi aos pobres irmãos enfeitar seus jardins com as irmãzinhas. Tu permitirás isto e virás conosco, não é? Tu também, pai Henrique, tens que vir. Oh, nem sabes como estamos felizes, por termos levado um pouco de alegria a eles.

- Eu também fico contente, mas...

- Nada de mas, mãezinha. Antes disto, estive na casa do Pai. As pessoas eram belas; suas casas e palácios, impossíveis de descrever; o templo, uma obra de arte; entretanto eles nem se importavam comigo, nem me viam. De amor não se via nada e o pior de tudo: o Pai não estava em casa. Ele estaria com os infelizes, assim me contou um sacerdote. Agora, tenho o forte desejo de procurar o Pai, não importa onde. Eu estava satisfeita lá no meio dos bem-aventurados, mas junto aos doentes, quem se sentia bem-aventurada era eu. Dize-me mãe, por que isto aconteceu?

- Porque tu assumiste o amor. Não temo mais por ti. Atua completamente livre neste amor. Dentro em pouco, estarás amadurecida para missões maiores. Apronta tudo, afim de não decepcionarmos teus irmãos que nos esperam.

Por fim, todo o desejo se realiza

Joana correu com suas amadas irmãs para sua casa e jardim. Escolheram as mais lindas flores, plantas e arbustos. Todas estavam felizes e entusiasmadas por tornar os jardins daqueles pobres irmãos, que tanto tinham sofrido na Terra, um pouco mais bonitos e agradáveis. Após maravilhoso descanso e introspecção, tomaram suas plantas e frutas e foram buscar mãe Anna, para que as acompanhassem nesta obra de amor. Mas ninguém estava lá . Os quartos estavam vazios. Nem mesmo pai Henrique lá estava. Joana então disse:

- Por que esperar? Vamos nós mesmo assim, pois as flores e plantas devem ser plantadas.

Ao chegarem, começaram logo a plantar. No seu entusiasmo, não viram que pai Henrique, mãe Joana e um simpático Homem as observavam. A um chamado, elas foram ao encontro dos três e os cumprimentaram. Descobriram que o Homem era um jardineiro. Este lhes contou que estava muito feliz com a alegria e zelo delas. Os três permaneceram ali, até que as meninas acabassem o plantio de todas as flores e plantas. Depois, todos foram de lá para a casa dos irmãos. Todas as frutas trazidas por Joana foram abençoadas por pai Henrique, distribuídas e comidas. Ficaram lá bem pouco tempo e voltaram logo para a casa do Amor. Foi quando disse mãe Anna:

- Joana, leva tuas pupilas e põem-nas a descansar. Depois, vem a minha casa, onde nós e este querido Hóspede te esperamos. Mas traze Lisa, Lena, Rosa e Chirsta.

Havia uma paz indescritível em torno do Hóspede, o qual falava muito para Henrique, para os outros irmãos e para Joana também, explicando a saudade que o Pai trazia em Seu Peito, com relação a todos os Seus filhos.

Foram então perturbados pela chegada de estranhos que queriam prejudicar pai Henrique . Quando ia na direção deles, Joana pediu ao pai Henrique, do fundo de seu coração, permissão para ir com ele. Houve uma grande discussão, quando um dos perturbadores se distanciou do grupo e se aproximou de Henrique. Um gostoso pão e umas palavras de amor os acalmaram e os converteram. Somente um, que se chamava Gregor, não se converteu, e Joana desejou de todo coração poder fazê-lo. Ela o conseguiu com a ajuda do Pai e muito esforço. Quando esta obra de caridade terminou, ela voltou para junto de mãe Anna, enquanto que o Hóspede estava se despedindo. Ele acompanhou as cinco meninas até seu lar e admirou seus jardins. Ficou bem impressionado, pois as meninas tinham feito um grande progresso. Os jardins estavam muito bem cuidados, e Ele não economizou elogios, prometendo retornar. Joana ficou junto Dele, já que suas pupilas ainda estavam descansando, e O acompanhou até o portão. Foi quando Ele disse:

- Minha Joana, é bonito que Me acompanhes, mas isto não é necessário, pois Eu consigo Me separar de vós de uma forma bem mais simples. Eu, porém, te digo: deste uma grande alegria ao Meu Coração, porque conseguistes conquistar o Gregor.

- Bobagem, querido irmão, isto é fácil, pois sempre temos a ajuda do Salvador Jesus. Sem Sua ajuda, eu nada teria conseguido. Mas dize, querido irmão: não Te agrada ficar aqui nem, mais um pouquinho? Para que partir tão depressa? Vem a nossa casa e abençoa-a. Eu te peço encarecidamente. Tenho a impressão de que isto ainda é o que nos falta.

- Mais tarde, Joana. Tens que ter paciência. Não digas nada, pois ao Senhor tudo é conhecido: teu amor, teu esforço e como sempre dizes, tua saudade por Ele

- Mas não consigo acalmar meu coração. Na Terra, quase morri de tanta dor; aqui, quase não consigo continuar a viver de tanto desejo de vê-Lo. Por favor, me ajude. Teus Olhos me dizem que podes me ajudar.

- Então vem nos Meus Braços, Joana, e vivencia como cada pulso de Meu Coração te diz: "Eu te amo."

Então ela O abraça, lágrimas jorram de seus olhos de tanta felicidade. Em cada instante, ela reconhece que ali se encontra um coração no qual só existe Amor e entrega. Finalmente, ela se entrega e disse:

- Até que enfim eu posso Te abraçar, e todo o meu desejo foi satisfeito. Tu O és e me libertaste, meu amado Jesus. Não, não digas nada . Tu és Aquele. Eu não conseguiria amar ninguém, como te amo. Não poderia servir a ninguém mais, a não ser a Ti mesmo. Mesmo que tivesse que morrer por isto, eu não Te largaria, pois Tu és o que eu mais desejo em toda a minha vida. Como me sinto leve agora! Tua Palavra se realizou. Temos que ser livres, e por Ti, consegui sê-lo. Tu és o Salvador, e como estou liberta, eu Te peço: torna novamente a este Teu lar, o qual me construíste e me ofertaste como minha nova pátria. Realiza também este maravilhoso milagre com minhas irmãs.

- Com muito prazer, Joana, mas somente quando o tempo tiver chegado, nem um minuto antes. Nunca eu teria podido dizer: Toma-me, Eu sou aquele a quem amas. Tu tiveste que achar por ti mesmo; por isto, Eu te peço que não Me denuncies. Tua boca tem que se calar e só o coração pode sentir. Quando tuas irmãs tiverem amadurecido bastante, então serei Eu quem trará total satisfação. Bem, Eu agora quero te apertar junto ao Meu Peito, e este beijo é o selo de que nada poderá nos separar. Permanece em Meu Amor e com Meu Espírito e serás Minha filha por toda a eternidade.

Como num sonho, Joana volta para casa. Como as meninas ainda estavam a descansar, Joana se senta silenciosamente em sua espreguiçadeira e sonha com Jesus.

Natal, a festa do Amor

Mãe Anna estava atarefada. O Natal, a festa do Amor, deveria unir a todos. Ela deveria embelezar as cinco meninas e suas pupilas, que ainda tinham muito a aprender. Mãe Anna trouxe a matéria: o nascimento de Jesus e Sua anunciação pelos anjos. O amor ao trabalho lhes provia forças e mãe Anna estava muito feliz. As crianças não só entendiam tudo, mas ainda viviam o momento. Joana, porém, tratava de suas irmãs. Ela tinha certeza que Jesus as receberia de suas mãos no Seu aniversário terreno. Esta expectativa a enchia de felicidade. Pai Henrique levou a todos o convite para esta aclamação do Amor; somente Gregor e seus companheiros foram excluídos. Na hora estabelecida, todos chegaram à casa do Amor, onde tudo tinha sido festivamente enfeitado. Para a abertura, as meninas cantavam canções de júbilo. Logo, tudo ficou quieto e mãe Anna disse:

- Irmãos, irmãs e vós, meus filhos. O Amor chamou, e todos viestes. Pena que nem todos puderam ser convidados, mas isto se deve à evolução de cada um. Então vamos começar a celebração em nome do Senhor, da mesma maneira que era celebrada no paraíso. Transportai-vos para vosso interior, visitai primeiro vossos queridos na Terra e ide ao local onde vossos corpos foram depositados para destruição. Dentro de uma hora terrena, eu vos chamo.

Ao término da hora, Anna disse:

- Filhos, cantai agora uma canção de júbilo para o Senhor.

Canções maravilhosas foram entoadas com os corações cheios de amor, os quais se espelhavam na beleza das vozes. Ao término das canções, o Jardineiro chegou, Se colocou entre Anna e Henrique, disse:

- Para completar esta linda festa de amor, a presença do Senhor seria o ápice. Ele é quem nos faz falta. Vamos amá-Lo tanto, para que Ele não resista ao nosso apelo e logo venha. Bom, mas aqui está nosso querido irmão que veio novamente e ao qual desejamos que fique mais tempo conosco. Vós, crianças, trazei vossas uvas e demais frutas que foram amadurecidas pelo vosso amor; fortificai e satisfazei-vos, para que todos vos torneis bem vivos e alegres. Tu, porém, Santo Pai, acalma nossa saudade por Ti, da mesma maneira que as crianças acalmaram nossa fome. Teu Amor seja nossa vida, até o momento que nos trouxeres a completa libertação. Mais de cem meninas distribuíram suas frutas. Porém Joana foi junto a Anna, Henrique e o Jardineiro e quis dizer algo, mas Ele lhe fez um sinal, para que se calasse. Aceitaram as uvas oferecidas, ao que Joana disse:

- Vamos agradecer por este amor que temos em nossas mãos, qual presente divino, e deixemos nossos corações se envolverem com Seu Espírito, o qual tão prazerosamente nos chama de Seus filhos. Todo o passado não existe mais. Isto nos foi mostrado na visita que fizemos à Terra. Pertencemos agora à vida nova, que nos foi dada por Ele, Jesus. Por isto, a Ti, Pai Jesus, será todo o meu amor, agora e para todo o sempre. Salve Jesus!

Como as frutas maravilhosas estavam gostosas! Como brilhavam os olhos! Com que prazer teriam gritado de alegria e felicidade! Mas não se atreveriam a tanto... Pai Henrique então disse:

- Meus amados, libertai-vos todos. O momento solene da festa já acabou. A segunda parte não deve terminar nunca.: alegrai-vos e alegrai a todos que vos cercam; visitai as casas e os jardins; familiarizai-vos com tudo. Quem desejar ir para casa, que o faça.

Joana ficou junto ao Jardineiro e conversou com Ele por um longo tempo. Depois ela chamou e conversou com suas pupilas. Foram após para casa, pois o Jardineiro havia prometido ir lá. Rapidamente, enfeitaram a casa e um cesto das mais lindas uvas foi colocado na mesa. Joana ficava a olhar ao longo do caminho. Ela O avistou finalmente, caminhando lentamente e observando as flores que ladeavam a trilha. Correu ao Seu encontro, descansou por uns instantes já em Seu peito e disse:

- Pai, que bom que vieste! Entra em Tua casa. Todas Te esperamos ansiosamente.

As meninas se espantaram por Joana ser tão familiarizada com o Jardineiro. Ela lhe ofereceu uma espreguiçadeira e todas se sentaram num semicírculo à Sua frente. Ele então comentou sobre Sua satisfação com os habitantes. Elogiou o zelo no trabalho, o amor que possuíam, as flores e as frutas, que seriam o reflexo do coração. Por fim, lhes perguntou se desejariam ficar ali para sempre, ou se aceitariam uma tarefa bem mais ampla e importante.

- Oh meu Pai, meu Salvador, Tu me ordenaste calar ante minhas irmãs, mas não consigo, pois desejo que todas consigam satisfazer seus anseios - disse Joana. Não posso mais me calar. Venham, venham, minhas queridas. Este que visita nosso lar é o nosso Pai e Salvador. E tende certeza que Ele não vos afastará.

Neste instante, todas O querem abraçar e acariciar, e uma onda de amor se abateu sobre Jesus, que disse:

- Calma, calma, minhas crianças. Se Eu não vos amasse tanto, não teria vindo. Vossa alegria agora é total. Também no Céu há muita alegria por vós. Mas não descansai agora. Cada vez mais deveis fortificar e aperfeiçoar vosso amor por Mim. Eu poderia transferi-las para um céu cuja beleza vos cegaria, mas esta beleza seria apenas o reflexo de vosso amor. Sede fiéis a Mim, porém sede fiéis a vós mesmas e tenhais certeza que vos amarei para sempre como filhos Meus. Se tendes um desejo, falai agora, pois estou aqui junto a vós e o poderei realizar.

- Querido Pai e Salvador, deixa-me aqui e me dá novos doentes, os quais eu possa preparar para Te reconhecerem, a Ti e Tuas obras. Minhas irmãs, porém, amam os irmãos sob liderança de Liebgott. Será que elas poderiam se tornar servidoras do Amor, do Teu Amor, e lá trabalhando, encontrar o amadurecimento? - disse Joana.

- Querida Joana, não nego teu pedido, mas ainda é necessário ir à escola junto a Anna. Mas por que só pedes trabalho árduo para ti? Teu desejo já se realizou: os doentes estão a caminho. Em breve, estarão aqui. Lugar em tua casa terão, pois esta aumentará para o dobro.

- Oh querido Pai, tudo está bem agora. Eu estou cheia de expectativa e alegria. Preciso Te abraçar mais uma vez. Tens que me permitir isto, pois me tornaste extremamente feliz.

Quando acabou de abraçá-Lo e acariciá-Lo, ela lhe ofereceu novas uvas e Lhe pediu que as comesse. Porém Ele disse:

- Filhinha, estas uvas bastam a todas e vão se tornar muito mais saborosas. Eu quero recompensar vosso amor.

Elas ficaram totalmente quietas, mas muito contentes no íntimo. Neste momento, conseguiram se dar conta que somente por meio de seus sofrimentos, chegaram a tal bem-aventurança. As uvas tinham um sabor delicioso, nunca antes saboreado. E quando elas quiseram expressar sua gratidão, o Pai disse:

- Filhinhas, filhinhas, acalmai-vos, pois este é somente o começo de vossa bem-aventurança. Ide ao jardim, olhai as flores e vossa casa. Então sim, podeis julgar se Eu não compensei todo vosso sofrimento na Terra.

As meninas correram para fora, mas Joana ficou e disse:

- Eu sei Pai que consegues nos presentear com belezas e mais belezas, mas eu prefiro ficar junto a Ti, pois me és muito mais belo do que tudo. Quando tiveres partido, terei tempo de sobra para admirar o Teu presente. Por favor, manda-me muitos doentes, que este será o melhor presente.

As meninas entraram correndo e disseram:

- Joana, Joana, que milagre! Não conhecemos mais nosso jardim e estamos morando numa casa completamente diferente, pelo menos dez vezes maior.

- Isto é bom, pois podemos abrigar cem vezes mais gente, ou até mais - disse Joana. Nosso Pai Jesus certamente saberá enchê-la e espero que vós me ajudeis na tarefa.

O Senhor se levantou e disse:

- Crianças, não há nada mais sagrado do que a Vida. Tivestes agora uma prova do que são os céus, mas não pode ser sempre assim, pois ainda há muitos resquícios do vosso "espírito-eu" que deve ser eliminado. A melhor maneira é o amor e o cuidar dos pobres e desgarrados. Quanto maior vosso amor, maior se torna vossa força; quão mais maduro vosso amor se torna, tão maior se torna vosso mundo. Vede como estou feliz no meio de Meus filhos do Amor, mas Meu Amor Me leva para junto dos doentes, pobres e não redimidos. Por isto, não posso ficar aqui e devo deixá-los, mas tenho certeza que encontrastes agora a ponte que liga Meu Coração ao vosso., pois fostes escolhidas para Me proporcionar alegria e mais alegria. Não desistais, quando pensardes que vossas forças estão no fim. Neste momento, chamai por Mim; não com vossa boca, mas sim com vosso coração. Vinde todas e recebei minha benção cheia de Amor. Tu, minha Joana, receberás uma nova vestimenta de acordo com teu amor intenso. Sede felizes em Meu Amor e muito mais ativas em Meu Espírito, para que os céus se abram totalmente para vós. Mais uma vez, deu a Mão a cada uma e deixou que Joana O levasse ao portão. Quando ela voltou para junto das outras, estas disseram:

- Joana, ainda não te olhaste? Olha para ti e vê que brilhas qual sol!

- Ora crianças, não vamos falar sobre isto. Em pouco tempo, vós brilhareis muito mais, quando estiverdes completamente vivificadas pelo Amor. Bem, estais satisfeitas com o nosso Salvador Jesus?

- Puxa Joana, nós não teríamos dado conta da presença Dele, se não tivesses nos ajudado. Dize-nos: Como descobriste que Ele era nosso Salvador Jesus Cristo?

- Bem, não há nada a explicar. Eu simplesmente não consegui calar meu coração. Seus Olhos denunciavam o que Sua Boca tinha que calar. Mas temos que ser bem sábias agora. Nosso Pai Jesus Cristo tem plena confiança em nós. Vamos permanecer em Seu Espírito e não falar à toa. Como Ele não podia nos dizer: "Eu sou vosso Pai, vosso Jesus"; nós não podemos dizer a ninguém: "Ele é seu Senhor". Cada coração deve descobri-Lo e assumi-Lo. Só então Ele poderá se deixar encontrar. Vamos examinar nossa nova casa, pois pressinto que novos habitantes em breve aqui chegarão

Nova tarefa e nova bem-aventurança

Todas saíram para o jardim, onde o encantamento parecia não ter fim. Joana viu que pai Henrique e mãe Anna estavam chegando e correu ao seu encontro. Foi carinhosamente abraçada por Anna, que disse:

- Joana, será que agora toda a tua saudade acabou? As outras não são tão felizes, pois seus corações ainda não reconhecem Jesus. Porém tu, Joana, terás que enfrentar novamente grandes tarefas, pois novos e bem infelizes doentes foram abrigados em tua casa. Dois emissários divinos te esperam. Eles querem lhe encerrar sua missão.

- Onde mãe? Eu não os vi!

- Sim minha filha, em tua casa, no andar de cima. Juntamente com Lisa, acolherás os doentes, para que eles tenham condições de convalescer em tua casa. Lisa já recebeu as instruções e está vindo. Inicia então tua obra sagrada em nome de Jesus, o Divino Amor, e tudo se tornará bênçãos sagradas.

Lisa chegou e disse:

- Joana, posso trabalhar junto a ti? Já vistes os doentes?

- Ainda não, Lisa. Mas vamos logo junto a eles, para que possamos liberar os emissários divinos de sua tarefa. Mãe Anna e pai Henrique, não quereis vir conosco?

- Ainda não, mas logo estaremos lá ¾ respondeu o casal.

As duas meninas entraram apressadas na casa e subiram a escada, que antes não existia. Lá em cima havia uma pequena ante-sala. Tudo parecia familiar para Joana. Atravessaram o cômodo e abriram a porta. Espantadas, olharam o salão, enquanto parecia que os sentidos lhe faltariam. Joana se encontrava no salão do castelo Colditz ¾ asilo onde ficou internada. Lisa lhe disse algumas palavras, e ela se recuperou logo. Dois anjos se dirigiram com respeito à ela, e um deles disse:

- Irmã no Senhor, nosso Deus, O Eterno Amor, nos mandou trazer estes sessenta doentes, para abrigá-los em teu lar e em teu amor. Aconteceu de acordo com a vontade sagrada do Senhor, e nada nos foi ordenado. Nós estamos confusos: não sabemos como vós duas poderão tratar estes doentes perigosos, pois somente com nossa força física e força de vontade muito forte, nos foi possível realizar a contento a tarefa de trazê-los.

- Muito obrigada a vós, maravilhosos emissários e servidores do Senhor. Foi nosso desejo expresso ao Senhor mesmo: ser-nos permitido tratar destes doentes. São minhas irmãs, com as quais eu vivi na Terra. Como, quando aqui cheguei, o Senhor conseguiu me curar de toda a miséria, tudo farei para auxiliar estes doentes; isto é, sempre com a bênção e a força do Senhor.

Neste instante, uma doente começou a gritar, e Joana correu para seu lado sem mais falar com os emissários. Ela viu um homem vestindo roupa branca e pensou que era um médico. Ao se aproximar, viu que era o Pai em pessoa e disse:

- Pai, Tu por aqui? Eu pensei que fosse um médico...

- Silêncio Joana, Eu só quero ser o médico para todos, pois a tarefa é árdua demais para ti e Lisa. Tu te admiras que teu mundo tão bonito tenha se transformado neste salão triste e árido. Lembra-te, porém, que estes doentes não conseguiriam agüentar teu belo mundo. Tudo tem que estar de acordo com o mundo interior deles. Do contrário, não haveria salvação para eles. Estais arrependida em ter Me pedido por estes doentes?

- Oh não, querido Pai. Assustei-me tanto, que fiquei sem fôlego; mas agora que estás aqui, tudo está bem. Mas dize, querido Pai: por que queres trabalhar aqui como um médico desconhecido?

- Joana, é por causa dos doentes, que tiveram que carregar esta cruz quase que inocentemente, tal qual tu mesma. Não é obrigação de um pai amoroso recompensar e ajeitar tudo que o mundo fez? Por isto, fica bem quietinha. Lá vem Lisa.

Os doentes estavam completamente agitados, pois tinham fome. Com muito esforço e paciência, todos foram alimentados e ficaram satisfeitos. Muitas vezes Lisa chorava, mas quando o Doutor se aproximava, ela renascia. Os doentes também perdiam todo o medo e uma grande alegria os vivificava, no momento em que Ele atravessava o salão e recebia informações de Joana. Infelizmente a alegria durava pouco, pois o Médico vinha cada vez mais raramente. Ele aparecia só quando havia grande agitação, e tudo logo se acalmava. Lisa estava quase disposta a desistir e perguntou à Joana:

- Como é possível que estejas tão cheia de esperanças? Na minha opinião os doentes estão como sempre: uma hora cheios de alegria; noutra em seguida, cheios de raiva e ódio. De que adianta se eles choram e se arrependem, para logo em seguida, ficarem pior do que antes?

- Ora Lisa, por que deixas que pensamentos sombrios tomem conta de teu ser? Não temos bastante motivos para nos alegrar? Sempre podemos nos retirar e devolver esta tarefa, mas isto nem passou pela minha mente, pois eles também são filhos de nosso Pai Divino e vão se curar.

- Joana, que segredos tens com o Médico? Como sois tão íntimos um com o outro? Por que não posso ser assim como tu? Quando Ele está aqui, vejo tudo cor de rosa, meu coração é só felicidade; mas quando Ele vai embora, parece que toda a alegria se acaba. Podes me explicar isto?

- Sim Lisa, eu poderia, mas ainda não tenho permissão para tal. Tens que consultar tu mesmo teu coração e deixá-lo falar. Bem que eu gostaria de te ajudar, mas não me é permitido.

- Mas por que não? Não somos nós duas auxiliares de outros? Por que não podes me ajudar?

- Por que não estás doente da alma, mas sim do coração. Dirige-te ao Médico, não a mim. Confia completamente Nele, como se fosses um bebezinho.

Os doentes pareciam acordar para a vida. O pior já havia passado. O Médico quase já não aparecia mais. Um dia, Joana sugeriu à Lisa:

- Vamos levar os doentes para o jardim?

Cheios de alegria, desceram para o jardim e lá deixaram que os doentes se movessem livremente. Neste momento, vem mãe Anna e as antigas pupilas; também Henrique, claro, com cestos cheios dos mais deliciosos damascos. Ao serem avistados por Joana e Lisa, elas tudo largam e correm junto aos amigos. Que alegria! Quando as pupilas começaram a distribuir os damascos para os doentes, o júbilo que se fez não queria chegar ao fim. Neste momento, todas as dificuldades estavam esquecidas. Mãe Anna contou que muitos outros doentes haviam chegado, mas que estavam em falta os auxiliares. Por suposto, houve algum progresso, mas a caridade e o Amor libertador ainda não tinham se tornado uma verdadeira e ardente chama.

- Que pena... - comentou Joana. Mas, por quê? Por que o Salvador ainda tem que procurar a todos, em vez deles procurarem o Salvador?

- Joana, achas que eu ainda não encontrei o Salvador como devido? - perguntou Lisa.

- Sim, Lisa. Enquanto Ele te procurar, tu ainda não o achaste como é necessário para a libertação e salvação dos outros. Não somente o Amor para com o Salvador, porém possuí-Lo em nós é o que nos torna verdadeiros auxiliares.

- Vem aos meus braços - disse Anna. Por tais palavras, mereces um abraço bem apertado. Ainda um beijo, e não és mais uma filha, mas sim uma irmã. Tu porém, Lisa, deixa que teu coração te oriente completamente. Vê, estes pacientes de Joana são mais felizes que tu, pois aquilo que ainda desejas eles já possuem.

- Mãe Anna, será que eu falhei em algo? - indagou Lisa.

- Não, minha filha. Mereces todos os elogios. Com toda força de teu amor, te entregaste à tarefa, mas esqueceste algo mesmo assim. Pergunte ao teu coração, que ele lhe dará resposta. Por que não te atreves a querer O Maior? Quem não se arrisca, nada consegue.

Então chegaram os doentes. Os olhos de Anna se encheram de lágrimas ao ver seus rostos tão maltratados, mas que brilhavam de alegria. Neste momento, Joana disse:

- Crianças, vamos cantar algo para mãe Anna:

E cantaram: " Quando o Salvador, quando o Salvador chegar como um rei;

E aos seus, e aos seus se unificar;

Oh, então eles brilharão e serão bem-aventurados;

Pois o Salvador feito Rei os chama de filhinhos."

Anna e as pupilas de Joana se despediram e quando se foram, Joana juntou os doentes, para levá-los de volta ao salão. Ao chegarem lá, viram com surpresa que as grades das janelas tinham desaparecido e que o salão parecia muito mais bonito, maior e agradável. As camas tinham desaparecido e no seu lugar havia espreguiçadeiras. A mesa comprida e única foi substituída por mesas menores com cadeiras. Lisa ao ver a cena, indagou:

- Joana, podes explicar isto? Isto é um milagre!

- Sim Lisa, um milagre do Amor. Isto significa progresso com os doentes. Aguarda, vão logo começar a fazer perguntas.

Joana estava completamente certa. A vida no salão se tornou bem melhor, mais alegre e mais livre. O pão ficava cada vez melhor e frutas melhores também apareciam. Mas o mais importante era que os pacientes estavam cada vez mais calmos. Ainda exigiam um grande esforço e muita paciência, especialmente para convencê-los que tinham morrido e que não eram mais doentes, nem débeis mentais. Os mais jovens entendiam melhor que os mais idosos. O salão maior, as janelas sem grades, uma vista muito mais ampla e a comida melhor eram provas fortes de bens celestiais, que só eram alcançadas pela Graça de Jesus. A enfermaria logo se tornou uma sala de aula, uma escola, que só se preocupava com a saúde da alma. Joana então disse à Lisa:

- Tu poderias ficar aqui sozinha, tomando conta das irmãs. Eu gostaria de visitar mãe Anna e pai Henrique. Tenho muitas saudades e não quero esperar mais.

Lisa ficou sozinha e não precisava ter medo, pois os doentes não mais inspiravam temor. Ela conversava com alguns doentes, quando chegou o Médico com sua roupa branca e cumprimentou a todos da maneira gentil e bondosa de sempre. Lisa se assustou.. Seu coração batia desordenadamente e e ela quase não conseguia falar de tanta agitação. Ele, porém, perguntou:

- Lisa, por que me temes? Alguma vez já te dei motivo?

- Não é temor, nem medo. Eu gostaria de me castigar, a mim mesma... Não sei o que acontece comigo, ainda mais agora, que Joana não está...

- Gostarias mais que Joana estivesse presente? Quantas vezes desejastes ficar comigo a sós? Agora, estás cheia de medo?

- Sim, querido Doutor, estes foram freqüentemente meus pensamentos. Como espírito, posso ter pensamentos; mas eu sou presa, não sou liberta, não consigo Ter pensamentos bons e sagrados.

- Não é necessário, Lisa. Antes de mais nada, teu auto-conhecimento tem que crescer, para que teu coração se torne totalmente limpo e tu portadora da verdadeira Vida Divina. O que te trava na tua evolução? Não tens todo o necessário em tuas mãos? Vê, Joana é muitíssimo mais livre; por isto, ela consegue muito mais. Se vós duas tens que passar mais uma vez à difícil escola, é só para o bem de vossa evolução e bem-aventurança. Eu sei às vezes querias desistir, e por quê? Porque ainda possuis muito de concreto em ti. Par Joana, foi fácil, pois ela, na sua vida terrena, conseguiu se libertar muito mais que tu. Mas estar feliz, verdadeiramente feliz, só estarás quando conseguires te entregar à Vida Verdadeira, uma vida que se obtém só por meio do Amor.

- Eu sei disto, querido Irmão, mil vezes quase pude alcançá-Lo, mas me faltava a força necessária, além de meu Salvador Jesus. Todas as palavras bonitas, todo o empenho se perdem, pois ainda não obtive a graça de vê-Lo. Joana, ao contrário, não se cansa de elogiar Seu Amor, Sua Bondade e Misericórdia. Isto me dói. Eu O amo também; por que Ele fica longe de mim? Ele sabe muito bem que em meu peito nada mais vive do que Ele, somente Ele.

- Ele sabe disto, Lisa, mas tu O amas como mulher, não como filha. Toda paixão deve desaparecer no Espírito do Amor Divino, se O reconheceres como Pai, Salvador, teu Deus e Senhor; e neste reconhecimento, acender em ti uma chama de Amor que te toma totalmente. Se isto acontecer, Ele não pensará um só instante em Se apresentar a ti. Por isto , enterra teu amor de mulher e deixa o amor filial florescer, que só deseja alegrar o Pai Celestial. Bem, agora Lisa, vamos conversar um pouco mais com as irmãzinhas. Elas esperam ansiosas por um aperto de mão Meu, ou por uma palavra de Amor.

Elas escutavam Suas palavras sem conseguir entendê-las a fundo, mas quando o Doutor lhes dizia palavras de carinho, ou uma piada, a alegria era interminável.

- Alegrai-vos em silêncio, pois vivenciareis em breve grandes acontecimentos, mas isto só quando aprenderdes a introspecção e a obediência e vos forçais a não permitir que apareça novamente o velho mal. Desejais vivenciar o maravilhoso? Então me obedeçam e acreditem em Minhas palavras. Elas desejam obedecer, e tu também, Lisa, obedece às Minhas palavras, para que renasças totalmente.

Lisa disse chorando:

- Irmão, não Te afastes de mim. Quando Te afastas, tudo aqui se torna sombrio, e eu tenho que Te encontrar novamente Fica, por favor fica, eu sinto que és mais do que o Doutor. Um amor como o Teu só o Bom Salvador pode Ter. Se meu amor for pecaminoso, deixa-o ser. Amar-te, nem que seja uma só vez, me basta, pois então poderei viver da lembrança.

- Então vem Lisa e te satisfaz no Amor. Eu não conheço nenhum Amor pecaminoso; todo Amor é bom.

Lisa então correu para se abrigar junto ao peito Dele e chorou de alegria. Quando conseguiu se acalmar, disse:

- Tu és Aquele por quem meu coração ansiava. Tu és Aquele que deu aos meus e a mim a Luz e a Vida. Tu és o eterno Pai, pois de ti vem toda felicidade de meu coração. Oh meu Pai, meu Salvador, tu não estás zangado comigo por eu ser pecadora e tu Santo? Não me castigues por eu estar tão fora de mim; mas não sabes como me sinto bem..

- Minha Lisa, trata de Me amar mais e mais, e Meu Espírito será então teu guia. Se fosses uma pecadora, Eu não estaria aqui. Onde Me encontro, começa o Céu, e Meus filhos o vivificam. Agora, porém, Me sê fiel, para o bem de todos.

- Oh meu Jesus, fica mais um momentinho, deixa-me olhar mais uma vez bem no fundo dos teus olhos e beijar-te de novo; daí então, toda saudade acabou.

Ela se abraçou ao Pai mais uma vez e O beijou com todo o amor de seu coração. Colocou sua mão em seus ombros, O olhou por uns instantes e disse:

- Meu Jesus, meu Pai desde a eternidade e até a eternidade ¾ o que significa que o Pai já o era desde o princípio e o será por toda a eternidade. Estou livre agora do poder que me destruía e do qual não conseguia me libertar. Sei agora que não tenho mais culpa ante ti. Exige de mim o maior serviço, que o realizarei com toda a alegria. Sei agora que não te perderei jamais.

- Lisa, Minha filha, as que Eu amo, estas são totalmente livres. Nunca exigirei um serviço, mas sim pedirei com prazer por mais um, ou vários. E eles poderão usar Minhas Forças, Meu Amor, para o bem e a ressurreição dos que estão perdidos e sem rumo. Tu olhastes em Meus Olhos e Eu teria preferido que olhasses Meu Coração. Por ali, terias visto Meu Eterno Perdoar. Mas isto que agora ainda não consegues fazer, poderás em algum tempo. Eu te abençôo, especialmente para agradecer-te pelo teu amor. Deixa Minha Vida Santificada renascer totalmente em ti. Minha Bênção e Minha Santa Paz estejam contigo pela eternidade. Amém.

Amor sem fim

Ele tinha partido, e ela estava repleta de júbilo, pois conseguia agora saber o que era ser feliz. Joana muito se alegrou, ao saber que Lisa também tinha conseguido alcançar Vida, pois tratava os doentes com muito mais carinho, e eles estavam muito agradecidos por isto. Eles saíam agora aos jardins, visitavam outros irmãos e todos se esmeravam em demonstrar seu amor, dando flores e frutas. Diferentes tarefas lhes eram ensinadas, as quais serviam para a limpeza de suas almas. Lisa, que estava cheia de amor, era a mais ativa, pois só desejava causar alegria a Jesus. Ao andar entre as localidades, os doentes aprenderam muito com os outros. Mesmo o grande egoísmo teve que ceder lugar ao amor fraternal. Ao encontrarem, porém, seres mais infelizes que estavam aos cuidados de outros irmãos, a compaixão começou a nascer em seus corações. Já que não estavam em condições de ajudar, choraram e perguntaram à Joana o que seria viável fazer, pois era impossível assistir impassível ao sofrimento cruel dos irmãos.

- Nada é possível fazer, a não ser orar, orar muito, para que as forças de nossas orações os envolvam, pois eles ainda nem sabem que são perdidos e desgarrados. Os irmãos já vão conseguir um progresso com os mesmos. É bom que não consigam nos ver, pois não seria nada bom ao nosso bem-estar, já que nos agrediriam.

- Como é possível? Eles têm olhos tal qual nós.

- Sim, mas O Santo Pai, em Sua Sábia Ordem, fez com que nós os víssemos, e eles não a nós, pois não entramos na sua dimensão. No momento em que nosso amor aumenta, nossa áurea aumenta, o amor toma conta totalmente de nosso "eu" e nossa dimensão alcança uma amplitude tal que nos habilita a servir cada vez mais. Os seus enfermeiros nos vêem, mas não podem vir a nós, pois sem a guarda deles, seus pupilos causariam muito mal.

- Mas irmã Joana, isto é muito triste. O Salvador não pode fazer nada? Não pode ajudar?

- Sim, mas eles ainda não querem o Salvador. Aqui no mundo eterno, só a vontade própria tem valor.

- E´ estranho. Os irmãos enfermeiros podem ajudar; por que o Salvador não?

- Porque eles são os intermediários entre os doentes e o Senhor. Vós éreis tão miseráveis quanto estes doentes. Não tínheis outro querer, que não o mal que vos tornara extremamente infelizes na vida terrena. Vede como sois felizes agora. Quando vossa vontade pertencer completamente ao Salvador, sereis milhões de vezes mais felizes do que agora e talvez possais vos tornar enfermeiros e intermediários para vossos irmãos mais infelizes.

- Irmã Joana, somos tão maus assim que o Salvador ainda não vem nos ver, ou será porque usamos estas roupas tão horríveis?

- Para acontecer, tudo precisa de tempo. Para o Salvador Jesus, ninguém é mau demais, ou sujo demais. Todos; todos sim, todos usufruem de Seu amor Divino, mas a prisão da alma e do espírito e a sujeira que há na alma são as barreiras que nos separam do Salvador. Desconhecido e invisível, Ele sempre Se encontra junto a nós e sempre espera, para que seja reconhecido e visto . Seu coração está cheio de Amor e Misericórdia e cheio de ardoroso desejo por Seus filhos, mas Ele tem que aguardar.

- Irmã Joana, - disse uma outra - isto não pode ser, pois eu tenho tanto amor por Ele... Para agradá-Lo, gostaria de fazer tudo. Se estivesse aqui, Ele saberia.

- Ele sabe, Dora. E para provar isto, aqui tens um cálice cheio de vinho para ti. Prova-o e bebe. É teu.

- Joana, posso ficar com o caneco, ou tenho que devolvê-lo?

- Podes ficar com ele; mas que pretendes fazer?

- Posso dar de beber àqueles pobrezinhos lá?

Dora bebeu somente um gole e disse:

- De Ti, meu Salvador, ele vem e nele Te encontras. Tomem minhas irmãs, mas somente um golezinho, para que dê para todos.

- Dora, minha irmã caridosa, podes, mas não te aconselho a fazê-lo assim restritamente. Compartilhaste o vinho com tuas irmãs, e vos digo agora: bebei mais, para fortificar-vos, especialmente vosso espírito. O caneco não ficará vazio. Pediremos depois ao irmão encarregado dos pobres que apanhe o caneco, quando formos partir.

De fato, o caneco não ficou vazio. Ele sempre enchia novamente, quando passava às mãos do próximo a beber. Após, colocaram o caneco no meio das ervas e Joana chamou aquele que a interpelou:

- Irmão, aqui está uma saudação do Eterno Amor, para que te fortifiques.

Neste momento, todos foram vestidos com lindas túnicas azuis, que deixavam os braços a descoberto. O aspecto de todos era o de alguém sadio. Não se pode imaginar o júbilo que isto causou, e todos foram para casa cantando alegremente. No caminho, encontraram com mãe Anna e pai Hernrique.

- Vinde conosco - disse Joana singelamente. Aconteceram coisas tão maravilhosas, que deveis ouvir.

Dentro de casa, houve mudanças também. A escada que levava ao andar de cima era de mármore branco e bem ampla, mas suave, como que coberta de tapetes. A sala era como a do andar térreo: cheia de grandes janelas, de onde se podia ver os jardins. As mesas estavam arranjadas em forma de cruz, cheias de vasos com flores. Na cabeceira, uma bandeja com copos. Ao ver isto, Dora exclamou:

- Vê irmã Joana, meus copos musicais! Posso tocar?

Pegou imediatamente nos pauzinhos e com estes acariciou os copos. Dora logo começou a tocar músicas tão maravilhosas, que ninguém se mexia; quase não se atreviam a respirar, de tanto encanto. No fim, Anna disse:

- Filhos, isto tudo vos pertence. Dora vai lhes dar lições, e muitas coisas lindas aprenderão. Mas lembrai-vos: isto não é entretenimento, mas sim piedade. No dia de hoje, recebeste a graça de seres resgatados. O Eterno Amor enfeitou vosso lar, vos vestiu lindamente com roupas claras e vos colocou no mesmo patamar dos outros. De agora em diante, não vale serdes somente "os resgatados", mas deveis sim salvar outros. Vistes os pobrezinhos quase perdidos na casa do irmão. Será necessária uma enorme dose de paciência, amor e perseverança, para fazê-los esquecer a Terra, que os marcou tão cruelmente com o espírito da matéria. Igual a vós, quando estáveis no patamar mais miserável. Mas agora podeis olhar com olhos brilhantes vossa salvação pelo Amor de Jesus, nosso Senhor. Todos devem ser salvos da mesma maneira. Para que isto aconteça, precisam de nossa ajuda, com a qual Jesus conta. Vós quereis vos tornar filhos, não é?

Todos prometeram se esforçar ao máximo e se colocar nas Mãos de Senhor. Anna disse então:

Então vinde a casa minha e do pai Henrique, para que vossos seres e vossas vidas sejam unos com o Pai e possais evoluir, para o vosso bem e dos outros.

Uma vida completamente nova aconteceu deste momento em diante, na casa de Joana. Não havia mais diferença alguma, em lugar algum. Somente uma coisa ainda não era compartilhada: a noção de que o Jardineiro era, de fato, o Eterno Pai e Salvador. Todo trabalho era realizado por todos. Em conjunto, também se meditava e era maravilhoso o que o espírito lhes revelava. Em uma estas seções de meditação, apareceu o Senhor, que ainda era o médico para maioria. Rapidamente, trouxeram o que havia de melhor e mais bonito do jardim. A mesa na qual Ele tinha se sentado parecia um mar de flores. As outrora doentes, que achavam ainda dever ao médico por sua saúde, queriam fazer mais, mas Ele disse:

- Crianças, amai-Me e a todos que chegarem junto a vós; ainda que sejam os mais extraviados, todos precisam de um redentor e salvador. Não deveis lançar de uma vez vosso amor sobre eles, mas sim uma brisa de amor e felicidade deve emanar de vós. Isto destruirá as forças de tudo o que for mal ou ruim e tornará tudo bom e verdadeiro. Este Amor é Minha Vida e neste Amor Eu gostaria de viver por vós, pois vós também deveis viver assim em Mim.

Dora disse então:

- Querido e Bondoso Doutor, tu já habitas nossas vidas por muito tempo, pois és o nosso Amor. Sonhamos contigo muitas vezes, com exceção de Joana e Lisa. Mas querido Doutor, dize-nos agora, por favor, Teu Nome. Chamas a nós todas pelo nome, e nós só sabemos de ti que és o bom e carinhoso Doutor.

- É, minha querida Dora, Meu Nome é um pouco complicado... Todos aqueles que Me conhecem sabem Meu Nome perfeitamente bem, mas os outros não o conseguem. Nós nos encontramos em um grande mundo erspiritual, que é eterno. Tudo aqui que é pronunciado só pela boca, se torna uma grande mentira; mas o que se origina no coração e flui pela boca, isto sim é verdade e vida, de acordo com a evolução que existe no coração. Meu Nome não deve ser mentira, mas Verdade e Vida. Porém toda vida se origina da Vida Original de Deus, o qual é eterno. Então Deus e Vida são unos, assim como amor e Vida. Entendeste-Me Dora?

- Sim, eu te entendo agora, mas posso dar minha resposta com meus copos musicais? Tu estás sorrindo...

Dora passou a tocar e cantar:

“Abri bem as portas e portões;

Para que possa entrar em júbilo o Reino dos Céus;

Mas quem é aquele que é o Rei dos Reis?

E cujo coração está repleto de Amor: o Salvador de toda Salvação;

Pois entra em nosso coração;

E leva-nos todos em direção ao céu, como filhos Teus;

Tu, pai de todas os pais.”

O Pai se levantou e disse:

- Dora, eis aí a resposta correta, que veio de teu coração. Estais todos satisfeitos com a resposta?

O que se seguiu é indescritível: uma explosão de alegria que não queria se acalmar. O Pai disse então:

- Filhinhos, até que enfim me reconhecestes. Quantas vezes aqui estive com o coração sangrando, para lutar por vós! Somente Meu coração pode isto e somente Eu posso dá-lo às pessoas certas. Mas como vós finalmente acolhestes por completo meu Amor, também e somente a partir deste momento, sabereis o que é ser feliz. Joana e Lisa não Me mostraram a vós. Foi por desejo Meu, pois quero ser reconhecido e amado, estando vosso livre arbítrio completamente livre de qualquer influência externa. Ouvi agora com atenção: Conseguistes finalmente escapar de toda ou qualquer influência terrena, mas ainda não estais completamente livres. Por isto, praticai constantemente a caridade, crescei na fé e na humildade, e Meu Espírito poderá completar a vossa salvação e vos preparar para servir em nome de Meu Espírito. Entre as pessoas que habitam a Terra e lá vivem quase como animais, tudo fazendo para destruir um ao outro, Meu amor é somente um pálido vislumbre. A salvação dos terráqueos se encontra sobre pernas bem bambas. Eu vos pergunto: “O que será deles, quando chegarem à eternidade?” Eu não posso recebê-los. Meus anjos não os entenderão, pois se baseiam leis eternas. Só restarão os Meus filhos, para cumprir esta árdua tarefa de trazê-los de volta a Mim; mas Meus filhos são tão poucos, para trazer de volta à casa paterna milhões de desgarrados e perdidos... Poderíeis desistir da felicidade de Comigo coabitar e de vos dedicar a salvar estes pobrezinhos, tal como já se dedicam Joana e Lisa?

Então Dora pede para dar a resposta com seus cristais, cantando:

“Oh, Pai Jesus, minha vida és Tu;

Uma vida cheia de prazer e felicidade;

Oh Jesus, meu Salvador, minha meta és Tu;

Uma meta que exige muito esforço e habilidade;

Oh Jesus, Meu Pai, Teu é meu coração;

É Teu o amor que vem de mim;

Toma-me e me leva para Teu coração;

De agora em diante, Te pertenço,

Somente a Ti, somente a Ti;

Toma meu amor, pois ele é só Teu;

Pois, por toda a eternidade, sou tua filha;

Total e eternamente sou tua filha. Amém.”

- Esta é a vossa resposta também, minhas crianças? Sim, Eu a leio em vossos corações. Por isto, vou vos proporcionar tanta felicidade, como Me destes com vossa resposta. Neste momento maravilhoso, anjos em vestes luminosas chegaram. Um portava um jarro e uma taça, outro uma bandeja de pão, que depositaram ante o Senhor. Foram depois ao armário, apanharam copos que colocaram em cada lugar, curvaram-se ante o Pai e ficaram junto à porta. Ele disse então:

- Vinde crianças. Sentai ordenadamente. Eu quero tomar a refeição do Amor em vossa companhia. Venham minhas amigas. Distribuí o pão e o vinho, pois hoje quero Me satisfazer à mesa com Meus filhinhos. Eles assim amadurecerão, para sentarem à eterna mesa eterna paternal. Comei e bebei, meus filhos amados. Fortificai-vos nesta refeição divina e fazei com que vosso amor e vossa coragem sejam por elas revitalizados.

O pão e o vinho eram tão deliciosos, que qualquer comida anteriormente digerida era inexpressível. O pão não acabava nunca, nem a jarra esvaziava. Todos permaneceram por longo tempo à mesa e escutaram as palavras lindas de seu Pai. No fim, Ele disse:

- Crianças, tenho que Me separar de vós externamente, mas no coração, permaneceremos unos. Vós, Joana e Lisa, representais totalmente Meu Amor e Minha Vida. Vós outros representais o pão e o vinho, que é a salvação para todos. Vinde aos Meus Braços, junto a Meu coração e recebei todo o Amor Paterno.

Todas estavam vestidas de branco, tal qual Joana e Lisa, e receberam felizes mais este momento de amor junto ao Peito do Pai, o qual Se despediu. Os anjos se curvaram à frente dos filhos e partiram também.

Viver no Amor

Uma vida nova começa. O cuidado dos jardins era a tarefa principal, pois sempre tinham que ter frutas e flores para os que ali habitavam, ou para os que os visitavam, aos quais tais dádivas eram pura felicidade. Mas os corações se iluminavam realmente, quando Joana começava a falar do Salvador. Todos desejavam vê-Lo, nem que fosse por uma única vez. Despertar este sentimento era o motivo da visita. Sempre ao chegarem em casa, todas se dedicavam à meditação. Numa destas, chegou um jovem maravilhoso, acompanhado da avó de Joana. Ambos estavam envoltos numa áurea de amor e luminosidade. Joana logo reconheceu sua avó e disse:

- Nossa felicidade agora está completa. Sede bem-vindas no espírito do Amado Pai. Eu vos peço que permaneçais um longo tempo aqui.

- Vai ser um prazer, e minha felicidade é total, pois te sei na casa do Pai, minha querida Joana. Já te livraste de toda a dor? Desejarias retornar ao mundo do qual vieste?

- Minha mãe, aqui é meu mundo. Aguardo constantemente doentes e pobrezinhos que necessitam de nosso amor e nossos cuidados. Aqui me é permitido trabalhar; neste lugar, onde o Santo Pai também trabalhou com tanta piedade e paciência, onde todas as minhas irmãs foram libertas e salvas.

- Minha Joana, te agradeço pela dedicação com que realizas o trabalho para o Senhor. Nós não viemos aqui para te afastar do teu lar, mas sim aprontá-la ainda mais nesta tarefa divina. Nisto, vosso irmão aqui vai ajudar.

E dirigindo-se a todas, continuou a avó de Joana:

- Queridas irmãs no Senhor, nosso Pai Amado, nossa felicidade é Sua felicidade, e Seu Amor, nossa vida. Todos nós, que O servimos com amor e dedicação, vivenciamos o poder de Seu Amor. Como o universo é pobre sem este Amor! Como é insignificante tudo, comparado à vida que Ele nos dá! Vós todas tínheis razão de vos queixar da vida como humanos e pouco fostes preparadas para saber a razão de vossos sofrimentos. Por que tínheis que passar por esta provação? Por que? Porque a razão da vida só nos é revelada, quando reconhecemos esta Vida em Deus. Eu também tive minha missão na vida terrena, que era construir lares para os mais miseráveis dos miseráveis, para os mais pobres dos pobres. Este lar deveria acabar, fazer esquecer todo o sofrimento e toda miséria. Claro que não conseguíamos isto sempre, pois constantemente havia sentimentos materialistas e egoísticos a nos atrapalhar, e estes sentimentos nos dominavam muitas vezes.

Bem, venho vos apresentar agora o real motivo de minha visita: em vossos olhos, vejo o brilho da alegria; de vossos corações parte um sentimento de felicidade, o qual, por amor, deseja realizar obras supremas. Mas ainda existe em vós o sentimento da gratidão, que deve ser afastado definitivamente de vós, pois o Pai não quer vossa gratidão, mas sim a vós como um todo. Tudo que está vivo em vós, ainda não se tornou Sua propriedade. Não vos assusteis com o que vos digo, mas alegrai-vos com isto, para que o melhor do melhor se torne vosso ser. Em todos os ensinamentos que recebeis dos anjos e dos seus servidores, tereis ferramentas que aplainarão o caminho e vos tornarão de fato servos de Seu Amor. Neste momento, tereis conseguido apoderar-vos de Sua Luz. Nesta Luz, tudo vos será revelado. Devereis vos tornar seres perfeitos, como o Pai é Perfeito. Justamente vossa saudade cheia de gratidão mostra que ainda sois imperfeitos. Como vos sentistes felizes, quando nosso Pai aqui se encontrava e de tudo vos provia! Vosso lar se transformou num céu. Vós freqüentemente vos perguntais por que nosso amado Pai não permanece sempre em nossa companhia. Novamente, a saudade vos enche de desejo de estar ao Seu lado. Mas Ele, que conhece vossa saudade, também tem a saudade de Seus filhos perfeitos. E alguma vez já vos perguntastes como conseguirias acalmar a saudade do Pai? Isto só pode ser feito por um filho Seu. Nenhum anjo, nenhum servo, mas um filho, que ocupará Seu lugar junto a vós; pois quem ouve o filho, ouve o Pai, quem se eleva totalmente na Vida do Salvador, poderá substituí-Lo. No Espírito Divino, será revelada a Vida Divina e Ele próprio, que é a Vida de toda vida, como o Amor do amor, sempre estará na casa e no coração de Seus filhos. O universo todo está cheio de maravilhosas criações, porém filhos que só vivem Dele e por Ele existem poucos. Obras que são realizadas pelo seu Poder e Força o deixam muito feliz, mas um filho, por menor que seja, que consiga levar ao Seu Peito um único irmão ou irmã, O torna o Pai mais feliz de todo o universo. Vede, meus amados irmãos, este amor não deve ser um eterno agradecimento, mas sim Vida, Vida Santificada, como a que foi emitida da cruz do Gólgota e a que penetrou bem no fundo do coração do homem, que o habilita a se erguer como verdadeiro filho de Deus cheio de Amor, igual ao do seu Pai. O Pai só tem um único Espírito. O mesmo emana de ambos, Dele e do filho, e serve ao filho para provar a Eterna Divindade, a qual, porém, só pode se manifestar de acordo com a evolução de Seus filhinhos. Isto, eu precisava dizer-vos. Meu Pai em mim diz: " Filhinhos, filhinhos, tudo o que ainda vive em vós permiti que se transforme em Amor. Grandes tarefas Meu Amor espera que realizeis, pois tudo se torna escuridão e morte na Terra. Grande será a miséria, o frio, o medo e a dor, mas vós, como meus filhos, deveis vos tornar salvadores. Ajudem onde for possível e necessário. Amém, amém, amém ."

Por longo tempo, todos se calaram. Então Joana disse:

- Amados, vossas palavras chegaram ao fundo de meu coração e novamente me mostraram uma nova face do Amor do Senhor. Agora, gostaríamos de vos oferecer uma bebida do vinho do Amor, que nos foi dado pelo Senhor e só é ofertado àqueles que nos fazem conhecer o Santo Pai mais e mais. E para iniciar a nova etapa de conhecimento, vamos transformar vossas palavras em palavras do Pai e vosso amor no Verdadeiro Amor do Pai.

Falou um irmão:

- Joana, ressuscita agora no Espírito do Pai e deixa que Sua Vida Divina sempre te oriente. Assim, tua próxima tarefa será pura felicidade para ti.

Depois de observarem os jardins e suas obras, os dois se prepararam para partir e as meninas os acompanharam por um longo trecho do caminho. Ao voltarem para casa, encontraram tudo pronto para uma festa, pois amigas tinham chegado para visitá-las e todas sentiam tal alegria, como nunca tinha sido possível na Terra. O ponto culminante da festividade foi o senhor mesmo, que veio e agradeceu a todos pessoalmente pelo amor que Lhe tinham e pelo amor aos doentes e desgarrados. Entre Seus filhos, o Santo Pai disse:

- Filhinhos, vossa alegria faz bem ao Meu Coração, e vós a mereceste, pois vossa tarefa não foi nada fácil. Quem de vós desejar ser dispensado desta tarefa tão difícil Eu dispenso imediatamente e lhe proporcionarei uma felicidade digna dos céus.

Disse Joana:

- Pai, eu quero ficar aqui e ajudar estes pobres doentes, em Teu Espírito. Aqui é meu lar, onde, com Tua ajuda e bênção, consegui curar minhas irmãs e torná-las tuas, para Tua felicidade. Só uma coisa eu Te peço, querido Pai: vem mais vezes, pois nossos corações anseiam por Ti, Tua presença é nossa felicidade.

- Joana, tuas palavras Me são valiosas, pois são conseqüência de teu amor. Já que queres aqui ficar, te enviarei dois emissários Meus, que te levarão, a ti e a Lisa, junto aos desgarrados, para que vos torneis mais fortes e seguras. Eu poderia te tornar tão forte quanto Rafael, mas isto toldaria tua felicidade. Eu poderia te tornar sábia e forte, mas perderias em amor. Por isto, deixo-te como és, pois tenho certeza que vencerás sempre dentro do Meu Espírito, e esta conquista te fortalecerá e dará grande alegria.

Oh meu Pai, como és bondoso. Se fosse possível, eu Te amaria ainda mais depois disto. Sim, manda-me os emissários; mas Pai, por que somente eu e Lisa devemos ir? As outras meninas Te amam ainda mais do que eu e também querem trabalhar.

- Joana, ainda não. O amor e a vontade de trabalhar delas é grande, mas Meus Olhos vêem mais do que tu. Deixa estar como eu disse. Vê minha filha, há muitos em tua volta, mas poucos são os verdadeiros auxiliares.

- Oh Pai amado, então me deixa trabalhar em prol dos irmãos desgarrados, pois és Tu que tudo determina. Fica conosco para uma pequena refeição, e te peço novamente: dá-me Tua bênção e Teu Amor.

- Ficarei com prazer, mas para tua alegria, já está tudo preparado.

Logo, todos se acomodaram no salão festivo. Dora tocou seus cristais, e uma doce melodia se fez ouvir. O Pai abençoou a refeição, o pão, o vinho e as frutas maravilhosas, e disse depois:

- Filhinhos, guardai no mais íntimo de vosso ser as palavras que vos digo. Esta refeição é novamente uma refeição do amor, que vos fortificará e tornará mais felizes. Mas não acheis que sois bem-aventurados, pois toda a dor se transformará em felicidade e toda miséria em alegria, pela Minha Bênção. Vossa bem-aventurança ainda é muito pequena. Existem outras milhares de vezes maiores, mas vós ainda não conseguiríeis suportá-las. Mas para vossa alegria, vos digo: gosto de ficar convosco e Meu Coração está repleto de contentamento. Não vos esqueçais de vossos doentes, pois eles vos aguardam cheios de ansiedade; e vós bem sabeis como é amargo viver sem amor, sem amigos, sem alegria. Da mesma maneira que não sabeis suportar grandes alegrias, não podeis suportar grandes maldades. Por isto, fortificai-vos, a fim de que consigais suportar tarefas mais difíceis. O inimigo está fazendo uma grande colheita. Todos acham, devido à Minha Paciência e Benevolência, que não existo mais; mas bem amargo e doloroso será o despertar... Vós Me conheceis como Amor, Pai e Salvador; mas aqueles Me conhecerão como Deus e Juiz, e Este não alivia as dores. Vossa tarefa conseguistes completar bem, pois era dirigida àqueles que desejavam ser resgatados. Podereis dar este mesmo amor para aqueles que não Me amam e até mesmo Me odeiam? Não e´ necessário responder, pois consigo ler vossas almas. Por isto, fazei introspecção, para ver se tudo mesmo está cheio de Meu Amor Divino. Quando vosso amor se igualar ao Meu, todas as portas se abrirão e grandes fluxos de poder vos envolverão, mas este poder não vem do Meu Poder, e sim de vosso próprio amor. Usufruí Meu Amor e Minha Luz ao máximo, pois assim podereis iluminar os desgarrados. Crescei em Meu espírito e assim podereis auxiliar onde a perdição ameaça. Minha Bênção permaneça convosco, para que vos torneis bênçãos para todos.

Em tempo terreno, o Pai permaneceu por três dias no convívio das meninas e então disse:

- Filhinhas, Eu parto agora fisicamente, mas espiritualmente não posso Me separar de vós. Por isto, podereis ficar Comigo de Coração para coração. Tarefas mais importantes exigem uma maior sabedoria, maior inteligência, maior cuidado e mais que tudo, maior segurança. Tudo já é vosso. Eu não vos estou dando nada novo, somente vos alerto para aquilo que há muito já possuís. Vinde novamente aos Meus braços, para fortificar-vos de acordo com vossas tarefas em Minhas Obras.

Entre os desgarrados

Todos acompanharam o Senhor por um longo trecho do caminho e depois entraram na casa de Anna, onde foram efusivamente bem recebidos. Após três dias, dois magníficos anjos chegaram para apanhar Joana e Lisa. Anna as abençoou com muito carinho, dizendo:

- Daqui, onde iniciastes vossa caminhada, podereis partir para o campo inimigo bem protegidas, a fim de ajudar os pobres caídos. Podereis conhecer o espírito que bloqueia todos os caminhos, para que nada vos seja desconhecido. Ide, pois nosso amor estará convosco.

Anna ofereceu aos anjos um pouco de vinho. Após isto, um anjo disse:

- Irmãs, nossos corações estão repletos de alegria em poder servi-los. É uma glória estar entre aquelas as quais o Santo Pai abraçou. Porém aqui não podemos ficar, pois nossa vontade deve obedecer as leis da eterna Ordem. Nós somos os executores da Eterna Vontade de Deus e dela não podemos nos afastar nem um milímetro, devido à Ordem. Na volta, poderemos ficar um pouquinho em vossa companhia, mas agora, devemos cumprir a Vontade do Senhor.

Após uma breve despedida, os quatro chegaram rapidamente a uma mega cidade, cujo aspecto ao longe já parecia tenebrosa. Foi quando disse o anjo:

- Não temais e não vos assusteis. O que ouvireis e vereis é propriedade do Inimigo da Vida, o qual é completamente impotente contra vós. Uma nova etapa em vossa vida se inicia. Fostes chamadas a realizar tarefas mais importantes. Por isto, o Eterno Pai vos permite vivenciar uma situação da qual não tendes a mínima idéia. Até agora, só tratastes de pobres, doentes e desgarrados que não tinham culpa alguma pela triste situação que aqui chegavam. Agora, tratareis dos perdidos e dos cegos, que pela sua própria culpa causaram a miséria em que estão, e da qual eles não têm conhecimento. A tarefa é por isto muito mais difícil, pois nos encontramos no reino do Inimigo da Vida. Porém, pelo Poder e Graça de Deus, somos invencíveis. Vamos pois nos aproximar desta cidade em nome do Senhor. Antes, vamos nos cobrir com estes mantos. Sem brilho algum e com os rostos sérios, se aproximam lentamente da cidade, onde havia algumas casas em fogo e pessoas tentando em vão apagar o incêndio. Eram poucas, pois a maioria se encontrava em seus porões. O anjo então disse:

- Nossos olhares não devem se dirigir às pessoas. Já que somos habitantes do mundo espiritual, nossos olhos devem se dirigir ás almas daqueles que vagam por aqui, sem saber que já não são mais humanos. Vamos dar as mãos ao entrarmos em sua dimensão.

Sombrio e cinza era tudo em sua volta! Quando seus olhos se acostumaram à escuridão, notaram vários vultos tentando salvar objetos dos escombros sob palavrões e gritos. Outros estavam silenciosos, mas cheios de dor.

- Não podemos ajudar estas pobres criaturas? - perguntou Joana. Devem estar com muita dor...

E o anjo respondeu:

- Ainda não, querida irmãzinha, ainda é cedo demais para nossa ajuda. Observa tudo e não teme nada. Ainda não somos vistos, nem ouvidos. Estes ainda não sabem que morreram. Seus corpos ainda se encontram sob os escombros.

Alguns agora se libertam dos escombros e gritam, outros ainda presos clamam por socorro, mas um dos primeiros respondeu:

- Virem-se sozinhos. Saiam daí por si mesmos, pois eu vou ver como consigo sair daqui. Estou cheio de sede e fome. Foi uma grande burrada não levar nada para os porões.

- Onde estão aqueles que nos libertarão? - perguntou outro. Ora vejam: nós organizamos tudo, pagamos; e agora que precisamos de ajuda, não encontramos ninguém! Quanto tempo nos encontramos neste buraco? Pela minha fome, no mínimo três dias. Ufa, como trabalhamos!

- Tens razão vizinho, mas vamos embora, pois isto aqui fede feito sepultura. Eu até estava achando que tinha morrido.

- Eu também, mas o senhor tem fósforo e uma lâmpada? Se não estivesse tão escuro... Não dá para reconhecer nada. Dê-me sua mão e vamos procurar uma saída. Deve existir uma saída...

Eles tropeçaram por cima dos escombros, do entulho e das cinzas, mas não encontraram nenhuma saída. Juntaram-se agora a eles outros que conseguiram se libertar, mas não existia alegria. Um deles disse:

- Linda bagunça! Estamos presos numa armadilha. Não há saída. As pessoas devem saber que ainda estamos no porão! Imagino o que vai ser, quando a fome aumentar...

- Não chame a desgraça! Já vão sentir nossa falta. Até agora, todos os enterrados foram resgatados, e nós teremos que aguardar.

Eles esperaram por um certo tempo, então um disse:

- Diabos e diabos! Já estamos aqui há horas, mas nada se escuta de socorro. É de desesperar. Ninguém tem algo para comer? A fome está desesperadora.

- Algo deve acontecer...

- O que deve acontecer? Nada! Nós vamos espichar as canelas aqui, enterrados vivos, pois cá estamos há mais de uma semana. Cuide-se aquele que vier me pedir donativos. Vou mostrar com quantos paus se constrói uma canoa. Primeiro, construímos nossas casas, enaltecemos nossa posição social, nossas instituições sociais. Depois, nos aprontamos para a primeira grande guerra, pagando os armamentos com nosso dinheiro. Agora, estamos sentados no porão, atrapalhados como um rato na ratoeira.

- Cale-se! Com seu resmungar, nada melhora. O Fuhrer tem tudo sob controle; dentro em pouco, nos libertarão.

Enfim todos conseguiram se libertar dos escombros e estavam todos juntos. Em vez de se ajudarem uns aos outros, eles argumentavam. Um perguntou:

- Onde estão minha mulher e filhos? Alguém os viu?

Ele chamava, mas não tinha resposta. Os outros também chamavam pelos seus, sem resultado algum. Um outro disse:

- Não é possível. Devemos procurar. Não é possível estarmos num único porão e perder alguém.

Todos começaram a procurar e examinar o porão, sem resultado algum.

- E´ de enlouquecer. Eles não podem ter nos esquecido. Nós temos que achar uma saída.

Procuraram novamente e acharam finalmente uma fenda na parede, onde era possível retirar algumas pedras. Trabalharam com afinco e com grande esforço conseguiram fazer um buraco, por onde passaram ao outro lado, mas só encontraram ruínas. Ficou muito mais escuro e mínima a possibilidade de sair dali. Eles se aglomeraram no chão e maldisseram um ao outro com os piores palavrões. Um deles por fim disse:

- Devemos nos preparar para enfrentar nosso último momento na Terra, pois só a morte nos poderá libertar desta miséria.

- Mas eu não quero morrer. Justo agora, que tenho de tudo, não se atreva a falar em morrer.

- Bem, vamos então falar de vida, mas não seremos resgatados. Temos que sair deste buraco, mas de que maneira?

- Trate de conseguir isto, "senhor vida". Pensando nisto, não perco nada com a vida , pois não valeu a pena viver. Claro, quem como o senhor, que sempre teve tudo de bom, certamente não quer perder a vida.

- Por favor, cale-se com seu palavrear. Isto aqui é uma infelicidade, e tenho certeza que nos resgatarão

- Sim, vão nos resgatar, mas quando? Quem sabe quantos estão na mesma situação? Onde estão as mulheres, crianças e vizinhos? Talvez estejamos mortos e continuamos a viver, como era ensinado antigamente. Que horror: mortos, mas vivos. Isto é incrível!

- Se você conseguisse fechar esta matraca, senhor sabichão... Não basta estarmos neste buraco escuro cheios de fome?

O homem se levantou e bateu no outro. Em pouco tempo, a briga se generalizou. Uma pedra se soltou. Num instante, todos os briguentos, juntamente com entulhos, caíram em um poço. Gritos, imprecações e berraria; depois, o silêncio. As pessoas se achavam numa pedreira. Procuraram se situar e encontraram um lugar onde o chão estava firme. Com um pouco mais de firmeza, começaram a procurar saída, mas só ouviam lamentos na escuridão. Encontravam outros, mas em vez de se cumprimentarem, só perguntavam: "Tem algo para comer?" A situação se tornou extremamente desconfortável: estavam com frio, com fome, não tinham idéia onde se encontravam. Assim, iam de um lado para o outro na pedreira, enquanto o número de pessoas aumentava cada vez mais. Um deles perguntou:

- Quantos somos no total? Deve ter acontecido algo conosco, mas o quê? Ninguém tem uma lâmpada, para que possamos enxergar algo?

- Sim, aqui, uma lâmpada. Ela está no fim, mas poderia nos ajudar a achar a saída.

A lâmpada acabou no primeiro momento. Neste instante, houve um clarão, e um vulto estava no local. Este disse a todos:

- Não procureis vos libertar desta vossa prisão. É inútil. Vós morrestes. Vossos corpos se encontram sob os escombros de vossas casas e apodrecem. Eu posso livrar-vos se estiverdes prontos para vos humilhar e fazer tudo o que eu vos aconselhe, pois sou o emissário do Eterno Deus.

A resposta foi risadas de escárnio. Disse um outro então:

- Não se faça de palhaço. Tem outras piadas semelhantes?

Se tu achas que isto é piada, quando vos é mostrado o caminho da salvação, eu só tenho três palavras a vos dizer: só Jesus salva.

As gargalhadas aumentaram, mas o vulto desapareceu. As pessoas fizeram troça do mesmo, porém um argumentou:

- Não acho certo desprezarmos alguém que nos oferece ajuda, especialmente se nos diz que estamos mortos. Acho que fizemos uma grande besteira, pois nós não encontramos uma saída, mas aquele veio e foi embora.

Um profundo silêncio se produziu após estas palavras, e todos ficaram extremamente assustados. O anjo então se dirigiu às meninas:

- O que presenciamos é uma amostra. Em algumas horas, tudo vai se modificar. Vamos observar um outro grupo.

Novamente, um local em ruínas, escombros, cinzas e pessoas famintas. Um deles disse:

- Se eu conseguisse por minhas mãos no sujeito que nos colocou nesta situação... Acho um desaforo nos esquecerem aqui.

- Por que não aceitas a idéia de que estamos mortos? - disse um outro. Isto aqui é triste demais. Na minha opinião, deveríamos parar de nos preocupar com a matéria e começar a rezar, como fazíamos quando éramos criancinhas.

- Se não sabes dizer nada melhor, fica bem caladinho. Somos pessoas modernas e não precisamos de orações.

- Que palavras são estas! - disse um terceiro. Se estamos na desgraça, todos têm o direito de expressar sua opinião. Já que o senhor é tão moderno, por favor, seja mais decente. Vê, chegaram mais pessoas, muitas mais; não se sabe quantas devido à escuridão. Até que enfim, encontramos mais alguém. Vamos rápido procurar com elas algo para comer e beber.

Após uma cuidadosa procura sem algo encontrar, começaram a imprecar e maldizer a sorte. Os outros, no entanto, se recolhem a um canto, sem se atrever a falar. Disse então o primeiro:

- Quem está aqui? Quantos são? Ainda existem pessoas vivas? Estas não queremos, pois não servem ao nosso propósito.

- Aqui estão mais pessoas. - respondeu o modernista.

- Deixa-me ver. Que heróis! Vós vos chamais de pessoas e não sois nada mais do que espíritos como nós. Ainda não vos curaste de vossa ilusão de ser gente? Onde deixastes vossa razão? No abrigo contra as bombas? Observem, somos mais de cem e temos espaço suficiente neste buraco aqui. Onde está teu porão confortável? Onde estão as pessoas de tua casa? Onde te encontras tu, oh presunçoso supermoderno? È bom te acostumares, pois em nossa companhia, aprenderás o que é miséria e pobreza. Terás que te arrepender, pois sempre nos olhavas com desprezo lá de cima de teu pedestal. A ti conheço faz longo tempo. É tua vez agora de conhecer o povo ignorante.

- A tais palavras não me digno a responder. Podeis pensar que estais mortos. Nenhuma pessoa, nenhum Deus pode ajudar. Neste lugar, cada um é seu próximo. Há quanto tempo não como nada, mas ainda vivo? Sei que esta fome e esta escuridão se tornaram horripilantes, e no próximo passo, poderemos cair no abismo. Tuas palavras são bastante cordatas, mas achas mesmo que nossa vida material já era? Só de pensar, tenho calafrios.

- Tens que te convencer que é assim. Presta atenção, que te convencerás.

Então chega um outro e grita:

- Que segredos são estes?! Nada disso! No mundo dos espíritos não melhores, nem piores. Todos são iguais. Todos juntos agora, pois temos que sair deste buraco!

Alguns se agitam e se tornam agressivos. Puxam os outros de seus lugares. Estes se defendem e uma luta logo acontece, uns arrancando a roupa dos outros. Durante a briga, a escuridão assumiu uma cor avermelhada e tudo tem aspecto terrível. Foi quando disse Joana ao anjo:

- Não podemos ajudar estes pobres seres? Eles certamente sofrem dores horrorosas neste ambiente.

- Ainda não, querida filha do Senhor. Nós não estamos aqui para ajudar, e sim para observar a evolução daqueles que nunca precisaram de um Deus. Mais tarde, quando minha missão for completada, podes fazer o que teu coração manda. Mas atenção, vai ficar feio agora.

Mais grupos chegam. Nos seus rostos estão miséria, ódio e carência. A gritaria os atraiu. Nas suas mãos estão porretes que ardem qual tocha e causam muita fumaça. Nada ficou claro, mas sim mais avermelhado. Eles se jogaram sobre os brigões e bateram com os porretes de tal jeito, que todos estavam abatidos em pouco tempo. Procuravam por comida, mas nada encontraram. Então, enraivecidos, arrastaram os abatidos e os jogaram em um buraco fedorento e cheio de fumaça. Continuaram a procurar e encontraram o grupo que tinha se escondido num canto, aguardando resgate:

- Até que enfim, viestes nos resgatar. Trouxestes algo para comer?

- Algo para comer? Doce ilusão! Nós também estamos famintos! Saindo, saindo rápido de vosso paraíso, pois recebereis a paga do que nos fizestes sofrer por toda a vida.

Eles tentaram ficar e se defender, mas os de tochas ardentes lhes batem, roubam suas roupas e os jogam no precipício. Disse então Joana:

- Não dá mais para agüentar. Se eu tivesse que assistir continuamente a isto, duvidaria do Deus do Amor. Posso perguntar por que Deus se mantém tão quieto ante isto? Eu me lembro do esforço usado para nos converter. Por que não é usado com estes?

- Oh filha do Senhor ¾ respondeu o anjo ¾ o que assististe agora pode ter sido um inferno, mas o pior ainda está por vir. O Eterno Deus sabe de tudo isto, mas, a fim de salvar a estes para a vida eterna, deve lhes permitir esta evolução, pois eles eram pessoas de coração duro. Seu estômago era seu céu, sua carteira era Deus. Os oprimidos, na sua raiva cega, fazem o que o ódio os ensinou durante a sua vida terrena.

- O que vai acontecer agora? Seus gritos ferem meu coração. Quando estávamos no asilo, tínhamos que agüentar gritos, mas estes eram doentes.

- Oh filha do Senhor, estes também são doentes. Tudo o que aqui assistimos é purificação. Se estivessem vivos encarnados na Terra, sua escola seria mais fácil. Antes de mais nada, para vós, filhos do Senhor, nunca o pensamento que algo será perdido pode acontecer; pois o Senhor, que deu sua vida para a salvação de todos, confia em todo aquele que possui Sua centelha e o trata de acordo com seu amor. Tende paciência, pois junto a cada um, existem muitos socorristas. Vamos ficar aqui por mais um pouco, pois um novo ato vai começar. Ficai bem quietos, e que a Vontade do Senhor seja vossa força e nossa proteção.

Os quatro observam agora os infelizes bem de perto. O que parecia ser um precipício, de perto era um lamaçal. Já que a maioria havia perdido as suas roupas, a lama negra grudava em seus corpos. Por mais que tentassem, não conseguiam tirá-la. Começaram a se observar, pois se viam apesar da escuridão. Havia muitos, inclusive mulheres.

- Onde fomos acabar? Não há nenhuma saída?

- Temo que não, pois tenho agora a certeza: não sou mais um ser humano; eu estou morto, pois tal desgraça não é possível a um ser humano. Primeiro, soa a sirene. Vamos para o porão. Ouvimos impactos de bombas, depois, silêncio total. Não existe luz, somente miséria e miséria.

- É impossível que estejamos mortos. Nós falamos, sentimos fome, sede e mais que nada, dor; não só em braços e pernas, que parecem sadias, mas no corpo todo. Quase não dá para agüentar. Mas... quando chega o resgate?

- Este nós jogamos fora. A nós não é mais possível ajudar, pois a mão que se nos estendia para nos resgatar, nós a enxotamos com escárnio. O que vai acontecer agora é completamente incerto.

- Oh Deus, oh Deus, quanta miséria: morto, mas vivo; sadio, mas doente.; quase morrendo de frio, mas uma febre interna nos queimando as entranhas. Por quanto tempo temos que agüentar isto?

- Temo que seja eternamente. Não precisamos mais de provas da continuação da vida após a morte, pois estamos vivendo; mas em que estado... O importante agora é que concordemos, ou tentemos concordar. Também devemos encontrar uma saída. A vida espiritual não tem saída. Deve existir uma saída deste lamaçal.

Os que ouviram este discurso começaram a se lamentar, até que não se escutou mais uma palavra. Então um deles gritou:

- Silêncio! Nós precisamos de alguém que atue e pense por nós, pois aqui não podemos permanecer pela eternidade. Isto até Deus não vai querer.

- Tens razão colega. Deus não quis nossa desgraça, mas nós a quisemos. Por isto, Ele não pode nos ajudar. Como homens, éramos modernos demais para acreditar em Deus. Agora, nossa modernidade está se vingando. Eu considero impossível uma salvação; ao contrário, acho que só vai piorar...

Silêncio total e uma choradeira logo em seguida. As mulheres culpavam os homens. Os homens começavam a se tornar agressivos e logo estavam brigando de novo, esquecendo seu propósito de sair dali. Um raio novamente clareou a escuridão. Todos se assustaram e um anjo com uma espada flamejante estava à sua frente, e disse:

- Se quiserdes a salvação, então humilhai-vos e libertai-vos do inferno que está dentro de vós. Tratai de remediar tudo o que errastes, quando vivos. Deus é justo, e para todos aqueles que Nele crerem e viverem de acordo com Sua Vontade, Ele se tornará um Pai e um Salvador. Para aqueles que nunca O procuraram e até que tiveram a crença dos outros, Ele se torna um Juiz severo e lhes será muito difícil apagar sua culpa. Meu recado para vós não é uma sentença, mas uma advertência. Se permanecerdes neste estado de espírito, muito mal ainda vos acontecerá. Mas se conseguirdes vos livrar do orgulho, do egoísmo, de vossa arrogância e vos inclinardes ante o Pai, pedindo ajuda com corações limpos e humildes, obtereis ajuda não só para este estado miserável, mas sim para vossa eterna salvação.

O anjo desapareceu num piscar de olhos e todos estavam no solo, como que derrubados por um raio. Quando se recuperam, recomeça a mesma desgraça. Alguns queriam se redimir, outros achavam que aquilo foi uma visão, mas não chegavam a resultado algum. Disse então o anjo às meninas:

- Nossa missão acabou. Estes ainda precisam de tempo. Alguns encontrarão a salvação em pouco tempo, mas será difícil retirá-los daqui, porque os outros não o permitirão. Jogai vossos mantos fora, para que eles nos vejam por uns instantes. Nós, no entanto, retornaremos depressa para vosso lar, onde nos esperam.

Pronta para novas tarefas

Logo, estavam em sua confortável casa. Henrique e Anna estavam junto aos pupilos, para usufruírem um pouco mais dos anjos. Quando mãe Anna lhes perguntou o que haviam passado, as duas meninas choraram, e Joana falou:

- Que sabemos do mundo dos espíritos? Nada, absolutamente nada. Aqui, temos paz, felicidade e um céu. O que não dariam os outros, para ter só um pouquinho de nosso amor? Oh meu bondoso Pai, como deves Te sentir, quando Teu Boníssimo Olho vê estes desgarrados? E como Teu Coração deve doer por todos estes que não aceitam Teu Amor Paternal? Mesmo assim, Tu não os abandonas.

Todos olham preocupados para sua irmã, sempre tão alegre, mas tão triste agora. Os outros não a entendem, mas mãe Anna disse:

- Não fiqueis surpresos, pois elas viram coisas indescritíveis. Elas pensaram que sua vida anterior tinha sido um inferno, mas comparada com o que viram, pode ser considerada um paraíso.

Disse o anjo:

Vós, bem-amados, vós aqui podeis viver uma vida que podemos chamar de bem-aventurança. A beleza de vosso mundo, de vosso céu, são o resultado de vosso amor, que conseguistes conquistar pela graça divina. Vós estais bem agradecidos e fizestes uma boa obra aqui e em vós mesmos. Aqui, conseguistes crescer no Amor do Senhor e vos encaminhar na Vida Sagrada. O anticristo também produz sua obra e tudo faz para alimentar o egoísmo, o amor próprio e o ódio. Há uma luta terrível entre a Luz e a escuridão. Todas as forças são mobilizadas, para conseguir que o Pai Santificado e criador de todo o universo perca Sua paciência. Sim, o desejo maior do inimigo da Vida é conseguir que Deus use Seus poderes e Sua onipotência, para que o Amor e Sua entrega percam força. Nós, seus servidores e seguidores de Sua Santa Vontade, teríamos muito prazer em acabar com estes espíritos do mal, para que todas as lutas acabassem, mas o Senhor Bondoso e Magnífico Pai disse: " O Amor que está em Mim e que fez com que Eu oferecesse o maior sacrifício possível, para mostrar a todos os desgarrados e perdidos um caminho para a salvação, está disposto a se sacrificar mais uma vez. Isto é feito na confiança que deposito nos Meus filhos e ao apresentar ao inimigo a maior consideração possível, deixando-o completamente livre. No momento em que Eu fosse aplicar Meu Poder, Eu teria Me separado do Amor, e todo o sacrifício teria sido em vão. Mas enquanto eu tiver filhos vivendo em Meu Amor e de acordo com Minha Vontade, Eu vou evitar o julgamento ao máximo e Me entregarei à esperança de que todos ainda serão conquistados. "

Vede vós, muitos amados pelo Senhor, ante estas palavras, emudecemos. Para auxiliar-vos na luta contra o inimigo, nenhum esforço é grande demais, a fim de recuperar os caídos. É a nossa maior glória poder ajudar-vos e apoiar-vos. Não imagino qual seria vossa reação se pudesses ver quantos e quem vos auxilia invisivelmente. Sim, muitas vezes é o próprio Senhor quem vos acompanha. Disto, podeis ver como é grande a confiança que o Pai Celestial deposita em Seus filhos, apesar Dele ser Deus onipotente e criador de todos os céus e mundos. O que as duas irmãzinhas assistiram hoje é uma mínima mostra do que o baixo e o falso produz. Imagino como vossos corações sofreriam, se vissem o mal e o falso em toda sua potência. Como fostes educados para ir de uma beleza a outra, também devereis ser educados para agüentar de um inferno ao outro, pois nesta luta entre a Luz e a escuridão todo o universo está envolvido. Não penseis que só vossa Terra e sua galáxia, mas sim tudo se prepara para a vitória final. Não temais, pois o Senhor é o Amor, a Paciência e a Piedade. A redenção de todos é Sua meta. Tenho certeza que a redenção poderia ser alcançada mais depressa, se a Sabedoria procurasse os caminhos certos. Mas Ele, o Maravilhoso, Onipotente e Perfeito, quis deixar para seus filhos o último movimento, para que o Inimigo da Vida não seja vencido pelo poder do Senhor, mas pelo amor de seus queridos filhos, a fim de que ele se torne novamente o mais maravilhoso filho da criação. Assim, pois, alegrai-vos com as tarefas vindouras, que vos exigirão certamente paciência e esforço, mas vos levarão a grandes alegrias. Até bem pouco tempo, vosso maior desejo era ver o Senhor, estar e viver em Sua companhia. A partir de hoje, deixai que vosso maior desejo seja o de tornar-vos salvadores e socorristas de todos aqueles que ainda não O conhecem e, pelo poder do Inimigo, têm que viver sem Ele.

Mãe Anna acompanhou ao anjos através de lindos jardins. Lisa e Joana também foram. Num certo ponto, Joana se despediu dizendo:

- Neste lugar, quero deixá-los. Estes jardins são de minhas irmãzinhas e tudo o que eu aqui recebo é uma benção maravilhosa. Para tê-la, eu não me importaria de passar tudo de novo que passei na Terra.

- Oh filha de nosso Salvador, ante tuas palavras, gostaríamos de nos ajoelhar, pois conhecemos a escola dura por que passastes na Terra e também teu comportamento aqui, no mundo espiritual; mas quando estás à beira do término das provações, queres passar novamente por todas estas escolas. Não conseguimos entender isto.

- Pois não, meus queridos amigos. Isto se deve a um sentimento novo em meu interior, que se formou quando soube que me transformaria em uma salvadora de almas. Como acabastes de mencionar sobre todas as conseqüências do mal e do falso, não estará na hora do amor procurar outros caminhos, para finalmente se libertar no Senhor? Em todos os prisioneiros, ainda está a Vida aprisionada do Pai; em todos os desgarrados e perdidos, o espírito interno ainda luta por Deus. Se Ele, nosso Pai Celestial, como Filho do Homem, sacrificou Sua vida para aplainar o caminho para Sua casa, será que a luta interna do desgarrado não significa que aí está o começo do desejo de estar com o Pai? Desde minha vida material, tenho a convicção que agradecer é muito mais importante que pedir. Eu gostaria de continuar agradecendo, não pelas grandes vitórias obtidas, mas sim por cada pequenina conquista divina. Eu, como bem-aventurada, não entendo como vós, anjos maravilhosos e servos de Deus, não entendeis estas mensagens.

- Oh filha do Senhor, não podemos modificar nosso ser, pois a nós falta aquilo que vos faz filhos de Deus. Nós somos oriundos da Sua Divindade, Sabedoria e Poder, enquanto vós sois filhos de Seu Amor, Graça e Paciência.

Todo começo é difícil

Joana disse para Lisa:

- A hora chegou. Sinto em mim cada vez mais forte a necessidade de não mais esperar. Talvez consigamos arrancar do inferno estes pobres sofredores. Aqui ainda há espaço, trabalho e amor infinito para ser usado. Podemos nos atrever a entrar neste mundo dos mortos. Já várias vezes estive na casa de meus pais terrenos e consegui muita experiência lá. Agora, sei que a hora chegou.

- Com prazer, mas... sozinhas?

- Sozinhas não, pois sei que o bondoso Pai está conosco! E vamos levar Christa, Rosa e Lena conosco, e não esqueças o jarro de água e pão.

Com alegria, as meninas concordaram em ir junto. Com as bênçãos de mãe Anna, as cinco se encaminharam para sua nova tarefa. No caminho, a elas se juntou um homem, o qual seguia as instruções do Pai, no sentido de apoiá-las no que fosse possível. Ele disse:

- Chamem-me de Emílio. A ti, Joana, conheço desde quando vivias na Terra. Nós nos entenderemos logo.

- Tu já estás há muito tempo no mundo da escuridão, irmão Emílio? ¾ indagou Joana.

- Há mais tempo do que imaginam. Já fui habitante dessa dimensão. Agradeço minha salvação ao Eterno Pai Jesus. Por isto, pedi desesperadamente, por amor para com estes meus antigos companheiros, para voltar como socorrista.

- Então podes ser nosso guia, pois respeitarão mais a um homem que a nós.

- Mas Joana, não vos deprecieis. Teu amor é o motivo de tudo e teu espírito te tornou responsável. Mas agora, atenção. Em poucos minutos, estaremos lá.

Tudo ficou escuro à sua volta. Eles ainda não estavam acostumados com a velocidade que se locomoviam. Chegaram a uma estalagem, onde havia grande pancadaria. Cuidadosamente, se aproximaram. Ainda não são vistos e observam calmamente os brigões. Estranhas figuras com olhos cheios de raiva, mulheres apavoradas e com roupas esfarrapadas. A briga é por pão. As mulheres acusam os homens e vice-versa. Quando a briga se torna luta física, Joana intervém:

- Não tens vergonha, vós homens, em bater em vossas mulheres? Em vez de procurar a culpa em vós mesmos, acusais vossas mulheres. Com isto, vossa culpa se torna maior.

Um com aspecto totalmente selvagem disse:

- Ora vejam só: vós, dondoquinhas frágeis, como chegastes aqui? E logo começais a dar ordens... Aproximai-vos, pois sereis uma grata diversão para nos distrair um pouco. Isto aqui está muito chato...

- Não vos enganeis com nossa aparência. Viemos aqui para vos oferecer ajuda, pois todos já morrestes e sois bem desgraçados e infelizes; sois os que só a Mão estendida do Salvador Jesus pode ajudar.

Então começou um enorme tumulto. Eles queriam agredir as meninas, mas ao tocá-las, soltavam-nas logo, aos gritos de dor, como se tivessem tocado ferro incandescente. Os homens ainda se lamentavam da dor, quando as mulheres tomaram a dianteira e perguntaram:

- É verdade que já estamos mortos? Uma terrível desgraça se abateu sobre nós e não temos como nos livrar. De onde é que viestes?

- Quando vos acalmardes e conseguirdes aplacar vosso ódio e rancor, poderei falar convosco. Antes, não.

- Tu ainda és uma menina. O que poderás nos dizer? Porém não podemos fazer nada contra. Então fala, estamos ouvindo. Afinal, conseguiste afastar os homens que queriam te agredir...

- Homens e mulheres, acrediteis ou não, o fato é que estais todos mortos, assim como nós também. A diferença é que nós estamos protegidos pelo Amor de Jesus, o Salvador, enquanto vós estais perdidos. Vossa vida terrena foi sem Deus. Esta então não pode ser diferente: estais na miséria. Mas vós deveis saber que eu também conheço dor e miséria. Foi durante minha vida terrena, extremamente triste, mas não por minha culpa. Por isto, no mundo espiritual recebi a maior graça divina, a qual agarrarei com unhas e dentes. Vossa passagem na terra pode ter sido muito bonita. Faltam-me conceitos para avaliar isto, como vós também não tens nenhuma noção das maravilhas que recebi neste mundo espiritual. Eu poderia não me importar em nada se aceitais ou não este nosso amor que vem em vosso auxílio, pois não nos dará mais felicidade e já a temos suficiente; mas dará felicidade a vós e vos tirará deste estado miserável. Como O Senhor e Salvador Jesus nos deu permissão e liberdade, nós nos encontramos à procura de desgarrados, que desejamos levar conosco para nossa vida maravilhosa e fazer dos mesmos espíritos felizes e gloriosos, tal como somos nós.

Um homem se aproximou e disse:

- Tuas palavras são tentadoras, como não ouço desde que vim para este lastimável buraco onde me encontro. Na minha vida, me foi prometido muito; mas até agora, nada se realizou. Como queres provar que estamos mortos? Isto nós deveríamos saber, pois a morte é uma coisa muito difícil. Eu a temi durante toda a minha vida.

- Tuas palavras se tornaram doces; por isto, posso continuar a falar contigo. Mas elas nada adiantarão, se tu e os outros não quiserem acreditar em nós. Provas dessa vossa vida não são mais necessárias, pois já sois a prova. Há quanto tempo não comestes ou bebestes e há quanto tempo não precisais satisfazer vossas necessidades físicas? Há quanto tempo não tivestes noite e dia e não vistes o Sol ou a Lua? Tão cegos como éreis em vida contra Deus, o sois agora contra vós mesmos. Nós, porém, vivemos uma vida na Luz. Nós temos o melhor pão e vinho, a melhor água e as melhores frutas, os quais nunca diminuem, ao contrário, sempre aumentam. Olhai para vós mesmos, quanto fizestes e trabalhastes para manter e embelezar vosso corpo em vida. E o que tens agora? Que aparência é a vossa? Se isto não forem provas bastantes, então digam: o que quereis que eu vos prove?

- Oh menina, és uma pessoa muito esperta, ou talvez um anjo. Muito já falamos sobre isto, mas quem nos pode dar a resposta? Não é a nossa vida um sonho muito horrível que não termina nunca? Por que correr atrás de coisas inalcançáveis? O que nos contas da vida bonita que existe é bem atraente. Eu, quando jovem, imaginava coisas maravilhosas, mas eram todas qual bolha de sabão; a realidade destruía todas. Devias ter trazido um pouco de pão, como prova de que tens algum.

- O pão já está aqui, mas como desejais repartir o mesmo, já que sois prisioneiros da cobiça e da avidez, e desejais possuir o pão só para vós mesmos? Olha aqui. Tenho um pão. Quem o desejar deve vir como pedinte. Eu afirmo que dá para todos.

Fez-se um tumulto sem igual. Alguns queriam se jogar sobre Joana. Neste instante, abriu-se uma ampla fenda, da qual saiam gases. Todos se assustaram e voltaram atrás, sem considerar que estavam pisoteando os outros. Uma briga e pancadaria tiveram início. Os mais fracos não conseguiam mais se levantar. Assustadas, as meninas queriam ir embora. Emílio então disse:

- Ficai. Dai-vos as mãos. Não vamos desistir, pois o Senhor está conosco!

Assim elas fizeram e uma luminosidade fluiu das seis. Com esta luz, todos pararam de lutar e olharam assustados. Então um disse;

- Menina, tens razão, nós estamos irremediavelmente perdidos. Na presença do pão e da promessa que daria para satisfazer a todos, tuas palavras se realizaram: a ambição e a cobiça tomaram conta de nós e são nossas únicas perdições. Agora, acredito na morte de todo o mundo. Meu deus, qual será o nosso destino?

- Eterna perdição, se não aceitares a mão salvadora que se estende para vós e quer vos ajudar. Com toda ação que realizais, baseados na cobiça, piorais a vossa vida. Se vós usásseis o amor para com vosso próximo, vossa situação melhoraria muito. Mas alguma vez já vistes algum miserável e infeliz recusar a mão salvadora?

- Não, minha menina, pois até quem se está afogando segura um graveto, para se salvar.

- Pois é, e por que não aceitais a mão que se estende em vosso socorro? Eu vos responderei: pois assim deveríeis parar de comandar um ao outro, deveríeis vos tornar pessoas pedintes, humildes, modestas e vosso orgulho implacável não permite isto.

Um grita zangado:

- Basta com este blá, blá, blá bobo e inútil. Vós sois o que nos faltava! Quem sabe quem está atrás de vós?

Responde um outro:

- Antônio pára com tua gritaria! Eu confio minha vida a vós meninas e a ti homem, que pareces tão carinhoso. Ajudai-me a acalmar os outros. Se vós tendes o poder de vos proteger, então tereis o poder de me auxiliar.

- Olha Roberto, estás agora todo agitado e vivaz. Nós não te bastamos, é? Talvez não tenhamos te dado o suficiente. Podes esperar, os vermes não ficarão aqui para sempre! A estas palavras de Antônio muitos se indignaram, mas eles tinham muito medo daquele homem grosseiro e mau. Foi quando Roberto respondeu;

- Calma Antônio, só para que saibas: seu poder sobre nós acabou. Estas meninas e este homem têm todo o poder sobre nós. Se assim não fosse, aqui não estariam.

- Cala-te! ¾ gritou Antônio. Cala-te, senão já sabes o que te espera.

- Teu berreiro não melhora em nada nosso destino. Lá junto às seis, podemos esperar pão e talvez a salvação desta miséria. Se não existisse esta fenda, eu já estaria ali ao lado delas.

Disse Joana:

- Se isto é sério, então pedi ao Senhor e Eterno Deus, pois seres como vós deveis aprender a pedir. Se o desejo de salvação vier de vossa miséria, não faz de vós candidatos à vida eterna. Deveis vos converter, deveis abandonar o caminho que trilhastes até agora. Vossa conversão deve ser séria e cheia de vontade divina.

Disse Antônio cheio de sarcasmo:

- Roberto, não te deixes enganar com estes cantos de sereia. Nem sabemos se são bandidos em roupagem de ovelhas. Primeiro, afirmas que estamos mortos; depois, nos acenas com pão e queres agora que nos tornemos carolas, beatas! Um homem não faz isto, nós nos bastamos. Não precisamos de ninguém. Desta vez, esta noite já vai acabar!

Não Antônio, não acredito mais em ti. Tanto, tanto tempo almejamos uma modificação em nosso estado! Se neste momento recusarmos a ajuda que nos é oferecida, não adiantará se arrepender mais tarde. Quem de vós quer se juntar a mim e seguir as palavras da menina?

Antônio quis argumentar agressivamente, mas Roberto disse:

- Silêncio! Todos agora devem usar seu livre arbítrio, especialmente sem violência, pois elas são as mais poderosas.

Bem poucos disseram: " Eu quero me juntar a ti, Roberto, pois não é possível confiar em Antônio ." A estes, disse Roberto:

- Então vamos nos tornar pedintes. Nosso desejo de mudança já é um pedido, mas não o devido. Quem de nós ainda sabe rezar? Ninguém? Oh Deus, como caímos. Ainda existe a possibilidade de salvação neste estado?

Respondeu Joana:

Claro, pois com Deus sempre existe salvação. Ele nunca repudia quem vier a ele com o pedido certo.

- Ouvi, esta menina nos dá coragem. Ajoelhamo-nos! Oh Deus, somos grandes pecadores; sim, com certeza, sem a Tua ajuda continuaremos a ser perdidos. Por favor, nos perdoa e sê misericordioso.

Rezou uma mulher: " Oh Deus, meu coração se afastou de Ti. Afastei-me de Ti com conhecimento, pois o mundo me oferecia muito mais que Tu. Reconheço agora minha burrice e Te peço: deixa-me rezar para Ti novamente e sê misericordioso conosco. Ajuda-nos, salva-nos desta miséria e perdição, para que possamos nos tornar novamente seres livres ."

Feliz término

Os gases pararam de fluir e a fenda se fechou. Joana foi ao encontro deles e disse:

- O Senhor usa a bondade e misericórdia e vai ao vosso encontro por meu intermédio. A questão é: estais dispostos a obedecer as condições que permitirão vossa conversão? A condição é: amor para Deus e teu próximo com toda humildade e resignação; todo o resto vem como conseqüência.

Disse Roberto:

- Nós bem que gostaríamos, mas acho que não sabemos, pois amar a Deus e ao próximo é totalmente contrário ao que praticávamos. Resignação sempre me foi algo desconhecido, e ser humilde era só para os pobres, inferiores. Vê, acho que será quase impossível.

Joana sorriu e disse:

- Reconhecei que não sereis mais pessoas de posses, porém pobres seres dignos de pena. No momento em que recusares a mão estendida, tudo se tornará pior. É tão difícil abandonar tudo isto que vos torna tão infelizes? Ou exigis que o Senhor coroe vossa cobiça, vosso egoísmo e amor próprio com um paraíso cheio de anjos a vos servir, onde sereis senhores feudais? Não, mil vezes não! O eterno mundo espiritual é a continuação de vossa vida terrena. Tal semeadura, tal a colheita. O que tens aqui é a vossa própria vida.Agora que estamos oferecendo ajuda, achais que as condições são quase impossíveis de serem realizadas. O que especialmente tu exiges de teus subordinados? A palavra "impossível" te era desconhecida e não a aceitavas de jeito nenhum. O que tu exigias antigamente, Deus pede de ti. Isto é injusto? Eu não sou juiz, e não dificultarei vossa salvação. Nós aqui viemos para vos servir, para vos ajudar pela vontade que nos é dada pelo Amor Divino e pelo amor ao próximo. Antes de chegarmos a este estado, tivemos que nos livrar de muito, nos humilhar muito, até que o último átomo de amor próprio fosse apagado. Como conseqüência, somos pessoas bem-aventuradas, alegres, felizes. Decidi-vos agora; vós, que ouvistes minhas palavras. Aqui é sim, ou não.

A mesma mulher que tinha rezado disse:

- Farei tudo o que me ensinares. Nesta vida aqui é impossível continuar, pois é pior que o inferno. O que pedes não é nada, comparado com o que aqui exigem de nós. Quando a palavra "amor" foi aqui pronunciada, ou vivenciada? O amor aqui praticado me enoja, pois aqui não somos humanos, aqui não passamos de gado. Eu vou fazer muito mais do que me pedis, pois eu preciso sair desta miséria. Quem recusar esta ajuda é um completo cego. Prefiro ser serva entre os bem-aventurados, do que gado entre os desalmados. Aqui estou. Aceitai-me como sou. Sem queixas, vos servirei.

- Sê bem-vinda em nome do Senhor, que é nosso amor - disse Joana. Abençoarás em breve esta hora, mas e os outros? Com este aperto de mão, te aceito em nossa comunidade. Afirmo-te que o Salvador também morreu por ti na cruz e com Seu Amor, Ele extingue teus pecados e erros.

Roberto, que tudo observava, se aproximou hesitante e disse:

- Eu também quero me declarar vosso seguidor, pois não desejo ficar aqui, onde Maria me fará falta. Ela era a melhor de todos. E tu, Maria, não estás zangada comigo por ter sido grosseiro contigo?

- Não mais palavras sobre o passado, pois uma nova vida está a começar. Estes amigos certamente nos proporcionarão um destino melhor ao que tivemos que suportar até agora.

- Tudo bem, tende muita esperança, mas confiai no Pai antes de tudo - disse Joana. Mas tu, Roberto, não gostarias de exortar os outros a se unir a nós?

- Sim, com prazer, mas não creio que adiantará, pois todos são endurecidos e extremamente reprimidos.

- Não faças assim. Se queres ter sucesso, deves acreditar no que fazes. Medo não pode ser teu companheiro, pois estás sob nossa proteção.

Dando uns passos para frente, Roberto disse:

- Vós ouvistes da boca desta menina o que eu desejo de vós. Eu vos peço que não demoreis muito pensando e não torneis tudo muito difícil para mim. Venham por favor. Juntem-se a nós, para iniciarmos uma nova vida.

Disse então Antônio:

- Ah, vais sentir falta da namoradinha, não é? Foi por isto que mudaste de lado tão depressa. Bom proveito! Eu vou morrer de rir, quando voltares cheios de arrependimento. Era o que me faltava: agüentar este bando de fracotes...

- Tuas palavras não me atingem, Antônio. Em mim nasceu um desejo bem melhor, ao ver estes bem-aventurados. Mas vós outros, por Deus, por que permitis que ele vos comande assim? Não há mais nada a se ganhar aqui; no máximo, só perdição.

Hesitantes, alguns se aproximam. Quando Joana lhes estende os braços, seus passos se firmam.

- Também vós eu recebo e dou as boas vindas em nome do Senhor - disse Joana. Em breve, sentireis as bênçãos de seu Amor e então agradecei e novamente agradecei. Venham, vamos acabar com vossa fome e sede. Este pão não acabará nunca, ainda que fossem milhares a serem alimentados. Eu já passei muita fome na Terra, mas aqui no reino do Amor, ninguém sente frio, nem fome; pois o Eterno Amor provê a todos. Tomai então o pão e o reparti entre todos, dando um pedaço bem grande a cada um.

Por milagre, o pão nunca diminuía nas mãos deles. Disse então Maria:

- Oh, vejam, alguma vez já vivenciastes algo parecido? O pão cresce em nossas mãos... é realmente um milagre divino.

- Basta de conversa - disse Joana. Em primeiro lugar, comei até vos sentires completamente satisfeitos. Depois, poderemos conversar mais.

Maria tirou um grande pedaço do pão e mastigou com a boca cheia, mas o pão em nada diminuiu. Disse ela:

- Venha agora o que vier, voltar eu não vou de jeito nenhum, pois jamais comi um pão tão delicioso, e olha que eu era um bom garfo... Oh sim, Antônio, tu não passas de um grande trapaceiro. Com este pão, vemos toda tua mentira deslavada. Tu só tinhas palavras, mas aqui há pão. Vem aqui, serve-te, come, a fim de que reconheças teu erro e deixes os outros em paz para escolherem os rumos de suas vidas.

Antônio não quis, mas a avidez dos outros foi tão grande, que Emílio precisou intervir:

- Calma, nada de violência, pois senão terei que abrir a fenda novamente. A irmã vos ofereceu pão com todo o seu amor. Foi seu primeiro ato de amor após sua conversão, e vós quereis estragar tudo?

Todos deram um passo para trás e olharam amedrontados. Foi quando Maria disse:

- Foi o amor deste amigo que evitou que nos tornássemos pessoas vulgares. Mas nem por isto deixareis de vos satisfazer com este pão. Comei, bebei e dai aos outros.

Maria vai de um ao outro e Roberto decide levar um pão a Antônio. Este o toma, joga no chão e começa a pisoteá-lo; mas logo solta gritos de dor, pois os pedacinhos de pão queimam qual ferro incandescente. Os outros nada vêem, pois só o que lhes interessa é pão e novamente pão. Então Roberto se surpreende:

- Que foi que eu fiz? Nada diferente do gesto de Maria...

Interveio Joana:

- Sim, tu tiveste uma atitude diferente. Maria ofereceu o pão como um gesto de amor, mas tu não; tu o ofereceste como um gesto de confirmação de tuas palavras. Isto não é uma reprimenda, mas deves entender que o desejo e a ação são unos aqui no mundo espiritual. Assim, em todas as nossas atitudes devemos considerar em que estado de espírito atuamos. Olha Maria, vê, seu rosto brilha de felicidade, pois é a primeira vez que ela atua com o espírito puro. Trata agora de ajudar teu pobre irmão, tão carente de amor. Tens que tentar ajudar este pobre sofredor.

Ela se dirigiu ao encontro de Antônio, o qual, por orgulho, trincou os dentes para não demonstrar a dor que sentia e praguejava constantemente. Disse ela:

- Se continuares assim, teu estado sempre piorará, mas mesmo assim tentarei te ajudar. Já que sou a causadora de teu sofrimento, permite que eu toque a perna.

Antônio murmurou coisas incompreensíveis e Joana então passou a mão em sua perna até o pé e disse;

-Salvador bondoso, dá-me tua força, para que eu possa aliviar a dor deste teu irmão. Eu te agradeço pelo Teu amor e bênção, mas mostra-Te aqui também como o Amor de Todo o Amor, Senhor de Toda Vida, meu Pai Jesus.

A dor passou, mas o pé continuou carbonizado. Antônio então disse:

- Não vou te agradecer, pois estou cheio de ódio e raiva. Tu me fizeste o bem, apesar de eu ter te insultado.

- Teu agradecimento não tem valor algum para mim. O Salvador já me deu tanto, que todo amor vindo de ti nada representa. Mas o que eu quero muito e muito me importa é que tu te tornes um membro de nossa comunidade. Vê como estes se satisfazem pela primeira vez no mundo espiritual, e eu só preciso perguntar: Querem vir conosco para um mundo de alegrias e satisfação? Eu conheço a resposta: Sim, só tu não queres. Achas que a é a realidade da barriga? E tu achas que podes teimar com o Senhor, nosso Deus? Não achas que Ele, o Senhor de Toda Vida, vai se envolver numa briga contigo? Ele sabe que algum dia tu, como todos, terá que vir ao Seu encontro. O tempo que isto levará e como será este tempo, tu não podes imaginar. Teu Amor intenso se iguala à tua vida. Até agora, tinhas irmãos e irmãs. Ainda estás no teu elemento terreno e teu mundo se preenche com isto. Dentro em pouco, estarás pobre e solitário, pois teus irmãos e irmãs decidiram seguir nosso chamado. Vê como se confraternizam com meu maravilhoso irmão, que é nosso guia.

Roberto, que estava junto a Joana, disse:

- Antônio, não te faças de rogado. Reconhece: estes têm boas intenções conosco. Vamos em direção a uma vida melhor.

- Sai de minha visão, eu não quero ver nada mais. Não digas mais uma palavra. O que sabes tu de uma vida melhor? Tu só conhecias ruindade! O céu que te aceitar pode se preparar para surpresas! Se conseguires algumas mulheres aí sentadas, estará tudo bem para ti, mulherengo.

Roberto estava quase explodindo, mas Joana disse:

- Fica quieto e entrega tudo nas mãos do Senhor. Enquanto ainda puderes ser ofendido, ainda estás travando o caminho que te leva ao Pai, pois também por ti Ele deixou que O ofendessem, e cuspissem Nele ; isto para que a obra de Salvação fosse total e completa.

Disse Antônio:

- Menina, se não fosses tu, eu o teria abatido a pancadas. Eu estou te prevenindo: este elemento ainda será uma grande vergonha para vossa comunidade.

- Não te preocupes com isto, pois tudo que o Senhor inicia, Ele acaba de forma maravilhosa. Ele tem meios dos quais nós não temos a mínima idéia. Mesmo assim, te imploro: tenta, nem que seja só vir conosco. Voltar podes sempre que não te sintas bem em nossa companhia.

- Garota, nem imaginas o que me pedes. Não há lugar no céu para um diabo. Eu nunca poderei ser uma corola, como sois vós. Quando enxergo um crente, eu começo a passar mal. Não, isto não é para mim.

- Tu tens uma visão completamente errada da vida que levamos, apesar de Jesus, nosso Salvador e Eterno Pai, ser nossa realização. Em rezar e ser beatos não há nada disto, porém nossa vida é uma vida de agradecimento, de trabalhar para os outros. Nosso único desejo é tornar os outros felizes. Tu achas que nós viemos aqui só para passar o tempo contigo e os outros? Alegrar- nos com vossa desgraça? Oh não, viemos vos ajudar a sair de vossa miséria, mostrar-vos os caminhos que deveis trilhar, para vos tornardes portadores do Espírito que só quer fazer os outros felizes. São as últimas palavras que te dirijo. Quem sabe quando terás a bênção de uma mão salvadora a se estender novamente em tua direção? Jesus, o Senhor, é assim: o Amor de Todo Amor, mas não força Sua Mão a ninguém. Ele a estende e quem quiser que se agarre e a segure. Reconheço que requer um grande esforço, ou achas mesmo que saímos da miséria e fomos direto para o paraíso? Quando eu digo: "vem conosco", não significa que ficaremos juntos, pois vos aguarda trabalho árduo, muito trabalho; com benefício não para nós, mas sim para vós mesmos.

- Garota, garota, acredito nas tuas palavras e sei que só queres o nosso bem, mas meu mundo é outro. Até agora, todos tinham que trabalhar para mim. Eu trabalhar para os outros seria virar tudo de ponta a cabeça.

- Certo, mas que vais fazer, quando não houver mais ninguém a querer trabalhar para ti? Todos estão se aprontando para vir conosco. Tu somente és o único que não quer. Obrigar-te nem o Eterno Deus vai. Esta é minha última tentativa por ti. O Amor Divino chutaste com teus pés, e teu egoísmo foi maior que a fome. Como ainda terás saudade do pão que jogaste na lama! Quando a fome torturante derrotar, começarás a rezar, rezar e novamente rezar. Quem o Eterno Amor não consegue converter, deve sentir o Rigor Divino. Tua Vontade se faça agora e eternamente.

Maria, que tinha escutado cada palavra, disse então:

- É mesmo a última chance? Ele não vai conosco? Então ficarei com ele, pois às vezes ele era bom para nós.

Disse Joana:

- Se já estivesses esclarecida, eu te abraçaria pelas tuas palavras, mas ainda estás cega, e um cego não pode ser guia para outro cego. Torna-te vidente em primeiro lugar, então te trarei aqui novamente. Tu tens muito, mas muito mesmo, a aprender e a trabalhar em ti, pois um pensamento pesa milhões de vezes mais no mundo espiritual, que na vida material. Como ser humano, possuías uma série de meios que te auxiliaram na força de tua fé, mas aqui o único que existe és tu mesmo, e sem humildade ninguém consegue atravessar os portões da vida. Vamos deixar-lhe ainda uma prova de amor: o jarro e o pão. Mais não temos.

Emílio, que tinha conversado com muitos e esclarecido muitas dúvidas, se aproximou do grupo e disse para Joana:

- Não queres te posicionar na ponta do grupo, que eu ficarei aqui atrás? O que pensas fazer?

- Irmão, ide em nome do Senhor. Eu fico no fim com Maria.

Christa deu um gole de água a todos, a qual foi muito elogiada e não diminuía. Ao fim, Joana colocou o jarro junto a Antônio e disse:

- Esta água é a prova de que vamos embora sem rancor. Podes entorná-la, mas considera que, com esta atitude, destruirás tua última chance de salvação.

Finalmente, deixaram a taberna. O grupo caminhava por sobre escombros, aldeias destruídas e ruínas tristes. Aos poucos, começou a ficar mais claro. Emílio na frente com os homens, as meninas junto às mulheres, e Joana com Maria no final. O caminho parecia não ter fim, apesar da destruição ter acabado. Estavam agora numa linda paisagem. A fome e a sede começaram a atacar alguns. Então Emílio parou e deixou que todos se aproximassem. Ele se despediu das meninas e disse para o grupo:

- Minhas irmãs e irmãos, exercei a paciência, e vossa hora de salvação soará dentro em pouco. Meu serviço convosco está no fim. Vós não precisais mais de mim, pois tendes vontade de vos tornar dignos habitantes do reino da bonança. Não vos deixeis abater, mas sim sede confiantes. De acordo com vosso amor e confiança, crescereis para a Vida de Deus. A Bênção de Deus e o Amor do Salvador estejam convosco eternamente.

Preparativos para a redenção

O maravilhoso irmão desapareceu num instante. Joana se dirigiu para a ponta do grupo, sempre acompanhada por Maria. Em curto espaço de tempo, chegaram a seu futuro lar, que tinha um aspecto bem pobre. Mãe Anna e Henrique lá estavam, para desejar-lhes boas vindas e os levarem para os salões da casa de Henrique. O interior bem simples, mas limpo e acolhedor, havendo lugar para todos. Com alívio e alegria, todos se sentaram à mesa, onde havia frutas e pão. Todos se serviram, depois de serem convidados. Estavam felizes em poder descansar, pois a jornada tinha sido árdua e longa. Mãe Anna observava a todos, falava com um e com outro, enquanto Henrique se calava, pois falar não era o seu forte. Após a refeição, todos se sentiam bem e completamente descansados, então mãe Anna falou:

Meus amados, seguistes a estas cinco meninas, recebestes uma fortificação em vosso lar, mas tens que receber agora as diretrizes para vossa vida futura. Antes que inspecioneis vossa casa, quero dar-vos os regulamentos desta casa, os quais devereis seguir. Quem não quiser se adaptar a estas regras, se segrega a si mesmo. É a todos possível deixar este lugar, se assim quiserem, pois cada um tem o seu mundo dentro de si, mas não o sabe. Isto é bom, pois vos assustaríeis ao ver quanta podridão e roubo se encontra no mesmo. Vós sois espíritos iguais a nós, mas ainda sois estranhos e precisais de orientação, ensinamentos e ajuda. Nós seguimos os ensinamentos da Ordem Eterna e do Caridoso Amor. Somos aqui todos irmãos e irmãs. Ninguém passará necessidades. De acordo com sua evolução e seu amor, sua vida se modificará para melhor. Levantai-vos agora, eu poderei assim vos mostrar vosso guia, quem vai indicar vossos destinos. Quem desejar conversar comigo ou o pai Henrique, saiba que sempre estaremos aqui.. Nós aqui fomos designados pelo Pai mesmo, para ser seus administradores até Ele chegar, como Senhor desse lar. Venham em nome do Senhor Jesus e abençoados sejam vossa vontade e vosso amor.

Do lado de fora, os esperava Gotlob, o qual os cumprimentou com muito carinho.

Mãe Anna disse:

- Este é vosso amigo, irmão e conselheiro. Sua palavra equivale à Palavra do Pai, e sua vontade é a Vontade de Deus. Bem, irmão Gotlob, toma este grupo sob seus cuidados. Tem muita paciência e saibas que tudo acontece de acordo com a Ordem Divina do Senhor

As meninas se despedem e prometem visitá-los logo.

Disse Maria a Joana:

- Vais nos abandonar? Não posso ir convosco? Justamente tu, Joana, eras tão boa e nos destes tanto amor... Agora, não podemos mais ficar juntas?

- Calma Maria, teu mundo ainda não está pronto para a Vida, mas eu espero que em breve tenhas adquirido o Espírito do Eterno Amor. Confiai em Deus e só coisas boas acontecerão, se assim quiserdes. O Eterno Amor só deseja o melhor para vós e vossa salvação. Nós só devemos confiar, e então não somente tereis a Graça de Deus, mas sim o Amor do Amantíssimo Pai. Ide em paz e que vossa vontade se torne força para vossa realização.

Gotlob acena e todos o seguem. As cinco meninas foram recebidas com grande alegria por suas irmãs e só conseguiram descansar após contar tudo. A vida continuou seu rumo. Após certo tempo, Joana disse à Lisa:

- Vamos visitar nossos amigos, os que vieram por último e que estão sob os cuidados do irmão Gotlob. Meu coração está sempre com eles.

- Isto também me acontece. Sempre me lembro da Maria, já que foi a primeira a se unir a nós e nós muito lhe devemos.

- Então vamos. Vamos levar-lhes um pouco de alegria. As flores estão maravilhosas. Ambas procuram as mais bonitas e vão à casa de Gotlob. Logo, avistam o pessoal trabalhando ativamente na sua nova casa. Gotlob tinha feito um bom trabalho. Ele não os dirigia, mas eles mesmos tomavam suas decisões. Gotlob socorria onde havia erros e assim bênçãos se espalhavam, onde antes era ermo. As ervas daninhas eram limpas por todos. De longe, podia-se ver o resultado positivo do trabalho. Ao chegarem mais perto, foram reconhecidas e alegremente cumprimentadas. Roberto, que tinha se tornado a alma do grupo sem querer, disse à Maria:

- Olha lá! As meninas adoráveis vêm nos visitar! Espero que tenham agrado, pois não parecemos festivos.

Hesitante, Maria foi ao encontro delas e disse:

- Como senti falta de vós, mas agora estais aqui. Pena que não possamos vos oferecer nada bonito, mas o trabalho aqui é muito.

- Maria, não te disse que deverias ter paciência? - perguntou Joana. O principal é que a ordem dentro de vós aumente cada vez mais, pois aí os milagres não acabarão. Planta estas lindas flores em teu jardim. Eu sei que o solo está bom para elas, que não precisam de muito, a não ser amor e mais amor.

Roberto também agradeceu muito e as levou para sua futura casa, a qual estava pronta por fora. Elas ficaram lá por mais algum tempo, conversando com Gotlob. Maria, que não se afastava delas, disse então:

- Eu ainda sou tão insignificante na Graça de Deus e tão ínfima na vossa presença, mas eu vos peço que volteis logo a nos visitar. Eu sinto uma grande transformação em mim e me sinto cada vez mais livre da influência da vida terrena, mas confesso: está sendo muito difícil. Gotlob é tão bom, nunca nos critica por nossas falhas e pecados. Sempre diz: " Não sou vosso juiz, mas sim vosso irmão". Neste amor, o trabalho se torna fácil e agradável. Mas Joana, a montanha de pecados dentro de mim não diminui. Quando me olho, sinto vergonha de mim mesma. Assim não dá para continuar...

Disse Joana:

- Ora Maria, tu achas que conosco foi melhor? O que não conseguíamos, o Salvador nos ajudava. Já te dirigiste a Ele com todo teu amor e sentimento? Sem Ele, dificilmente conseguirás a correta calma espiritual que é indispensável aqui neste mundo.

- Pois aí está o problema: como posso pedir ao Salvador algo, quando eu O abandonei tão alegremente, seguindo o chamado do mundo?

- Apesar disto Maria, deves te humilhar cada vez mais. Teu coração deve te levar a querer e desejar pertencer-Lhe completamente. Então tudo se torna mais fácil, e o que ainda tiveres em pecados e erros, Ele os apagará com Sua Graça, Amor e Piedade. Tente, pois o Salvador Jesus jamais afastou de Si um pedinte.

Os outros se alegraram imensamente, quando Joana e Lisa elogiaram seus trabalhos e prometeram se esforçar ao máximo e perguntaram se eles também teriam o perdão completo. Joana respondeu:

- Mas amados, se o Senhor vos desgostasse, achas que estariam aqui?

O Senhor Deus, o mais amoroso Pai de todos os tempos, nunca pensou em castigar-vos, ou julgar-vos, pois tudo que vós adquiristes no mundo material, tendes que vós mesmos vos livrar. Mas se vos tornardes humildes e vos amardes uns aos outros, o Amantíssimo virá ao vosso encontro, facilitando vossa purificação. Mas se houver um dentre vós que desejar carregar o peso do outro, por amor, este verá que estará livre em pouco tempo, pela Misericórdia divina e Graça de Jesus.

Ao se despedir, Maria pergunta a Joana por Antonio, pois ela sente muito a sua falta.

- Maria, se teu coração pressiona, pede por ele. Com este gesto, o caminho para o salvador fica mais curto e tu também ajudas muito teu amigo. Tem certeza que em pouco tempo terás uma grande alegria.

No caminho, Lisa comenta sobre o progresso de todos, especialmente de Maria. Disse Joana a ela:

- Eu também gostei muito de vê-los, mas eles ainda não captaram o sentido certo. Eles se esforçam muito, mas para ter um lar bonito para si. Eu gostaria que eles se esforçassem para oferecer um lar bonito para os outros. Aí sim, seu trabalho seria de valor.

O tempo passou em calma. Joana recebeu mensagem do Pai para visitar Maria. Sem delongas, foi ao seu encontro. A casa em que morava era simples, porém bem arrumadinha. Agora, estavam cuidando dos jardins. Era trabalho duro, mas dava alegria. O pão que comiam era cada vez melhor. O aspecto de Maria era completamente diferente. Tinha havido uma grande transformação. Ela rezava e quando só, rezava por Antônio. Gotlob ficava muito junto a Maria, pois Roberto não aceitava os sentimentos que haviam no coração dela.

No inferno

Joana chegou e disse.

- Maria, está na hora. Estás pronta para transformar teu sentimento de amor em ato de amor?

- Oh sim, mas quem vem conosco? Não podemos ir nós sozinhas. É tão longe...

- Não temas, Maria, pois quem trilha o caminho do amor nunca está só, mas sim bem protegido. O bondoso Pai e eterno Salvador sabe de tudo, até de nossas fraquezas. Ele nos vai abençoar pelo amor que sentimos e realizar teu desejo.

Após uma conversa com Gotlob, este as abençoou em sua ida. Mãe Anna as aguardava do lado de fora e disse:

- Ide conscientes da enorme Graça de Jesus. Bênçãos e mais bênçãos estejam convosco, pois desejais trazer para casa um perdido. Todo o nosso amor vos acompanhe.

Saíram assim pelo portão e Maria disse:

Parece-me que tudo está mais alegre e simpático. Será que acharemos o caminho certo?

Maria, o Senhor é nosso guia - disse Joana. Sem Sua bênção, tudo é inútil. Se desejares que nós tenhamos sucesso, então só com Jesus, o Senhor.

Um homem usando um manto escuro se aproximou. Imediatamente, Joana reconheceu o Santo Pai, mas ouviu em seu coração: " Não me denuncies". Ela então se recompôs, cumprimentou-O e com voz alta e calma, perguntou:

- Viestes para nos acompanhar?

- O Amor Me mandou vir às duas, pois sem proteção é perigoso entrar no inferno tormentoso. Dispondes de Mim. Eu seguirei todos os vossos desejos.

Joana não conseguia falar de tanta felicidade. Uma humildade tão grande ela nunca tinha imaginado pudesse acontecer. Ela pegou Suas Mãos e as apertou sem nada dizer, pois senão O denunciaria.

Rapidamente, chegaram ao local da destruição. Uma escuridão cinza, com gases que saíam das profundezas, tornava o local ainda pior.

- Cá estamos. ¾ disse o Senhor. Atuai de acordo com o vosso amor e sabedoria. Não vos assusteis com nada, pois também no inferno o Senhor é o Senhor.

- Ouvistes as palavras de nosso acompanhante ¾ disse Joana. Nada temei. Nada pode nos acontecer, pois o Amor tem bons olhos. Vamos procurar Antônio.

Num grande monte de entulhos, elas o escutaram praguejando. Ele estava sozinho e amaldiçoava a si mesmo, ao mundo inteiro e especialmente ao Ser Imortal, que lhe causava muita fome e muito sofrimento. As três entraram em sua dimensão. Com o rosto desfigurado pela raiva, ele as avistou. Quis praguejar, mas Joana disse:

- A paz do Senhor esteja contigo.

Antônio então pegou uma pedra grande e quis jogar em Joana. O Senhor levantou Sua Mão e disse:

- Parado! Se não quiseres perder por toda a eternidade a Graça de Deus. Ficarás com esta pedra encravada em tua mão, enquanto aqui estivermos e até que teu ódio tenha acabado. Para que não consigas nos bater, teus braços ficarão inertes.

- O que vós quereis aqui? Eu não vos chamei - disse Antônio.

- Viemos por nós mesmos -disse Joana - com a finalidade de te chamar mais uma vez, para te unires à nossa comunidade, onde o amor fraternal é a lei máxima. Nós sabemos que tua vida está miserável. Conhecemos também tua enorme dor e gostaríamos de te salvar da perdição eterna.

- Fora! Fora de minhas vistas! Se eu pudesse, eu vos espancaria.

- Antônio, fica quieto! ¾ retrucou Maria. Tu estás chamando tua morte eterna com teu praguejar. Não queres entender de jeito algum que os outros estão felizes e satisfeitos com seus destinos. Mesmo que não vivamos num mar de rosas, estamos construindo um paraíso para nós, com a ajuda da Graça do Senhor. Até agora, ninguém pensa em voltar para cá, pois tudo temos que nos é necessário. Só eu não estou totalmente feliz, pois sinto tua falta.

- Cala-te! Não quero ouvir mais nada. Eu não acredito em ti, ou talvez vieste aqui para mandar em mim e me tornar mais desgraçado.

- Tornar-te mais desgraçado não é possível, pois já és um desgraçado total. - disse Joana. Só tu que não o queres ver. Estás a procurar uma solução para o problema, sem abandonar o teu elemento. Isto não é possível. Só com amor poderás melhorar, pois teu amor é tua vida. Todos, não importa quem foi ou é, têm que passar pela escola da obediência. Ninguém poderá se tornar diferente, do que o amor que nele mora lhe permite . Ainda estás a tempo de te livrar de teu ódio. Ainda Jesus vem ao teu encontro com Seu Amor Salvador. Ainda está claro o caminho que deves seguir para tua libertação e para a vida eterna. Se continuares a teimar em ficar como estás, deixarás cada vez mais o teu caminho para a liberdade e a vida verdadeira. Ou podes dizer que tua vida atual é boa?

Antônio se calou. Ele gostaria de se livrar dos três, mas não podia. Pensamentos sombrios o atacavam, mas ele nada conseguia fazer. Seus braços não o obedeciam mais e a pedra ficava cada vez mais pesada. Como a um comando interno, tanto Joana como Maria se calaram e olharam ao "autotorturado" Antônio. Após um tempo que parecia ser eterno, ele disse ao Senhor:

- Tira esta pedra de mim. De minha parte, não precisas temer nada. Tu és o mais forte.

Disse o Senhor:

- Tudo bem, já que o reconheces, sê livre do peso e que teus braços voltem ao normal. Mas na mínima intenção tua de nos atacar, usarei Minha força novamente.

Antônio cuidadosamente depositou a pedra no chão e disse:

- Eu não me sinto bem na Tua presença, pois jamais fui um servo; mas o que poso fazer, se sou assim? Deveriam ter me dado uma educação diferente.

- Achas, na tua cegueira, que isto é uma boa desculpa? Como humano, sempre tinhas razão em tudo e soubeste transformar os teus conterrâneos em pagadores de tributos. Também aqui, no mundo espiritual, conseguiste te impor como um espírito orgulhoso e dominador, até que o Senhor cruzou tuas metas e teu caminho. Ou tens a ilusão que o Senhor se tornará um teu pagador de impostos e tributos? Como humano, estavas nos domínios da igreja e desprezastes totalmente as leis do amor para teu próximo. Agora que te livraste da carne, estás sobre teu próprio domínio e colhes o que trouxeste do outro lado. Tua sorte ainda foi um pouco mais suave, porque esta mulher aqui, Maria, emitia pensamentos positivos de amor. Não os destruas, pois aí sim a perdição te alcançará. Ainda és o teu senhor. Também na comunidade que te deseja, terás a liberdade como teu maior bem. Mas quando o inferno te pegar, te tornarás um servo e escravo de teus opressores criados por ti mesmo, e a perspectiva de salvação será cada vez mais difícil.

- Eu nem sei o que desejais. Deixem-me onde estou. Não tenho nada de vontade de ir convosco. Mesmo que seja minha perdição, não é assunto vosso.

- É sim, pois tua salvação faz parte da Salvação Universal.

- Ah, então o Eterno Deus e Salvador poderá esperar sentado, pois não tenho a mínima vontade agora.

- Então a fatalidade seguirá o teu caminho. Ficaremos por perto, apesar de tudo.

- Pai, Tu é amor e eterna piedade - disse Joana. Não há nenhuma chance de salvação? Irmãos com tal força de vontade são muito úteis em Teu amor.

- Sim Joana, tens razão. Não vamos desistir dele, só nos tornaremos invisíveis para ele. Segura Maria pela mão. Ela não deve se assustar,. Deve ser forte, pois nós também dela necessitamos para a Grande Obra. Vamos olhar Antônio.

Antônio olhou em volta, viu que estava só de novo e disse: " Pura bruxaria. Desapareceram sem se despedir e chamam isto de amor. Estou feliz que se foram. O Homem, quero dizer, o Espírito, ficou sinistro para mim. Baah, estou com meus braços normais novamente. Cuidado aquele que quiser cruzar o meu caminho! Vai levar uma pancadaria e tanto!"

Fogo e fumaça saíram do solo e causaram um grande aumento de temperatura. Mais ou menos uns dez homens de aspecto tenebroso o rodearam e o chamaram. Ele respondeu gritando:

- Eu não vou! Andando, andando, não quero saber de vós!

Disse o líder aos outros:

- Fazei com que ele vos obedeça, mas bem depressa, senão se tornará perigoso.

Eles pularam sobre Antônio e tentaram segurá-lo. Antônio se defendeu por bastante tempo, mas finalmente estava no chão. Eles amarraram seus pés e mãos e logo o cobriram com pedras, só deixando a cabeça de fora. Aqueceram com fogo um monte de pedras, de tal jeito que as chamas até chamuscavam sua cabeça. Ele gritava de dor. As amarras já estão queimando, mas ele está sem forças. Então Maria pede ao Acompanhante:

- Oh bondoso e poderoso Homem, não consigo mais ver isto. É impossível que algo igual possa acontecer. Tu ainda tens o poder de salvá-lo destes diabos?

- Maria, Eu teria este poder, mas não posso e não Me é permitido, pois aqui, no mundo livre dos espíritos, até Deus deve se curvar aos eternos mandamentos. Entretanto Maria, olha Joana. Vê como está calma. Ela sabe que o Amor Divino está presente. Para ti tudo é estranho. Quando tiveres renascido de verdade, a Luz do Amor também te iluminará. Fica calma e aguarda. Nós nunca devemos perder a esperança.

Os dez continuaram em volta de Antônio e o fogo estava quase apagado. Toda a parte inferior de seu corpo estava queimada. Nos braços, não existia mais carne, mas a força deles estava de volta. Ele empurrou as pedras incandescentes, para se libertar. Foi quando gritou o líder do grupo: " Cuidado, ele tem que ser amarrado!" Neste momento, Antônio pegou a primeira pedra incandescente e a arremessou no peito do líder. Este caiu e os outros, temerosos, recuaram. Quando Antônio viu que estava a sós com o líder, o pegou feito um pacote e o jogou nas pedras quentes. Neste momento, ele se olhou e tomou um grande susto. Ele se sentou num canto, viu que o homem saiu do fogo, veio em sua direção e disse:

- Quase me feriste. Seria uma horrível desgraça para ti, mas eu proponho um armistício.

- Não, eu não quero nada com gente de tua laia ¾ respondeu Antônio . O que eu fiz contigo, para me torturares desta maneira?

- Tuas forças quis testar, pois serás nosso líder. Na Terra há muito para se divertir! A morte está ativíssima, e vamos obter nosso quinhão.

- O que? Líder e chefe de bandidos querem me fazer? Desaparece de meus olhos, senão te destruirei a pedradas. Se um de vós se aproximar, pode estar certo de que o apedrejarei.

- Vais te arrepender. Seria bom se contássemos contigo, mas se não o queres, faremos sem ti.

Sucesso maravilhoso

Antônio estava novamente sozinho. " E agora...? Olha como estou! Puxa vida, se não doesse tanto e se não tivesse tanta sede... Como seria bom, se a menina ou Maria me dessem um pouco de água. O jarro que me deixaram já há muito está vazio. Quebrá-lo não posso. Vou ver se ainda tem algumas gotinhas. Oh, vejo que ainda tem algumas gotas." Com os dedos descarnados, umedece sua língua e sempre ficam algumas gotas, mas a sede aumenta cada vez mais. " Oh tu, jarro em minha mão, por que eu não te destruo? O que tens que sempre apresentas uma de umidade? É verdade que és um pedaço do paraíso, do qual Maria me falou? Onde elas andarão?”

Disse Maria, ao ver a cena:

- Oh bondoso Amigo, não me seria possível dar-lhe um pouco de água? Acho que poderemos falar com ele depois disto.

- Sim podes, Maria, mas espera mais um pouco e.... de onde conseguirás água aqui neste deserto rochoso?

- Tens razão. Não podemos ir buscar água em algum lugar?

- Não é necessário, Maria. Quando Joana segurar o jarro, este estará com água... Mas Antônio deve pedir. Ele deve apreender a pedir.

- Iiih! Então estará mal. Do jeito que o conheço, ele não vai pedir.

- Vai sim, Maria. Acredita nisto com toda tua força, que se realizará. Sem tua fé, ele não pedirá. Mas espera, olha o que vai acontecer. Cada vez mais ávido, Antônio procurava as gotas no fundo do jarro e num movimento infeliz, este caiu e se espatifou no solo. Lembrando-se das palavras de Joana, ele ficou apavorado e disse: " Agora se foi toda a esperança. O fim do jarro significa o meu fim, pois ninguém acreditará que ele quebrou contra a minha vontade ". A sede aumentava cada vez mais e as dores ficavam piores. Ele se deitou no chão, para lamber os cacos umedecidos. " Oh, eu bobo. Poderia estar no paraíso. Tudo acabou agora. Se eu conseguisse morrer... Bem, aconteça o que acontecer, aqui fico deitado, esperando a morte. Oh Deus, a quem desprezei, eu queria morrer. Morrer !" Mas nenhuma morte veio. As dores aumentavam e ele se contorcia e contorcia, e o tempo parecia eterno. Silenciosamente, Joana foi até lá. De suas mãos, saiu um fecho de luz. Ela juntou os cacos e o jarro logo estava reposto, cheio de água. Ela entregou o jarro para Maria e passou logo as mãos sobre o corpo dolorido de Antônio. Este se levantou e disse:

- Garota, isto não vou esquecer nunca. Tiraste a dor, mas agradecer não posso. Estou no fim...

Disse Joana:

- Não foi ato meu, mas sim do Pai, nosso Senhor Jesus. Ele ainda faria mais por ti, se pedisses humildemente.

- Garota, eu estou morrendo de sede. Não podes me dar, nem que seja um traguinho de água? O jarro quebrou sem eu querer.

- Antônio, isto está fora de meu alcance. Mas pede ao Senhor Jesus. Ele jamais negou um pedido a um filho Seu, desde que viesse de um coração puro .

- Eu pediria, se Ele aqui estivesse. Se puderes, traze-O aqui, ou me leva para junto Dele. Estás sozinha aqui? Por que não tens medo?

- Estou só, mas não estou. Maria e o amigo posso trazer. Eles aqui estão.

- Maria, dá-me água, deixa-me beber, estou queimando de sede.

Disse Maria:

- Tens que te dirigir ao nosso Líder. Sem Sua permissão, eu nada faço, pois disto depende tua salvação.

Antônio viu o Senhor e disse:

- Sim, tu és o mais poderoso. Com Teus Braços não gostaria de duelar, mas Teus Olhos são bons. Eu devo me dirigir a Ti por água.

- Quem pede será atendido. Maria, pode dar-lhe o jarro; está cheio de água boa.

Maria entregou o jarro a Antônio, que bebeu à vontade. Finalmente, a queima infernal acabou e Antônio disse:

- Sejas quem fores, aceita minha gratidão de minha boca, pois nada tenho para Te dar.

- Claro, Antônio. Tu podes dar a ti mesmo, aceitando o amor que te é oferecido. Muita dor teria evitado, se tivesses ido com os outros. Eles estão protegidos e felizes, pois estão subindo o morro, enquanto tu travaste conhecimento com o inferno. Estás novamente numa encruzilhada. Se quiseres um bom conselho, não desprezes o amor de tua irmã, pois sem ela, terias te tornado vítima de teu ódio.

- Tens razão. Infelizmente, sou muito bobo.

Maria tomou do jarro e disse:

- Mas Antônio, tu vens conosco para junto dos outros e então te tornarás alegre e cheio de esperança. Eu desejo tanto saber que estás seguro e protegido.

- Se eu puder agora, estou decidido. Mas olha-me; eu não pertenço mais a vosso convívio. Estou marcado pelos diabos por toda a vida.

- Não diga isto - disse Joana. Eleva teus olhos e procura o Senhor e Salvador, que também é nosso Redentor e sempre vem ao nosso socorro. Tu aprenderás logo a esquecer tua vida pregressa. Só deves te entregar ao Amor e Piedade Dele.

- Tens razão, mas vós não fostes malvados, como eu sou.

- Não falemos mais sobre isto. Vem, vamos embora deste lugar tão triste e nos entregar totalmente à orientação deste nosso Guia. Mas tu tens que querer.

- Eu quero, pois nada poderá ser pior do que isto aqui.

O Guia disse:

- Maria, vai em frente com teu irmão. Estamos logo atrás.

Maria tomou Antônio pela mão e disse:

- Estou contente agora. Meu desejo se realizou, pois muito sofri por tua causa. Mas tudo vai ficar bem agora.

E disse Antônio:

- Perdoaste-me Maria? Vamos embora depressa.

Eles caminharam pelas ruínas e escombros, com a passagem ficando cada vez mais estreita. Até que chegaram enfim ao campo aberto, onde foram recebidos com gritos e maldições. Um grupo de mais ou menos vinte homens sinistros os rodearam. Um pegou Antônio pelo braço e o quis separar de Maria. Antônio revidou com socos e o derrubou. Os outros berraram de ódio e o atacaram, mas Antônio jogou um no chão e os outros se retraíram com medo

- Vamos embora depressa - disse Antônio. Aqui está perigoso.

- Antônio, queres deixar este pobre ente aqui, jogado no chão? - disse Maria. Estamos a caminho da vida verdadeira.

- Acho que tens razão. Mas eles não são nossos inimigos? Eles queriam nos prejudicar...

- Retribui com bondade. Daremos um grande passo evolutivo.

- Se achas assim, vou levantá-lo.

Ele se agachou, levantou o caído, e disse:

- Maria, ainda tens água no jarro? Vou vivificá-lo com água. Naquele momento, o homem abriu os olhos. Antônio lhe ofereceu o jarro. Ele bebeu com prazer e disse:

- Eu desejei tua destruição, e tu me vivificas com água fresca. Não podes ser tão mau, como te apresentavam.

- Não fales nisto, colega; mas vem conosco. Vamos ver o outro. Talvez não esteja tão mal assim.

E assim foi. Um gole da água fresca fez o milagre, mas o socorrido tremia de medo.

Perguntou Antônio:

- Estás com frio, ou com dor?

Respondeu o outro:

- Mais ainda tenho medo. Ainda não me aconteceu nada de bom depois da grande desgraça.

Os outros, ao verem a atitude de Antônio, se aproximaram hesitantes e pediram:

- Podemos ganhar um pouco de água? Estamos quase mortos de sede. O ar aqui é quente e seco... Tínhamos outra opinião formada sobre ti.

- Se não quiserdes mais fazer mal, vinde, vamos para junto Daquele Homem. Ele é muito mais do que eu. Só fui aceito por piedade.

Um deles se animou e foi falar com o Senhor:

- É verdade que Tu podes mais? Nós somos tão infelizes... Não sabemos mais o que fazer de fome.

Respondeu o Senhor:

- Se vosso pedido de ajuda for verdadeiro, um desejo de uma vida melhor vos dominar, então estais certos em vir junto a Mim, mas com a condição de que raiva e ódio não existam mais em vós. Sois espíritos e habitantes do mundo espiritual e não seres humanos. Toda ajuda é inútil. Tomai e bebei deste jarro. Todo o resto depende de vós, não de Mim.

Joana recebeu um aceno do senhor, tomou o jarro das mãos de Maria, e este estava novamente cheio. Todos tomavam, mas a água não diminuía. Antônio também pediu mais um gole. Joana lhe passou o jarro, dizendo: " O Amor de Jesus abençoe esta bebida, para que lhe sirva de cura"

Antônio olhou por longos momentos nos olhos de Joana, bebeu um grande gole e disse:

- Oh Jesus, que Homem deves ter sido, pois neste jarro havia vinho e me sinto bem melhor. Lamento muito ter tomado o último gole, pois a estes pobrezinhos esta bebida teria feito muito bem. Mas não vamos nos demorar muito aqui. Vamos sair logo deste buraco.

- Bem Antônio, este também é o meu desejo - disse Maria. Mas onde irias com eles? Podemos levá-los conosco.

O Senhor logo se aproximou e disse:

- Maria, não te preocupes. Deixa Joana falar. Ela conhece o Senhor melhor que tu. Presta atenção, pois tudo acontece graças ao Amor do Salvador.

Joana levantou sua mão e os cumprimentou:

- O Amor de Jesus vos cumprimenta e vos convida para nossa comunidade, que só deseja o bem e a salvação para os outros. Ainda sois estranhos nesta vida e pobres de amor são vossos corações. Por mim, o Senhor vos convida e oferece Seu auxílio. Ele diz: " Vinde conosco para nossa comunidade. É certo que tens que modificar completamente vossas vidas, já que chegastes aqui sem fé, sem amor, sem nenhum bem útil para o mundo espiritual. Está certo. Há muitos que vos auxiliarão e que querem se tornar vossos verdadeiros irmãos. Tenho certeza que não vos decepcionarei e que vós abençoareis um dia a hora em que confiastes vossas vidas a nós."

- Menina, não fales tanto, o Amigo aqui é a garantia de que o ruim já acabou para nós - disse Antônio. Podes acreditar: faz muito tempo que meus colegas se foram e é inimaginável o sofrimento que passei sozinho. Vede meu corpo; isto foi obra do inferno. Vede como Maria brilha; isto foi obra de Jesus, o Salvador. Para junto a este Salvador queremos ir; não devemos ir, pois seríamos todos destruídos. Acho que falo por vós, pois me chamam de líder. Então digo a este nosso Amigo: Sê Tu nosso líder, como o foste de nossas irmãs. Perdoa as ofensas que a Ti dirigimos e com as quais Te ofendi.

E disse o Senhor:

- Antônio, deste jeito me agradas muito mais e já que não posso te carregar deste jeito todo marcado pelo inferno, vou te tocar, para que fiques satisfeito.

- Sim, toca-me Tu, Amigo Angelical, esta será a prova de que me perdoaste. Mas permite que me ajoelhe à Tua frente.

Antônio caiu de joelhos ante o Senhor, o qual apôs Sua Mão direita na cabeça dele, dizendo:

- Deixa que o Amor se torne tua vida, e deixarás assim o Salvador feliz. Veste-te!

Antônio viu a diferença: ele estava vestido com um manto cinza. Ele disse:

- Sou mil vezes agradecido. Com o mesmo afinco que costumava servir ao mundo material, servirei de agora em diante a Deus, nosso Senhor. E peço a Ti, Senhor Jesus, que me perdoes e que me dês força. Amém.

Todos observavam Joana, o Senhor, a modificação acontecida em Antônio. Um deles disse:

- Seríamos idiotas se retornássemos aos escombros. Nós vamos juntos, se nos for permitido.

Sim, claro que vos é permitido - disse Joana. Sois convidados. Não percais um só minuto, pois a felicidade vos aguarda; quero dizer: Jesus , o Salvador.

Assim, começaram a caminhar por uma estrada que parecia longe para os novos. Jesus mandou parar o grupo e disse em voz alta para Joana:

- Joana, aqui Eu te deixo. A tua meta tu bem conheces. Meu serviço foi feito a contento. Não fiques triste. Aprontai tudo para uma festa linda, para que todos consigam reconhecer o Amor da Salvação.

Um aperto de mão, e Ele tinha desaparecido. Os outros perguntaram:

- Para onde Ele foi?

Já Antônio perguntou:

- Quem era este Amigo?

Mas Joana respondia:

- Não perguntem nada, pois tudo ainda é curiosidade em vós. Em bem pouco tempo, estaremos em no nosso destino, onde é minha pátria e que será a vossa. Vinde pois, em nome do Senhor que é o Eterno Amor. Finalmente, chegaram ao lar. O portão estava aberto, onde mãe Anna e Henrique os aguardavam e os convidaram a entrar.

Evolução

No salão de Henrique, a mesa estava posta com frutas, pão e leite. Anna disse:

- Sede bem-vindos em nome do Senhor Jesus. Fortificai-vos após este longo caminho que vos cansou e deu fome. Aqui estais protegidos. Comei e bebei, que o Amor preparou esta mesa.

Agradecidos pelas boas vindas e por este repasto de Amor - disse Antônio. Apesar de não sermos dignos de amor, creio poder dizer, em meu nome e em nome dos outros companheiros, que tudo faremos para não O decepcionar e para esquecer nossa vida devassa.

Tudo lhes agradou muito. Mas só começaram a comer bem, quando mãe Anna os incentivou, dizendo que o pão não acabaria na casa do Pai. Henrique também lhes pedia para comerem, para se fortificarem para as tarefas que viriam. Quando tinham se satisfeito e todo cansaço desaparecera, Anna começou a informá-los sobre a Ordem que regia a todos:

- Tu, Antônio, serás o líder guia desta pequena comunidade. O irmão Gotlob te orientará em tudo. Junto com teus irmãos,. construireis vosso novo lar de acordo com vosso amor.

- Não gostaria de ser o líder, mas se o Senhor assim o deseja, serei o servo mais ínfimo - disse Antônio. Mas como é isto de termos que aprontar nosso lar? Segundo meu conhecimento, está escrito que o Senhor aprontará nossas casas.

- Sim Antônio, tens razão. Para todos aqueles que acreditassem Nele e que tivessem vivido de acordo com o Seu Amor e Sua Ordem. Mas onde está o fruto de vossa fé? Vós tereis que começar do zero, e isto exige trabalho de muitos, o esforço de muitos , pois o local de vossa casa é o espelho de vosso mundo interior. Não quero desencorajá-los, mas consolá-los, dizendo que tereis muitos ajudantes. Porém devo informar-vos que Maria não ficará em vossa companhia. Ela ficará com Joana. Ela também tem que renascer primeiro, para que possa mais tarde assumir seu lugar destinado pelo Eterno Amor. Nada mais de perguntas. Lá vem Gotlob. Aprontai-vos para vos dirigir aos vossos destinos. Quem quiser conversar, saiba que estaremos sempre aqui.

Gotlob entrou, cumprimentou a todos com simpatia e disse a Antônio:

- Tu és o irmão que o Senhor escolheu! Eu te felicito por esta maravilhosa tarefa e espero que não O decepciones e cumpras o teu dever.

- Ah, então és Gotlob! Eu estou decidido em cumprir a Vontade do Senhor totalmente, mas tu tens que me ajudar, pois eu era um diabo até há pouco.

- Se o Senhor te chamou para esta maravilhosa tarefa, Ele também apagou teu passado. O primeiro que deves fazer é também tu apagar o passado em ti e dos teus amigos e começar uma vida nova desde o momento em que te uniste a este mundo. Tem paciência e confiança, que logo estareis muito felizes. Tu, Joana, leva Maria contigo, mas tens que prometer que em breve nos visitarás.

Todos se despediram um pouco tristes, mas Anna disse:

- Filha, O Senhor sabe de tudo. Sua preocupação é com tua evolução e tu esquecerás logo tudo, pelas novidades que enfrentarás. Amém. Maria ficou deslumbrada com a casa de Anna. Quase não se animava a mover-se, ante tanta beleza; mas Anna a abraçou e disse:

- Joana, leva-a para tua casa. Por favor, avisa a todos que a festa de natal será celebrada aqui e que todos tomarão parte da mesma. Tu, Maria, te acostuma às belezas, mas antes de tudo, trabalha com amor e faze muita introspecção, para que toda a tua beleza interna aflore. Apressai-vos, que as outras vos esperam ansiosamente.

Ao ver as belezas da região, Maria perguntou à Joana:

- É este o céu em que nos encontramos?

Sim, existem céus muito mais bonitos e evoluídos, mas nós ainda não estamos prontos para eles. Lá está a nossa casa, e as meninas já vêm ao nosso encontro.

- Oh Joana, neste meu manto escuro e sujo... tenho tanta vergonha. Por que nunca falastes desta beleza aqui?

- Não te preocupes com nada e trata de te tornar amor. Então tudo ficará diferente para ti.

As meninas as abraçaram, um júbilo sem igual se estabeleceu, e entraram assim em casa. Maria se assustou: " Nesta casa maravilhosa eu vou morar!?" Joana a levou à mesa que o Amor tinha preparado. Ela contou às outras os acontecimentos passados e todas muito se admiraram. Lisa disse então:

- Joana, chegaram muitos doentes. Muito mais que o de costume. Eu quero ir ao andar de cima, pois sou necessária lá. Descansa bem e vem logo.

- Não Lisa, Maria e eu vamos também. Vai em frente. E tu, Maria, queres nos ajudar nos cuidados dos doentes? Seria bom para ti.

- Quero sim Joana, mas te peço que me ensines tudo. Eu quero me tornar um ser útil, o que nunca fui na Terra.

- Não é bem assim, Maria. Tudo o que aqui fazes deve ser por amor. O que vem agora é escola, uma escola muito dura. Tens que esquecer o amor do mundo, matar em ti o amor carnal e só ter um desejo: tornar-te um praticante de caridade, como aquele que praticou caridade contigo.

- Vou tentar, eu juro; mas não me abandones, pois nada posso sem ti.

- Então vamos. Elas sobem as escadas e ao abrir as portas, vêem um salão com mais ou menos mil camas, muitas mesas e muitos bancos. Lisa se aproximou e disse:

- Vê Joana, nunca tivemos tantos doentes, e há alguns em estado grave. E tu, Maria, sê bem-vinda, e que nosso amor consiga te ajudar a carregar todo, o peso que terás que enfrentar, para que logo te tornes livre. Jesus seja contigo.

Maria agora começou a conhecer a miséria, mas fazia incansavelmente as tarefas que lhe eram destinadas. Quando não agüentava mais, ia ao jardim com Joana, onde meditavam e recuperavam suas forças. O pai maravilhoso tinha voltado no papel de doutor. Numa roupa branca, ia de cama a cama , de mesa a mesa, sempre alegre, sempre carinhoso. Um abraço aqui, um afago acolá e todos ficavam felizes e calmos. Maria observava e sentia uma forte atração. Temeu que fosse uma paixão carnal e tratava de apagar este sentimento ao máximo, mas era em vão. Por fim, ela foi a Ele e disse:

- Doutor, me perdoa. Preciso apertar Tuas mãos, pois uma paixão infeliz me pegou. Perdoe-me. Mesmo que me expulses, não consigo mudar.

- Maria, estás curada agora. Segura Minhas duas Mãos.

Ela as pegou e tentou levá-las ao peito, quando notou as chagas.

- O que é isto? Tu és Jesus! O que eu, desgraçada, aprontei!

Ela foi ao chão e chorou, molhando Seus Pés, mas não viu de imediato as chagas nos pés. Ao vê-las, quis fugir, mas o Pai a tomou em Seus Braços e disse:

- Para onde queres fugir, que Eu não te encontre? Estou feliz contigo; e como prova disto, te darei um vestido novo. Continua assim. Faze que teu coração se torne Amor, para que possas, tu também, te tornar uma bênção para os perdidos.

- Oh Jesus, Tu já esquecestes de minha traição?

- Maria, o que fizeste na tua cegueira, tiveste que pagar amargamente. Mas já que prestaste auxílio ao teu irmão perdido, resgataste tua dívida. Aprende bem nesta escola, pois assim entenderás mais a Minha Vida, que é Amor e Piedade. Somente estando em Minha Paz, poderás evoluir e crescer. Minha Paz seja tua força e Meu Amor tua vida. Amém.

Com estas palavras, O Senhor desapareceu.

- Oh Joana, quando a felicidade está no máximo, é o fim - disse Maria. Mas vê: estou com um vestido azul e um manto branco. Mas eu tenho uma pergunta: Sabias que o Doutor era o Salvador?

- Claro Maria, mas em nosso mundo é diferente do mundo material. Aqui, tu sozinha deves descobrir, para que tua vida interior enriqueça com a Divindade e o Divino. Estás feliz?

- Claro, mas eu teria me comportado de maneira diferente.

- Não adianta fazer teatro aqui. A vida é por demais séria . Nós não forçamos nada, mas o espírito que está em ti tem que te motivar, pois de outra maneira, não haverá evolução.

Agora, todos preparavam a festa de Natal e os doentes já estavam bem melhor. Não precisavam mais das camas e tudo estava mais cômodo e simpático.

Uma festa no Espírito de Jesus

Todos foram para casa de mãe Anna. Surpresos, viram uma enorme arena para mais de mil lugares. No centro, uma plataforma com capacidade para mais de cem pessoas.

Joana e seus pupilos estavam no setor sul. Seres e mais seres chegavam, tudo sem qualquer confusão. Era só alegria e uma aceitação vinda desta bênção de assistir o Natal, um Natal que a Terra ainda não conhece. A plataforma foi toda enfeitada com flores. À sua volta, havia muitos com roupagem luminosa e instrumentos musicais, que começaram a tocar quando mãe Anna e um esplendoroso anjo adentraram o recinto. A música era totalmente desconhecida, mas incrivelmente bela. O anjo falou:

- Paz e alegria nos unam! Minha saudação também é meu agradecimento a vós, que sois filhos de meu Deus e senhor. Com tristeza e coração partido, venho de vossa antiga Terra, onde a festa do Amor foi transformada na festa do ódio. Meus olhos viram miséria e mais miséria, desgraças e mais desgraças. Meu coração estava cheio de dor, pois os desgarrados e perdidos ainda por cima amarraram as mãos daqueles que desejam praticar o bem e a caridade. Eu implorei ao Senhor poder passar as festividades em vossa companhia, pois vós ainda estás ligados à Terra e precisais de muita ajuda e esclarecimentos. Minha palavra é dirigida principalmente àqueles que ainda usam roupas escuras. Eu vos digo em nome do Senhor: Sede conscientes de que cada vida precisa ser completada e que somente vosso livre arbítrio, vossa vontade livre é que vos impulsiona nesta vida aqui. Quando, neste dia sagrado e festejado em todo o universo, vós podeis festejar junto aos bem-aventurados, isto é a maior Graça e o maior presente de Amor do nosso Santo Pai. Vós, porém, que estais em roupas brancas e brilhantes, enfeitai-vos com o presente do Amor, iluminai a tudo e a todos com o Amor, que é a vossa vida. Vossos olhos permaneçam sobre os pobres, vossos corações sejam o refúgio que todos possam procurar. Vosso amor é importante e como prêmio, podereis ficar com vossos afins bem-aventurados. Aprontai-vos para receber estes hóspedes divinos.

Junto à Joana, chegou mãe Helena, e a alegria do reencontro foi imensa. Os músicos tocavam melodias lindas e a mesa estava cheia de frutos maravilhosos. Um grupo representava a Natividade na plataforma, onde os pastores procuravam o recém-nascido. Um anjo disse:

"Oh momento divino, no qual meus olhos podem ver;

Uma Criancinha que nasceu esta noite;

Tu, que vieste da eternidade para estes tempos;

E que tomastes em Tuas mãos os pobres e desgarrados;

Sê, para todo o sempre, meu herói e pastor;

Faze-me trilhar Teus caminhos, seguindo Tua vontade;

Oh instante santificado, Criancinha que nasceu esta noite;

Tornaste-me teu filho e me salvaste;

Vieste na noite, para tudo iluminar;

Com Tua luz piedosa, te expuseste a Ti mesmo;

Oh gesto de caridade glorioso em que tu te tornaste para nós;

Deixa-me Te amar completamente;

Oh Jesus, Meu Pai, fica em nós;

Como nós ficamos em ti;

Ouvi a notícia: "a criancinha nasceu";

Cantavam os anjos nesta hora santificada;

Oh Jesus, és a Vida, a salvação para o mundo todo;

Queres Te dar como Pai, onde o amor filial Te envolver;

Vê estes presentes, vêm de Ti; permite que eu os distribua;

Para que todos os que aqui estão ao teu lado sejam curados ."

Neste instante, milhares de mãos distribuíram cestinhas com frutas que ninguém havia observado sobre a mesa, mas ela não ficava vazia. Sem muita demora, todos haviam ganho uma cestinha, mas a maior alegria estava por vir: o Pai se fez visível. Abraçando a todos, ele disse:

- Vossa alegria é Minha alegria, Meus filhinhos, é a maior alegria para o Meu Coração Paternal ver em vós o crescimento de minha Vida e Meu Espírito Salvador apossado por vós. Eu venho das regiões mais baixas e gostaria de novo de lembrar a vós, que atuais dentro do Meu Espírito Salvador, que nenhum céu ou nenhuma beleza celestial pode Me dar mais alegria que vós, que fostes arrancados da miséria e da perdição. O Inimigo da Vida crê que pode festejar a vitória sobre toda a Vida. Ele ri de Meu Amor Divino e glorifica seu ser, que diz ser melhor que meu Amor Salvador. Porém aqui, quando olho em vossos olhos brilhantes e vejo vossos corações cintilando feito vela ardente, toda esta dor desaparece e sou recompensado pelo sofrimento que tomou conta de Meu Coração naquele turbilhão mundano. Oh filhos, ouvi: Meu coração estará sempre convosco. A torrente de Meu Amor e Minha taça nunca deixarão de vos vivificar, mas uma coisa Eu vos peço: na vossa felicidade, jamais esqueçais os pobres. Saboreai agora as frutas criadas pelo Meu Amor para esta celebração. Elas expressam Meu Amor e Meu agradecimento. Amém.

Apesar de todos desejarem correr para junto do Senhor, permaneceram calmos e quietos em seus lugares e comeram o fruto do Amor Paternal. Começaram a cantar e tocar músicas. Com este maravilhoso oratório, esqueceram sua miséria passada. Após horas, a festa acabou. Todos voltaram para suas casas. Gotlob e seus pupilos aguardaram pacientemente até poderem chegar junto a Henrique e Anna, onde Joana e suas companheiras, inclusive Maria, se encontravam. Os pupilos foram guiados por outros até o caminho para casa, pois o Pai, que conversava com Henrique, queria com eles falar.

O Amor não acaba jamais.

Ao chegar junto a Henrique, António não se conteve e correu para o Senhor:

- Oh querido Amigo, que eu possa te ver de novo! Meu coração desejava Te ver, pois quero Te agradecer e Te pedir um favor: gostaria de agradecer Joana e Maria, pois quase não as vejo mais.

- Podes fazê-lo, Antônio. Estou a par de teu trabalho e de teu esforço, mas deves ter um pouco de paciência e lembrar que aqui, no reino da eternidade, tudo é diferente da Terra; pois aqui, onde estás e onde trabalhas, é teu reino. Depende de ti e de tua evolução. E sempre tens que voltar para o Amor Verdadeiro, que terás ajuda. Vê esta obra de arte. Ela só foi possível ser realizada pelo Amor. Tu e teus irmãos levariam séculos para completá-la. Agora, vai junto a Joana e Maria, que muitas respostas te serão dadas. Saúda tuas irmãs e não te escandalizes com tua roupa. Na hora certa, uma roupa mais clara indicará teu grau de evolução.

As saudações foram sinceras e alegres, mas Antônio se dava conta do abismo que os separava. Joana disse;

- Sobre o abismo, construa uma ponte que se chama amor ( disse Joana. Confia, que vivenciarás em breve o milagre do amor. Tu podes nos visitar mais vezes. Tem paciência; teus irmãos também adorariam morar aqui com mãe Anna.

Disse Anna:

- Venham filhos. Também tens que me visitar, mas não podeis vos assustar ante a beleza daqui.

Eles entraram e Anna os convidou para um repasto. Antônio estava constrangido, mas o Senhor o levou para Seu lado e disse:

- Alegrai-vos todos em poder estar a mesa, pois quem nesta mesa comeu e bebeu, recebeu a completa redenção de seus pecados. Sei de vosso interior. Todo o passado não pode ser transformado tão depressa em algo novo, mas não sentis como o Salvador, em seu Amor, vos ajuda? Todos os que aqui moram e os que moram lá fora, naqueles sítios maravilhosos, já foram miseráveis iguais a vós. Todos vós podereis chegar lá. Bem, agora, fora com os pensamentos tristes e vamos olhar o futuro com olhos esperançosos. Mãos à obra, que conseguiremos tudo!

Ao degustar o pão servido pelo Senhor, Antônio exclamou:

- Se houvesse milagres como estes na Terra, ninguém deixaria de amar o Criador desta maravilha!

E o Senhor respondeu:

- O Criador deste pão é o Criador de todo Universo e a Terra nos apresenta diariamente milagres iguais a este. Não nos dá ela tudo que necessitamos de seu seio materno? E como está lá? Reconheces agora a graça e te espantas com Minha questão. Isto demonstra que trabalhas com alegria e estás ganhando espaço no Amor.

- Assim Deus permita, mas me é difícil esquecer o passado com estas cicatrizes no meu corpo. Imaginar que pisei num pão tão maravilhoso...!

- Paciência Antônio. Estás entre os bem-aventurados, estás sentado à mesa de Teu Pai e mesmo assim, não deixas a alegria tomar conta de Ti. Joana, traze mais vinho.

Esta assim o fez. O Pai serviu um cálice, tomou um gole e disse;

- Toma Antônio e passa logo para teus irmãos. Todos devem saber que o Senhor é Amor.

Começaram a jornada para casa de Joana, que era uma edificação grande, branca e muito limpa. Joana disse ao chegar:

Sejam todos bem-vindos e abençoados ao entrar em minha casa, em nome do Senhor.

Não ficaram muito tempo no primeiro andar. Logo subiram, onde os doentes se movimentavam livremente. Ao se aproximarem houve uma explosão de alegria, pois tinham reconhecido seu bem-amado Doutor. Pensou Antônio: " Que homem teria sido, já que os corações destes doentes e débeis mentais tanto O amavam. E Maria? Ela só tinha olhos para o Doutor. Será que ela está apaixonada ". Antônio começava a sentir uma pontada de ciúme. Neste momento, o Doutor se virou e disse:

- Antônio, por que te perdes novamente, sem nem ao menos ter te encontrado? Não te digo sempre para te lembrares que o Senhor é Amor? Todo o pensamento deve acontecer por causa do amor e como conseqüência do amor. De outra maneira, ninguém chegará a Verdade.

- Sabes, querido Amigo, toda palavra é um mistério e todo olhar manifesta um segredo. Vai demorar muito, até eu entender tudo; mas uma coisa eu aprendi: nós humanos somos os maiores idiotas do Universo e as conseqüências das idiotices se fazem sentir aqui.

- Não com respeito à beleza, mas com relação à tua ignorância. Mas começa agora a ser sério no espírito, pois todos que estão aqui sabem que é o Amor a causa e o princípio da verdadeira vida; mas não um Amor que quer desfrutar, mas sim um que quer ajudar e presentear.

Joana apontou as flores maravilhosas que estavam em cima das mesas e disse:

- Levai algumas e plantai-as em vosso jardim. Minha missão está concluída. Espero que em breve possa visitar a todos. Antônio, Maria ainda não pode ficar contigo. Isto não depende de nós, mas sim do Senhor. Ide em paz. E tu, querido Gotlob, em breve serás liberto da obrigação de calar e terás que falar muito.

Disse Maria:

- Antônio, aqui eu vivencio pela primeira vez o verdadeiro Amor. Tem certeza que só neste Amor nos será possível ser felizes por todo o sempre. Tem fé e esperança, que conseguirás compreender o Espírito que verdadeiramente nos torna felizes e bem-aventurados. Joga fora todo o teu passado e vive totalmente no Espírito desta Vida que agora se oferece a ti. Assim, encontrarás o Santo Pai, que te espera ansioso.

O Senhor abençoou os que partiam, os quais várias vezes pararam para olhá-Lo mais uma vez.

O grande milagre do Amor

As meninas trabalhavam sem descanso. Maria estava serena. Seu coração se incendiava, quando se lembrava do momento em que tinha reconhecido o Senhor. Mas era um desejo santificado e nada tinha a ver com os desejos que a possuíam antes. Ela aguardava o Senhor com ansiedade.

- Maria, vamos visitar teus amigos - disse Joana. Sinto que eles nos aguardam.

- Com prazer, Joana, mas antes eu teria mais prazer se o Salvador aqui estivesse. Anseio por ver Sua presença.

- Se teu anseio estiver baseado no amor, Maria, então Ele aqui se encontra. Este anseio é só um sentimento, provindo de tua alma, então tens que ter paciência.

Com um balaio cheio de frutas e flores, as duas vão ao encontro dos amigos. Mãe Anna as aguardava. Convidou-as para entrar um pouco e disse à Maria:

- Filha, continua a trabalhar com afinco neste amor que acabas de encontrar Em pouco tempo, sentirás a satisfação total. Ainda pensas demais em ti mesma e tudo perde o brilho e a beleza, mas se teus anseios são pelo Senhor e pelos teus próximos, tudo se tornará melhor. Só serás satisfeita em teus anseios, se verdadeiramente te tornares, em espírito, Sua serva e representante do Seu Amor Divino.

Cheias de amor, as duas continuaram sua jornada, onde encontraram muitos amigos. No sítio dos amigos, uma linda casa tinha sido feita. Antônio as avistou de longe, chamou Gotlob e correu ao encontro delas. Disse ao encontrá-las:

- O sol brilha mais neste momento. Sejam bem-vindas ao nosso lar.

Uns plantaram algumas flores, outros as colocaram em vasos e distribuíram frutas sobre a mesa. A sala se encheu de um perfume sem par.

Todos tinham trabalhado com afinco e Joana muito elogiou as melhorias, que representavam as melhorias ocorridas no espírito de todos.

Disse Antônio às duas:

- Creio que trouxestes algo, pois este perfume não pode ser só das flores. Eu me sinto tão completamente bem, como nunca em minha vida.

Disse Joana:

- Tens razão. O amor que sentimos em nossos corações só seria diminuído se usássemos palavras para espargi-lo. Assim, usamos o perfume das flores para falar por nós.

- Sinto dentro de mim que todos nós somos outros. Mas meu passado ainda me pesa. Sim, se pudesse arrancar tudo e apagar tudo, seria mais fácil. Se Aquele Amigo estivesse aqui, Ele me ajudaria; isto eu tenho certeza. Quando acho que consegui entender, tudo logo se enche de dúvidas novamente. Sinto falta de Maria.

- Mas amigo, desde quando as frutas amadurecem em um único dia? Por que desejas Maria? Ela mesma ainda está em grandes lutas, para amadurecer espiritualmente. Tu necessitas somente Um: Jesus, nosso Salvador. O que seríamos nós sem Ele? Onde teríamos ficado? O que teríamos nos tornado, se Ele não tivesse vindo em nosso resgate? Olha Maria; finalmente conseguiu se libertar de sua paixão carnal. Desde então, nada a separa do Senhor Salvador.

- Sim, tudo isto eu sei. Luto contra meu passado. Queria compensar minha vida devassa, ajudar meus amigos, mas ainda estou muito longe do destino final. Dá para desesperar.

- Não me dizes nada novo. Eu e Maria passamos por isto também, e todos os que estão na escola das evolução. Não nos conhecíamos, tudo era dirigido para o exterior, e nos esquecíamos do interior. O exterior marcava impiedosamente nossa alma que aqui se torna nosso corpo. Por isto, só existe uma salvação e ajuda: Jesus, o bom Salvador.

- Eu sei, eu sei; mas é tão difícil dobrar a nossa vontade...

- Tudo o que quiseres que façam contigo, faze a teu próximo primeiro. Ainda existe demais vontade própria em ti. Faze que tua vontade se volte para seres o amigo, o irmão e o ajudante para todos os teus próximos. Somente assim, o teu espírito consegue quebrar as muralhas e pode se tornar um verdadeiro servo do Salvador.

Antônio olhou Maria e disse:

- Maria, tu me amas? Tu também falarias assim como Joana? Isto significa te perder, pois vives dentro de mim.

Respondeu Maria:

- Antônio, eu encontrei o grande tesouro, pelo qual todos nós, inclusive tu, nos tornamos bem-aventurados; e ele se chama Jesus, o Salvador. Enquanto ainda existir algo de "eu" em nós, não seremos bem-aventurados. Deixa o Amor Divino tomar posse de ti. Sei que é muito difícil e eu também achava que seria impossível, mas consegui finamente. Sê humilde. Pede ajuda a Jesus. Só com ele, conseguirás te vencer.

- Eu o consegui, e sabes quem estava ao meu lado? Aquele teu maravilhoso amigo.

Joana colocou uma mão sobre a boca de Maria e lhe disse:

- Os irmãos gostariam de saborear os frutos. Não gostarias de distribuí-los? Pede a Antônio para chamar aos que ficaram lá fora. Estamos falando demais...

Continuou Antônio:

- Puxa consegui esquecer dos outros. Tens razão Joana: penso demais em mim mesmo. Os outros chegaram junto à mesa, mas não se encaminharam para comer. Todos olhavam Antônio, como que esperando uma ordem.

Disse Joana:

- Antônio, teus irmãos não se sentem bem, qual é o motivo? Sua alegria ainda não é pura. Torna teu rigor em amor; sejas tu o exemplo de amor. Vós, irmãos, deixai de lado a timidez e o medo, a fim de que não somente vossa casa, mas também vosso interior se transforme num raio do sol. Os frutos comei com alegria. Vinde, comei, não os trouxemos para serem admirados.

Antônio olhou Joana e Maria, pegou uma maçã e deu uma mordida. Acenou depois para os outros, que só então começaram a comer. Um deles perguntou à Joana se poderia plantar uma árvore igual aquela, ao que ela respondeu:

- Irmãos, as árvores produzem os frutos de acordo com o amor existente em nossos corações, não com as árvores que os carregam. Aqui, não é como na Terra, onde tudo segue as leis da natureza. Aqui, no mundo espiritual, há leis sim, mas o Amor é a concretização de tudo Não penseis no que vos é agradável, mas tentai agradar aos outros, e tudo se tornará melhor e mais bonito.

Disse Antônio:

- Joana, é possível que uma árvore produza hoje frutos doces e azedos amanhã?

- Antônio, duvidas da Onipotência de Deus, que só nos é revelada pelo amor ativo? Pega esta flor e planta, mas no espírito do Amor Verdadeiro, e o milagre do Amor Divino te será revelado.

Antônio pediu a Joana que o ajudasse na tarefa. Ela concordou e ele foi ao seu jardim, para plantá-la. Ela o deteve e disse:

- Antônio, não. Plante-a no jardim de teus irmãos, e aí sim elas se tornarão maravilhosas. Para teu jardim, ainda colherão algumas. Se só pensares no teu jardim, elas não significarão nada. Vou para junto de Maria, que me precisa.

Enquanto Antônio plantava nos jardins dos irmãos ele sentiu uma felicidade ímpar e começou a meditar sobre a alegria de poder servir ao próximo.

Neste momento, chegou um homem. Era o primeiro estranho que ele via neste lugar. Quando chegou mais perto, reconheceu o Amigo que o tinha salvo do inferno. Como mostra de alegria, ele O cumprimentou. O Amigo perguntou por que ele estava só:

- Onde estão teus irmãos? Eles te abandonaram?

- Oh não, querido amigo. Eles estão na casa, onde Joana e Maria os visitam. Eu só estava plantando estas flores que as duas trouxeram, para que os nossos jardins ficassem mais bonitos.

- Fizeste bem, vim Eu te ajudar, para que acabes logo. Eu quero ver como todos evoluíram para vossa salvação.

- Seria bom, mas deixa-me plantar sozinho. Quero seguir o conselho de Joana. Além disso, estou vivendo um enorme milagre.

- Milagre? No mundo espiritual não existem milagres. Eu certamente teria conhecimento disto.

- Como não existem milagres. Olha estas flores, elas não acabam nunca. As plantadas já dariam um monte e eram somente um raminho.

- Bem fica com tua impressão. Mas me deixa ajudar, pois estou feliz contigo. Dá-me metade das plantas. Verás que não sou jardineiro de se botar fora. Enquanto isto, conta sobre tua vida aqui.

- Sabes, vou seguir o conselho de Joana e não falar mais do passado. Cada vez mais que o faço, sinto uma amargura tal, que parece que não dei um passo em frente.

- Não me diga, Antônio; mas você está com um aspecto muito bom. Passaste necessidade aqui?

- Sim e não, Bom Homem, depende. Fome e sede aqui ninguém passa e o trabalho é positivo, mas o negócio não vai bem aqui dentro. O peso da vida na Terra é muito grande, não consigo esquecer Maria e sinto muito sua falta.

Os dois trabalharam em silêncio, plantando. O Homem plantava com uma velocidade enorme e Antônio suava muito mais, pois não queria fazer feio. No fim, faltando só um jardim o Homem disse:

- Antônio só tenho sete flores, e quantas você tem?

- Duas, mas não tem importância, pois este é meu jardim. O importante é que os outros estão lindos e os irmãos vão se alegrar.

- Vamos plantar estas flores com muito amor, Antônio, então vivenciarás um verdadeiro milagre.

Sem amor nada se consegue

Antônio começou a plantar com a esperança que, ao plantar, se multiplicassem, mas desta vez isto não aconteceu.

- Antônio, estás triste por quê? ¾ perguntou o Homem. Esperavas que as flores se multiplicassem? Por que estás decepcionado? Mais tarde, com as sementes, poderás plantar mais e fazer um jardim ao teu lado para teu total prazer. Ou lamentas tua generosidade nos jardins dos irmãos?

Antônio tomou em suas mãos as do Amigo e disse:

- Vês, querido Amigo, novamente caí no antigo erro. É tão bom quando estás comigo. Acho que teria feito a maior bobagem em tirar dos jardins dos irmãos, para plantar no meu. Não gostaria de ser menos que os outros.

- Antônio, creio que fazes a bobagem em tratar teus irmãos de forma errada. Eu acho que se fosses diferente, teus irmãos te amariam muito mais. Vê, lá vêm eles nos buscar. Demoramos mais do que pensamos.

Vinham todos, Joana e Maria também. Esta, ao ver o Senhor, quis se jogar a Seus pés, no que foi impedida por Joana, que disse:

- Pára, não denuncies o Pai, pois Ele quer ser descoberto.

Os irmãos muito se admiraram com a beleza de seus jardins e um deles disse a Antônio:

- Irmão, irmão, meu jardim é um verdadeiro mar de flores, e o teu está tão vazio... Eu sempre te temia um pouco, mas eu te amo agora, pois és o melhor.

- Não digas isto. Paulo, vamos agradecer Joana por ter trazido flores tão lindas. E também este meu Amigo, pois Ele me ajudou na plantação.

- Pois é, quem é este Amigo? É Ele o mesmo que te tirou do inferno e do qual tanto falas?

- Se eu soubesse, Paulo... Só sei que Àquele devemos muito, pois sem Ele ainda estaríamos no meio dos escombros. Quando me lembro da festa de Natal e do Visitante, eu sempre O coloco como um anjo muito importante.

- Mas Antônio, por que não Lhe perguntas pela Sua posição e Seu nome? Eu acho que Ele não se zangaria.

- Ele é um Médico muito importante. Os doentes de Joana melhoraram muito com sua presença.

- Ora Antônio, acho que és um grande bobalhão. Eu não teria problemas em Lhe perguntar, e é isto que vou fazer em teu lugar. Eu confio muito Nele.

Gotlob estava conversando com o Senhor. Paulo se aproximou e tencionava ouvir a conversa, quando O Senhor lhe disse:

- Queres algo de Mim? Eu vim para todos, mas curiosidade é algo que não satisfaço. Meu amor quer vossa Salvação.

- Querido Amigo Anjo, Tu estás certo a meu respeito, mas vê: Antônio Te ama, mas não sabe quem és. Eu gostaria de ajudar Antônio. Tu podes me ajudar, pois confio muito em Ti.

- Paulo, isto é muito gentil de tua parte. Eu gostaria de te ajudar, mas por que Antônio não vem, ele mesmo, perguntar? Aqui no mundo espiritual, só somos donos daquilo pelo qual lutamos e conquistamos por nosso próprio esforço. Não lhe valeria nada, ao contrário o prejudicaria. E... o que importa Meu Nome? Se Eu te disser Meu Nome, continuarias a ser o mesmo Paulo de sempre. Se tu Me conheces e Me aceitas, seremos dois para forma externa, mas um em nossos corações e no nosso interior. Enquanto Antônio ainda for Antônio, sereis duas entidades, mas no momento que o reconheces e amas como é devido, até assumes suas bobagens, ou qualquer coisa que fizer em seu amor ou fraqueza, então terás encontrado a planície que te fará apto a reconhecer a Deus e O aceitar em teu coração. Entendeste?

- Entender não, mas eu suspeito algo muito maior. E isto é tão natural, como se nada pudesse ser mais. Posso falar abertamente? Tu dizes que se eu respondesse pelas bobagens do irmão, eu teria alcançado a benção de reconhecer o Senhor. Responderias Tu, querido Amigo, por minhas fraquezas?

- Mas claro, querido Paulo, pois as bobagens que fazemos por amor ou fraquezas são corrigíveis e delas sempre sairá algo melhor. Pois amor verdadeiro sempre traz algo de positivo como conseqüência.

- Eu te agradeço. Agora, a prova definitiva: não Te assustes pois eu Te direi que não és nenhum anjo e também não és um doutor, mas sim o Senhor. E como dissestes que responderias por minhas bobagens e fraquezas, eu faço o que meu coração está me mandando.

Ele abraçou o Senhor e beijou Sua testa. Disse depois:

- Ufa, estou satisfeito agora e me sinto em paz.

- Permanece em tua fé, mas não esqueças teus irmãos. Nem todos podem Me conquistar assim, é necessário muita paciência e muito mais ainda confiança. Não me denuncieis, mas testemunha o Meu Amor e Minha Compreensão. Junto ao irmão Gotlob, terás apoio. Volta junto de Antônio, para que ele também se organize.

Quando Paulo chegou junto de Antônio, estava completamente fora de si. Disse-lhe Antonio:

- Paulo, eu não gosto nada destes arroubos de ternura que usaste com nosso Amigo. Eles me recordam minhas fraquezas miseráveis, as quais eu não consigo digerir. Sabeis quem Ele é?

- Amado irmão, isto eu não preciso saber mais, pois Seu Amor me foi mostrado. Se lhe tivesses agradecido devidamente, quando te ajudou a plantar as flores ¾ não com a boca, mas sim lá no fundo de teu coração ¾ então tu certamente saberias muito mais do que eu. Uma coisa posso te dizer: se o Amigo me dissesse: “Paulo vem comigo”, eu iria, mesmo que fosse ao fim do mundo, sem pensar um minuto.

- Paulo, tu és um sonhador. Eu levo tudo a sério, nunca mais eu gostaria de afligir a Deus, pois minha culpa ainda não foi resgatada.

- Antônio, tu não és somente um bobinho, mas um grande asno. Já estás a não sei quanto tempo no reino dos bem-aventurados, e passas pelo Grande Amor, O que sempre nos acalenta e acaricia. Toma noção de ti e não te deprecies tanto. Se não fossemos valiosos para o Senhor, Ele não nos teria procurado. Se ainda fossemos os grandes pecadores de antigamente, este maravilhoso Amigo não teria vindo aqui. Com este Amigo, o Amor Salvador veio ao nosso convívio e tomou nosso coração. Abre teu coração e fecha tua boca. Pior do que já estivemos, nunca mais será possível ficar. As flores maravilhosas são a prova disto.

- Paulo, como eu gostaria de dizer que tens razão.

- Ora razão... Crê e te atreve a desejar mais! A quanto te atrevias no reino da Terra? Aqui, és como uma criatura ingênua. Vê como, ao me ouvir, todos sorriem E o bom Amigo me apóia sorridente. Não posso estar errando no meu sentimento.

Disseram Joana e Maria:

- Antônio, os jardins de teus irmãos estão maravilhosos, mas o teu está muito mais bonito, porque encontraste o cainho certo. Eu não entendo como conseguiste fazer tudo sozinho.

- O bom Amigo me ajudou. Plantar flores deve ser sua especialidade, pois quase que não O alcançava.

Disse Maria:

- Antônio, te comunicaste finalmente! Quando, desde o Senhor até mim, que sou a mais ínfima, todos desejaram tua salvação, teu bem e o bem de todos? Ainda não te deste conta o que o Amor é na sua origem e o que ele deseja? Enquanto ainda existirem estas dúvidas em ti, não poderás achar clareza em ti. Eu sei Este Amor é a verdadeira Vida. Sem este Amor, não haveria nenhuma libertação e evolução neste mundo. Por isto, eu não penso mais em mim, mas sim em me tornar uma serva digna do Amor. Sinto-me livre e leve desde então e me torno um ser melhor. Não desejo mais nada para comigo, mas sim tudo para os outros.

- Ah se eu conseguisse isto, Maria, nada me deixaria mais feliz.

- Antônio, já deste o 1º passo, ao pensar em teu jardim por último.

- Nada disso, Joana teve que me alertar.

- Mas o fizeste com alegria e assististe o que o Amor pode. O Amigo te ajudou, as flores não acabavam; o que mais queres?

- Maria, não me encurrales. Eu ainda sou um teimoso sem par, como era antes. Isto me entristece.

- Antônio, então não há ajuda para ti, que é cego e bobo. Que fique assim. Mas lembra-te do que o Salvador disse: “ O mundo celestial usa violência”; não a violência da vontade, mas a violência do coração. Teu irmão Paulo foi mil vezes mais esperto que tu, ainda que o chamaste de sonhador. Ele se encontra na porta aberta para a Vida, enquanto que tu não queres ver a porta. Mais do que isto, não me é permitido te dizer. Faze o que teu coração te ordena.

Antônio quase explodiu de raiva, mas olhando para o Senhor, viu que Este lhe sorria. Antônio foi ao Seu encontro e disse:

- Amigo, és o único que poderia me entender. Sempre se fala de Amor; agora que eu preciso do amor, ninguém mo dá. Não quero criticar ninguém, mas é assim que quero dizer, excluindo Tu.

- Meu querido Antônio, Eu não gostaria de perder o bom conceito em que Me tens, prefiro por isto calar; mas o que dirias a uma criança, à qual continuamente se deu bons conselhos e ela não os seguiu? Tu te perguntas: “ Sou essa tal criança? Eu estou com tanta boa vontade...” Com toda a Minha experiência Eu te digo: ainda vai levar muito tempo, até que chegues à verdade de ti mesmo. Enquanto isto, desprezas o que Deus, com Seu amor, te apresenta. Teu zelo é sem igual, mas tuas forças te abandonarão, pois queres expiar teus pecados. Pergunto se o sangue do Salvador não foi derramado por ti também? Ele não expiou os teus pecados na Cruz? Sua morte não foi para te dar a Vida?

- Querido Amigo, coloca-me na presença de Jesus, para que eu possa lhe contar minha miséria e dor. Se Ele ajudou milhões, pode me ajudar também.

- Antônio, como te enganas em relação à ajuda do Senhor e Salvador Jesus. Ele não deseja que Lhe implores por ajuda, mas Ele quer que o Seu Espírito se torne propriedade do homem. No teu entender, Ele teria que te levar de teu mundo para o mundo Dele. Tu já pensaste que viveste quase quarenta anos no Seu mundo e falhaste completamente? Tu pensas: “ Qual é minha culpa, se me educaram assim?” E Eu te digo: tu tinhas uma mente que tudo podia avaliar e experimentar e um coração que tudo podia sentir. A palavra de Deus te era indiferente. Aquelas pessoas religiosas só mereciam escárnio e desprezo de ti. Mesmo assim, o Salvador Jesus jamais te abandonou; mesmo agora, Ele tenta te conquistar para Sua obra e Seu reino.

- Amigo, o que devo fazer? Dizei-me com palavras claras e simples.

- Antônio escuta: quando os apóstolos perguntaram a Jesus quem seria o mais importante em Seu reino Ele disse: “ Aquele dentre vós que for mais ínfimo, será o maior em Meu reino”. Nisto podes ver que a ambição de poder e a tendência negativa que não se adapta ao pensar divino devem ser banidas.

- Credo, eis o “x” da questão. Sinceramente, ainda não cheguei a tanto. Eu agora sei que o Senhor não pode me ajudar.

Sim Antônio. Com Sua Graça, te fortificará; com Seu Amor, te procurará de novo. Tu só tens que enxergar, e tudo ficará bem mais fácil. Mas mostra-Me tua casa.

- Querido Amigo, não minha, mas nossa casa; e não eu, mas nós todos Te mostraremos a casa.

- Antônio, isto Me alegra muito. Dizei a teus irmãos que Eu gostaria de ser aceito em vossa casa.

Visão da vida interior

Não é de se acreditar com que alegria eles levaram o Amigo para sua casa. Tudo logo foi vistoriado, e o Amigo elogiou o que viu com entusiasmo, tanto plantas, como flores e frutas. Mas reclamou da falta de amor nas obras feitas, pois tudo deveria respirar amor, como nas flores, plantas e frutos.

Disse Antônio:

- Gotlob nunca reclamou isto. Para ele, tudo estava bem.

Disse o Senhor:

- Certo, mas deveis considerar que sois espíritos livres e não trabalhais seguindo ordens e comandos, mas sim seguindo vosso próprio espírito e instinto livre.

Todos se sentaram à mesa e Paulo disse ao Amigo:

- Eu gostaria de Te oferecer as frutas que Joana nos trouxe. Negar-te-ias a aceitá-las?

- Não Paulo, mas porque excluis os outros? Tu só deves saber se elas são suficientes para todos e se o Senhor as abençoa.

Paulo entregou o prato com as frutas ao Senhor e depois as repartiu para todos. Elas eram bastante e Antônio disse:

- Paulo, eu teria medo do fiasco, se elas não tivessem sido suficientes.

- Eu não teria morrido por isto, mas já que temos a ajuda certa, tudo vai dar certo. Mas a ti, querido Amigo, eu peço: fica mais aqui. O dia já está clareando. Seria bom, se pudéssemos ver as bênçãos divinas, que tu revelas à luz do dia.

Disse o Senhor:

- Ouve Paulo, Eu voltarei, não quando Me pedirem, mas sim quando vossos corações estiverem bem abertos e receptivos. Mas para dar-vos uma prova de amor, Eu vos digo que amo todos. Por favor, comei as lindas frutas que Paulo serviu e deixai que tudo em vós se torne amor.

Todos começaram a comer. Com o sabor das frutas, em todos só existe um pensamento: “ estas frutas são do céu e conseqüentemente, o Senhor não pode estar longe.”

Antônio silenciou, dentro dele só havia um desejo: fazer que este Amigo junto a eles ficasse. Os outros também estavam como que completamente livres e vivificados. Joana contou as suas lutas e seus desejos. Todos queriam encontrar a salvação o mais depressa possível. Ela narrou o caso vivido quando foi procurar o Senhor num dos céus mais elevados e lhe foi dito que o Senhor lá não se encontrava, mas que estava junto aos pobres e perdidos , até que o último tivesse voltado para o Pai. Falou da saudade que sentia de Jesus, mas também da saudade de Jesus por Seus filhos, pois Ele era o Pai.

Disse Antônio ao Amigo:

- Querido Amigo, isto que Joana conta é a verdade pressa, ou só uma visão que ela teve?

- Isto depende de como o entendes. Para Joana, isto não é uma visão, mas sim a mais pura verdade. Por isto, ela trabalhou cada vez com mais afinco e terá em breve uma recompensa bem bonita.

Joana disse:

- A recompensa mais maravilhosa é amar e ser amada. Eu atuo neste amor ativo e sou eternamente Sua filha. Seu Amor Paternal se revela mais e mais e cria mais pensamentos positivos, que vão em Sua direção. Maria, tu me entendes, pois já estás no momento de tua vida em que tudo é amor e bem-aventurança. Porém vós, irmãos, entendei que se conseguirdes vos elevar a considerar cada um dos próximos como vosso irmão verdadeiro e amado, então vós vos tereis tornado Filhos de Deus, os quais só desejam realizar totalmente o desejo do Santo Pai. Oh Santo Pai, acalma nossos desejos e nos deixa ficar totalmente em Amor. Deixa-nos vivenciar Teu Espírito Santo e alivia a prova dos desgarrados. Fazei que não pensemos na nossa felicidade, mas sim na felicidade dos outros, pois tu é quem dá felicidade. Dá-nos pois, assim poderemos passar mais e mais para nossos irmãos necessitados. Oh Santo Pai, recebe os agradecimentos deste Teu filho redimido. Acompanha-o sempre com Tua benção, até que todos estejam reconquistados para o seio de Teu Amor e Tuas metas. Amém.

Todos ficaram surpresos por Joana ter falado assim, livre de qualquer temor ou auto censura. Antônio pegou da mão de Maria e disse:

- Maria, nada posso prometer, mas uma coisa eu sei: consegui passar o cume da montanha. Vem logo de novo. Eu sinto dentro de mim que a hora da libertação está bem próxima. Joana, não te esqueças de mim nas tuas orações e quando vires ao Senhor, pede-lhe que perdoe minhas culpas.

Joana disse:

- Meu pobre irmãozinho, pelo que me pedes nada farei, mas te digo: continua a amar aos teus irmão; e digo mais: em meu coração, meu Pai Jesus me fala que todas as tuas culpas foram apagadas pelo Seu Amor, porém tens que desconsiderar todas as culpas que ainda vês nos teus irmãos. Santa é a vida, muito mais santa que o Amor. Se entenderes isto, terás entendido ao Senhor, pois Ele é a própria Vida. Transforma estas palavras em verdade no teu coração, e apagadas estarão todas as culpas para todo o sempre.

O Senhor deu a Mão a Antônio e disse:

- Antônio, Eu queria aliviar teu coração, mas Joana se adiantou. Depende de ti, se podes ou queres reconhecer esta promessa como verdade ou não. Ainda vou fazer mais: escutai Meus irmãos, pois também a vós todos foi perdoada toda a culpa que ainda constava no livro da Vida. Mas para isto, tendes que amar o Amor. E que entre vós só exista um sentimento: o amor fraternal. Este amor libertará o coração dos outros, especialmente no que se refere ao que vos liga à vossa vida terrena. Eu vou partir agora, mas Meu Amor aqui permanecerá e vos pertence. Libertai-vos e sede alegres. Aprontai-vos para posteriores tarefas. Como verdadeiros Filhos de Deus, vós vos tornareis salvadores pela Sua Força, Seu Poder, Sua Graça e Sua Piedade. Eu vos abençôo e a paz do Senhor permaneça convosco. Amém.

O Senhor e as duas meninas se despediram. Antônio ficou para trás e saiu com o Senhor da casa. Neste instante, Antônio se jogou aos pés do Senhor, pressionou o rosto contra as mãos Dele e disse:

- Senhor, o Salvador, eu Te reconheço agora! Eu não Te digo: “ fica aqui”, mas Te peço: “volta logo”. Eu Te darei as boas vindas com frutos do Amor. Agora que estou livre de toda culpa, oh Senhor, Te pertenço, e minha vida será um eterno agradecimento. Mas se por acaso recair nos velhos erros, seja piedoso por favor, e Tua Piedade será minha piedade.

- Digo Amém! Meu Antônio, já que me reconheceste, usa teu amor como guia e destino.

Os outros que os aguardavam viram Antônio ajoelhado aos pés do Senhor e Paulo disse:

- Até que enfim, caiu a venda dos olhos deste cego. Vede irmãos o milagre do Amor Divino.

Joana disse:

- Irmãos, retornai para a casa e aprisionai em vossos corações Aquele que tornou Antônio Seu Filho. De hoje em diante, o caminho está livre para a Vida. Alegrai-vos, como nós nos alegramos.

Ao chegarem em casa, houve grande alegria, mas Joana disse:

- Minhas queridas, vamos fazer silêncio, para que o Senhor não passe por aqui desapercebido. Acabamos de vivenciar algo muito bonito, mas tenho certeza que vós vivenciareis algo muito mais bonito, quando estiverem todas curadas. Tornai-vos servas livres e alegres, como nós somos, pois creio que não desejais ser eternamente enfermas. Estivemos juntos aos irmãos que ainda carregam muita culpa de sua vida terrena; e tudo foi muito, mas muito difícil para eles. Tiveram que construir seu próprio lar. A tarefa no jardim foi árdua, pois o mato teimava em invadir seus canteiros. Agora porém, o trabalho mais importante se realizou: o Senhor esteve pessoalmente com eles e construiu o caminho que os levará à salvação. Não é mais possível uma recaída aos velhos erros. Ele também virá para junto de vós, para preparar-vos para Seu Amor, Sua Vida e Sua Obra Divina.

Disse uma ouvinte:

- Oh Joana, por que o Senhor nos faz esperar tanto tempo? Por que demora tanto a nossa cura?

- Minha querida irmãzinha, não sabes que o Senhor te ama sobremaneira? Ele viria correndo curá-las, a vós todas, se isto não prejudicasse vossa evolução. Tudo foi por Ele organizado, pensando no melhor para vossa Salvação. Ele morreu na cruz, para nos salvar; mas a fé deve estar em nossos corações, para que isto aconteça. Ele tudo sabe. Só uma coisa Ele não quer saber: o dia que Lhe pertencereis totalmente. Por este acontecimento Ele anseia e sonha.

- Mas Joana, então o Senhor sofre tal qual nós? Isto é possível?

- Infelizmente sim. Ele, o Senhor dos céus e das terras, o Criador e Conservador de Todo o Universo, criou o homem de uma forma tão perfeita, que o mesmo pode viver de igual a igual com ele, na maior harmonia e bem-aventurança. Mas infelizmente, pelo seu amor próprio, o homem abandonou a dimensão na qual lhe era possível conviver com o Senhor. As conseqüências deste ato só são realmente reconhecidas no momento em que o homem passar para o mundo espiritual e eterno. Por isto, nós praticamos com afinco a vontade de reconhecer e revitalizar aquilo que ainda está vivo em nós e isto devemos conquistar por nós mesmos. Esta é a razão por que o Senhor não pode vir em nosso socorro, como Seu coração almeja.

- Joana, é bem difícil praticar o autoconhecimento. Isto me acontece sempre. Não consigo fazer a introspecção, como tu e as outras irmãs.

- Isto te será possível dentro em pouco. Só é preciso querer de fato. Mas tu não poderás te zangar, quando enxergares coisas em ti que não te agradam.

- Mas Joana, as visões desagradáveis me deixam fora de mim, pois acho que já não sou tão má assim e, além disso, eu amo tanto ao Salvador.

- Querida, te acalma em primeiro lugar. Todas juntas, ficaremos em silêncio. Logo, tenho certeza, que vais aprender muito.

Todas quiseram participar da introspecção e se deram as mãos. Joana disse:

- Façamos que o mundo exterior deixe de existir para nós, vamos nos interiorizar em nós mesmas, e prestai muita atenção no que acontecer. Não podereis perturbar a introspecção do outro com qualquer barulho.

Em tempo terreno, após duas horas Joana disse:

- Retornai para vossa realidade. Tu, minha irmãzinha, conta-nos o que viste. Escutai com atenção, pois cada uma vivenciou algo um pouco diferente. Isto vos servirá de prova, para reconhecerdes quão diferente o mundo interior de um é do outro e como ele é importante para vossa evolução.

E a menina relatou:

“Eu fechei os olhos, e senti o fluxo positivo de Tua mão. Então vi uma estrela vermelha vir em minha direção e ficar cada vez maior. Apareceu no lugar da mesma um Homem com uma mochila nas costas e um bastão na mão. Ele se aproximou de mim. Apesar de seu esforço para me alcançar, a distância entre nós não diminuiu. O que estava acontecendo? O Homem fazia o maior esforço para chegar junto a mim, sem sucesso. Após um certo tempo, desistiu e procurou um lugar para se apoiar, mas nada encontrou, pois lá só existia areia e alguns tufos de grama. Logo, apareceram uns homenzinhos, mas estes são maus. Eles jogaram mais coisas em Sua mochila. Por mais que tentasse Se defender, os homenzinhos zombaram Dele e logo desapareceram. Após alguns instantes, outros seres se aproximaram, mas quando o Homem lhes pediu ajuda para tirar o peso de Suas costas, eles passaram de nariz bem empinado e nem se dignaram a olhá-Lo. Novamente, passou-se um tempo. E aí veio uma mãe com seu filho de sete anos. Ao vê-Lo, ela disse:

- Oh Pai, hoje estás com uma carga bem pesada. Para onde queres ir?

- Eu tenho um longo caminho a minha frente, só Me falta um apoio, onde possa depositar Minha carga por um instante. Eu gostaria de descansar um pouquinho. Tu Me ajudarias a repor a mochila nas Minhas Costas?

--- Mas claro, o garoto poderá conseguir um carrinho, então Te terás livrado do peso. Ele poderá ir Contigo até a próxima aldeia; ou queres ficar um tempo aqui em nossa companhia?

Ele concordou com a cabeça. Ela O ajudou com a mochila e então viu que o casaco Dele estava esburacado. Ela disse:

- Mas meu Bom Homem, a gente não carrega tanto peso.

- Não sou Eu, mas sim os outros que colocam peso nas Minhas Costas. Ninguém retira nada. Eu procuro e procuro, mas não acho ninguém que queira compartilhar a carga Comigo. Os homens são cegos, surdos e sem compaixão.

Neste instante, tudo desapareceu de minha visão. Só ficou a carga na mochila. Curiosa para ver o que lá havia, ao abrir a mochila, para grande susto meu, lá havia muitos animais vivos: gatos, cachorros, porcos e outros animais dos quais eu tive medo, pois lá havia ratos. Então saí correndo, feliz em saber que era somente uma visão.”

Bem, e tu, minha querida irmãzinha Ida, conte-nos sua visão sem temor — disse Joana. Nós entendemos tudo.

- Oh irmã Joana, há pouco para contar:

“Eu estava novamente em casa e estranhei papai e mamãe não estarem lá. Claro que procurei algo para comer e me servi bem, pois encontrei o que desejava. Quando estava no meio do repasto, duas crianças vizinhas chegaram e me olharam cheias de vontade de ganhar algo. Eu mal as cumprimentei, mas uma das meninas estendeu sua mão, pedindo comida. E eu disse:

- Sigam o caminho. Lá na vossa casa, tendes muito mais do que eu. Eu aqui sou só visita.

Os dois me olharam com olhar reprovador e desapareceram. Mas eu não tinha mais prazer na comida. Eu sabia que tinha errado. Volto para a sala de estar. Tudo me é estranho e desconhecido. Eu me sinto completamente abandonada. Corro para fora, para procurar minha mãe. Então acordo do sono.

Joana falou:

- Vós podeis narrar vossas visões, mas não conseguis explicá-las. Frida, podes nos dizer quem era o Homem com a mochila?

- Não, Joana. Eu nunca tinha visto aquele Homem.

- Agora ouve e não te assustes: o Homem com a mochila é para ti o Senhor e Salvador Jesus, ao qual repassaste toda tua carga por má interpretação da Doutrina. Os homenzinhos maus, correspondem ao teu amor próprio, o que sobrecarrega o Senhor cada vez mais. Os homens orgulhosos correspondem ao teu apego à matéria, que só pensa em si e nunca nos outros. Ao te juntares a nossa comunidade, adquiriste o sentido do enorme amor fraternal que se te apresentou na mãe com a criança e que aliviou ao Senhor da carga. Com isto, tens a primeira visão do que ainda existe no teu mundo.

- Mas será Joana? Isto é terrível! Eu não sei nada sobre isto. Meu mundo é pior do que uma pocilga.

- Tens razão, mas deves considerar que estes habitantes são somente réplica. Na realidade, todas as tendências destes homens e animais estão em ti e são tuas; por isto a ordem é lutar, lutar e lutar, para que o Senhor, ao tomar conta de Sua casa, a encontre completamente limpa. Tu, Ida, estás um pouco pior. Tua introspecção mostrou que, apesar de usufruíres muito do Amor, pouco tens para dar, e teus sentimentos são muito pobres. Mas te sentires solitária em teu mundo e ficares triste por isto é tua sorte, pois as portas ainda estão abertas, só precisas ter coragem e passar por elas. O Salvador espera por todas vocês. Ele lá estará, quando vosso amor tiver alcançado a madureza certa para que Ele possa se aproximar.

Ida disse:

- Irmã Joana, isto é dureza. Eu amo tanto o Salvador; eu anseio desesperadamente por Ele.

- Sim, Ele sabe disto, sem necessidade de tu Lhe dizer. Mas teu amor não é o amor certo. Ele era as crianças que se aproximaram. Ele, que se aproximou de ti como pedinte e tu Lhe deste as costas. Isto não é uma crítica ou conversa, mas sim uma lição, pois só pelo aprendizado chegarás à Verdade. Se então atuares de acordo com a mesma, teu próprio espírito virá em teu auxílio. É este espírito que faz que constantemente anseies por Jesus. Mas basta agora. Vamos ao jardim, para ver quantas frutas amadureceram. Em pouco tempo, as pupilas estavam curadas e um emissário viria levá-las para um outro estágio. Joana sentia no seu interior uma inquietação, que ela sabia ser um sinal do Pai para o início de uma nova etapa.

A fé consolidada

Maria disse à Joana:

- Joana, como adivinhastes o meu segredo de querer ver Antônio de novo?

- Ora Maria, ainda não entendestes que quando dois se tornaram unos, nada lhes fica oculto? O Senhor nos revela tudo.

Mais de trinta meninas cheias de flores e frutos vão alegremente visitar Antônio em sua casa. Gotlob as aguarda muito feliz, pois tem boas novidades a contar sobre Antônio. Os jardins estavam esplendorosos e via-se em cada canto a obra da Mão Amorosa.

Antônio abraçou Joana e Maria dizendo:

- Tudo aqui tenho que agradecer a vós, minhas queridas irmãs. Graças a Deus, não há mais recaídas. Consegui vencer com a abençoada ajuda do Senhor, e o Inimigo de Toda Vida já não exerce nenhum poder sobre mim.

Joana falou:

- Querido Antônio, eu sempre soube que a vitória seria do Amor, mas tens que continuar corajosamente atento às provações que virão.

- Joana, quando eu te digo que me venci com ajuda do Senhor, eu quero dizer que é assim de fato e que não serão mais necessárias provações. O que eu sou, o sou pela Graça do Senhor. Seu sacrifício no Gólgota não foi em vão. Eu lhe pertenço, não importa o que vier, e o mesmo pensam meus irmãos. A alegria que sentimos em nos sentir salvos, o irmão Goltlob poderá te atestar; pois ele que nos une ao Ser Divino com seu amor infinito e seus ensinamentos.

- Antônio, sê bem sincero contigo mesmo. É esta a tarefa que desejas para ti, para sempre?

- Porque perguntas? Não temos suficientes motivos para estarmos agradecidos? Nós não passamos necessidade e nós nos entendemos bem. Por que esta situação não deve ser de nosso agrado para a eternidade?

- Antônio, vós fostes salvos. Vós sois felizes, pois escapastes à miséria. Alguma vez pensastes nos milhares que ainda precisam ser salvos? Olha o nosso mundo com atenção. Quantos poderiam ser salvos e achar a felicidade da Vida Real, mas há escassez de trabalhadores de Deus. Não podereis tu, um ex-perdido e um ex-desgarrado, te tornar um destes trabalhadores? Vê, o Senhor, o Eterno Bondoso Pai, com prazer desiste de tuas palavras de agradecimento, mas Ele não pode desistir é do agradecimento de teu coração.

Antônio pegou a mão de Joana e disse:

- Joana, será que eu posso ser isto? Lembra-te como eu era uma pessoa brutal e arrogante? Não serei enxotado pelas almas que desejo salvar?

- Mas Antônio, não disseste que tinhas conseguido te vencer? O que te importa se és enxotado, se queres te tornar um salvador? Aquele que estava na imundície mais grossa, como tu estavas, sabe melhor que ninguém das necessidades dos que lá se encontram.

- Tens razão, Joana, e eu te agradeço muito pela sugestão. Tu me mostras o caminho que me transformará num verdadeiro servidor do Pai. Mas dize-me Joana: Por que o Pai vão vem mais aqui? Onde erramos?

- Antônio, ele sempre se encontra junto a nós em espírito. Por que deveria se materializar? Eu acho que Sua presença é muito mais útil entre os pobres perdidos e miseráveis.

- Gotlob nunca nos falou sobre isto, mas me dou conta agora que, na realidade, tudo é completamente diferente. Oh Joana, como o Senhor é maravilhoso, quando o Seu Amor se preocupa em procurar os perdidos em primeiro lugar. Deste-me hoje o melhor presente e eu te agradeço sinceramente.

As horas passaram em amor e harmonia. A sensação de um pertencer ao outro e todos a Deus lhes dava uma felicidade ímpar.

Joana disse:

- Antônio, deixa tudo nas mãos do Senhor. Maria também precisou de seu tempo para amadurecer, igual a todos nós, e este tempo só o Senhor o conhece. E agora meu irmão, até breve; lá, no nosso Lar do Amor. Havia muitos outros irmãos, além das meninas e Maria, todas na casa de Anna e pai Henrique, que se tornou um verdadeiro foco de amor, alegria e esperança.

Muitos lá, entre os quais Antônio, ansiavam por obter novas tarefas, pois queriam avançar na escada. O Espírito Santo lá estava, ansiado por uns e apropriado por outros. Mãe Anna então se dirigiu a todos:

- Grandes e sérios momentos nos esperam, nós, já renascidos pela Graça e pelo Amor do Pai Jesus. Nós devemos deixar nossa existência protegida e nos tornar livres e independentes. Não devemos estar sempre esperando as instrução do Senhor. Não é Seu Espírito nosso espírito e Seu Amor, nosso Amor? Nossa Vida? Por que nosso pensamento ainda retorna ao mundo material, que ainda está cheio de dúvidas e erros? Vê meu irmão Antônio, em ti já arde o fogo divino, feito uma enxurrada incandesceste. Gostarias de enlaçar tudo e a todos com teu recém descoberto Amor, mas tu não te atreves a iniciar as novas tarefas sem a ordem do Senhor. Tem outros irmãos que estão mais calmos, pois seu mundo é mais limitado. Mas em todos está o Senhor, pois vós tendes o verdadeiro Amor, um amor sem limites, sem obrigações, sem exigências, mas simplesmente amor; tão maravilhoso, que nossa imaginação não consegue chegar. Mas Ele deseja sempre estar aqui junto a Seu Amor, junto a Seus Filhos, onde se sente em casa. Observai esta casa, onde o amor filial criou belezas que dão prazer eterno. Em espírito, o Senhor também aqui se encontra; não como Senhor, mas sim como Pai amoroso, irmão e amigo prestativo.

Neste Espírito, nós nos tornamos guardas de nosso mundo, protetores e auxiliadores das almas a nós entregues; mas também somos criadores de novas idéias e pensamentos de amor, os quais se tornarão verdade, dependendo de nosso empenho. Aqui, nesta comunidade, existem mais ou menos 20.000 almas, e eu pergunto: o que nos dá a certeza que atuamos neste espírito de Amor? A certeza é a seguinte: “sou Filho Dele e represento o Pai aqui”. Considerai que o Pai nunca vos vai faltar. Mesmo assim, ainda ansiais pela Sua presença materializada? Ressuscitai no verdadeiro amor fraternal e então Deus aqui estará em vossos corações, mas não como Senhor e Salvador. Neste Espírito, somos guardiões, protetores e orientadores das almas que estão sob nossos cuidados. Ressuscitai no Espírito Divino, e todos os corações se iluminarão maravilhosamente e mostrarão a Luz e a Força que leva a todos à salvação e redenção. Usufruí os frutos oferecidos em nome do Senhor e vosso coração vos mostrará o caminho a trilhar para a glória do Pai e a salvação dos irmãos.

Todos então se puseram a caminho para seus novos lares e locais de trabalho. Ao verem que as casas aumentaram de acordo com o número de habitantes, Antônio disse:

- Joana, como é que isto acontece? O espaço fica cada vez maior?

- Ah irmão, nem tinha reparado neste detalhe. Mas isto é para veres que o Pai sempre tem lugar para todos em Seu lar. Ele nunca deixa de atender as necessidades, quando o Amor filial se atreve a realizar algo que aos anjos seria impossível fazer.

- Como? Que queres dizer? Não são os anjos portadores da Vontade de Deus?

- Sim, mas os filhos são portadores daquele Amor que se deixou crucificar, que é o portador da Vida e que traz a todos a Salvação . Ainda não evoluíste o bastante para reconhecer a grande miséria que existe em tua volta. No momento em que deixares de pensar nos teus próprios desejos e unificares totalmente na Vida do Pai, só pensarás em agradar os desejos de teus irmãos e auxiliá-los para a salvação. Neste instante, serás Filho de Deus e do Amor e sereis verdadeiros representantes do Pai. O amor do Pai, que nos tornou a todos Seus Filhos, é a coisa mais simples e natural que existe. Não é culpa do Pai, se ainda não és livre; mas sim tua culpa. Luta por esta liberdade, a qual te fará Filho. T oda força de Deus e Sua Sabedoria estão ao teu dispor. Só o Amor não. Este tu tens que conquistar. Este Amor deve ser a força motora de todos teus desejos, anseios e obras. Se só estiveres agradecido, serás mais servidor do que filho e teus irmãos só serão irmãos; mas se atuares no Amor, vereis em cada irmão um novo salvador, o qual salvará milhões de outros irmãos caídos.

Felicidade

Ao chegarem em uma região onde havia muitas casinhas, foram recebidos por um casal maravilhoso: Christian e Augusta. Após acomodar a todos Christian, convidou Joana, Antônio e as cinco meninas para visitarem uma ermida. Ao lá chegarem, entraram e se deparam com sete portas. Então Christian disse:

- Estas portas estão todas destravadas, mas eu não gostaria que as abrisseis. Vós ainda sois um pouco despreparados. Deixai-me ser vosso guia. Peço que permaneçais em completo silêncio. Não vos assusteis e não mostreis surpresa; só olhai, ouvi e senti. Aqui, na porta número um, existe muito do que conhecestes na Terra, e pouco ficaremos.

O ambiente estava escuro, mas lentamente ficou mais claro. Enxergaram uma cidade, onde milhares de pessoas corriam e corriam. Ninguém tinha tempo para nada. Grande empresas comerciais eram o destaque, e sobre a cidade se estendia uma nuvem cinza. Christian disse:

- Vede como estas pobres infelizes almas ainda estão aprisionadas ao mundo material. Estes ainda levarão muito tempo para poderem ser ajudados, pois a nuvem cinza indica que estão satisfeitos.

A porta número dois, também levava a um ambiente escuro que se aclarava aos poucos. Apresenta uma feira, onde existiam muitos objetos e pessoas todas enfeitadas. Eles estavam muito alegres, pois tudo era de graça. O barulho era mil vezes maior que numa feira na Terra. Christian disse que ali também o Amor ainda era inútil.

Na porta número três, o ambiente já era um pouco mais claro. Num correr de casas havia igrejas. Em cada igreja havia servidores, que chamavam aos passantes. Christian disse:

- Vamos entrar numa delas? Tu, Antônio, dizei em qual

- Vamos entrar na terceira igreja, pois este é o recinto de número três.

- Eu sabia que ias escolher a número três.

Eles entraram na igreja, que era totalmente enfeitada de quadros e espelhos ocos, redondos, longos e largos. Em todas as direções, podia se ver a si mesmo e aos outros, refletidos. Isto causava grande algazarra. No altar havia só um enfeite: uma luz.

Christian disse:

- O único bem que existe aqui é a luz. Venham, vamos nos sentar, pois permaneceremos um pouco aqui.

Visitantes chegavam cada vez mais e se posicionavam na frente dos espelhos. Um sino tocou e todos procuraram lugar nas fileiras de bancos. Sacerdotes entraram todos vestidos com vestimentas coloridas. Um órgão tocou uma canção desconhecida e um sacerdote falou palavras não compreensíveis. Então os outros sacerdotes distribuíram espelhos, em cujo verso havia uma figura.

Christian disse:

- Venham, vós não necessitais dos espelhos e não aceitá-los seria ofensivo. Os sacerdotes podem ser bastante raivosos.

Saíram da igreja e Chritian falou:

- O único que é adorado aqui é a vaidade. Querer converter esta gente é totalmente inútil. Vamos entrar a porta número quatro.

Ao entrarem, se encontraram numa casa grande com um salão grande. Nas paredes havia retratos de homens. Alguns tinham lindos laços a enfeitá-los. Havia muitos homens no salão. Eram todos homens grandes e reunidos, criticavam a situação reinante na Terra. Havia críticas positivas, outras negativas. Os conferencistas ficavam cada vez mais irritados e então houve uma transformação: as cabeças humanas se transformaram em cabeças de animais. No fim, só havia bestas se digladiando.

Christian disse:

- Vinde, aqui a paz e a calma só poderão retornar impostas por espíritos muito fortes. A conversão se realiza com grande dificuldade, pois estes eram políticos, quando encarnados. Nossos doentes são muito melhores, pois eles sempre permanecem com aspecto humano.

Christian abriu a porta cinco. Estava escuro feito breu, e era necessário bastante tempo, para que tudo ficasse mais claro. Todos se encontravam num cemitério. Christian então falou:

- Posso falar convosco aqui, pois ninguém nos ouve ou vê. A morte aqui está muito ativa, e os que estão enterrados ainda se encontram dentro ou junto aos túmulos. Aqui é um amplo campo de trabalho para os espíritos obreiros e eles trabalham com grande sucesso, pois estes são vítimas destes tempos que não se preocupam com o futuro. Muitos não sabem que já morreram, e a verdade para eles é difícil de aceitar. Sua evolução é muito longa, pois não querem pedir. Bem, agora vamos ao número seis. Devemos ser muito cuidadosos aqui.

A escuridão era total. Christian tomou da mão de Antônio e os outros seguiram seu exemplo. Chegaram na frente de um túmulo bem grande, que possuía uma janela pela qual enxergavam o interior. Tinha se tornado um pouco mais claro. Christian sugeriu que cada um olhasse pela janela. Havia pessoas inchadas, transformadas em macacos, sapos, pavões e um sem fim de outros animais. A sua maior satisfação era quando podiam cortar a carne dos outros com suas facas afiadas. Com um sinal de silêncio, Christian os chamou e disse:

- Aqui é o inferno, nunca um anjo pode aqui atuar. Eles tem que ser purificados por muita dor e sofrimento. Bem, vamos para o número sete. São só uns momentinhos, mas isso não é para as meninas; por isto, ficai aqui.

Christian chamou os homens para a porta aberta. No salão havia homens e mulheres, todos comendo. Antônio disse ao ver a cena:

- Mas, como é possível? Os homens estão comendo genitálias femininas, e as mulheres comendo o maná dos deuses. Olhem mais um pouco.

Os pratos tinham esvaziado, e todos pareciam enlouquecidos. Começaram a arrancar as genitálias uns dos outros à dentadas e comiam as mesmas cheios de gula.

Christian disse:

- Agora basta, aqui é o pior lugar. Ajuda aqui é impossível. Só doenças e miséria podem ajudar aqui.

Antônio perguntou:

- Irmão Christian, vós que sois habitantes tão evoluídos deste vosso mundo, como é possível que exista tanta podridão e miséria no mesmo espaço? Nas primeiras portas tudo bem, mas nas outras...

- Boa pergunta. Como viste, muito ainda existe em nosso mundo. Enquanto não estivermos ressuscitados, haverá muito para evoluir, e esta evolução é longa. Tudo o que vistes pensando que é algo externo, ainda se encontra como semente em vós. Mas se nós tentarmos encontrar o caminho e seguirmos o exemplo de Jesus, aquela semente maligna jamais poderá se exteriorizar. Mas elas existem, e procuro estas coisas nos outros, para livrá-los e para conseguir evoluir. Com isto, eu me ajudo. O Senhor nos dá este poder.

Quando retornaram para a casa, lá todos estavam felizes e na maior harmonia. Maria perguntou à Joana sobre o passeio, ao que esta respondeu:

- Como uma pesada nuvem, os acontecimentos me oprimem. Ainda temos muito para aprender, muito amor nos é necessário, fazer caridade mais caridade, para sermos protegidos contra os condenados à morte.

- Estás triste com o que vivenciaste? Eu gostaria de poder te ajudar.

- Triste não, mas o Pai Bondoso deve estar muitíssimo triste, pois Seu amor consegue tão poucos sucessos. Nós lamentamos, quando não temos sucesso imediato. Imagina quão enorme deve ser a Paciência do Pai.

Christian disse:

- A eternidade nos levará ao ponto de nos tornarmos Seu representante e conseguirmos ajudá-Lo muito mais. Todos vós que conosco andastes, usai o visto para fazerdes uma grande introspecção, a fim de que possais ver até onde deveis procurar aos desgarrados e caídos. Considerem tudo um aprendizado importante. Quando, no começo, vos enfrentarem com ódio, não vos assusteis. Mas tende sempre em mente que o coração e o amor tudo podem e conseguem. Ide agora em paz e segui vossa intuição.

Joana disse:

- Tu, Antônio, terás uma tarefa bem mais difícil, pois fizeste muitos inimigos do lado de lá. Tu, meu amigo Friedwaldo, vem comigo. Há alguém que conheceu meus pais terrenos e que vos espera. Eu tenho certeza que este encontro te fará bem.

Chegando à maravilhosa casa deste amigo, a alegria se apoderou de todos, pois o Senhor lá estava pessoalmente, servindo aos convidados. Algumas O reconheceram e demonstraram tanta felicidade, que os outros começaram a procurá-lo de coração. No fim, Ele a todos abençoou, e a volta para casa foi recheada de paz e felicidade.

Alguns dias mais tarde, Antônio voltou para a casa de Anna e Henrique com o desejo de ir ao encontro dos necessitados, para ajudá-los. Joana e suas amigas decidem ir com ele. Encontram um anjo no caminho, que se chamava Gotardo e que tinha a missão de protegê-los. Ele disse que foi mandado por Deus e agiria no Rigor, na Verdade, na Ordem e na seriedade de Deus, o qual ele disse ser extremamente severo. Ante a surpresa de todos que O conheciam como Pai Bondoso e Amoroso, o anjo explicou:

- Vós também O conhecereis como um juiz severo. Onde Deus só for conhecido por Deus, só existe rigor, a verdade e a seriedade santificada. Colocai estes mantos escuros, para não assustar aos que vamos encontrar. Tu, Antônio, não precisas pois tua vestimenta ainda é escura.

Deste jeito, chegaram a um local onde vinha ao longe um clarão vermelho. Todos pensaram que era uma cidade em chamas, mas o anjo explicou que o vermelho é o invólucro da cidade que eles visitarão e que é conseqüência dos fluidos emitidos pelos espíritos que lá existem em eterno conflito. Ao chegarem lá, isto se confirma. Após muito esforço e tendo o anjo as vezes que intervir com o rigor divino, conseguem uma boa colheita. Antônio estava feliz, mas quando no caminho com seus novos protegidos, um mar de fogo se aproximou. Assustado, olhou para o anjo, que disse:

- Só enfrentaste espíritos fracos e inocentes até agora. O diabo em pessoa vem agora para desafiar teu poder e tua fé. Com tochas incandescentes, um grupo se jogou em direção dos amigos; mas a um sinal da cruz do anjo, todas as tochas se apagaram.

Salvos pelo amor

Joana enfrentou os irados, que gritavam de raiva e de dor:

- Em nome do Senhor Jesus, que a dor se afaste, a fim de que reconheçam que só desejamos vosso bem. Acreditai que só desejamos vossa salvação, mas se preferirdes ficar neste vosso lamento de ódio, de querer possuir e de querer mandar, podeis ficar; mas nós exigiremos que deixeis todos livres para escolherem seus próximos passos.

Disse um:

- O que quereis aqui? Estais à caça de homens, como caçaste Antônio?

Joana respondeu:

- Teus berros, tua raiva, só demonstram tua impotência. Falarei contigo, como se deve falar com um bicho, pois o Amor Divino não se aplica aqui, mas sim o Rigor Divino. Cala-te! Em nome de Jesus, eu os advirto; a vós, que com vosso ódio e zanga desejais nos destruir. O poder de Deus está conosco, Sua Vontade é nossa vontade. Esta Sua vontade diz que todos poderão entrar em Seu Reino, contanto que abandonem suas vidas anteriores e se convertam. Estais em esferas muito baixas e ainda caireis mais e mais, se recusardes a Mão Divina que se vos estende cheia de Amor e caridade. Aconselho-vos que ouçam o chamado do Amor, pois a dor será muito pior, e a miséria vos espera por muitos e muitos séculos.

Todos sentiram imediatamente a dor física que tinham anteriormente e se afastaram assustados. Quando disse o anjo:

- Não vos afasteis; o poder do diabo acabou. Vinde a mim, creiam nas palavras das irmãzinhas e todo mal vos será tirado.

À medida que se aproximavam com humildade, a dor física desaparecia. Então o diabo que liderava o grupo começou a prestar atenção. Quantos mais os seus seguidores conversavam com os enviados do Pai, mais eles se transformavam e mais felizes pareciam. Então ele começou a gemer e se aproximou de Joana, dizendo:

- Tu és Joana. És uma poderosa senhora, e eu te peço que me desculpes.

Joana o envolveu de imediato com seu amor, e toda dor física desapareceu. Ela lhe disse:

- Desculpas não são mais necessárias, pois errar não é crime. Permanecer no erro, isto sim, é um crime muito grande e que pode ter conseqüências horríveis. Nós somos espíritos livres e criadores de nossa felicidade, como de nossa miséria. A Ordem eterna deve ser obedecida em todas as ocasiões, mas ela é tão simples, tão maravilhosa, tão bonita, que a mais insignificante criatura a entende e consegue obedecer. Neste nosso mundo espiritual, és e continuas a ser teu próprio senhor e dono, tal como eu o sou e como são todos aqui presentes. Vê, esta Ordem Deus criou e a tornou uma lei eterna. Mas quando Deus se tornou homem e teve que se adaptar à Ordem, Ele se refugiou no Amor. Com isto, criou um paraíso acessível a todos que O desejarem e O amarem.

- Joana, você fala palavras com sentido, mas tu te esqueces que eu sou um diabo.

- Sim, eu o esqueci; mas uma coisa não esqueci: o Senhor em mim também é o Senhor dos diabos. Mas isto não tem importância agora, pois eu estou a te resgatar e o Senhor só se importa com os atos de amor que são praticados em Seu nome, não importa a quem e por qual motivo. Eu, representando o Senhor de tudo e todos, estou praticando este gesto de amor para contigo. O Senhor me apóia e dá forças e se esquece também que és um diabo. O que importa é o que desejas fazer de agora em diante. Aceita nossa oferta de amor e caridade.

- Sim, mas o que seria de meus companheiros? Eu não posso deixá-los neste inferno.

- Chama-os, todos serão bem vindos.

Todos concordaram em seguir o grupo e Joana disse:

- Eu vos saúdo em nome do Senhor Jesus e vos dou as boas vindas. Jamais vos arrependereis do passo que acabais de dar. Mas prestai bem atenção: não esperem chegar de imediato aos céus maravilhosos. Devereis trabalhar muito para progredir, pois nós também assim o fizemos. Somente com humildade, amor, generosidade e muito, mas muito trabalho, o progresso será possível. Porém de uma coisa podereis estar certos: nunca mais tereis fome ou sede e sempre tereis um amigo para vos ajudar. Ide com Antônio, ele vos será o guia e protetor e vos abrigará em seu lar.

Ao chegarem ao lar, lá estavam todos a esperá-los inclusive mãe Anna, pai Henrique e Maria. Ante a grande tarefa que o esperava, Antônio se assustou, mas logo se lembrou que o Senhor e Pai Jesus era seu guia e exclamou alegremente: “ Sede bem-vindos ao vosso novo lar! A paz e a benção do Senhor Deus e Pai esteja convosco ”.

A casa tinha se adaptado para a nova tarefa. Todos comodamente se alojaram nela. Neste ínterim, o Senhor chegou. Antônio O reconheceu de imediato e se jogou aos seus pés dizendo:

- Oh Senhor, Salvador e Pai Justo, obrigado, muito obrigado por tudo que me deste. Eu te peço que continues a me ajudar e abençoar com teu Amor Imenso.

- Eu gosto muito mais de você assim. Tens agora uma enorme família e terás muitos problemas para resolver. Vou permitir que Maria fique aqui, pois ela muito me pediu que Eu lhe permitisse te ajudar. Aceitas esta Minha dádiva?

- Oh Senhor e Pai, tu me tornas o mais feliz de todos os seres do universo. Farei tudo para ser digno dela.

- Pois então, Antônio, eis tua mulher. E Maria eis teu homem para toda a eternidade. Permanecei fieis ao Meu Espírito, para que este vos vivifique. O Amor para esta grande família exige sabedoria e prudência. Por isto, fazei tudo para que Eu fique com e em vós, e que Eu seja o centro de vossos pensamentos. Assim, vos será possível terminar esta tarefa que ora iniciei. Minha benção seja um remanso de paz e força. Meu amor, um poder em vós que tudo resgata. Minha Paz em vós, a Paz que a todos acalma. Amém.

Durante a cerimônia do casamento, o Pai entregou a Antônio e Maria roupas em azul e branco, e todos os irmãos mais antigos receberam roupas claras.

O Pai disse:

- Filhinhos, agora tenho a partir, pois vou levar Joana até sua casa. Despedi-vos dela com carinho, pois não a vereis por muito tempo. Tenho planos para ela.

Joana disse:

Não fiqueis tristes, pois todos os planos do Pai só trazem felicidade. Logo nos veremos, e meu amor ficará convosco.

Ao chegarem a casa de Mãe Anna, esta abraçou Joana mais uma vez e lhe disse:

- Joana, o Senhor te precisa em outro lugar. Vai contente e despreocupada, pois tuas irmãs, graças ao teu amor, estão prontas para suas tarefas neste mundo.

O Senhor falou:

- Sim Joana, eu preciso de ti. A Terra está em chamas, e toda esta miséria Eu tenho que assistir cheio de tristeza e luto. Eu estou com as mãos amarradas. Muitos Me imploram por ajuda, mas Eu tenho que me fingir de cego e surdo, pois o universo, este maravilhoso universo por Mim criado e que também vê a Miséria na Terra, está completamente indiferente. Ainda não existe nele o desejo de unir suas forças para ajudar a Terra, pois, para seus habitantes, Meu Amor ainda não existe; como também lhes é desconhecido Meu sofrimento e Minha ânsia de que todos se unam na compaixão. Vê, Eu poderia enviar anjos, mas então seria obra Minha, pois estariam atuando somente porque Eu assim o quis, não por seus corações. Eu os quero como Meus filhos, e Meus filhos atuam de acordo com o seu amor, não porque mandei. Entendes porque preciso de ti?

- Sim meu Pai, mas deixa, por favor, que Lisa, Rosa, Lena e Christa venham comigo. Elas também só desejam Te servir em tudo.

- Tudo bem, Eu também não quero nem saber como atuareis. Isto deve ser a obra do vosso amor. O que Eu te peço agora a muitos pedi, pois Eu preciso da Terra, por ser o viveiro e o local onde os espíritos evoluem.

- Querido Pai, quando posso começar? Tenho pressa em te agradar, pois és o meu amor.

- Imediatamente. O anjo Gotardo continuará convosco, pois ele é oriundo daquele mundo. Que assim seja.

No mesmo instante, os amigos se encontravam num mundo que já conheciam, pois haviam estado lá. Joana disse ao reconhecer o lugar:

- Eu já estive aqui. Este é um mundo sem amor.

Todos se dirigiram rapidamente ao templo, que estava completamente vazio. Os habitantes estavam se preparando para uma festa, e a cruz no altar estava sem um enfeite.

- Seria tão bom se tivéssemos nossas flores lá de nosso jardim — disse Joana.

- Se permitirdes, irei buscar algumas. Ao consentimento de Joana, ele se afasta e logo reaparece com um lindo cesto cheio de flores. Eles começam adornar a cruz, o altar, os candelabros. Neste instante, chegou um sacerdote idoso, dizendo:

- Que estais a fazer? Nós só enfeitamos o templo quando o Grande Espírito assim o determina. E isto não aconteceu agora.

- Perdão, pai Josafá, mas nós seguimos o desejo de nossos corações. Nós conhecemos o Grande Espírito de uma forma bem diferente de vós. Nós precisamos expressar nosso amor pelo Grande Espírito do jeito que Ele nos ensinou.

- Oh Filha, que palavras dizes. É contra todo ou qualquer senso comum fazer algo para o qual não tenha sido dada uma ordem anterior. Tu dizes conhecer o Grande Espírito de uma forma diferente. Isto é um atrevimento e uma imprudência.

- Querido pai, tens razão, pois só conheces este mundo grande e bonito. Uma vez já estive aqui e me ajoelhei ante este altar, perguntando por Deus. Tu mesmo me disseste: “ O Senhor não está aqui. Ele está na Terra, procurando os perdidos”.

Vê, daquela Terra nós viemos, e junto Dele usufruímos a mais maravilhosa felicidade. Ele que nos resgatou da pior miséria e dor. Não é só um Salvador, mas um Pai para todos nós.

- Crianças estas palavras eu ouvi de um dos servos do Grande Espírito, faz muito tempo. Naquela época, nos foi dito que o Senhor se encontrava naquela Terra sem Luz, para trazer a salvação para todos os mundos. Isto não é necessário aqui. Tudo está tão bem e sabiamente organizado, nós não conhecemos a dor, a miséria, a perdição e nem temos nenhum interesse em conhecê-los; a não ser aqueles excepcionais que escolhem passar a escola da Vida naquela Terra completamente sem luz. Isto só acontece pela insistência dos servos do Grande Espírito. Mas, não vais me dizer qual a razão de vossa visita? Vós sois espíritos eternos. Por acaso desejais passar pela experiência de encarnação novamente?

- Nós não queremos nada mais do que fazer um pedido a vós, habitantes deste lindo mundo. Despertar em vós todos o desejo de conhecer o Grande Espírito, do mesmo jeito que nós o conhecemos. Se possível, criar os meios para com Ele conviverdes.

- Não te impedirei de fazer a tentativa, mas tenho certeza que não terás sucesso. Mesmo porque, para que mudar? Nos basta seguir as ordens que nos são dadas pelos anjos do Grande Espírito.

- Pai Josafá, quantas vezes terias gostado que tua família tivesse demonstrado amor. Isto é impossível, pois amor é uma fraqueza para vós.

- A razão nos proíbe de tocar nas leis que servem a este mundo. Porque desejas alcançar uma esfera superior, se estamos completamente satisfeitos com a nossa? Os olhos do Grande Espírito nos olham com satisfação, e isto nos causa alegria e felicidade.

- Tu nunca pensaste, pai Josafá, que o Grande Espírito, ao qual adorais com veneração, pudesse desejar que vós, suas maravilhosas criaturas livres, Lhe pudessem dar esporadicamente uma alegria ou um presente? Está certo, vós tendes leis muito sábias, mas não conheces nenhuma proibição de praticar o amor, de dar amor. Vós todos sabeis que o Senhor Eterno Deus se encontra na Terra para terminar sua obra de salvação. Ele nos repreenderia se, mesmo com nossas fracas forças, desejássemos ajudá-Lo? Eu tenho absoluta certeza que vosso Grande Espírito e nosso Amoroso Pai e Salvador ficará muito feliz com este nosso gesto de amor, que só é possível ser feito por nós. Nenhum anjo ou servo pode lhe dar esta alegria.

- Tuas palavras são as de uma criatura inocente e só poderão trazer prejuízo, pois nós não as necessitamos.

- Pai, então o trabalho da salvação também terá que ser considerado prejuízo. Eu discordo totalmente disto. Eu conheço a miséria, a dor e o desespero. E é justamente isto o que faz com que o Grande Espírito Salvador Jesus forme junto à Terra. Deve existir algo muito especial no Amor que O aprisiona, pois senão Ele permaneceria junto a vós, bonitos e quase perfeitos seres. Ele se alegraria em sua pureza. Tu, como sacerdote do Grande Espírito, poderás encontrar um outro motivo, além do amor, para sua escolha?

- Minha filha, a chama em teu coração é desconhecida. Nunca quisemos saber da razão porque o Grande Espírito nos evita, mas convive com aqueles que não são dignos de Sua presença. Suas atitudes nos são Leis Eternas e modificar isto a razão nos proíbe.

- Então porque construíste este templo com este altar e esta cruz? Esta cruz não vos lembra constantemente do amor que Ele viveu como Jesus? Como queres explicar sua morte na cruz com teu senso comum? Eu sei que vos é completamente incompreensível que Ele, como Senhor de Toda a Vida, se sacrificou no madeiro maldito, e com isto trouxe a salvação, que abriu as portas da vida para todos, até para vós, que não acreditais na morte.

- Não contradirei tuas palavras, pois elas não são palavras de um mensageiro do Grande Espírito, mas sim são as palavras do próprio Senhor.

- O caminho para teu coração e o dos teus irmãos está aberto agora. Não é o grande Deus que está falando, mas uma filha de Deus e do Pai e representante de Seu Amor Salvador. Eu te peço: deixa-nos ficar em tua casa junto com o anjo Josafá.

- Ao teu pedido nada se opõem, minha filha. Mas se este teu acompanhante é um anjo, me estranha ser tão calado.

Falou o anjo:

- É o desejo do Grande Espírito dar a estes filhos total liberdade. Eu só estou aqui para protegê-los pois o inimigo de toda a vida quer prejudicar a estes filhos de Deus. Esta tarefa, para mim, é a mais alta felicidade, pois ela serve para a libertação e salvação do verdadeiro filho de Deus.

- De qual Filho de Deus falas? — indagou Josafá. No nosso mundo, sabemos que o Grande Espírito esteve naquela Terra sem luz, como Filho de Deus, para uma salvação.

- Irmão no Senhor, esta pergunta Joana te responderá, a ti e a todos teus irmãos. Eu tenho ordem de não falar sobre isto.

No lar do sacerdote havia paz e calma. Da comida servida os seis nada disputavam, pois o sacerdote era humano. Mas espíritos amorosos lá se encontravam com os quais os cinco conversavam. O anjo permanecia calado. O sacerdote observava e escutava a estes seres iluminados de seu mundo, como se eles também fossem humanos, mas Joana os reconhecia como seres superiores a Josafá.

Quando os preparativos para a festa, que tinha sido ordenada anteriormente, haviam sido concluídos, o sacerdote foi avisado que tudo estava pronto do jeito que tinha sido mandado. Só então os filhos do sacerdote avistaram os seis e perguntaram-lhe quem eles eram, ao que ele respondeu: “ Amanhã, na festa da luz, sabereis quem são.”

Gotardo disse à Joana que seria muito útil dar uma olhada mais exata naquele mundo e pediu aos seres iluminados que os guiassem. Logo, começaram a atravessar regiões muito bonitas, com estradas e fazendas lindas, palácios, pomares e gente, gente muito bonita, mas completamente frios, sem sentimentos.

Joana já tinha conhecimento disto, mas mesmo assim as pessoas a afetaram extraordinariamente. Ela então perguntou ao anjo se as pessoas lá os viam, ou ouviam.

- Não, as pessoas comuns não. Só os sacerdotes têm o dom de dar a visão a estas pessoas, se o conhecimento assim o exigir. Quando tiverdes o direito de falar, então eles te verão; antes não.

- Podemos entrar em uma destas casas grandes? Até agora, só vimos tudo do lado de fora.

- Sim, podemos. Lá está uma casa bem grande com muitos habitantes. Já que as portas nunca estão fechadas, podemos entrar de imediato.

Dentro da casa, tudo era igual ao lado de fora. Tudo grande e bonito, mas um ambiente igual ao outro; tudo muito simples, mas tudo igual. As pessoas estavam descansando do trabalho. Todas estavam em silêncio. Num dos quartos havia música, mas as pessoas não mostravam nenhuma emoção. Gotardo levou as cinco meninas por lindos lagos, enormes templos e sempre mais e mais edifícios luxuosos. Então Joana perguntou ao anjo porque as pessoas neste mundo construíam tudo tão grande, pois tudo só era habitado pela metade.

- É o jeito deles. Eles querem se antecipar, pois a sabedoria é prospectiva. Uma falta de habitação seria a contradição à sua sabedoria. Isto aqui é diferente do teu mundo terreno. Lá, é o interior verdadeiro e permanente; aqui, é o exterior.

- Então as pessoas aqui não são tão ricas como aparentam. Eu creio que elas sejam pobres.

- Tens razão, aqui não existe riqueza nem pobreza, já que existe de tudo a contento. Aqui não existe avareza, mas também não há generosidade. A vida em família é totalmente oposta à da Terra. As crianças não são educadas pelos pais, mas sim por professores. Os casamentos são realizados seguindo as ordens dos sacerdotes. Em tudo a vida dos humanos é orientada por leis rígidas. Não existe nestas pessoas o sentimento para a bondade muito acentuado, nem para a maldade, como existe em vós na Terra. Ele tem o seu limite. Tudo além disso só é possível aos sacerdotes. Doenças não existem e a morte para eles é a continuação de suas lindas vidas, na tua opinião, pobres vidas.

Os seres iluminados muito se espantaram com a opinião de Joana, que lhes contou tudo o que ela vivenciou, desde que entrou no mundo espiritual. Aos seus iluminados, isto foi totalmente incompatível. Eles não desejavam ouvir mais. Joana pediu ao anjo para voltarem, pois precisava de silêncio e meditação.

- Estas imperfeições eu tenho que organizar em mim — disse Joana às irmãs, que também não paravam de se espantar. Na frente da casa do sacerdote, elas se acomodaram. Em silêncio e paz, iniciaram a introspecção, que as levou de volta — em pensamento — para seu mundo.

O Amor não é desejado

No dia seguinte era Sábado. Já cedo, de manhã, o sacerdote ofertou pequenas flores e frutos no altar. Um perfume sem igual preenchia a casa e parecia causar um sentimento alegre a todos os moradores. Joana perguntou se o perfume causava esta alegria, o que Gotardo confirmou. Acrescentou que o perfume era a confirmação que a oferenda tinha sido aceita e que o Grande Espírito estava satisfeito e contente. Após a oferenda, o sacerdote saudou seus hóspedes e os convidou para irem ao templo das colunas, para que vissem a alegria que tomava conta de todos aqueles que eram convidados ao templo. E assim aconteceu. Das ruas, vinham grupos e mais grupos de pessoas bem arrumadas, mas sem crianças. Muitos portavam cestinhas delicadas, que entregavam aos servidores do templo. Apesar da conversa de tanta gente, isto não causava incômodo; ao contrário, parecia música.

Os seis tinham entrado no templo. Dentro do altar havia uma elevação, de onde observavam a chegada dos visitantes.

- Quantos virão? ¾ perguntou Joana.

- Dez mil ou mais, pois este templo tem lugar para 30 mil ¾ respondeu o anjo. Em festas especiais, todos os lugares estão ocupados.

Cada vez mais gente chegava, mas não havia aglomeração nem empurra-empurra. Os lugares eram de fácil acesso e cada um conhecia o seu lugar. Muitos sacerdotes conseguiam ver os visitantes, mas não demonstravam nenhum interesse. Visitantes desconhecidos não eram muito bem-vindos.

Josafá adentrou ao templo, todo paramentado. Os outros sacerdotes lhe entregaram as oferendas dadas pelos presentes. Ele só tomou umas poucas e as colocou no altar. Uma música entoou, vindo de um coro que se postou na frente do altar. Josafá orou e depois se voltou para o povo, como se estivesse aguardando alguém. Após certo tempo, se dirigiu ao anjo dizendo:

- Mensageiro do Senhor, muitos mensageiros se anunciaram, para participar desta festa. Pela primeira vez, eles não chegaram para assistir as oferendas. Nós não podemos festejar sem a presença de mensageiros.

- Digníssimo pai e sacerdote de todos os teus filhos aqui reunidos, estas cinco meninas são muito mais que simples mensageiras; elas são Suas Filhas, filhas de Seu amor paternal. Ë da vontade do Senhor que as escuteis.

Sem revidar uma só palavra, o sacerdote pediu por fogo e queimou as oferendas com os pedidos e agradecimentos. A chama clara iluminou o ambiente e um doce perfume envolveu a todos. A música silenciou e logo todos os presentes entoaram uma canção de louvor ao poder de Deus, e esta canção durou enquanto o fogo queimou Quando as chamas se apagaram, o sacerdote foi ao altar, juntou as cinzas ainda ardentes num recipiente e disse:

- Filhos e filhos dos filhos, seguindo o ordenado aqui, nos encontramos para adorar, agradecer e oferecer sacrifícios ao Grande Espírito. Este novamente nos enviou mensageiros, que nos trazem Sua Vontade. O Senhor assim deseja. Que todos os vejam e ouçam, para conhecer a mensagem do Senhor.

Todos os presentes então avistaram os seis amigos. Joana foi para o lado do sacerdote, abençoou a todos e disse:

- O Amor, a Benção do Senhor, e Sua Santificada Paz estejam com todos vós. Silenciaram-se os vossos agradecimentos, apagou-se o fogo de vossas oferendas, mas meu coração não sente a alegria necessária para obter a máxima felicidade, pois falta a todos vós a consagração certa, a que só é possível obter pelo próprio Senhor. Nós cinco aqui não somos somente emissários que vêm vos trazer a vontade do Senhor, mas sim emissários e representantes do Eterno e Misericordioso Amor Paterno, o qual deseja fazer de todos Seus Filhos do Amor. As belezas de vosso mundo agradam aos olhos, vossa vida a desenrolar como programado, a fim de que o Grande Espírito deixe vossas vidas e vosso ser do jeito que está. Neste ser e viver, vós vos satisfazeis, mas não vos dais conta que estais perdendo o que de mais lindo existe: o Senhor e Pai. Nós, que passamos pelos maiores sacrifícios, estamos aqui como testemunhas de Seu imenso Amor, que deseja acordar o espírito que em vós está adormecido. Quando este acordar, ele vos levará ao mais maravilhoso: ao próprio Senhor e Pai Jesus. Não vos assusteis com a enormidade deste pensamento. Para nós que somos Seus Filhos, esta idéia é a mais natural e a mais próxima. O que vos parece estar imensamente afastado, para nós se encontra bem pertinho. Sim, nós somos filhos de Seu Amor e não conseguimos ficar sem o Seu Espírito, pois nada podemos sem Ele; mas com ele, tudo é possível. Por isto, as palavras que eu digo não me pertencem, mas vêm de Seu Espírito. Vós não me ouvis, a mim, minúsculo ser humano, mas sim ao Espírito que me tornou Sua Filha. Falar de vosso mundo é desnecessário, pois vós o conheceis bem; mas é preciso falar do mundo que o Senhor e Grande Espírito criou para ser o viveiro e local de evolução e consagração, onde ele nos deseja educar para Seus Filhos, os quais serão destinados para ocuparem lugares muito importantes. Eu não falarei de nós, seres humanos, mas sim do próprio Senhor, o qual se tornou homem igual a nós e nos revelou a verdadeira Vida. Da verdadeira Vida, quase não conheceis nada. Ainda viveis dentro dos limites de vossas leis. Ao Grande Espírito e seus guardiões foi possível manter afastado de vós o Inimigo da Vida até agora. Se isto continuará assim, só depende de vós. Sim, de vós. Ouvi minhas palavras. O Inimigo da Vida deseja matar e destruir toda vossa organização, pois ela vem de Deus. Deseja impor sua própria ordem, a qual deve destruir tudo o que existe, e roubar ao Senhor todo o Seu poder. Mas Deus construiu um caminho que liberta e redime tudo o que existe e que está aprisionado. Ele mesmo começou a salvação lá em nossa Terra ao se tornar homem, obedecendo totalmente às leis que Sua Ordem exigia e nos revelou em Si um espírito que até então só pertencia a Deus. Este Espírito é reconhecido pelo Inimigo da Vida em toda Sua grandeza e também leva ao novo homem divino a tornar realidade toda a nova revelação dada por este Espírito Jesus, pois este era o nome deste Homem-Deus. Ele não se assustou ante a maior humilhação e sacrificou a Si mesmo, morreu na cruz, como vos é mostrado lá no pequeno templo. Certo, o inimigo da vida e seus seguidores triunfaram, mas só por três dias. No terceiro dia, todos os empecilhos estavam vencidos, e nos deixou como presente eterno o Seu Espírito Salvador, o qual permaneceu na cruz e pertence a todos, a todos mesmo, como a vós também.Vós certamente ireis perguntar: “ O que é este Espírito Salvador? Nós não O precisamos, pois vivemos na ordem correta ”. Isto perguntais e afirmais com razão, porque,para vós, tudo o que vem do Inimigo da Vida vos é desconhecido. Mas Deus, no seu Infinito Amor, não deseja destruir ao Seu oponente; não, mas sim quer tornar a todos e a tudo Seus Filhos. No seu Infinito Amor, ele deu a todos liberdade ampla, mesmo ao Seu Inimigo. Estes, porém, usaram esta liberdade para tentar destruir a Vida Divina e a Ordem que vem da mesma. Na nossa Terra parece que não existe mais nem Deus nem Ordem. Os habitantes estão dentro de uma destruição jamais vista até então, cada um brandindo a bandeira da sua razão e de seu direito. O ódio aumenta cada vez mais; irmão contra irmão, povo contra povo. O Eterno Amor deve se calar a tudo isto, pois disto depende a salvação de todos. Seria o maior triunfo do Inimigo da Vida, se Deus usasse Sua onipotência e acabasse com a devastação. O direito ao amor e à salvação, então, teria sido destruído. Mas tudo aquilo que é proibido ao Deus e Senhor é permitido àquele que se torna Seu representante pela Sua Misericórdia e Amor. Como portador do Espírito Salvador de Deus, a dor do próximo se torna minha dor; sua miséria, minha; seu sofrimento, meu. Conhecendo isto, meu amor procura em todos vós este sentimento, do qual ainda não tens consciência, o qual está adormecido em vossos corações, para que vos torneis amantes da liberdade e redenção, dada a nós por Jesus, o Espírito Salvador.

Do mesmo jeito como ele, Deus-Homem, se tornou salvador e divino, todos nós também podemos nos tornar salvadores pelo Seu Amor, Sua Graça e Misericórdia. Cada pensamento emitido por este espírito redentor se torna um raio de sol, uma ajuda invisível, uma força. Olhai e ouvi minhas irmãs e irmãos em Deus: este Espírito, este maravilhoso presente renascido na cruz, é o Filho do Pai, que ressuscitará em todos, mesmo em vós. Todos os meios usados para enfrentar o Inimigo da Vida são inúteis, se em nosso coração não houver se formado um verdadeiro lar para todos os miseráveis e desgarrados . Só neste momento, o Filho de Deus ressuscitará em Sua grandeza, força e maravilha; e eu poderei encontrar amor e caridade neste Espírito Redentor. Eu não vos perguntarei se desejais vos tornar servos e trabalhadores na seara de Deus; mas gostaria sim de perguntar a cada um de vós se tu, irmão e irmã, não desejas conhecer o Deus que se tornou para todos nós um Amantíssimo Pai e querido irmão. Podereis vê-lo, ouvi-lo, com Ele conviver e descobrir o que é a verdadeira felicidade! Peço que me entendam. A cada um de vós o caminho foi aplainado, este caminho que nos leva à Vida Verdadeira, o caminho que dá a cada um a oportunidade de se tornar um Filho daquele Pai, que é o Eterno Deus e que tanto deseja estar junto aos Filhos de Seu Amor.

Joana se calou. Ela sentia a frieza com que ouviam suas palavras. Quase perdeu a coragem, mas ouviu em seu coração: “ Minha filha não desistas. Tu não derrubas uma árvore com uma única machadada. Ocupas o Meu lugar neste momento e serás Minha semente”.

O sacerdote deu um passo à frente e disse:

- Filhos e filhos de meus filhos, hoje ouvis uma fala diferente da dos mensageiros divinos. É minha obrigação vos mostrar a diferença: os mensageiros vêm de um mundo de luz, enquanto esta filha vem da Terra sem luz. Os mensageiros transmitem a mensagem que lhes foi dada, mas esta filha não tinha nenhuma mensagem, somente o Amor Vivo que nela habita, o qual deseja nos capacitar a receber o Espírito Salvador que nela habita. Meus filhos, ontem, até mesmo hoje, eu achava que aceitar este Amor era completamente inútil, mas agora mudei de idéia e me pergunto: por que nós nos devemos bastar com os mensageiros, enquanto que na terra sem luz o Senhor e Grande Espírito ofereceu o maior sacrifício de todos? Quem, entre todos vós, pode me dar a resposta?

Sabedoria sem Amor

A multidão permanecia em silêncio. Joana então disse:

- Pai Josafá, em vós todos ainda não se incendiou a chama do desejo de vê-Lo e ouvi-Lo, pois para vê-Lo ou ouvi-Lo é necessário um certo amadurecimento. Isto também é necessário para se tornar Seu Filho, ou permanecer na Sua presença. Não um amadurecimento da sabedoria, por mais brilhante que seja, nem o amadurecimento da compreensão; mas sim o amadurecimento do verdadeiro Amor filial, que transforma o homem em cidadão do mais elevado céu e herdeiro do eterno reino do Pai.

- Minha filha, que é necessário fazer, para alcançar tal amadurecimento? — perguntou Josafá.

- Uma frase Dele nos dá a resposta “ Se não vos tornares criancinhas, não conseguireis o Meu reino eterno ”. Oh, pai Josafá, podeis por acaso afirmar que este vosso mundo bonito é de vossa propriedade? No momento em que o inimigo da vida começar a jogar suas sementes, apesar de toda vossa sabedoria, sereis verdadeiros candidatos à morte. Por isto, eu vos peço e vos aconselho: Ressuscitai como criancinhas que só têm um único desejo: agradar ao Pai Eterno, realizar todos os Seus desejos, realizar-se no Seu Amor Salvador, renascido na Cruz para toda eternidade.

- Filhos e filhos de meus filhos, estas crianças são mais sábias que nós, pois possuem em grande quantidade aquilo do que não temos nem uma vaga noção. Mas já que nossa sabedoria nos ensina a não desfazer nada que nos poderia ser útil, pediria a estas crianças que permaneçam conosco, até termos conseguido total clareza. Por isto, permanecei videntes. Deixai que elas vos aclarem, pois a perspectiva a uma vida eterna é a Vida, e elas a tem, dada diretamente por Aquele que é a própria Vida. E tu Joana, filha do Senhor, estás satisfeita conosco?

- Sim, pai Josafá, todos estes sacrifícios e oferendas são um verdadeiro horror para o Pai, pois Ele procura o coração e este ainda lhe é desconhecido. Somente o sacrifício que Ele realizou na Cruz se apodera dos corações e os toma num altar de ofertas, no qual o homem deve sacrificar seu “eu”, seus princípios errados, e suas tendências materiais; em troca, receber o Espírito que o levará à verdade e à sabedoria correta, pela Misericórdia e o Amor do Senhor Jesus Cristo. Vós, porém, meus queridos irmãos e irmãs, recebei por meu intermédio a benção do Senhor, que é a seguinte: “ A Graça do Senhor Jesus Cristo, Sua Paz Divina, esteja com vós todos. Amém”.

Gotardo disse à Joana, ao ver que ela ia se retirar:

- Querida filha, queres abandonar o campo? Ainda não vejo nenhum sucesso.

- Querido irmão, o sucesso é maior do que pensamos; mas devemos deixar que os corações se animem por si mesmos. Até bem pouco, eu estava cheia de amargura, mas a alegria agora tomou conta do mesmo, e sei que ainda nos alegraremos muito mais.

Gotardo sacudiu a cabeça. Na sua opinião, abandonar o local neste momento seria um fracasso, mas Joana resolveu sair e ir ao primeiro templo que ela, as meninas e o anjo tinham encontrado. Ao entrarem, viram que a cruz estava envolta por uma luz maravilhosa, o que embelezava ainda mais o altar e as flores. Gotardo então disse:

- Querida Joana, fizeste pelo poder do Senhor, algo que servisse para alegrar nossos olhos?

- Não, irmão Gotardo, isto é a resposta do Senhor. É algo que nos fortifica. Por isto, ficaremos aqui e esperaremos. Eu sei que o Amor Divino nos trará a vitória.

Eles todos se acomodaram na frente do altar e meditando, deixaram que os acontecimentos recentes novamente passassem por suas mentes e corações. Aos poucos, os seres iluminados se aproximaram e começaram a fazer perguntas. O sucesso com estes seres iluminados foi muito maior do que com os nativos. A maioria deles dizia: “Nos é permitido, também a nós, procurar o Senhor e receber a Vida por Seu intermédio?” Em todas as perguntas, via-se o desejo de procurá-Lo.

Mais tarde, chegam Josafá e outros, que se admiram muito com o altar enfeitado e a harmonia que sentiam haver entre os cinco e os seres iluminados. Josafá então disse aos seus:

- Meus irmãos, alguma vez já viste tanta luz neste pequenino templo? As palavras destes filhos são muito mais importantes do que imaginamos.Disse um dos acompanhantes:

- Pai Josafá, devemos consultar a comunidade. Nossa atuação até então está correta, e só não posso entender é que nossas oferendas sejam um horror ao Senhor. Até agora, todos os mensageiros de Deus as aceitavam com alegria.

- Nossa razão não consegue crer que o Grande Espírito, a quem obedecemos, e o Pai, ao qual estas crianças amam, são um só. Eu entendo que ainda teremos que discutir muito sobre este assunto, mas não sei se nossa comunidade e as vizinhas nos acompanharão. Ainda vejo bastante nuvens escuras no horizonte de nossas mentes.

Vencidos pelo Amor

Joana saudou os recém chegados e os abençoou em nome do Senhor.

Josafá agradeceu e disse:

- Filhos, de onde conseguistes esta luz maravilhosa que envolve o altar. Tal luz, meus olhos nunca viram.

- Pai Josafá, não é obra nossa. Esta luz é presente do Eterno e Bondoso Pai.

- O autor foi o Senhor mesmo, ou um de Seus mensageiros? Pois do nada, esta luz tão maravilhosa não pode vir.

- Nem um, nem outro. Foi o Amor o criador de toda esta maravilha. Já que não atuamos por nós mesmos, mas sim através do Amor ao Senhor, este vosso amor se libertou dos grilhões de vossa mente e pôde realizar esta maravilhosa obra.

- É a primeira vez que algo aconteceu sem nossa intervenção. O que concluís, queridos irmãos?

Disse um deles:

- Não nos resta mais nada do que aguardar por novas instruções. Estas crianças são cheias de fervor, do qual nós nada conhecemos.

Disse Joana:

- Queridos amigos, como humanos, vossos cuidados estão corretos, mas como somos seres eternos não. As eternidades nos são muito mais próximas do que o temporário. O Amor, no entanto, do qual atuamos e criamos, pertence totalmente à eternidade; com isto, abraça a tudo que é temporário. Não sabeis se vosso modo de vida ou vossos costumes terão que ser modificados; não. Deveis procurar o eterno dentro de vós: a centelha do Espírito. Ela é uma partícula do Espírito Eterno e Único, o qual espera renascer em vós, para que ressusciteis com Ele para uma vida de amor, misericórdia e piedade. Este espírito vos torna Filhos de Deus, torna todos os homens e mulheres irmãos e irmãs. Vivendo neste espírito, abri vossos corações, para que o Grande Espírito ali penetre e faça de vosso mundo uma pátria para Si, onde terá prazer de ficar.

Dirigindo-se a Gotardo um ancião disse:

- Tu, sério mensageiro de Deus, que nos aconselhas? As palavras das crianças nos são desconhecidas, mas eu não me sinto com vontade de negá-las.

- Querido amigo, as palavras das meninas são palavras do Amor. A nós, servos do Senhor, é difícil compreender como o Senhor se coloca de igual a igual para com estes filhos. Para nós, é uma grande graça poder servir a estes filhos. Nós nos ajoelhamos ante a vida que cresce dentro deles. Eu conheço vosso mundo e os habitantes, mas nunca foi vivenciada tal felicidade e uma vida tão alegre, como quando estamos junto a estes filhos de Deus. Em verdade, vos digo que estes filhos não trocam sua filiação por nenhuma das belezas de vosso mundo, pois o Amor Paterno é a maior felicidade e benção para eles. Quando olho vossos seres iluminados, tão belos e sem nenhuma falha, e logo depois os comparo com estes filhos do Senhor em contínuo contato com o Divino Amor, constato então que estes vossos seres maravilhosos não passam de pobres bonecos inertes, enquanto que os filhos estão cheios de vida e do Amor do Pai.

- Tu, fiel mensageiro do grande Deus, me ajuda por favor. Eu, como sacerdote deste mundo, estou acostumado a dirigir meu rebanho de acordo com as ordens que recebo do grande Espírito pelos Seus mensageiros. Mas que devo fazer, se mais filhos de Deus aqui vierem? Como devo atuar à frente de meu rebanho?

- Querido amigo em Deus e Senhor, eu também não sou nada mais que um servo em Deus e Senhor, tal qual tu és. Tal como tu, possuo forças para enfrentar todos os inimigos, mas não posso ultrapassar os limites da Ordem, pois não seria mais um servo. Eles — os filhos de Deus — só conhecem uma vontade e um desejo, que é o de atuar e viver da mesma maneira que Deus. Quando atuam, não pensam em si, mas todos seus pensamentos, seu amor e suas vidas são do Senhor. Isto nós, servos do Senhor, não encontramos aqui em vosso mundo.

- Tua resposta é dura e firme, como a Vontade Eterna. Vejo tudo claro agora. Palavras não são mais necessárias. Joana e vós todas, filhas de Deus, vosso amor conseguiu abalar meus princípios e crenças. Por isto, vos peço que deixeis a mim e meus irmãos a sós. Mas não vos afasteis, pois sei que logo vos procuraremos para mais informações.

Joana disse:

- Pai Josafá, teu pedido já é oriundo de teu amor. Continua assim, que logo tomarás conhecimento das maravilhas que vem deste Amor.

- E assim foi. O Amor foi o vencedor. A desconfiança dos habitantes daquele mundo era cada vez menor. Josafá chamou o anjo e as cinco meninas para dizer-lhes que agora desejavam ver e falar ao Pai. Disse Joana:

- Pai Josafá, enquanto ainda fores humano, isto não te será possível. Quando o desejo de conhecê-Lo ultrapassar os limites, então o Amor Eterno te transformará num espírito. Porém eu te chamo a atenção, de que ainda tens uma missão a cumprir, especialmente agora que te estás transformando num filho do Eterno Pai e Senhor. Ensina a teus filhos o Amor, este que sentes dentro de ti. Ensina teus filhos que existe um único e pequeno caminho que leva ao coração do Pai Eterno, que é o amor ao próximo; pois no teu próximo está a centelha divina eterna que deseja ressuscitar como filho de Deus. Para te dar uma oportunidade, meu querido pai Josafá, sejais vós não nossos hóspedes, mas sim nossos irmãos.

Ao aceno de Joana com a cabeça, Gotardo apôs suas mãos sobre a cabeça de Josafá e mais sete anciãos. Brancos seres iluminados saíram de seus corpos. Foram saudados por Joana, que disse:

- Irmão Gotardo, leva-nos até aquele lugar tão agradável, onde o nosso Pai e Senhor Eterno nos aguarda.

- Sua vontade seja nossa vida.

Em poucos instantes, todos se encontravam num lindo jardim, onde gente bem simples morava. Eram aguardados pelo dono numa casinha bem modesta. Ele os convidou a entrar cheio de alegria. A acolhida carinhosa e forte do homem os tornava desconfiados, mas o homem conhecia o seu trabalho e os levou à uma mesa, onde se encontravam sua mulher e mais um Hóspede. Todos principiaram a comer as deliciosas frutas, o pão e vinho. Ao terminarem, Josafá disse:

- Irmãos e irmãs, se nossos filhos pudessem usufruir isto, eles também renasceriam para uma outra vida, tal qual nós estamos. Oh tu, Deus grande pela tua grandeza, Te idolatramos no Teu Amor, pois nós nos tornamos Teus Filhos. Tu, porém, estimado dono da casa, recebe nossos agradecimentos por teu amor que tanto nos revelou.

O dono da casa disse:

- Agradecei ao Senhor, que é quem o merece, pois somente a Ele é que agradecemos a felicidade de podermos dar felicidade. Mas venham todos e olhai agora nossos jardins de trabalho e nossas tarefas, para que em vós aumente o desejo de vos tornar um cidadão do Céu, onde o Santo Pai é nosso Amor, nossa Vida e nosso Ser. Vosso mundo é inigualavelmente lindo, mas ele é e ficará sendo propriedade do Senhor e Eterno Deus. Este nosso mundo é propriedade nossa, pela Graça do Senhor. Sim, este seu mundo, que fizemos ficar tão bonito pelo Amor do Senhor Deus. Por isto, o Senhor gosta de visitantes por aqui, pois eles são nossa felicidade e amor.

Todos começaram a chorar; também Joana e as quatro meninas, pois elas tinham reconhecido o Pai no Hóspede. Ele lhes fez um sinal, para silenciarem. Então todos contemplaram um mundo que só oferecia felicidade. Viam somente pessoas felizes, que tinham passado por duras provas, pois todos possuíam maravilhosos brilhantes nas tiaras. Josafá pedia explicação de tudo e sempre escolhia o Hóspede para receber informações, pois Sua voz lhe era extremamente atraente. Somente à pergunta de quando o Senhor viria Ele dava respostas ambíguas. Ao desejo de ver o Senhor, Este respondeu a Josafá:

- Em ver o Senhor também há um certo perigo. Tal como uma fruta não madura pode fazer mal à vossa saúde, a visão prematura do Senhor pode prejudicar seriamente a um espírito ainda não apropriadamente amadurecido. O mandamento mais importante e o qual o Senhor impôs a si mesmo é dar a mais absoluta liberdade a Seus filhos que ainda estão lutando consigo mesmo. Sua aparição neste momento os prejudicaria muito, pois os colocaria no julgamento. Ou acreditas que se o Senhor chegasse a ti neste momento, te tornarias um filho de Deus instantaneamente e sem prejuízo algum? O Pai enxerga a todos como filhos Seus, mas eles só se tornam verdadeiramente filhos, quando renascem em espírito filial e quando procuram realizar todos os desejos do Amoroso Pai..

Josafá disse:

- Oh amigo, nisto não tinha pensado. A vontade de vê-Lo era só a satisfação de meus desejos.

Joana conseguiu despertar o desejo em mim. Tu, porém, revelaste que o Senhor deseja ter filhos livres, que compartilhem com Ele todos seus desejos.

- Agora falaste coisas corretas. Deixa que estes descobrimentos amadureçam em teu coração. Quanto mais ansiedade por conhecer ao Pai conseguires colocar nos corações de teus filhos, a ponto de enchê-los do Verdadeiro Amor, tanto mais te elevarás na condição de filho. O amor trará muita satisfação, pois vê: estas pessoas aqui usam seu templo quase totalmente para alegrar, ajudar e satisfazer seu próximo. Também não esquecem dos perdidos e desgarrados. Cada coração conquistado aqui, vale tanto quanto a construção de um templo a mais em teu mundo.

- Eu te agradeço querido amigo e ficaria muito feliz, se pudesses nos visitar em nosso mundo, para que possas ver quanto evoluímos no nosso desejo de nos tonar filhos livres de Deus.

- Isto seria possível sim, querido amigo. Mas agora vem. Na nossa conversa, quase esquecemos os outros.

Todos ainda contemplaram muitas coisas lindas. Num certo momento, Gotardo disse à Josafá:

- Irmão, me foi ordenado te levar, a ti e a teus irmãos, de volta. Joana ainda permanecerá por um tempo aqui com suas irmãs, pois convosco ela já cumpriu a tarefa que seu amor lhe pedia.

- O Senhor, por acaso, está aqui? Foi Ele quem te deu a ordem? Por favor, me revela a verdade, para que eu lhe possa mostrar meu amor.

- O Senhor está aqui, mas tu só O encontrarás se O procurares no coração. Basta-te com tudo o que vivenciaste e viste, tu e teus irmãos. Utiliza esta experiência, para a tua salvação e de teus irmãos.

Josafá disse na despedida:

- Queridos amigos, meu ser todo está repleto de felicidade, porém sinto agora a dor da despedida; mas enfim, que seja feita a Vontade do Senhor. Só vos peço mais uma coisa: não nos esqueçais jamais e orai por nós, pois eu agora me vejo à frente de um sem número de tarefas.

De volta ao Lar

Joana e suas irmãs permaneceram junto ao Senhor e estavam felizes em poder Lhe mostrar todo seu amor, já que os habitantes do outro mundo haviam partido.

O Pai assim falou:

- Filhos, Eu ainda tenho uma missão a realizar e Eu gostaria que tu, Joana, e tu, Maria, me ajudassem. Para Joana espero poder dar um lar, no qual, pelo seu grande amor por Mim, sempre serei encontrado. Suas tarefas exigem dela mais paz e calma. Todos sois unos Comigo. Conviver com todos é pura felicidade para Mim, e creio que este prazer todos compartilham. Joana lá poderá realizar livremente toda ou qualquer evolução, para se preparar para se tornar uma das colunas mestras do Eterno Pai.

Todos em conjunto visitaram seus irmãos e irmãs, permanecendo em alguns mais ou menos tempo, de acordo com o que lhes dizia seu amor. Este tempo foi um dos mais belos para as cinco meninas, mas o Santo Pai assim falou:

- Filhas, somente agora reconhecestes vosso destino. Vós agora penetrastes no Âmago de Meu Amor. Vós colhestes experiências da mais infernal miséria, até o mais elevado grau de felicidade e evolução e estais completamente enraizadas e amalgamadas ao Meu Amor e à Minha Vida. A ti, Joana, vou Eu mesmo levar para teu novo lar, teu reino, onde sempre Me encontrarás, toda vez que teu amor assim desejar. Vós ¾ Lisa, Christa, Rosa e Lena ¾ deveis ser testemunhas de como o Amor Eterno sabe recompensar todo vosso amar, servir e salvar.

Christa disse:

- Oh Divino Pai, nós não poderemos mais ficar junto à Joana? Ela nos fará muita falta...

- Christa, tu e as outras, ouvi com atenção: vós também estais evoluindo para este ponto de iluminação e graça, tal qual Joana. Ela, desde este momento em diante, é um espírito independente, enquanto que vós ainda precisais de um guia. Joana vos visitará toda vez que sentir muita saudade, ou se vós a chamares pelo Meu intermédio. Alegrai-vós pela vossa irmã, pois assim o laço de amor que vos une se fortificará cada vez mais.

Os habitantes estavam muito felizes. Enfeitaram Joana para a cerimônia com um cinto de rubis, tiara de ouro e diamantes e um vestido todo luminoso. Outros aprontaram o banquete. Fizeram tudo isto livre e espontaneamente, o que é de sumo agrado do Pai, pois Ele ama receber presentes de Seus filhos.

Ao estar tudo pronto, o Senhor tomou da mão de Joana e no instante seguinte eles se encontraram num maravilhoso jardim com uma linda casinha branca, de onde saiu a avó de Joana. Ela disse:

- Pai, tu amado e maravilhoso, me trazes Joana pessoalmente! Meu coração está totalmente tomado de felicidade! Seja bem-vinda, Joana.

Disse o Pai à Joana:

- Minha filha, agora estás em casa. Esta casa foi moldada de acordo com o desejo que tinhas no coração. Sê feliz e que Minha benção te acompanhe. Vem, leva-nos agora para dentro de teu lar.

- Eu, a pequena Joaninha? Guias-Te por mim, meu Pai? Bem, sim, se esta for Tua Vontade... Vinde, entrai no reino do Amor, que será um refúgio e um lar para todos eternamente.

O Pai disse:

- Joana, és Minha Filha, pois este foi teu único desejo. Não temeste nem o inferno, para evoluir. Sê feliz e recebe a Minha Benção. Vamos finalmente unir nossos corações a favor desta pobre Terra que está sangrando, para que possa ser una Comigo um dia. Amém. Amém. Amém.

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